Em qualquer grupo humano, a prática da religiosidade, seja do passado ou presente, está matizada com diversos implementos comportamentais que caracterizam a cultura étnica que representam. Muitos povos preservam sua religiosidade através de manifestações rituais como canto, dança, vestimenta, pintura e cores, ornamentação dos lugares de adoração, movimentos corporais, sacrifícios, ofertas, etc. Tais manifestações de comportamento religioso são formas de adoração e estão baseadas na concepção da natureza e atributos dos seres sobrenaturais que as recebem. Em geral, a concepção primária da expressão religiosa é a da luta entre o bem e o mal, ou dos personagens que representam essas qualidades. Seguindo essa visão espiritual, é possível considerar como uma síntese da prática religiosa a forma de manifestar a luta entre o bem e o mal.
Algumas religiões consideram que o bem e o mal são entidades sobrenaturais que sempre existiram, mas que, finalmente, na luta travada, o bem sairá vitorioso. Os grupos religiosos que mantêm essa concepção adoram, em forma indistinta, tanto o ser que personifica o bem como o ser que personifica o mal. Existem, no entanto, grupos que cultivam a adoração unicamente ao ser que personifica o mal, porque consideram que seus atributos, que não são bem conhecidos ou são transmutados, revelam o bem que existe na sua natureza.
A Bíblia, livro sagrado de várias religiões, revela que o único ser eterno é Deus criador e redentor. Ele criou seres celestiais, entre os quais estava Lúcifer, o qual ostentava galas e privilégios maiores que os dos outros seres. Mas Lúcifer se rebelou contra a autoridade de Deus e Sua vontade; desejando maiores privilégios, tornou-se inimigo do Criador, pelo que é chamado de Satanás (adversário). A rebelião de Satanás é a origem de todo mal existente no mundo e, também, a causa da crise na adoração. Adoração, segundo as profecias apocalípticas, é a principal atitude que permitirá identificar o povo da verdade do resto da população humana. É possível diferenciar essas duas atitudes em relação ao conflito surgido pela rebelião de Satanás: o povo da verdade adora a Deus e o restante das nações adora a “besta” e a sua imagem.
O mal existe desde a rebelião de Satanás e seus seguidores. Mas o que é o mal? É uma interrogação que as áreas das ciências humanas não conseguem responder. Baseado na atitude rebelde de Satanás, é possível dar uma definição simples e compreensível do que é o mal, ou da sua consistência. Assim, pode-se afirmar que mal é toda atitude que contraria a vontade de Deus. Consiste na desobediência às leis e preceitos divinos.
Aos olhos de Deus, o mal é um ato de rebelião contra Suas leis e contra Sua vontade. Sendo o mal um ato de desobediência às leis de Deus, pode-se afirmar que uma pessoa incorre no mal quando não obedece ao Decálogo divino; quando não respeita as leis que regem os fenômenos naturais; quando não se sujeita às prescrições do ritualismo sacro; quando não atenta às normas de preservação da saúde, colocando em relevo os hábitos alimentares; quando não é submisso às orientações bíblicas do relacionamento social, incluindo o respeito às autoridades políticas; quando evita a dependência de Deus para arquitetar seu próprio futuro.
Como descendente de Adão, o homem tem aos olhos de Deus uma natural tendência ao mal e comete atitudes malignas. O efeito do mal é tão abrangente na humanidade que “não há justo, nenhum sequer” (Rm 3:10). Nada está encoberto aos olhos de Deus. Seus atributos transcendentes examinam os desejos mais profundos do coração humano, ressaltando sua natural inclinação para o mal. Todos estão contaminados por essa nefasta tendência, pela qual se faz necessário atentar à advertência da orientação divina: “Maldito o homem que confia no homem” (Jr 17:5).
Não é necessária uma atitude transcendente dos Céus ou de mensageiros humanos para nos convencer do império da maldade no mundo. A cada momento, os meios de transmissão informativa, mesmo sem considerar o princípio bíblico de ato maligno, reportam eventos qualificados como tais. Mas isso não significa que os atos de bem estejam banidos da vida humana. Toda pessoa que analisa, seja por estudo ou simples vivência, no âmago da sua consciência, verifica que o ambiente social do mundo está pincelado com as cores do bem e do mal. Viver num ambiente em que o império seja unicamente do bem é um desejo vivo de quem procura seguir com fidelidade as prescrições divinas; mas esse desejo é uma projeção futura para além deste mundo. Por enquanto, é necessário viver em conformidade com o plano divino e livres do comprometimento com a maldade.
O substantivo conformidade enuncia a qualidade de estar conforme; ou seja, mantém uma relação verbal com a ação de concordar, aceitar, conciliar, adequar-se, resignar-se ou ajustar-se. Relaciona essa ação à presença do mal no mundo, declara que é inevitável receber a influência dessa tendência na vida de cada ser humano. Cada pessoa deve viver em conformidade com a condição humana de tendência ao mal e com as múltiplas manifestações dessa atividade na vida de cada pessoa. Mas viver em conformidade não significa estar ligado ao comprometimento com o mal.
Comprometimento é um termo substantivado que indica a condição de alguém que vive comprometido com algo. Esse compromisso é uma situação imposta por obrigação. O comprometimento com o mal é uma condição da pessoa humana pela qual esta fica submetida à autoridade do maligno ou de quem gera o mal. A atividade do inimigo de Deus é tão intensa para alcançar seu infeliz objetivo de submeter as pessoas ao domínio de sua influência que, dessa maneira, as compromete para a execução de todo ato maligno.
Reconhecendo a existência do mal neste mundo, a vida de toda pessoa é afetada por estas duas qualidades com as quais mantém ligação indissolúvel: conformidade e comprometimento. O cristão vive em conformidade, isto é, em resignação pela presença do mal em toda esfera em que precisa atuar; mas, ao mesmo tempo, deve evitar todo comprometimento com a influência do maligno. Viver em conformidade e evitar o comprometimento com o mal é desígnio de todo ser humano, pois, a partir da atitude assumida depende sua realização futura e eterna. O interesse dessa pessoa diante dessas atitudes determinará sua postura de adorador sincero e fiel. Só há uma maneira de alcançar o ideal proposto: vencer a influência do mal, mesmo que a presença dessa tendência seja real e constante, e não se submeter ao comprometimento com o maligno. Isso se dá pela constante comunhão com Deus, ouvindo a voz do Senhor e guardando seus mandamentos (Dt 13:18).
Adoração é uma atitude que caracteriza a vida religiosa de uma pessoa. Muitos adoram deuses estranhos; outros, mesmo reconhecendo a existência do Deus supremo, não seguem as normas divinas de adoração, evidenciadas em Sua palavra. Qualquer forma de adoração que não seja aquela sugerida pela palavra divina deve ser considerada falsa. Assim aconteceu com a adoração de Caim ao oferecer um tipo de sacrifício não prescrito por Deus. Numa definição generalizada das formas de adoração, é possível asseverar que a verdadeira adoração é aquela que segue as normas impostas por Deus para essa finalidade; enquanto outras manifestações, numa expressão sintética do conceito, podem ser consideradas idolatria.
A história das nações revela que os sistemas sociais e religiosos impostos por seus líderes induziram os povos a praticar formas de adoração fraudulentas, seja pela convicção emotiva da existência de deuses representando a natureza, seja mediante a artificialidade de expressões ritualísticas com sentido religioso. Esse fato é demonstrado pelo surgimento de religiões que vigoraram num período da história; tiveram seu apogeu para finalmente ser extintas na ausência de devotos e, principalmente pela impossibilidade de inspirar esperança para consolidar a fé. Exemplos dessa classe de tendências religiosas já extintas são as chamadas religiões nacionais como: a religião etrusca, do império de Mitani, de Ugarite, a religião assíria, egípcia, grega, babilônica, romana, escandinava, asteca, maia, etc.; e os grandes movimentos religiosos como o Mitraismo, Jainismo, Xintoismo, Zoroastrismo, etc. Algumas religiões demonstram certa paralisia na sua expansão e vigência, como: o Taoismo, Shikismo, Budismo.
Ao observar o declínio e final extinção de determinada religião, a inferência lógica que cabe nessa observação é considerar que as formas de adoração eram falsas. Essa inferência deve ser aplicada a todo movimento religioso que surge por iniciativa ou manifestação espontânea de pessoas que promovem rituais e tipos de adoração alheios ao requerimento divino.
A religião verdadeira, motivada por genuína revelação, deve responder e elucidar as profundas questões do ser, como: a origem e o fim dos mundos, o propósito da vida, a origem do mal e da transgressão, a proposta de salvação, a justiça retributiva, a salvação como dom divino, a natureza e atributos da divindade, e outras. O cristianismo diferentemente das outras religiões, ostenta na Bíblia o paradigma e fonte de toda verdade. Nela se encontra a característica que identifica o povo de Deus, que pratica a adoração genuína; a afirmação que a Bíblia faz a esse respeito é precisa e incisiva, pois descreve “um anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, ... dizendo em grande voz: Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo; e adorai aquele que fez o Céu, a terra e o mar e as fontes das águas” (Ap 14:6,7).
A interpretação do texto é simples, sem figuras literárias nem de linguagem; descreve uma comunidade que prega o “evangelho eterno”, ou seja, a salvação mediante o sacrifício de Cristo; exorta a adorar a Deus, pois, a “hora do seu juízo” está próxima, sentença que destaca o advento de Jesus; além disso, adverte referendar a adoração ao “criador”, celebrando culto no único dia que comemora a criação divina, o sábado semanal, conforme instituído no Decálogo.
A identidade do povo de Deus, que pratica a verdadeira adoração, culmina com a descrição que destaca a “perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:12). Em conclusão, toda pessoa que deseja adorar a Deus na forma requerida pela Majestade Divina deve guardar os Seus mandamentos, mantendo a fé em Jesus. Sem essa distinção, qualquer tipo de adoração é falsa.
A Bíblia põe em relevo a característica do verdadeiro adorador, o qual orienta a sua vida sob o princípio da observância aos mandamentos de Deus. Essa vivência pessoal é básica para considerar a validade da adoração, pois Jesus afirma que “nem todo o que Me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de Meu Pai, que está nos céus” (Mt 7:21). Vista dessa forma, a regra da verdadeira adoração é simples e deve ser vivida em cada instante; mas, por outro lado, existe uma gama de atitudes, às vezes inconscientes, que caracterizam uma forma de agir contrária à posição do verdadeiro adorador; é a típica forma de idolatria sutil.
A idolatria pode ser definida como uma inclinação emotiva de gostar obsessivamente de qualquer objeto, em lugar de Deus. Os objetos idolatrados podem ser considerados simplesmente atrativos e de boa aparência; mas outros podem ser qualificados como detentores de poderes mágicos e fenomenais como: amuletos, cartas, tarô, búzios, pedras minerais, cristais, números de loterias, figuras simbólicas, nomes de entidades pessoais, representações de seres de outros mundos, etc.
O verdadeiro adorador deve ser consciente de que só Deus, através do poder do Espírito Santo é capaz de proteger, sustentar e salvar; provocando manifestações de benefício espiritual. Não sendo Deus, qualquer manifestação aparentemente benéfica deve ser considerada ação de entidade adversa ao poder divino; por conseguinte, resultado de uma inclinação à idolatria.
Uma das eloquentes demonstrações bíblicas da inoperância da falsa adoração, baseada na idolatria, é o desafio promovido pelo profeta Elias aos adoradores do deus Baal. Essa divindade era popular entre várias nações do antigo Oriente Médio. Seu nome significa: senhor, amo, marido. Era considerado o deus da chuva e da fertilidade, e o “cavaleiro das nuvens”; essa consideração era dada baseada em relato mitológico que envolvia sua pessoa. O relato informava de uma luta travada entre Baal e Mot, deus da seca. Nessa contenda, Mot mata seu contendor; mas, logo sua morte é vingada por ação de Anath, deusa da morte. O corpo de Baal é conduzido até a montanha dos deuses, onde ressuscita. Sua ressurreição provoca chuvas copiosas que fertilizam a terra. A adoração nos cultos a Baal era de extrema sensualidade, devido à lenda de que a fertilidade humana provoca a fertilidade da terra. Nesses cultos, centenas e milhares de mulheres, consideradas sacerdotisas de Baal, estavam dispostas à prática de franca prostituição.
É por demais afirmar que a adoração a Baal era de uma prolixidade extremada, por promover o prazer sensual. Seus adoradores consideravam esse deus um verdadeiro salvador e todo-poderoso. Mas, neste episódio, seus profetas estão reunidos no Monte Carmelo para, por sua intercessão, esse deus se ponha a medir forças com Deus, representado pelo profeta Elias. Qual divindade seria capaz de provocar fogo intenso? Apesar do ímpeto manifestado por esses profetas, na adoração a Baal e do ritual de extravagância que dilacerava suas próprias peles, a essência fictícia do deus invocado não se manifestou, como não poderia. Elias, profeta do verdadeiro Deus, em atitude de decidida confiança, manda molhar o altar para logo invocar em humilde oração a revelação do poder de Deus. O fogo, que queima até os rochedos se manifesta na sua forma destruidora sobre o altar exposto, consumindo as poças lodacentas.
Dessa ação um tanto bélica, uma grande lição que permanece para todo cristão é a essência do questionamento imperioso proposto por Elias: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-O; se é Baal, segui-o” (1Rs 18:21).
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