domingo, 12 de fevereiro de 2012

Senhor do sábado (comentário ao estudo nº 07)


  

Introdução
A raiz da palavra hebraica para sábado é shbth, com o significado básico de “cessar”. No Antigo Testamento encontramos a forma substantivada shabbath (ou shabbathon), traduzida em nossas Bíblias por “sábado”. A forma verbal é shabath, com a tradução de “descansar” ou até “guardar o sábado”.

No grego do Novo Testamento, a palavra “sábado” é a tradução do grego sabbaton (ou do plural sabbata). A influência do termo “sábado” no judaísmo do 1º século é tão significativa que a expressão sabbaton pode se referir também à semana como um todo (como em Lucas 18:12). Os dias da semana eram determinados pela mesma expressão acompanhada do numeral. Por exemplo, o domingo, primeiro dia da semana, é originalmente chamado do “primeiro depois do sábado” ou “o primeiro [dia] da semana” (ver Mt 28:1; Mc 16:2, 9; At 20:7).

O sábado no Antigo Testamento
A primeira referência ao sábado encontra-se em Gênesis 2:1-3. O verso 1 estabelece o fato de que a criação havia sido concluída. Embora o substantivo shabbath não ocorra nessa seção, o verbo shabath aparece três vezes e o pronome (“ele”) que se refere ao sábado é citado duas vezes.

Dia abençoado – O mesmo verbo usado em Gênesis 2:2 para a bênção divina sobre o sábado é usado no capítulo 1:22, 28, quando Deus abençoou os animais e toda a humanidade. Assim, essa bênção não se refere apenas a um sábado em especial, o primeiro, mas continua a irradiar o mesmo valor a todos os sábados que viessem a ocorrer na história. Por falar em história, como disse Philo de Alexandria, “o sábado é o aniversário do mundo”.

Dia santificado – O significado básico aqui é de um dia separado, reservado, diferente dos demais em sua natureza. O sábado é um dia como os outros no sentido temporal (24 horas), mas há um significado espiritual que o torna distinto dos demais. O tempo “reservado” caracteriza a perpetuidade da declaração divina. A santidade do sábado é confirmada por outras referências bíblicas, mas fora do Pentateuco.

Se Deus tivesse escolhido um lugar como memorial de Sua criação, certamente nem todos os seres humanos poderiam usufruir da bênção. Uns estariam próximos, mas a grande maioria não poderia, pela distância, receber as bênçãos.

Se Deus tivesse escolhido um objeto como representação de Seu poder criativo, esse se tornaria numa relíquia, ou algo que seria venerado como o próprio Deus.

Deus definiu como o selo de Sua criação uma parte do tempo. Não há nada mais universal que o tempo... Ele é igual para ricos e pobres, moradores em qualquer parte do mundo e em qualquer época da história. Em outras palavras, o sábado é acessível a toda a humanidade. Ele é concedido em toda parte com a mesma regularidade e a mesma quantidade. Assim, ele tem um caráter universal, imparcial e, especialmente, gratuito. Tecnicamente falando, o tempo não pode, em si, ser venerado. Como o tempo não é um fim em si mesmo, o sábado representa uma bênção interior, uma experiência pessoal e relacional com o criador. Esse relacionamento com Deus se torna o aspecto essencial do sábado.

Dia de descanso – Esse descanso sabático demonstra que a criação estava completa. Tanto Deus como o ser humano pararam para celebrar a criação. Portanto, o sábado é o presente que Deus nos dá de Si mesmo. As bênçãos do sábado se tornam evidentes quando o ser humano encontra o verdadeiro descanso na amizade e companheirismo com Deus. O sábado é como se um súdito fosse convidado a passar um dia na presença do grande Rei.

Memorial da criação – Hans Walter Wolff afirmou que “quando o ser humano não é capaz de entender Deus como Criador, sua existência fica desprovida de significado”. Quando deixamos de reverenciar o sábado, encobrimos o poder criativo de Deus e perdemos o real sentido da vida. Ainda mais, perdemos de vista o sentido pleno da cruz. Ellen G. White expôs: “A mão que sustém os mundos no espaço, a mão que conserva em seu ordenado arranjo e incansável atividade todas as coisas através do Universo de Deus, é a que na cruz foi pregada por nós” (Educação, p. 132).

O sábado é e não é um dia como outro qualquer. Como vimos, é um dia como outro na sua extensão. Mas se o ciclo semanal for associado ao sábado, esse se torna único. Não existe no Universo um ciclo natural, não há um fenômeno na natureza que determine o estabelecimento da semana. Os sete dias da semana formam um pacote de relações espirituais, físicas e psíquicas únicas. Em seis dias trabalhamos e no sétimo dia descansamos. Há aqui uma arbitrariedade divina: é o sétimo dia, o sábado, e não outro dia da semana. Se Deus é soberano na definição do tempo e o tempo tem relação com cada ser humano, o sábado é para toda a humanidade e não apenas para alguns.

O livro de Êxodo é o que mais trata do sábado em sua santidade, bênção e descanso. A experiência de libertação e o significado do Êxodo estão presentes em toda a Bíblia. Muito do conteúdo dos profetas, tanto no Antigo como no Novo Testamento, são repercussões do contexto de libertação experimentado no êxodo por Israel.

Contexto de Êxodo 5 – Moisés e Arão se dirigiram ao Faraó rogando para que o povo fosse liberado para um encontro com o Senhor no deserto. Havia um profundo caráter espiritual nesse pedido feito ao “rei do Egito”. A resposta do Faraó no verso 5 contém uma terminologia sabática evidente: “o povo da terra já é muito, e vós o distraís [shabath, “fazer repousar”] das suas tarefas”.

Êxodo 16 – o relato da concessão do maná a Israel no deserto de Sim, duas semanas antes de o povo chegar ao Sinai, dá evidências claras da santidade do sábado e sua aplicação anterior ao Decálogo.

Êxodo 20:8-11 – A linguagem empregada no 4º mandamento resume o contexto de Gênesis 2:2-3. Assim, o sábado da criação passa a ser o sábado da lei e do concerto (da aliança).

Não é só em Deuteronômio 5 que a ideia do concerto está relacionada ao sábado e à redenção (libertação). No preâmbulo do Decálogo, Deus Se apresenta como Aquele que redime e liberta (20:2). No Sinai, o sábado e o conceito da aliança divina se tornam semelhantes, pois o primeiro é a demonstração exterior da segunda. Assim, no sábado o Criador deve ser entendido como sendo também o Redentor (Libertador).

O 4º mandamento é o único que possui as marcas que definem o selo (sinal) do concerto: nome, cargo e domínio. Esse aspecto do mandamento estabelece um vínculo escatológico aludido claramente na primeira mensagem angélica (Ap 14:7). O sábado foi, é e será o sinal do povo de Deus tanto na antiga como na nova aliança.

O imperativo “lembra-te” expõe o fato de que a instituição do sábado não foi estabelecida no Sinai. Por outro lado, ela revela uma dimensão futura no sentido de que o sábado poderia ser esquecido e que sua observância sempre será o tema central da experiência dos que estabelecem uma aliança com Deus.

Outras referências ao sábado no livro de Êxodo: 23:12; 31:13-17 (aliança perpétua); 34:21; 35:2-3.

O Quarto Mandamento em Deuteronômio 5:12-15. Aqui, em vez de o mandamento aludir à criação, ele revela outra justificativa para a guarda do sábado: a libertação de Israel do Egito.

Poderia haver alguma dificuldade quanto à “antiguidade” e a aplicação universal do preceito sabático caso não houvesse o claro mandamento de Êxodo 20. Temos que compreender:

A estrutura sintática do texto de Deuteronômio é uma evidente paráfrase do 4º mandamento feita por Moisés, como registrado anteriormente em Êxodo.

O caráter do livro de Deuteronômio em si nos ajuda no fato de ser uma repetição das leis com ênfase particular nas experiências do deserto.

O motivo da libertação é uma característica não apenas do 4º mandamento, mas de toda a lei, como em Êxodo 20:2 e Deuteronômio 5:6.

Temos que destacar o aspecto redentivo presente no 4º mandamento de Deuteronômio. O Deus que entra em aliança com Seu povo não é apenas o Criador; Ele é também o Libertador, o Redentor. Assim, o sábado não é apenas um memorial da criação, mas, depois do pecado, passou a ser um memorial da redenção que há em Cristo.

A atividade criadora e redentora de Deus, revelada em Cristo, é marcante no Novo Testamento, a ponto de a redenção ser chamada de “nova criação” (2Co 5:17; ver Hb 1:1-3 e Cl 1:16-17). O conceito da graça e do perdão (justificação) é dependente e envolve a ideia de Deus como criador.  Em suma, os atos redentivos implicam e pressupõem os atos criativos. A redenção inexoravelmente aponta para a criação. Não poderia, assim, existir um Redentor que não fosse o próprio Criador.

A salvação (graça) é concedida à parte de qualquer coisa que o ser humano fizer. Ela é totalmente divina. Da mesma forma, Adão e Eva descansaram no primeiro sábado não porque tivessem feito algo, mas como resultado daquilo que Deus havia feito por e para eles. Ambos receberam as bênçãos do sábado de mãos vazias, sem nenhum mérito.

No sábado deixamos de lado nossas obras e somos convidados a apreciar as obras de Deus, tanto as criativas como as redentivas.

O sábado traz sempre à mente a íntima conexão que deve existir entre justificação e santificação.

O sábado mostra que Deus sempre toma a iniciativa. Primeiro Ele cria, concede, liberta, provê, abençoa, santifica. Depois nos chama para estabelecer um concerto com Ele. Foi assim com Israel. Primeiro os israelitas foram libertos da escravidão, restaurados como filhos e, depois, chamados à aliança do Sinai. O sábado é o sinal dessa aliança: o Libertador e Criador nos pede a resposta obediente. Primeiro ele nos justifica, depois nos concede as condições para sermos obedientes. Assim, no sábado, do ponto de vista existencial, primeiro encontramos o Deus Redentor e, depois, o Deus Criador. Define-se aqui uma via de mão dupla na qual uma verdade se mistura à outra: se reconhecemos em Deus o Redentor, vamos aceitá-Lo como Criador, e se O aceitarmos como Criador, O reconheceremos como Redentor. O sábado é um sinal de criação e redenção!

Como afirmou Philo de Alexandria, o sábado nos lembra de que, se por acaso somos “servos” dentro de uma sociedade opressiva, devemos encontrar nesse dia o lampejo da libertação. É lamentável que os teólogos da libertação, tão concentrados no êxodo, não conseguiram captar que o sábado é um dia de esperança para o opresso. Sem o sábado, é muito fácil perdermos nosso senso de humanidade!

O sábado não é apenas um dia que evidencia nossa libertação e liberdade, mas um dia que nos leva a estender essa liberdade aos que estão em servidão (física e espiritual). Se o sábado nos remete à libertação, quando o celebramos a cada semana, deveríamos nos sentir motivados a testemunhar para os que ainda estão na escravidão do pecado. O sábado deveria nos estimular ao trabalho missionário e a ações sociais que aliviem a dor e o sofrimento (a preocupação social do sábado é o destaque de Isaías 58).

Foi numa sexta-feira que Deus concluiu a Sua criação e, no sábado, descansou. Foi numa sexta-feira que Deus, em Cristo, declarou: “está consumado”, o ato redentivo e, então, descansou. Assim, quando celebramos o sábado devemos nos alegrar não apenas pela criação natural, mas também pela criação espiritual que o sétimo dia provê.

O Prof. Sakae Kubo afirma que “a santidade do ser deve alinhar-se à santidade do tempo. Santidade do tempo deve se tornar santidade no tempo”.

O sábado em Isaías – Entre os profetas de Israel, por três vezes Isaías se refere ao sábado de forma positiva:

O capítulo 56:2-8 é uma bênção aos que guardam o sábado.

No capítulo 58:13-14, bênçãos temporais e espirituais são novamente prometidas aos verdadeiros adoradores do sábado. Aqui o sábado é “o santo dia do Senhor” e “Meu santo dia”. Assim, valendo-nos do princípio sola scriptura, quando Apocalipse 1:10 fala que João foi tomado em visão no “dia do Senhor”, não poderia ser nenhum outro a não ser o dia de sábado. Esse é o dia do Senhor (ver Marcos 2:28). Há, contudo, em Isaías 58 outra expressão significativa quanto ao sábado que deve ser considerada: ele deve ser “deleitoso”.

Deve haver no ser humano um prazer espiritual ao deixar de fazer as coisas de seu próprio interesse no sábado e honrar a Deus num espírito de satisfação e alegria. Infelizmente, alguns “guardadores do sábado” não captaram o real sentido da adoração e gozo que acompanha a guarda desse dia de bênçãos. Quando o sábado é para mim um peso, estou demonstrando que ainda não compreendi o verdadeiro sentido da adoração sabática. De acordo com Ellen White, os pais devem ter um cuidado especial ao fazer do sábado um dia de alegria, diferente de todos os outros dias da semana, para seus filhos (ver Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 369). O sábado é um dia para fazer o bem (Mc 3:4).

O sábado é uma promessa para o futuro, em Isaías 66:22-23. Na Nova Terra o sábado continuará sendo um dia de louvor e adoração.

O sábado no Novo Testamento
Nos evangelhos, a conduta de Jesus quanto ao sábado está em contraste com a dos fariseus e líderes judeus (tradição rabínica). Durante o período intertestamentário, os judeus desenvolveram uma teologia completamente fundamentada na guarda da lei. Só seria salvo aquele que cumprisse a lei, especialmente a lei oral que passou a ter caráter imperativo, mesmo diante das recomendações do Antigo Testamento. O legalismo judeu transformou o dia de sábado num emaranhado de obrigações que tornaram a alegria da adoração num verdadeiro fardo. Boa parte dos argumentos usados pelos fariseus para atacar o comportamento de Jesus em relação à guarda do sábado foi codificada no Mishnah, obra composta a partir das tradições orais, no 2º século d.C. Nesse livro, existe um capítulo especial sobre a guarda do sábado, “Shabbat”. Dezenas de “leis” submetiam os judeus a uma quase escravidão nesse dia. Os “nãos” quase que tornavam impossível a sobrevivência no sábado. Entretanto, esse mesmo livro apresentava as possibilidades de “contornar” as leis mais estritas. Dois exemplos apenas:

Era proibido andar mais que uma milha no sábado. Mas, se o judeu se alimentasse a cada milha, poderia andar quanto desejasse.

Era proibido carregar qualquer coisa no sábado (39 leis eram apenas em relação ao transporte aos sábados). Mas, se o judeu prendesse em sua roupa o que desejasse transportar, não mais haveria transgressão.

Jesus veio recuperar o verdadeiro sentido do sábado. Contudo, nos Seus embates contra os exageros farisaicos, alguns encontram razões para supor que Ele tivesse abolido o sábado (e a lei como um todo). De fato, Jesus teve uma percepção extremamente positiva quanto ao sétimo dia.

Jesus frequentava a sinagoga no dia de sábado “como era Seu costume” (Mc 1:21; 6:2; Lc 4:16, 31; 13:10).

Jesus fez o bem no dia de sábado, especialmente curas. É interessante notar que as primeiras curas que Jesus realizou no sábado não provocaram nenhuma reação negativa (exemplo: endemoninhado em Cafarnaum – Lc 4:31-37; sogra de Pedro – Mt 8:14-15; ver também Mt 8:16). Jesus ainda não havia desafiado a liderança espiritual judaica. O mais significativo nas curas que Jesus efetuava era o aspecto redentivo e não apenas a libertação física. No grego do Novo Testamento, curar e salvar são a mesma coisa, a mesma expressão é usada (sozo).

Há incidentes de curas no sábado que provocaram reações severas, incluindo ameaça de apedrejamento “de acordo com a lei [oral]” se houvessem duas testemunhas. Nos evangelhos sinóticos, Jesus Se confrontou com as “exigências” rabínicas em quatro ocasiões.

A primeira foi quando Seus discípulos colheram e debulharam espigas para comer, pois estavam com fome (Mt 12:1-8). Aqui supostamente eles estariam cometendo dois trabalhos proibidos no sábado: colher e debulhar. Nesse contexto, Jesus Se apresentou como Senhor do sábado. Ele demonstrou Sua autoridade como Criador e Redentor. Nesse contexto Jesus também definiu o sábado como existindo por causa do ser humano, e não o contrário. Assim, a necessidade de alimentação é extremamente superior às “fabulas” acrescentadas à guarda do sábado.

A segunda cura foi de um homem com a mão ressequida (Mt 12:9-13). As tradições indicavam que nenhum tipo de tratamento poderia ser oferecido aos sábados a um doente, exceto quando houvesse risco de morte. Como não era esse o caso, por se tratar-se de uma doença crônica, Jesus foi acusado de transgredir o sábado. Diante das acusações, Jesus respondeu à moda rabínica: com duas outras perguntas. Não somente a vida do ser humano é superior à vida de um animal quanto é lícito fazer o bem no sábado.

A terceira cura foi de uma mulher que havia dezoito anos sofria de uma enfermidade (Lc 13:10-17).

A quarta cura registrada nos sinóticos foi de um homem hidrópico (Lc 14:1-6).

Duas curas sabáticas feitas por Jesus aparecem apenas em João:

A cura do paralítico no tanque de Betesda (5:2-9), que suscitou grande escândalo entre os fariseus. Jesus não apenas curou no sábado, mas induziu o recém-curado ao “pecado grave” de transportar a própria cama. Novamente, Jesus demonstrou Sua autoridade ao Se igualar ao Pai.

Na cura do cego de nascença (9:16), Jesus foi novamente acusado e, mais uma vez, evocou Sua autoridade messiânica.

Por que Jesus curou aos sábados? Ele não poderia ter feito esses milagres em outro dia?

Por meio desses milagres Jesus Se posicionou contra as tradições orais dos líderes judeus, evocando o real sentido do sábado, como dia de gozo e de fazer o bem.

Ao realizar esses milagres, Jesus teve oportunidade para expor Sua missão messiânica e Sua autoridade como Criador e Redentor.

Jesus aludiu à santidade do sábado no Seu discurso escatológico de Mateus 24. A fuga dos cristãos de Jerusalém não deveria ser no rigoroso inverno nem no sábado (v. 20).

De significância para a compreensão do ato redentivo da cruz é o descanso de Jesus no túmulo no dia de sábado. E há, ainda, o mesmo respeito ao dia sagrado demonstrado pelos discípulos e pelas mulheres que repousaram “de acordo com o mandamento” (Lc 13:54-56).

Tanto no livro de Atos como nas epístolas, há evidências claras que indicam que os seguidores de Cristo continuaram guardando o sábado.

Era costume de Paulo frequentar a sinagoga no dia de sábado (At 13:14, 42-44, 17:2; 1Co 18:1-18).

Tanto Atos 20:7 como 1 Coríntios 16:2 não indicam nenhuma forma de adoração ou de mudança na guarda do sábado para o domingo.

Hebreus 3:7–4:13 trata da perpetuidade do 4º mandamento e da experiência que o verdadeiro cristão obtém quando compreende a teologia da graça. O repouso sabático deve ser experimentado pela pessoa justificada pela fé. Assim, sábado e justificação possuem uma íntima conexão.

Dimensão escatológica do sábado
Na história da Igreja Adventista, logo que José Bates teve contato com Frederico Wheeler, Tomas Preble e Raquel Preston sobre a verdade bíblica da lei e do 4º mandamento, ele percebeu a significância que o sábado desempenha no drama do grande conflito. Escreveu, então, diversos livretos sobre o sábado, mas numa dimensão “adventista” (Seventh Day Sabbath, a Perpetual Sign; Tract Showing that the Seventh Day Should Be Observed as the Sabbath; Vindication of the Seventh-day Sabbath e A Seal of the Living God). Bates desenvolveu os seguintes argumentos que foram aceitos pelos pioneiros adventistas e fazem parte de nossas crenças fundamentais.

O dragão está irado contra os filhos de Deus, que guardam os mandamentos (incluindo o 4º mandamento) e têm a fé em Jesus (Ap 12:17).

A marca do povo remanescente inclui a guarda dos mandamentos (Ap 14:12).

A essência da proclamação da primeira mensagem angélica é a vinda do juízo no contexto da verdadeira adoração. Em Apocalipse 14:7, é aludida a mesma linguagem presente no 4º mandamento. A terceira mensagem angélica trata sobre os castigos daqueles que seguem a falsa adoração preconizada pela “besta”. Assim, a verdadeira adoração do sábado está em contraste direto com a falsa adoração do domingo.

Assim como o sábado foi um sinal de lealdade a Deus no Antigo e no Novo Testamento, será também no fim da história. A tríplice aliança do mal rejeita os mandamentos como sinal de lealdade. Em contrapartida, os fiéis à nova aliança são descritos como obedientes aos mandamentos de Deus.

Crença Fundamental nº 20: “O bondoso Criador, após os seis dias da criação, descansou no sétimo dia e instituiu o sábado para todas as pessoas como memorial da criação. O quarto mandamento da imutável lei de Deus requer a observância deste sábado do sétimo dia como dia de descanso, adoração e ministério, em harmonia com o ensino e prática de Jesus, o Senhor do sábado. Esse é um dia de deleitosa comunhão com Deus e de uns com os outros. É símbolo de nossa redenção em Cristo, sinal de nossa santificação, uma prova de lealdade e antegozo de nosso futuro eterno no reino de Deus. O sábado é o sinal perpétuo do eterno concerto de Deus com Seu povo. A prazerosa observância deste tempo sagrado duma tarde à outra tarde, do pôr do sol ao pôr do sol, é uma celebração dos atos criadores e redentores de Deus.”

OBSERVÂNCIA DO SÁBADO (texto oficial da IASD sobre a necessidade e importância da observância [prática] do sábado).

“A Igreja Adventista do Sétimo Dia reconhece o sábado como sinal distintivo de lealdade a Deus (Êx 20:8-11; 31:13-17; Ez 20:12, 20), cuja observância é pertinente a todos os seres humanos em todas as épocas e lugares (Is 56:1-7; Mc 2:27). Quando Deus “descansou” no sétimo dia da semana da criação, Ele também “santificou” e “abençoou” esse dia (Gn 2:2, 3), separando-o para uso sagrado e transformando-o em um canal de bênçãos para a humanidade. Aceitando o convite para deixar de lado seus “próprios interesses” durante o sábado (Is 58:13), os filhos de Deus observam esse dia como uma importante expressão da justificação pela fé em Cristo (Hb 4:4-11).”

A observância do sábado é enunciada em Isaías 58:13, 14 nos seguintes termos: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no Meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no Senhor.” Com base nesses princípios, a Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia reafirma neste documento seu compromisso com a fidelidade à observância do sábado.

Vida de santificação. A verdadeira observância do sábado se fundamenta em uma vida santificada pela graça de Cristo (Ez 20:12, 20); pois, “a fim de santificar o sábado, os homens precisam ser santos” (O Desejado de Todas as Nações, p. 283).

Crescimento espiritual. Como “um elo de ouro que nos une a Deus” (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 352), o sábado provê um contato mais próximo com Ele. Como tal, não devemos permitir que outras atividades, por mais nobres que sejam, enfraqueçam nossa comunhão com o Criador nesse dia.

Preparação para o sábado. Antes do pôr do sol da sexta-feira (cf. Lv 23:32; Dt 16:6; Ne 13:19), as atividades seculares devem ser interrompidas (cf. Ne 13:13-22); a casa deve estar limpa e arrumada; as roupas, lavadas e passadas; os alimentos, devidamente providenciados (cf. Êx 16:22-30); e os membros da família, já prontos.

Início e término do sábado. O sábado é um dia de especial comunhão com Deus, e deve ser iniciado e terminado com breves e atrativos cultos de pôr do sol, com a participação dos membros da família. Nessas ocasiões, é oportuno cantar alguns hinos, ler uma passagem bíblica, seguida de comentários pertinentes, e expressar gratidão a Deus em oração (Ver Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 356-359).

Pessoas sob nossa influência. O quarto mandamento do Decálogo orienta que, no sábado, todas as pessoas sob nossa influência devem ser dispensadas das atividades seculares (Êx 20:10). Isso implica os demais membros da família, bem como os empregados e hóspedes a fim de que também sejam estimulados a observar o sábado.

Espírito de comunhão. Como dia por excelência de comunhão com Deus (Ez 20:12, 20), o sábado deve se caracterizar por um prazeroso e alegre compromisso com as prioridades espirituais, com momentos especiais de leitura da Bíblia, oração e, se possível, de contato com a natureza (cf. At 16:13). Esse compromisso deverá ser mantido na escolha dos assuntos abordados também em nossos diálogos informais com familiares e amigos.

Reuniões da igreja. Somos admoestados a não deixar “de congregar-nos, como é costume de alguns” (Hb 10:25). Portanto, as programações e atividades regulares da igreja aos sábados devem ter precedência sobre outros compromissos pessoais e sociais, mesmo que estes sejam condizentes com o sábado.

Casamentos e festas. O convite para deixar de lado nossos “próprios interesses” no sábado (Is 58:13) indica que casamentos e festas, incluindo seus devidos preparativos, devem ser realizados fora desse período sagrado. Casamentos e algumas festas mais suntuosas não devem ser planejados para os sábados à noite, pois seus preparativos envolvem expectativas e atividades não condizentes com o espírito de comunhão com Deus.

Mídia secular. A mídia secular, em todas as suas formas, deve ser deixada de lado durante as horas do sábado, para que este, rompendo com a rotina da vida, possa ser um dia “deleitoso e santo” (Is 58:13).

Esportes e lazer. Muitas atividades esportivas e de lazer, aceitáveis durante a semana, não são condizentes com a observância do sábado, pois desviam a mente das questões espirituais (Is 58:13).

Horas de sono. A Bíblia define o sábado como dia de “repouso solene” (Êx 31:15), e não como dia de recuperar o sono atrasado da semana. Ricas bênçãos advirão de levantar cedo no sábado, dedicando esse dia ao serviço do Senhor (Ver Conselhos Sobre a Escola Sabatina, p. 170).

Viagens. A realização de viagens por questões de trabalho ou interesses particulares é imprópria para o sábado. Existem, porém, ocasiões excepcionais em que se torna necessário viajar no sábado para atender a algum compromisso religioso ou situações emergenciais. Sempre que possível, os devidos preparativos, incluindo a compra de passagens e o abastecimento de combustível, devem ser feitos com a devida antecedência. (Ver Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 359 e 360.)

Excursões e acampamentos. A realização de excursões e acampamentos pode promover a socialização cristã (cf. Sl 42:4). Mas seus organizadores e demais participantes devem chegar ao devido local antes do início do sábado e montar sua estrutura, incluindo suas barracas, de modo que o santo dia possa ser observado segundo o mandamento. Além disso, as atividades durante as horas do sábado devem ser condizentes com o espírito sagrado desse dia.

Restaurantes e alimentação. A recomendação de que o alimento deve ser provido com a devida antecedência (Êx 16:4, 5; 22-30) significa que ele deve ser comprado fora das horas do sábado, e que a frequência a restaurantes comerciais nesse dia deve ser evitada.
Medicamentos. A compra de medicamentos durante o sábado é aceitável em situações emergenciais (cf. Lc 14:5), e imprópria quando a pessoa já os necessitava, e acabou postergando sua compra para esse dia.

Estágios e práticas escolares. O quarto mandamento do Decálogo (Êx 20:8-11) desabona a realização de atividades seculares no sábado, que gerem lucro ou benefício material. Envolvidos em tais atividades estão os programas de planejamento e preparo para a vida profissional, incluindo a frequência às aulas e a participação em estágios, simpósios, seminários e palestras de cunho profissional, concursos públicos e exames seletivos. Em caso de confinamento para a prestação de exames após o término do sábado, as horas desse dia devem ser gastas em atividades espirituais.

Escolha e exercício da profissão. A estrutura da sociedade em geral nem sempre favorece a observância do sábado, e acaba disponibilizando profissões e atividades que, embora sejam dignas, dificultam essa prática. Os adventistas do sétimo dia devem escolher e exercer profissões condizentes com a devida observância do sábado. Somos advertidos de que, se alguém, “por amor ao lucro, consente em que o negócio em que tem interesse seja atendido no sábado pelo sócio incrédulo, esse alguém é tão culpado quanto o incrédulo; e tem o dever de dissolver a sociedade, por mais que perca por assim proceder” (Evangelismo, p. 245).

Instituições de serviços básicos. A orientação de não fazer “nenhum trabalho” durante o sábado (Êx 20:10) indica que os observadores do sábado devem se abster de trabalhar nesse dia, mesmo em instituições seculares de serviços básicos. Instituições denominacionais que não podem fechar aos sábados (cf. Jo 5:17), incluindo os internatos adventistas, devem ser operadas nesse dia por um grupo reduzido e em forma de rodízio.

Atividades médicas e de saúde. Existem situações emergenciais que os profissionais da saúde devem atender, com base no princípio de que “é lícito curar no sábado” (Lc 14:3). Os hospitais adventistas necessitam dos préstimos de uma equipe médica, de enfermagem e de outros serviços básicos para o funcionamento nas horas do sábado. Mas os plantões rotineiros, tanto médicos quanto de enfermagem, em hospitais não adventistas, são impróprios para as horas do sábado (Ver Ellen G. White Estate, “Conselhos de Ellen G. White Sobre o Trabalho aos Sábados em Instituições Médicas Adventistas e Não Adventistas”, em www.centrowhite.org.br).

Projetos assistenciais. Cristo disse que “é licito, nos sábados, fazer o bem” (Mt 12:12). Isso significa que “toda atividade secular deve ser suspensa, mas as obras de misericórdia e beneficência estão em harmonia com o propósito do Senhor. Elas não devem ser limitadas a tempo ou lugar. Aliviar os aflitos, confortar os tristes, é um trabalho de amor que faz honra ao dia de Deus” (Beneficência Social, p. 77). Portanto, é lícito nas horas sagradas do sábado visitar enfermos, viúvas e órfãos, encarcerados e compartilhar uma refeição. Ações sociais que podem ser realizadas em outro dia não devem tomar as sagradas horas do sábado.

Atividades missionárias. O apóstolo Paulo usava o sábado para persuadir “tanto judeus como gregos” acerca do evangelho (At 18:4, 11; cf. 17:2), demonstrando a importância de se reservar um tempo especial nesse dia para atividades missionárias. Sempre que possível, os membros da família devem participar juntos dessas atividades, para desfrutar a socialização cristã e desenvolver o gosto pelo cumprimento da missão evangelística.

“Como adventistas do sétimo dia, somos convidados a seguir o exemplo de Deus ao descansar no sétimo dia da semana da criação (Gn 2:2-3; Êx 20:8-11; 31:13-17; Hb 4:4-11), de modo que o sábado seja, para cada um de nós, um sinal exterior da graça de Deus e um canal de Suas incontáveis bênçãos.”


Autor deste comentário: Edilson Valiante nasceu em São Paulo. Formou-se em Teologia em 1979. Por mais de 20 anos serviu como professor da Faculdade Adventista de Teologia. Foi distrital, departamental de Educação e JA. Atualmente é o Secretário Ministerial da União Central Brasileira. Casado com a professora Nely Doll Valiante, tem dois filhos: Luciene e Eduardo.



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