I. A medida do sucesso
A avaliação é tão natural na Bíblia quanto
outros princípios de gerenciamento e mordomia, como levantamento, planejamento
e organização. Logo no primeiro capítulo da Bíblia, Deus dá Seu parecer sobre a
obra da Criação afirmando que ela era muito boa (ver Gn 1:31). Esse princípio
de avaliação é aplicado ao povo de Israel e sua fidelidade a Deus, à resposta
das pessoas ao ministério de Jesus, aos líderes da igreja apostólica e a cada
ser humano, em última instância, no juízo final. No contexto da Igreja, essa
prática é evidente no livro de Atos, nas cartas de Paulo e nas cartas às sete
igrejas da Ásia menor, nos primeiros capítulos do Apocalipse.
Ultimamente, no entanto, muito se tem
discutido sobre qual é a verdadeira medida do sucesso da igreja. No excelente
livro The Measure of Our
Success, Shawn
Lovejoy aponta três perigos das maneiras não-bíblicas de avaliação: comparação, cópia e condenação.
Às vezes se mede o sucesso, o sentido de significância e autoestima única e
exclusivamente pelos números. A pergunta intrigante do autor é sobre avaliar o
que realmente importa: multidões
ou conversões? Ele conclui que “encher o auditório é bom; mas encher o
Céu é melhor”. Novos membros são a medida essencial para todas as igrejas, mas
outros aspectos também são importantes.
Em face dessas observações, “em vez de eliminar [as avaliações] (como alguns sugeririam), pensamos que é necessário uma mudança nos critérios. Acreditamos que um dos critérios mais importantes é certificar-se de que homens e mulheres estão sendo transformados pelo poder do evangelho” (Ed Stetzer, Transformational Church, p. 25).
Essa avaliação deveria estar concentrada nos seguintes objetivos:
(1) verificar se a igreja está buscando
cumprir seus propósitos,
(2) estimular as iniciativas práticas,
(3) encorajar o reconhecimento e o
agradecimento,
(4) promover mudanças e inovações,
(5) facilitar a unidade e cooperação e
(6) promover a espiritualidade.
Diante desse cenário, o indicador mais esquecido da avaliação é aquilo para o qual fomos chamados, como cristãos: amar. Mateus 22:37-39 é uma boa lembrança desse requisito. Jesus Se dirige a pessoas religiosas, conhecedoras das Escrituras. Se o componente básico não existir, nenhum modelo, estratégia, estudo sobre evangelismo e testemunho vai ter efeito a longo prazo. Tudo o que fizermos precisa exaltar Jesus e ser expresso
II. Os propósitos da Igreja
A avaliação do testemunho e o evangelismo
precisa estar inserida no entendimento sobre os propósitos da Igreja. Não há
como avaliar sem saber onde se deve chegar. Uma forma didática de representar
esses propósitos é através das cinco áreas com base em Atos 2:42-47 sugeridas
por Rick Warren (no livro Uma
Igreja com Propósitos):
(1) adoração – amar ao Senhor de todo o coração;
(2) serviço – amar ao próximo como a si
mesmo;
(3) missões – ir e fazer discípulos;
(4) comunhão – batizá-los; e
(5) discipulado – ensiná-los a obedecer.
Na tabela abaixo, Warren procura explicar a relação entre os propósitos e a Igreja, descrevendo as tarefas, objetivos, alvos e consequências para a Igreja.
|
Propósito
|
Tarefa
|
Objetivo
|
Alvo
|
Minha vida
|
A Igreja supre necessidades básicas |
|
Missões
|
Evangelizar
|
Missão
|
Comunidade
|
Meu testemunho
|
Propósito para a vida
|
|
Adoração
|
Exaltar
|
Magnificar
|
Multidão
|
Minha adoração
|
Poder para viver
|
|
Comunhão
|
Encorajar
|
Membro
|
Congregação
|
Meus relacionamentos
|
Pessoas para conviver
|
|
Discipulado
|
Edificar
|
Maturidade
|
Comprometidos
|
Minha caminhada
|
Princípios para seguir
|
|
Serviço
|
Equipar
|
Ministério
|
Núcleo
|
Meu ministério
|
Profissão para cumprir
|
Apesar de, na prática, os propósitos
estarem mesclados e se apresentarem através de mais de uma atividade da igreja,
a não ser que se saiba a razão de ser, não há como pensar em avaliação.
Um alerta importante é dado por Reggie McNeal de que “quando a igreja pensa que é o destino, ela também confunde os critérios. Ela pensa que, se pessoas estão se movendo ao redor e dentro da igreja, ela está vencendo. A verdade é que, quando isso acontece, a igreja está na verdade impedindo as pessoas de ir aonde realmente querem ir: o seu verdadeiro destino” (Transformational Church, p. 26)
III. Dimensões do crescimento integral
Uma Igreja saudável, que conhece e cumpre
seus propósitos, deve se desenvolver e amadurecer, tanto como membros
individuais, como na coletividade. Em vez de se concentrar em um ou dois
índices numéricos, Orlando Costas sugere um modelo com cinco dimensões de
crescimento integral.
(1) A dimensão numérica está relacionada à reprodução resultante da proclamação do evangelho e do convite a se unirem à Igreja. Segundo ele, “o crescimento numérico é parte integrante da visão do que significa ser igreja, especialmente quando a vemos como igreja apostólica e sinal do Reino de Deus na Terra” (Crescimento Integral da Igreja, p. 42).
(2) A dimensão orgânica enfatiza a identidade interna da igreja como um organismo. “Se uma igreja tem como propósito crescer apenas em número, sem se preocupar com a comunhão, o pastoreio e os relacionamentos, ela será tão impessoal e distante que naturalmente ela mesma limitará seu crescimento numérico” (Ibid.) Essa dimensão inclui a forma de governo da igreja, a estrutura financeira, o estilo de liderança, as atividades características e os cultos.
(3) A dimensão conceitual está relacionada à capacidade da igreja de refletir sobre sua fé, sua razão de existir, sua identidade e missão. Essa dimensão abrange o potencial crítico, teológico e capacidade criativa de continuar sendo relevante diante da constante transformação da sociedade e do cenário cultural. “A dimensão conceitual não apenas nos capacita a enfrentar o futuro, como nos ajuda a ser a voz profética no presente, a sermos relevantes para nosso tempo e nação” (Crescimento Integral da Igreja, p. 44).
(4) A dimensão diaconal se preocupa em reproduzir o ministério encarnacional de Jesus, Seu amor redentor apresentado de forma prática e Sua ética em todos os aspectos da vida. “Sem a perspectiva da dimensão diaconal, a igreja perde sua autenticidade e credibilidade, visto que o fato de ser ouvida e respeitada está intrinsecamente vinculado à concretização de sua vocação de amor e serviço ao próximo, bem como sua consequente visibilidade” (Crescimento Integral da Igreja, p. 46).
(5) A dimensão litúrgica está relacionada com o objetivo primário e último da missão (ver comentário da lição 10). A adoração celebra o passado, reconhece o presente e aponta para o futuro – proclamar e experimentar a mensagem.
IV. Qualidades da igreja saudável
Na prática, para que os propósitos sejam
alcançados e resultem em um crescimento integral, se observou que há oito
qualidades que estão diretamente relacionadas. A conclusão da extensa pesquisa
de Christian Schwarz é que o desenvolvimento natural da Igreja está relacionado
a oito características importantes para a saúde da igreja.
1. Liderança capacitadora: essa qualidade destaca a importância de
líderes empenhados na capacitação dos membros de acordo com a vontade de Deus.
Isso envolve a sensbilidade ao Espírito Santo e o interesse sincero nas
pessoas. Equipar, apoiar, motivar e mentorear os membros da igreja. Fugir de
modelos que utilizam “celebridades” que centralizam tudo em função dos seus
talentos, carisma e posição (ver comentário da lição 9).
2. Ministérios orientados pelos dons: essa qualidade busca permitir que o
Espírito Santo guie a organização dos ministérios da igreja e a participação
individual. Schwarz compartilha que, segundo a pesquisa, esse fator é o que
mais influencia a sensação de satisfação e alegria de alguém – seu envolvimento
segundo o propósito do Criador (ver comentários das lições 2 e 3).
3. Espiritualidade contagiante: essa característica está relacionada à maneira
de se expressar a fé no dia a dia através de compromisso, paixão e entusiasmo.
O segredo dessa espiritualidade é uma vida fundamentada na Bíblia, dirigida
pelo Espírito Santo e focalizada no mundo (ver comentário da lição 8).
4. Estruturas funcionais: Por incrível que pareça, segundo Schwarz,
existe uma confusão em alguns contextos sobre o relacionamento entre as
estruturas e a missão da igreja – a primeira serve à segunda. As estruturas têm
o propósito de organizar, avançar e facilitar a missão (ver comentário da lição
9).
5. Culto inspirador: Essa qualidade não especifica a liturgia,
mas o foco dela. O resultado da presença num dos cultos da igreja tem que ser o
senso da presença de Deus e a motivação para o testemunho (ver comentário da
lição 10).
6. Grupos familiares ou células: essa qualidade destaca a importância da
dinâmica espiritual entre a pessoa e a igreja para produzir ajuda prática,
comunidade, e interação espiritual (ver comentário da lição 6).
7. Evangelização orientada para as necessidades: essa característica está relacionada ao
interesse da igreja nas pessoas. Schwarz fala em orar, cuidar e compartilhar
como sendo a essência do evangelismo relevante (ver comentários das lições 4 e
5).
8. Relacionamentos marcados pelo amor fraternal: essa qualidade é o que torna a igreja
magneticamente atraente e se aproxima do verdadeiro objetivo divino para a
família de Deus. Schwarz menciona a justiça, a verdade e a graça como
expressões práticas do amor fraternal (ver comentário da lição 7).
Ilustração
A altura, ou crescimento, é só uma das medidas consideradas quando as crianças estão se desenvolvendo. Sua relação com o peso é tão importante quanto o crescimento. Afinal, crescer para os lados demais ou de menos indica falta de saúde. Mas levar em conta somente esses dois critérios ainda não é o suficiente. Existe o desenvolvimento dos órgãos internos, dos ossos, das capacidades verbal, psicológica, motora e espiritual.
A altura, ou crescimento, é só uma das medidas consideradas quando as crianças estão se desenvolvendo. Sua relação com o peso é tão importante quanto o crescimento. Afinal, crescer para os lados demais ou de menos indica falta de saúde. Mas levar em conta somente esses dois critérios ainda não é o suficiente. Existe o desenvolvimento dos órgãos internos, dos ossos, das capacidades verbal, psicológica, motora e espiritual.
Uma observação cuidadosa da história da missão mostra que o sucesso ou fidelidade à missão tomou formas diferentes para pessoas, momentos e lugares diferentes. Em alguns casos, após uma longa vida de dedicação, os “resultados” só vieram nos esforços das gerações seguintes. Em outros casos, o chamado de Deus foi para uma vida longe dos holofotes, e até secreta, preservando a verdade. Em alguns casos, o chamado foi para proclamar a mensagem às multidões nos grandes estádios ou então iniciar um grande movimento de restauração de importantes verdades bíblicas entre o povo de Deus. Todos, no entanto, são chamados para contar o que Deus tem feito em sua vida à sua família, aos seus parentes e àqueles com os quais convivem. E foi por isso que o cristianismo cresceu. Todos são ministérios bem sucedidos.
Na busca pelo sucesso, não nos esqueçamos de viver com fidelidade para
que, na avaliação final, ouçamos nosso Senhor dizer: “Muito bem, servo bom e fiel;
foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25:21).
Autor deste comentário: Pr. Marcelo E. C. Dias Professor do SALT/UNASP Doutorando (PhD) em Missiologia pela Universidade
Andrews mecdias@hotmail.com

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