A propósito de rápida introdução ao estudo da segunda epístola aos tessalonicenses, observe as seguintes informações: unanimemente se aceitou que Paulo é o autor deste documento, até que alguns representantes da “alta crítica” puseram em dúvida esse fato.
O caráter de Paulo se reflete nesta carta. Sua terna preocupação pelos conversos (2:13-17); seu louvor por suas virtudes (1:3-5; 3:4); o extremo cuidado com que menciona debilidades, ao passo que demonstra autoridade em suas ordens (3:6, 12), tudo demonstra que Paulo é o autor da segunda carta aos tessalonicenses.
A autenticidade da epístola é sustentada por fortes evidências. Além de estar incluída nas listas mais antigas dos livros do Novo Testamento, é citada pelos mesmos escritores eclesiásticos que fazem referência à primeira carta. Também parece ter sido conhecida por Policarpo e Justino Mártir (cerca do ano 150).
A data de composição da epístola corresponde aos últimos meses do ano 51 ou primeiros de 52. É evidente que foi escrita no mesmo lugar da primeira e muito próxima ao tempo dela. Os mesmos três personagens são mencionados na abertura de ambas as cartas (1Ts 1:1 e 2Ts 1:1).
Lembre-se de que Paulo permaneceu um ano e meio em Corinto durante sua segunda viagem missionária (At 18:11). Não há evidência nenhuma de que Silas tivesse colaborado com ele mais tarde. Isso nos leva à conclusão de que a segunda epístola foi escrita poucos meses depois da primeira. Portanto, todos os seus antecedentes e circunstâncias são idênticos aos da primeira carta.
Provavelmente o mensageiro que levou a primeira carta tivesse voltado com informações de que se havia despertado um espírito inquieto e fanático quanto à segunda vinda de Cristo, que se supunha imediata. Essa situação demandava uma pronta resposta para evitar que os mais simples e sensíveis pudessem cair nos laços do fanatismo e da agitação sensacionalista.
Em vista desse problema, Paulo assegurou a esses humildes cristãos que o Senhor os havia aceitado. Insistiu que deviam ser gratos a Deus pelas vitórias alcançadas. Mostrou-lhes o progresso alcançado nas virtudes cristãs da fé e do amor fraternal (2Ts 1:3) e firmeza em meio à perseguição (2Ts 1:4).
Outro fato importante é que Paulo deixou claro aos tessalonicenses que a segunda vinda do Senhor não aconteceria sem que antes viesse a apostasia, exatamente como lhes havia ensinado antes, pessoalmente (2:5). Havia alguns que ensinavam não mais ser necessário trabalhar, em vista da proximidade do regresso do Senhor (1Ts 4:11; 5:14); o apóstolo já os havia advertido contra essa atitude extremista. Então, voltou ao assunto com nova ênfase (2Ts 3:2, 12). Paulo chegou ao ponto de pedir medidas disciplinares contra tais pessoas (3:14, 15).
Portanto, o tema da segunda epístola aos tessalonicenses é o mesmo da primeira: a piedade prática (1:11, 12). Os débeis deviam ser reanimados e novamente estabelecidos na fé (2:17); os agitadores deviam se calar (3:12). A igreja devia conhecer a obra enganadora do grande adversário que iria provocar a apostasia e o reinado do anticristo que seria finalmente destruído (2:3-12).
O conteúdo dos capítulos é o seguinte:
Foi isso que Paulo fez pela igreja tessalonicense. Sabia que um elogio no momento correto pode fazer mais que uma crítica indiscriminada, e que o louvor prudente nunca faz que alguém se acomode nos lauréis, mas se encha de vontade em fazer ainda mais e melhor.
O apóstolo reconheceu que as dádivas espirituais da graça e da paz podem vir somente de Deus. A graça é o amor de Deus em ação e, mediante Jesus Cristo proporciona gratuitamente completa salvação aos pecadores indignos, enquanto a paz é o resultado desse fato. Implica na compreensão íntima do perdão dos pecados, o reconhecimento da reconciliação com Deus (SDABC, v. 7, p. 272).
Com isso, Paulo não estava afirmando que não havia debilidade na igreja. Ao contrário, nos capítulos seguintes ele assinalou sérios defeitos. Não obstante, queria que todos soubessem que ele tinha confiança em suas virtudes espirituais. As pessoas que viviam desordenadamente, nesse ponto da carta foram conservadas num plano secundário. O verso 3 contém uma mensagem alegre. O que temos aqui é uma alegria irresistível que, em forma de sinceras e humildes ações de graças, é dirigida ao Doador de todas as coisas boas. Mais tarde, escrevendo aos coríntios, o apóstolo exaltou as igrejas da Macedônia e insistiu para que seguissem o exemplo de seus irmãos macedônios em abrir o coração ao Espírito de Deus (2Co 8).
Segundo William Barclay, há três coisas que Paulo destacou como sinais de uma igreja saudável:
“Justo juízo de Deus”. Esse juízo poderia ser a intervenção divina em favor de Seu povo (v. 6) e o grande castigo descrito nos versos
O verso 5 contém a expressão “para que sejais considerados dignos do reino de Deus”. Entenda que o cristão nunca é, em si mesmo, digno do reino de Deus, nem os sofrimentos necessariamente o tornam digno. Não há nada que nos faça merecedores do reino de Deus. Porém, pela divina graça perdoadora somos “tidos por dignos”, com base no dom gratuito de Deus (Rm 6:23).
“Que Ele dê em paga tribulação aos que vos atribulam” (v. 6). Portanto, “pagar com a mesma moeda”, “retribuir”. Os princípios de justiça exigem que os seres humanos recebam uma retribuição correspondente às suas obras. Os que menosprezam a expiação do Salvador permanecem sem proteção e se expõem à justa retribuição divina (SDABC).
Não se esqueça de que a justiça de Deus se manifesta num sentido duplo: por um lado, ela é retributiva. Deus retribui (dá em troca) com aflições aqueles que afligem os crentes. Por outro lado, ela é remunerativa. Ele concede descanso (literalmente, cessar) àqueles que estão sendo afligidos, gracioso alívio de todas as asperezas que têm suportado em razão de sua valente batalha em favor da verdade (Hendriksen).
Paulo considerava que aqueles a quem o Senhor castiga pertencem a duas classes: os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho. Os primeiros são os que tiveram chance de conhecer a Deus, mas desprezaram esse privilégio. Os segundos são os que conheceram a mensagem evangélica, porém resistiram
Podemos ainda destacar alguns itens importantes relacionados à Àquele através de quem Deus exercerá julgamento, descrito como “Senhor”. O título Senhor é frequentemente associado à parousia e ressalta a dignidade do Juiz.
Aparecem no verso 7 três frases que dão colorido ao quadro:
No grande dia do advento, o Senhor Se revelará com Sua própria glória, com a glória de Seu Pai e dos santos anjos. Essa glória aparece como fogo ante os olhos dos mortais.
Observe com cuidado as expressões do verso 11: “pelo que também rogamos sempre por vós, para que o nosso Deus vos faça dignos da sua vocação...” Pelas evidências, Paulo sabia que, como resultado de orações constantes, os tessalonicenses viveriam e se comportariam como convém aos que são chamados, de modo que, no dia do juízo, Deus os consideraria dignos de entrar no reino. Na corrente da salvação, que conecta uma eternidade com outra, a oração constante e a santificação diária são elos indispensáveis (Hendriksen).
O apóstolo estava interessado em algo mais além da salvação dos tessalonicenses. Ele desejava que toda obra resultante de fé alcançasse sua realização e que os leitores pudessem ser considerados dignos, a fim de que fosse alcançado o mais elevado propósito, como expressa o verso 12: “para que o nome de nosso Senhor Jesus Cristo seja glorificado em vocês, e vocês nEle...”
Nessa expressão é o nome do Senhor que é glorificado. E o nome de Cristo é o próprio Cristo, como Ele Se revelou. Portanto, quando homens aceitam Sua salvação e reconhecem Seu senhorio, Seu nome é glorificado neles. Isso, por sua vez, reflete glória sobre eles.
Aqui temos a verdade vertiginosa de que nossa glória é Cristo e a glória de Cristo somos nós. A glória de Cristo está naqueles que aprenderam com Ele a resistir e a conquistar e assim brilhar como luzeiros em lugar escuro. A glória de um mestre está nos discípulos que produz; a dos pais, nos filhos que educam não somente para que ganhem a vida, mas para que a enriqueçam; a nós é concedido o imenso privilégio e a tremenda responsabilidade de que a glória de Cristo esteja
Pode haver maiores privilégio e responsabilidade?
Que o batismo do Espírito Santo possa vir sobre nós, para que sejamos imbuídos do Espírito de Deus! Então, dia a dia nos tornaremos mais e mais semelhantes à imagem de Cristo e, em cada ato de nossa vida, a pergunta será: “Glorificará isto a meu Mestre?” Por meio da paciente continuidade em fazer o bem, buscaremos glória e honra e receberemos o dom da imortalidade (Ellen G. White, Minha Consagração Hoje [MM, 1989], p. 49).
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