quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
A Bíblia e a história (comentário ao estudo nº 09)
Introdução
Quando se fala de história, logo surge a pergunta: Como podemos defini-la? Trata-se meramente dos eventos do passado? É o registro desses eventos ou a pesquisa desses registros que nos informam sobre o passado? É a história uma reconstrução interpretativa do passado ou o entendimento de certo autor sobre o passado?
Todos já ouvimos que a história é escrita pelos vitoriosos, por quem ganha. Aqui e ali ouvimos que a história deveria ser reescrita. Assim, temos que admitir que há sempre algo de interpretativo na história, fruto de preconceitos voluntários ou involuntários. Além do mais, “quem conta um conto, aumenta um ponto”.
Ainda, seria a história uma ciência, uma filosofia ou há uma teologia nela?
A ideia de que a história é uma ciência surgiu especialmente após o racionalismo do século 18.
O pensador francês Marquis de Condorcet chegou a afirmar que, com o avanço do conhecimento, o mal e o erro seriam eliminados. Pensava-se que, se as leis que regem o comportamento humano fossem descobertas, não somente o futuro poderia ser predito e controlado, como a história poderia ser completamente reconstruída.
O positivismo de Augusto Comte (pai do positivismo) acreditava que a ciência da história era inevitável como qualquer ciência natural, isto é, o ser humano poderia descobrir o significado último da história em bases científicas. O ser humano está inexoravelmente envolvido em um processo de progresso. Como estava errado, pois a história não é pura observação como outras ciências, nem se encontra determinada ao progresso! Visto que a história lida com pessoas, essas são completamente imprevisíveis. De Comte, sobrou em nossos dias a máxima positivista “Ordem e Progresso”, bem estampada em nossa bandeira, pois nossos pais republicanos eram positivistas (por exemplo, Benjamim Constant).
O filósofo Voltaire cunhou o termo “filosofia da história” para expressar uma interpretação secular na qual a história é baseada na razão.
Foi Hegel que sintetizou o conceito filosófico de que a história é o resultado da tensão dialética entre tese, antítese e síntese.
Esclarecendo: uma tese é contestada por uma antítese; como resultado do embate entre ambas surge uma síntese. No momento seguinte, essa síntese se transforma em tese, que gera uma antítese e que provoca uma síntese. Assim, a história seria construída por uma sequência dialética infindável de teses, antíteses e sínteses.
Karl Marx foi influenciado por Hegel quando afirmou que a Revolução Comunista era a última síntese da história. De fato, o marxismo prevê o fim da história. Esta se encerraria com o surgimento de uma eterna sociedade comunista que jamais seria contestada por uma antítese. Que utopia!
Do ponto de vista cristão, a história é uma teologia.
Na Bíblia, desde o início se percebe um propósito último na história, um alvo teológico em que o secular está subordinado aos propósitos divinos.
Numa avaliação simplista, o registro histórico seria o resultado de guerras e conflitos nos quais o vitorioso registra seus feitos e aponta o vencido como banido da história. Mas, do ponto de vista bíblico, a história é a revelação de Deus procurando levar o ser humano a um destino: a redenção.
Nas obras de história escritas dentro da tradição cristã, depois de descreverem os eventos do passado, elas reservaram o último capítulo para falar de escatologia, ou do fim da história. Isso pode ser observado na famosa obra de Agostinho, Cidade de Deus.
Em suma, quando falamos em história, temos que limitá-la ao nosso planeta, no seu sentido temporal. Nosso passado mais antigo é a criação e nosso futuro revelado (conhecido pela fé) é o estabelecimento do reino eterno de Deus, do Novo Céu e da Nova Terra. Afora esses limites, falar em história torna o tema muito especulativo, pois os conceitos de eternidade e de tempo passam a se confundir. O melhor seria entender a história como a Bíblia a traz: é a história da redenção no contexto do grande conflito.
A história se repete?
A ideia de que a história se repete é tão antiga como as civilizações egípcias e babilônicas. Esse conceito cíclico é extraído da observação dos corpos celestes e, num sentido mais amplo, de toda a natureza com os ciclos de morte e renascimento (por exemplo, as quatro estações do ano).
A teoria da história como sendo cíclica se enquadra perfeitamente no conceito da “roda das encarnações” presente no hinduísmo, budismo e jainismo.
Os gregos foram influenciados pela cultura babilônica na sua compreensão da história. Hesíodo, poeta grego do século 8 a .C., na obra Trabalho e Dias, enumerou 5 ciclos ou estágios da história: era do ouro (não existia o mal); era de prata (os seres humanos passaram a viver menos e eram destruídos por sua tolice); era de bronze (evidenciada por uma raça terrível e forte, mas que impunha a destruição deles mesmos); era dos heróis (como os registrados nas obras de Homero – Ilíada e Odisseia); e a era de ferro (caracterizada por um período de lutas, violência e desonra aos pais). De acordo com Hesíodo, o ciclo se reiniciaria quando os seres humanos não mais se deleitassem com o mal. Esse mesmo conceito de interpretação histórica aparece em Diálogos de Platão.
Pela influência da cultura helênica, os romanos também interpretavam a história como cíclica. O pensador Políbio afirmava que a história é o retorno de onde ela começou. O general Marco Aurélio disse que “aquele que viu o presente, tem visto tudo que tem existido e existirá por toda a eternidade”. O conceito cíclico aparece em destaque nas obras de Ovídio e Virgílio. Curiosamente a representação ideográfica do ano para os romanos era uma serpente engolindo a própria cauda.
Uma variação da ideia da história em sequência cíclica foi defendida por Vico no século 17. Para ele, o progresso não leva a história a uma exata repetição. Assim, Vico defendeu que a história se processa num sentido espiral. É uma repetição, mas não exata. A teoria de Vico acabou influenciando pensadores como Nietsche, Spengler, Sorokin e Toynbee (afirmava que a história era cíclica e a religião era linear).
Tão antiga como a ideia da história como cíclica é a interpretação da história como resultado de um dualismo irreconciliável entre duas forças igualmente opostas: o bem e o mal, a luz e as trevas, a vida e a morte. O zoroastrismo, desde o século 6 a .C., ensinava que o ser humano é a figura central na luta entre essas duas forças. A influência desse dualismo se manifestou no cristianismo de maneira marcante (como exemplos: o maniqueísmo e o gnosticismo cristão).
Temos que estabelecer uma distinção plena entre o dualismo e a ideia do grande conflito. No dualismo, as forças do bem e do mal são criativas e iguais. A existência da própria criação e, portanto, da história, são resultantes do confronto dessas duas forças. No drama do grande conflito há um único Deus criador que é contraposto por uma criatura que pretende se passar por Deus. Não há equilíbrio entre as forças do bem e do mal, embora o último se valha de todos os recursos para obter vitória. No grande conflito há um Vitorioso!
Do ponto de vista bíblico, a história tem caráter exclusivamente linear. A revelação bíblica descreve Deus como conhecedor do passado e do futuro. A Bíblia descreve não apenas o início da história humana como seu fim (no contexto da redenção). O grande conflito teve início e terá seu fim. A história, como um caminho no tempo apenas, possui um alvo que a transcende: o estabelecimento do reino de Deus. O Senhor tem um propósito, um plano para redimir o ser humano que caminha junto da história como ente limitado ao tempo e espaço.
Como a natureza do ser humano caminha na história, do ponto de vista de sua condição pecaminosa, os mesmos erros e até virtudes se repetem. Mas, não é a história que se repete, e sim a natureza do ser humano que se repete.
O Deus da história
Como vimos no início do trimestre, é imperativo entendermos como Deus Se relaciona com a história.
Na tradição católica e evangélica, Deus é descrito como um Ser filosófico metafísico, atemporal, extra espacial, totalmente inamovível, deslocado e radicalmente em contraste com o mundo físico, a nossa realidade. Para esse Deus determinista, não pode haver nem passado, nem futuro, pois Ele é constantemente presente. Assim, a história está diante dEle como se fosse o presente. Para Ele não há história no sentido de movimento. Para [as criaturas] é mais significativo um Deus que “é” do que um Deus “Eu Sou” (as implicações aqui são relacionais e não de natureza). Se aceitarmos esse padrão filosófico, teremos uma compreensão de Deus que está dissociado ou deslocado da história.
O Deus filosófico, conforme descrito acima, se levado às últimas consequências, induz à ideia deísta. Seria um Deus que Se relaciona com o Universo através de leis físicas e naturais. Assim, a história estaria entregue totalmente aos destinos humanos.
Nas teologias contemporâneas do processo e da libertação, Deus é compreendido como sendo construído pela própria história. Para os teólogos que propõem tais conceitos, Deus e a história acabam por ser confundidos em suas naturezas. Deus é totalmente identificado com a história. Deus não é um ser que atua ou intervém na história, mas é uma realidade intra-histórica; os atos salvíficos de Deus na história vão formando, pouco a pouco, seu Ser. Assim, não existe revelação objetiva (Bíblia), mas a própria história é a autorrevelação de Deus.
Há teólogos que defendem uma compreensão intermediária da ação de Deus na história. Eles creem que Deus vai “construindo” Seu conhecimento futuro através de Suas ações na história. Para Richard Rice, por exemplo, a existência e conhecimento de Deus vêm através da experiência: “Nem tudo que irá acontecer já está determinado. Uma parte significativa do futuro permanece ainda por ser decidida. A parte ainda aberta consiste das decisões livres a ser tomadas no futuro tanto pelas criaturas como por Deus”. Comentando sobre esse tema, o livro Nisto Cremos expõe: “Conhecimento Antecipado e Liberdade Humana: Alguns creem que Deus Se relaciona com as pessoas sem efetivamente conhecer suas decisões até que elas tenham sido tomadas; que Deus conhece certos eventos futuros, tais como o segundo advento, o milênio e a restauração da Terra, mas não tem ideia de quais serão as pessoas salvas.
Estas pessoas sentem que as dinâmicas relações de Deus com a raça humana estariam em perigo se Ele conhecesse tudo aquilo que transpira de eternidade a eternidade. Alguns sugerem que Ele Se sentiria entediado se conhecesse o fim desde o princípio. Mas o conhecimento divino a respeito daquilo que os homens irão fazer, não interfere com suas decisões efetivas em maior grau do que o conhecimento que um historiador possui dos atos passados das pessoas interfere naquilo que elas fizeram. Da mesma forma como uma câmera registra as cenas, mas não interfere nelas, o conhecimento antecipado de Deus penetra o futuro sem alterá-lo. A presciência de Deus jamais viola a liberdade humana” (p. 40).
A Bíblia revela um Deus que, por natureza, é distinto de Sua criação, mas que está diretamente envolvido na história do ser humano. Esse Deus não apenas atua na história diretamente, mas dá propósito à história. É um Deus tão pronto a agir na história que se encarnou e a viveu conosco. O Deus bíblico revela o futuro da história por meio de profecias. Assim, para Deus existe passado, presente e futuro. Nosso futuro é também o futuro para Deus. Porém, como onisciente, Ele tem o conhecimento pleno do futuro. Tal presciência, contudo, não é causativa, pois respeita nossas escolhas. Ele é um Deus que Se interpõe de forma decisiva em cada embate do grande conflito.
A Bíblia como história
“A Bíblia é a história mais instrutiva que os homens possuem. Ela proveio em seu frescor da fonte da verdade eterna, e a mão divina tem preservado sua pureza através de todos os séculos. Ela aclara o mais remoto passado em que a pesquisa humana inutilmente procura penetrar. Na Palavra de Deus vemos o poder que depôs os fundamentos da Terra e que estendeu os céus. Unicamente ali podemos encontrar uma história de nossa espécie, não contaminada pelo preconceito ou orgulho humano. Ali estão registradas as lutas, as derrotas e as vitórias dos maiores homens que este mundo já conheceu. Ali se desvendam os grandes problemas do dever e do destino. O véu que separa o mundo visível do invisível se ergue e contemplamos o conflito das forças opostas do bem e do mal, desde a entrada do pecado, a princípio, até o triunfo final da justiça e da verdade. Tudo não é senão uma revelação do caráter de Deus. Na contemplação reverente das verdades apresentadas em Sua Palavra , a mente do estudante é levada em comunhão com a mente infinita. Tal estudo não somente purificará e enobrecerá o caráter, mas também não poderá deixar de expandir e vigorar as faculdades mentais” (Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 598-599).
Por sua abrangência, a Bíblia é o único livro de história que trata de todas as questões ontológicas do ser humano. Descreve tanto o início da história como seu fim. Ela não somente traz detalhes significativos da história secular e sagrada, mas serve como elemento unificador, ligando toda a história numa teleologia (propósito). A Bíblia revela o passado com o objetivo de mostrar que a história está atingindo seu alvo e chegará a um fim. Deus tem um plano para a redenção do ser humano desde antes da fundação do mundo.
A Bíblia está tão repleta de história que cerca de 80% de seu conteúdo é informação histórica. Além dos livros conhecidos por ser denominados “livros históricos”, existem outros repletos de história como os evangelhos. As descobertas arqueológicas têm comprovado cada vez mais a historicidade dos fatos narrados na Bíblia, e que eram motivo de crítica de agnósticos.
A Bíblia registra uma história imparcial e desprovida de preconceitos. Ela reconhece falhas e defeitos em seus personagens principais, enquanto a história secular de povos como a dos babilônicos, assírios e egípcios é silente. A admissão de falhas numa batalha ou desastre de qualquer tipo poderia denegrir o prestígio da pessoa, do estado, da religião e dos deuses.
Os líderes políticos, nações, impérios podem conceber planos para seu futuro e para autoglorificação, mas Deus frequentemente Se interpõe para implementar Seus próprios desígnios (Is 46:9-11).
Somos privilegiados por podermos compreender o que se sucedeu na história. Não foi assim com os atores do drama bíblico. “Ao recapitular nossa história passada, havendo revisado cada passo de progresso até ao nosso nível atual, posso dizer: Louvado seja Deus! Ao ver o que Deus tem realizado, encho-me de admiração e de confiança na liderança de Cristo. Nada temos que recear quanto ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em que o Senhor nos tem guiado e os ensinos que nos ministrou no passado” (Ellen G. White, Testemunhos Seletos, v. 3, p. 443).
O livro Educação, de Ellen G. White, estabelece os princípios mais significativos que vinculam a Bíblia e a profecia com a história.
A Bíblia contém a história mais antiga que a pesquisa humana não consegue desvendar.
É a mais abrangente de todas.
Procede da Fonte da verdade eterna.
A mão divina tem preservado sua pureza.
Só a Bíblia contém um relato autêntico dos fatos quanto à origem das nações.
É uma história desprovida do orgulho e preconceito humanos.
“Nos anais da história humana o crescimento das nações, o surgimento e queda de impérios, aparecem como dependendo da vontade e façanhas do homem. O desenvolver dos acontecimentos em grande parte parece ser determinado por seu poder, ambição ou capricho. Na Palavra de Deus, porém, afasta-se a cortina e contemplamos ao fundo, em cima, e em toda a marcha e contramarcha dos interesses, poderio e paixões humanas, a força de um Ser todo misericordioso, a executar, silenciosamente, pacientemente, os conselhos de Sua própria vontade” (Ibid., p. 173).
Revela a verdadeira filosofia da história.
A Lei de Deus é a base para a prosperidade de indivíduos e nações.
O poder exercido pelos governantes é comunicado por Deus.
É Deus quem estabelece e remove reis e governantes.
Mede-se a fidelidade dos governantes ao cumprirem os propósitos de Deus. “A cada nação que tem subido ao cenário da atividade, permitiu-se que ocupasse seu lugar na Terra, para que se pudesse ver se ela cumpriria o propósito do "Vigia e Santo". A profecia delineou o surgimento e a queda dos grandes impérios mundiais: Babilônia, Média-Pérsia, Grécia e Roma. Com cada um destes, assim como com nações de menor poder, a história tem-se repetido. Cada qual teve seu período de prova, e cada qual fracassou. Esmaeceu sua glória, passou-se o poder que exercia e o lugar foi ocupado por outra nação” (p. 176-177).
Deus é que ultimamente dirige o destino e “os negócios” da Terra, para o cumprimento de Seus propósitos.
Deus tem designado um lugar no Seu plano a cada nação e indivíduo.
Assim como as profecias se cumpriram no decorrer da história, é certo que as profecias quanto ao futuro também se cumprirão.
A Bíblia revela as cenas finais da história. O fim está às portas.
Só pela Bíblia compreendemos a relação entre as coisas visíveis e as
invisíveis.
Cronologia bíblica e a história
Um dos aspectos mais complexos e que merece estudo criterioso na Bíblia é o relacionado à cronologia. Alguns estudiosos adventistas têm-se destacado na análise dessa cronologia, entre eles: Siegfried Horn, Edwin Thiele e o brasileiro Juarez Rodrigues de Oliveira.
As primeiras referências de períodos bíblicos são derivadas de genealogias e não de informações cronológicas. Essas informações variam dependendo do texto usado: hebraico, samaritano ou da Septuaginta. Por esse e outros motivos torna-se impossível a precisão da data para a semana da criação.
A forma mais comum para a definição do ano era derivada do calendário solar/lunar.
O nome dos meses e sua duração sofreram mudanças durante a história de Israel/Judá.
A forma mais comum de datação em Israel e Judá era definida pelo período de reinado. Por exemplo, se uma pessoa fosse perguntada sobre sua idade, diria que havia nascido num determinado ano do reinado do rei tal.
Muitos períodos bíblicos são dependentes da data do êxodo que ocorreu cerca de 1450 a .C.
A primeira informação realmente histórica na Bíblia é do 4º ano do reinado de Salomão – 970 a .C.
Os problemas se multiplicam quando Israel e Judá tiveram maneiras diferentes de definir sua sequência histórica. Em alguns momentos havia corregências e eram contados os períodos incompletos como “ano de ascensão”. Às vezes se usava uma contagem inclusiva e outras vezes a contagem exclusiva.
Para um estudo mais cuidadoso sobre o tema ver: Comentário Bíblico Adventista, v. 1, p. 152-176; SDA Bible Commentary, v. 2, p. 100-164; v. 5, p. 235-266.
Cristo como o divisor da história
Os sistemas de definição de datação histórica eram extremamente complexos até a Idade Média. Os romanos tinham sua referência à fundação de Roma. Os assírios, por exemplo, tinham os seus “limmus”, personagens importantes da nação que davam nome ao ano em sua homenagem. A maioria das nações estabelecia sua cronologia com base no período de reinado de um monarca ou o tempo de uma dinastia. O sistema Hispânia, baseado na era dos césares (a partir de 38 a .C.) foi usado até o fim da Idade Média por alguns povos. A Igreja Copta (Egípcia) tinha sua própria forma de definir os anos a partir da perseguição de Diocleciano (era dos mártires).
O sistema que usamos hoje foi desenvolvido por um monge cita a serviço do Vaticano em 527. Seu nome era Dionísio, o Exíguo. Sua preocupação primeira era estabelecer a data da páscoa cristã. Como matemático, astrônomo e conhecedor da história, Dionísio criou tabelas de contagem histórica e chegou a definir o ano 1 d.C. como o ano do nascimento de Jesus e que se sucederiam em contagem progressiva. Estabeleceu que, ao ano anterior foi o ano 1 a .C., com contagem regressiva. Existe, então, uma diferença entre a contagem histórica e as contas aritméticas que fazemos (por não existir o ano zero). O papa Bonifácio IV, do início do século VII, é conhecido como o primeiro a utilizar o sistema de Dionísio (o ano 607 d.C. era o 1360 da fundação de Roma).
O historiador Beda, c. 731, chegou a usar o método criado por Dionísio.
A implantação desse sistema foi gradual na Europa Ocidental, (século VIII) começando pela Itália e, aos poucos, pelas nações cristãs. Foi Carlos Magno que proveu uma popularização maior do sistema.
Por razões comerciais, o sistema a.C./d.C. se tornou cada vez mais popular, sendo adotado até mesmo por nações não cristãs. A China adotou o sistema (chamado de calendário ocidental) somente em 1949. Outros povos continuam com seu próprio calendário até hoje, como os judeus.
O trabalho de Dionísio foi extraordinário, mas contém algumas imperfeições, como, por exemplo, o próprio nascimento de Jesus. Hoje, é sabido que Herodes, o Grande, morreu no ano 4 a .C. Como Jesus nasceu no período em que ele ainda era rei, e que Ele foi para o Egito e ali ficou por 3 anos, poderíamos dizer sem medo de errar que Jesus teria nascido por volta do ano 8-7 a .C.
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