12 Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam;
O tema da lição desta semana me enche de entusiasmo, pois tem a ver com um aspecto prático na vida da igreja. A meu ver, um dos grandes anseios de todo adventista leal é ver sua congregação cheia de entusiasmo e motivada para cumprir a missão que lhe foi designada. Ao rever o direcionamento seguro que Paulo ofereceu à comunidade cristã de Tessalônica, fica estabelecido um modelo de procedimentos para nós, membros da igreja do século 21.
Em primeiro lugar, o Novo Testamento conheceu unicamente membros ativos da igreja. A imagem moderna de igreja composta de uma massa passiva, em favor da qual se empenham alguns “ministros” não é bíblica e contradiz a essência de uma igreja de Jesus. Por isso, a presente carta ao mesmo tempo salienta e pressupõe como fato, o que Paulo expressou com as seguintes palavras: “consolai uns aos outros”, “todos vós sois filhos do dia e filhos da luz”, “exortai uns aos outros”, “edificai um ao outro” (Werner de Boor).
“Consolar”, “exortar” e “edificar” é algo de que não apenas “pastores” são encarregados ou exclusivamente “autorizados”. Nessas congregações vivas e ativas existiam pessoas “que [labutavam] em [seu] meio”. Porque a longo prazo, nenhuma comunhão de pessoas pode subsistir somente com os respectivos serviços voluntários. Não é possível existir sem serviços organizados e permanentes. Daí a suprema importância de unidade e sincronia entre pastores, obreiros e membros, voluntários nas igrejas de nossos dias.
Resposta ao ministério (1Ts 5:12,13)
Os que deviam ser reconhecidos como líderes e que recebiam a aprovação apostólica eram aqueles que faziam o trabalho. O que legitimava a liderança não era sua posição nem destaque social, como era a prática comum nas sociedades grega e romana, mas o trabalho que realizavam entre os membros da congregação.
Paulo descreveu o trabalho desses líderes de três maneiras. No texto grego aparece somente um artigo que rege os três particípios que aclaram sua função, portanto não se deve pensar que se tratasse de três tipos distintos de líderes. Todos eles são “os que trabalham arduamente entre vós, e vos guiam e admoestam no Senhor”.
“Trabalham arduamente” – vem de um verbo que significa um tipo de labor esgotante. É usado repetidas vezes para descrever os labores ministeriais em favor das igrejas (1Co 3:8; 15:58; 1Ts 3:5), e destaca o fato de que o verdadeiro líder se esforça pelo bem-estar da igreja. Os primeiros líderes da igreja em Tessalônica deviam ser como Jason (At 17:5-9), que dirigiam a congregação. Os que guiavam os irmãos eram os mesmos que buscavam seu benefício. Também eram os que admoestavam a congregação, isto é, os que corrigiam seus erros doutrinários e morais.
Lembre-se: na congregação dos tessalonicenses, os que se destacavam por seu trabalho, sua direção, provisão, proteção e correção eram aqueles que deviam ser reconhecidos como os verdadeiros líderes. Não a posição social nem os títulos, mas a atividade entre os irmãos era o que os separava para esse ministério. Não seria esse um belo modelo para nossas igrejas hoje?
O verso 13 chama os irmãos à lealdade para com os que eles mesmos reconheciam como seus líderes e aos demais membros da comunidade cristã. O alto respeito é demonstrado num contexto de profundo amor fraternal e não simplesmente como a sujeição de um súdito a alguém de posição superior. A relação entre os irmãos e seus líderes não era a única preocupação. O apóstolo também chamou os cristãos a um compromisso de lealdade entre si: “vivam em paz uns com os outros”.
No campo das relações humanas, a expressão “viver em paz” denotava a ausência de discórdia e a manutenção da harmonia entre as pessoas. Parece que o relacionamento entre os membros da igreja tessalonicense era bastante bom (1:3; 4:9-10), mas alguns irmãos não estavam trabalhando e sua dependência como “clientes” causava tensão (v. 14). Por isso a exposição apostólica terminou com uma oração pela paz.
Ministério de apoio (1Ts 5:14, 15)
Essa responsabilidade ministerial não era somente para os líderes, mas para todos os membros da igreja. Isso quer dizer que, embora a liderança tivesse um papel importante dentro da congregação, o trabalho do ministério não se colocava exclusivamente em suas mãos. Os membros da congregação tinham (e têm) parte na responsabilidade comum de ajudar uns aos outros para sua edificação.
Aqui a instrução começa com o vocativo “irmãos”, e a exortação “que admoesteis os insubmissos”. A igreja não devia permanecer passiva frente à conduta desordenada de seus membros, mas devia responder para corrigir seu comportamento. Os que necessitam de admoestação são os insubmissos (em grego ataktous), os “que estão fora de ordem”, ou “indisciplinados”. Esse é o sentido do termo que se encontra em vários textos da época, inclusive nos “estatutos” do ginásio de Bereia que prescreve as medidas disciplinares que se deviam tomar para corrigir a conduta dos que não seguiam os regulamentos.
Em seguida, o apóstolo exortou aos tessalonicenses: “estimulem os desanimados”. Esses eram os que estavam em sério perigo de cair
Paulo também focalizou um grupo identificado como “os fracos”, a respeito dos quais insistiu para que fossem amparados. Os fracos, ou débeis, podiam ser simplesmente os que não tinham boa posição social, talvez por terem a condição de escravos ou libertados, ou por causa de situação econômica adversa. Lembre-se de que a sociedade grega não considerava a debilidade uma virtude. Portanto, é gratificante ouvir como a igreja do Senhor deve agir. Os irmãos precisam ajudar os débeis, interessando-se por eles. Os que a sociedade secular pisoteia, recebem ajuda e apoio da igreja.
Atitudes cristãs positivas (1Ts 5:16-18)
A primeira exortação da trilogia é – “estejam sempre alegres”. Essa alegria deve sempre acompanhar o cristão, não importa as circunstâncias em que se encontre. O apóstolo nunca negou que a adversidade traz tristeza. Ele não era masoquista. Mas reconhecia que, em meio a situações angustiosas, a presença de Deus através de seu Espírito pode infundir na alma esperança e gozo no coração.
O segundo apelo da trilogia é “orai sem cessar”. Custou-me algum tempo para que eu entendesse corretamente esse imperativo. Passar cada momento consciente em oração seria psicologicamente uma meta impossível de alcançar. Até que descobri o sentido hiperbólico do advérbio grego adialeiptôs, que significa a instrução do Senhor de orar sob toda circunstância e nunca se dar por vencido (Lc 18:1). Claramente, a oração não se limita a horas prescritas, mas deve ser um elemento comum e constante na vida diária.
A terceira exortação é: “deem graças a Deus em toda situação”, ou seja, o agradecimento a Deus deve ser um aspecto central de nossa relação com Ele. O apóstolo concluiu essa trilogia de conselhos sobre atitudes cristãs positivas explicando que alegria, oração e ações de graças são o que Deus quer de nós: “Esta é a vontade de Deus
Conhecendo a “nova luz” (1Ts 5:19-22)
O verbo do primeiro imperativo significa literalmente “extinguir um fogo”, e metaforicamente “aniquilar” ou “fazer que desapareça”. Alguns estavam tentando proibir as manifestações do Espírito na igreja. Sendo que a presença do Espírito na comunidade se compara a um fogo (Lc 3:16; At 2:3), o verbo “apagar” era próprio para descrever os intentos de eliminar suas manifestações. O Espírito “apagado”significa a cessação das profecias. A presença do Espírito Santo na igreja se unia tão intimamente com a profecia que não surpreende que os apóstolos respondam à intenção de frear o uso do dom de profecia com a exortação: “não apaguem o Espírito”.
A segunda exortação repete a ideia da primeira, com a diferença de que se abre parcialmente a janela para ver porque alguns queriam apagar o dom profético. O autor disse à igreja: “não depreciem as profecias”, ou melhor, não as rejeitem com desprezo. Alguns não somente menosprezavam, mas rejeitavam os oráculos proféticos na igreja. O uso do dom profético era bastante comum na igreja primitiva (At 2:17, 18; 11:27; Rm 12:6; 1Co 11:4, 5), e provavelmente houvesse na congregação de Tessalônica aqueles que profetizavam.
A esta altura de nosso estudo, é preciso lembrar ao leitor que, conforme Paulo, o propósito principal da profecia na comunidade cristã, não era predizer o futuro, mas “edificar, animar e consolar”, com ênfase especial sobre a edificação (1Co 14:1-5, 12, 26). Porém, claramente havia problemas em mais de uma congregação concernente ao falso uso dos dons. Por isso, foram tomadas medidas para que as igrejas pudessem discernir se as profecias realmente eram inspiradas pelo Espírito Santo (1Co 14:29; 1Jo 4:1-3). Um dos dons do Espírito é exatamente o de “discernir espíritos” (1Co 12:10), que tem o propósito de julgar a validez das profecias.
Sabemos que havia manifestações de oráculos pagãos em Tessalônica ligadas ao culto de Ísis e Serapis. O questionamento das profecias por parte de vários ramos filosóficos, somado à decisão da igreja de se distanciar dos cultos aos ídolos (1:9), ajudam-nos a identificar as condições e o ambiente que levavam alguns a desprezar as profecias.
Entretanto, o conselho do apóstolo foi que, em vez de rejeitar as mensagens proféticas, a reação da igreja devia ser mais balanceada:“julgai todas as coisas, retende o que é bom”.
“Todas as coisas” que se devem submeter à prova são as profecias que alguns rejeitaram. Isso significa “provar para verificar o caráter de algo”. Os apóstolos reconheciam que a igreja tinha a responsabilidade de verificar se as profecias eram genuínas ou não. Isso por causa da presença de falsos profetas e profecias que promoviam doutrinas espúrias na igreja antiga. Uma vez havendo submetido as profecias à prova, o dever dos membros da congregação era “apegar-se” ao que é bom.
O verso 22 conclui afirmando que os crentes deviam se afastar de toda “classe de mal”, fosse qual fosse, incluindo as profecias não autênticas. Os cristãos devem, portanto, descartar qualquer revelação que a comunidade julgar espúria. A igreja não deve tratar as profecias genuínas com presteza e não deve se apegar às revelações patentemente falsas.
Santidade no tempo do fim (1Ts 5:23-28)
Gostaria de destacar ainda dois itens:
Concernente às palavras “saudai todos os irmãos com um beijo santo”, pode-se dizer que o beijo no mundo antigo significava várias coisas: o amor entre membros de uma família, honra, respeito, amizade. O beijo boca a boca, que expressa o amor erótico não era comum. O mais conhecido era o beijo dado na fronte ou na face em saudações ou despedidas entre familiares, amigos e pessoas de respeito. Também em ocasiões oficiais como os jogos ou quando se faziam contratos e também como sinal de reconciliação. Nas comunidades cristãs que abrangiam todas as classes sociais (escravos, libertados e livres) e várias raças (macedônios, romanos e judeus), o beijo santo servia como afirmação de unidade de todos na mesma fé.
Finalmente, Paulo ordenou: “que esta epístola seja lida a todos os irmãos”. Ele entendia a importância de reunir todos os irmãos da cidade para ouvir a mensagem de sua carta. Não devemos esquecer que havia analfabetos entre os membros de qualquer comunidade como essa e eles precisavam da ajuda de outros para ouvir a mensagem dos apóstolos. Não há dúvida de que a igreja lia essa epístola em muitas ocasiões e era edificada (A exposição deste estudo se baseia em 1 e 2 Tessalonicenses de Eugenio Green).
Encerro este comentário como Paulo encerrou sua epístola: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco”.
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