terça-feira, 3 de abril de 2012

Definindo evangelismo e testemunho (comentário ao estudo nº 01)




Introdução

I. A missão de Deus
A revelação de Deus aponta que desde sempre Sua intenção era que os seres humanos vivessem num perfeito relacionamento com o Criador, que trouxesse honra e glória ao Seu nome. Mesmo após o pecado, Deus continua buscando alcançar Seu objetivo para com Seus filhos através do plano de salvação, que começa, se desenvolve e termina no coração de um Deus missionário.

Para a humanidade que escolheu não crer em Deus, o plano da salvação se torna a única opção para escapar das consequências destrutivas eternas dessa separação. Logo no princípio, o livro de Gênesis demonstra a necessidade de um Salvador para a humanidade e a iniciativa de um Deus de miséricórdia, amor e graça: “
Adão, onde você está?

Fiel ao Seu caráter, Deus envolve Seus filhos nesse plano de apresentar a mensagem de esperança às demais pessoas, de forma explícita, desde o chamado, envio e promessa a Abraão (Gn 12) até a igreja cristã atual. No Novo Testamento, essa característica importante – um Deus que envia – fica ainda mais evidente.

No momento mais dramático da missão de Deus, Jesus Se tornou o Salvador do mundo. A encarnação foi evangelística em sua intenção, o ministério de Cristo estabeleceu o modelo evangelístico, Sua morte e ressurreição incorporaram a mensagem do evangelismo, e Sua
comissão ordenou que todos participem do evangelismo.

Portanto, Deus enviou Jesus, que voltou para Deus e enviou o Espírito Santo para Seus seguidores que, no poder do Espírito, são enviados por Jesus a todo o mundo “
para proclamar o reino de Deus e convidar as pessoas a glorificar o Rei dos Reis através de um estilo de vida de adoração” (Introducing World Missions, p. 40). Individual e coletivamente, a igreja tem um privilégio e uma responsabilidade, no contexto da aliança com Deus, nos dias que antecedem a consumação desse plano e encerramento dessa missão.

Portanto, parafraseando Christopher J. H. Right, a Bíblia apresenta a narrativa da missão de Deus através do Seu povo, em seu engajamento com o mundo de Deus, pelo bem de toda a criação de Deus (The Mission of God, p. 21, 22).

II. A Grande Comissão

O texto de Mateus 28:18
-20, conhecido como a Grande Comissão, é o texto principal do estudo desta semana. A partir de 1792, após a publicação do famoso livreto (An Enquiry into the Obligations of Christians to Use Means for the Conversion of the Heathens) de William Carey, pai das missões modernas, a Grande Comissão passou a ser o principal texto e a grande motivação para a missão da igreja.

O conteúdo desses versos também é mencionado pelos demais evangelistas: Marcos 16:14
-18, Lucas 24:36-49, João 20:19-23 e Atos 1:8. Embora o imperativo para a evangelização seja o mesmo , cada autor enfatiza um aspecto diferente, embora mantendo a mesma orientação.

Em cada texto:
(1) Cristo dá a ordem com base em Sua obra e em Sua Palavra;
(2) a comissão é focalizada nos outros, todos aqueles que não pertencem à família de Deus;
(3) a ordem é dada após a ressurreição de Cristo, confirmando Sua vitória sobre o pecado;
(4) Cristo está no centro da comissão; e
(5) o Espírito Santo é o capacitador.

No contexto do evangelho de Mateus, é intersessante notar que a Grande Comissão está em paralelo com os primeiros versos do livro que relatam a genealogia de Jesus a partir de Abraão. Como conclusão do livro, o autor parece reafirmar que a promessa feita a Abraão há de se cumprir.

Em Mateus, é possível identificar:
(1) a autoridade (Toda a autoridade Me foi dada no Céu e na Terra),
(2) a tarefa (Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizandoos em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado),
(3) o escopo (Ide...a todas as nações),
(4) a promessa (Eis que estou convosco todos os dias) e
(5) a duração da Grande Comissão (até à consumação do século).

A Grande Comissão marca um momento de transição, resumindo tudo o que veio antes e preparando para o que haveria de vir. “Esse mandado é o clímax do ensinamento de Jesus, uma consequência lógica da Sua obra redentora, Sua ordem de marcha para a igreja e Suas palavras de despedida no limiar de uma nova era na história da salvação” (Encountering Theology of Mission, p. 41).

III. Definindo evangelismo e testemunho

As metáforas mais usadas na Bíblia em relação à atividade da igreja estão relacionadas ao dia a dia das pessoas, como por exemplo: evangelho, no sistema de comunicação; a testemunha, no sistema judicial; o discípulo, no sistema educacional e da proclamação. A lição escolheu se concentrar em duas: o evangelismo e o testemunho.

A palavra grega traduzida por testemunha é martyria, de onde se herdou a palavra mártir. Essa imagem nasce no contexto de um julgamento em que as declarações das testemunhas eram o meio primário de prova (Nm 35:30; Dt 19:15; Mt 18:15
20). A omissão de dar o testemunho verdadeiro era punida (Êx 20:16; Lv 5:1;Pv 29:24). Na igreja, o testemunho se refere a compartilhar destemidamente aquilo experimentamos em nossa caminhada com Cristo, como instrumentos do Espírito Santo no chamado à conversão. Uma testemunha é alguém que, por explicação ou demonstração, dá evidência visível ou audível daquilo que tem visto ou ouvido sem se alterar pelas consequências dessas ações (S. Briscoe, Getting Into God, p. 76).

Em contrapartida, evangelismo tem sido definido de várias formas. D. B. Barret listou 75 definições diferentes (Evangelize! A Historical Survey of the concept, p. 22). Apesar de a palavra evangelismo não se encontrar na Bíblia, o verbo euanggelizo aparece cerca de 55 vezes no Novo Testamento grego e significa “trazer ou anunciar boas
novas”.

David Bosch definiu evangelismo como “a proclamação da salvação em Cristo àqueles que não creem nEle, chamando-os ao arrependimento e conversão, anunciando o perdão dos pecados e convidando-os a se tornarem membros vivos da comunidade de Cristo na Terra e a começar uma vida de serviço a outros no poder do Espírito Santo” (Transforming Mission, p. 11).

Segundo o Pacto de Lausanne, o processo de evangelização envolve:
“(1) a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com
(2) o intuito de persuadir as pessoas a vir a Ele pessoalmente e, assim,
(3) se reconciliarem com Deus.
(4) Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. ...
(5) Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em Sua igreja e um serviço responsável no mundo”  (http://www.lausanne.org/pt/pt/1662
/covenant.html).

Evangelismo não é o mesmo que missão, mas é importante dizer que evangelismo é o coração da missão, é parte integral da missão, é uma dimensão essencial da missão e não pode ser tratado de forma isolada. Portanto, evangelismo é mais do que uma vida moral, recrutamento de membros ou uma função para especialistas. Dizer que tudo o que se faz na igreja é evangelismo ou equipará-lo a séries de conferências também não contribui para uma definição precisa do termo. A lição comenta que “é importante ver evangelismo e testemunho como um processo contínuo em vez de um único programa ou evento”.

Em suas crenças fundamentais e em uma de suas declarações oficiais, a Igreja Adventista reafirma que Deus chamou os cristãos para o evangelismo. “Isso é central para a vida e testemunho cristãos. Portanto, o cristianismo é missionário pela própria natureza
(http://adventist.org/beliefs/statements/main
/stat50.html).

Por isso, Ellen G. White afirma que “
O Senhor determinou que a proclamação desta mensagem fosse a maior e mais importante obra no mundo, para o tempo presente” (Evangelismo, p. 18).

IV. Minha missão

A esta altura, deve estar claro que evangelismo e testemunho não são descrições da sua função. São muito mais do que isso, são parte importante da definição de quem você é e daquilo que dá sentido à sua vida como estrangeiro no mundo.

Você nasceu de acordo com o propósito divino e para o Seu propósito” (The Purpose Driven Life, p. 17). Nasceu com uma missão única porque sua história é única. O chamado é para contar a história de Jesus e como ela moldou sua história. Por isso, Jesus disse que as pessoas seriam Suas testemunhas, não Seus advogados. Vale lembrar que o testemunho daqueles que vivem o cristianismo desde o nascimento pode ser tão impactante quanto o daqueles que se converteram ou retornaram à fé.

Se a adoração do Criador é o propósito criado por trás da vida, se deve ser a motivação por trás de cada ato na nossa vida, se é o glorioso cumprimento futuro e final de toda a criação, então é imperativo que ninguém fique sem essa oportunidade de se unir nessa jornada” (Evangelism Handbook, p. 51). Karl Barth, por exemplo, considera que o que faz alguém ser um cristão não é primariamente sua experiência pessoal de graça e redenção, mas seu ministério. A igreja existe para o mundo, não o mundo para a igreja. As pessoas não são chamadas para ser cristãs simplesmente para receber vida, mas para dar vida (Evangelism: Theological Currents and Cross/Currents Today, p. 15).

A obra evangelística de abrir as Escrituras aos outros, advertindo homens e mulheres daquilo que está para vir ao mundo, deve ocupar, mais e mais, o tempo dos servos de Deus” (Ellen G. White, Evangelismo, p. 17).

Os detalhes a respeito de como ser uma fiel testemunha e um evangelista segundo a vontade de Deus serão abordados durante o trimestre, mas algumas características iniciais já podem ser listadas:
a. O testemunho acontece de forma consciente e inconsciente. O objetivo deste estudo é demonstrar a importância da atividade do Espírito em orientar ambas as situações e explorar a habilidade de aproveitar as oportunidades para o testemunho consciente.
b. A igreja testemunha de forma individual e coletiva. Durante o trimestre, as duas situações serão enfatizadas. Existe um papel importante para o testemunho pessoal, mas é igualmente importante aproveitar e participar das oportunidades que a igreja oferece.
c. As pessoas testemunham em particular e em público. Cada uma dessas modalidades serve para um propósito e ajuda na proclamação do evangelho de maneira distinta.

Qualquer que seja a metáfora usada para descrever a atividade da igreja na missão de Deus, formando um ciclo, três aspectos se destacam.
(1) Antes. Esse engajamento missionário pressupõe uma conversão já que a proclamação e o testemunho são, acima de tudo, fundamentados no que Deus já realizou (Mc 5:18-20; At 22:15, 16; 1Jo 1:3). A lição aponta uma verdade: é muito mais fácil as pessoas desafiarem a sua doutrina, teologia e crenças do que seu testemunho pessoal. No contexto do pósmodernismo, isso é ainda mais real.
(2) Durante. Não é possível subestimar o processo e o conteúdo dessa proclamação centralizada em Jesus (At 2:14-36; 4:33; 5:42; 7:56; 13:48, 49).
(3) Depois. A participação da igreja na missão não se restringe a informar, mas também a fazer o convite para aceitar Jesus e se unir à Sua família (At 2:36-39). Assim completa-se o ciclo.

Existe uma dívida para com as testemunhas evangelísticas que compartilharam sua experiência com Jesus e que um dia alcançou você.

Ilustração Certo navegador passava mal em alto mar devido a uma grande tempestade. Naquele momento, ele ouviu a respeito de outro tripulante que se havia se desequilibrado e caído no mar. Preocupado em saber como poderia ajudar a salvá
-lo, ele achou uma lanterna e a ergueu em frente à janelinha redonda do seu camarote.

O homem que se afogava foi salvo. Dias depois, num encontro casual com o colega no deque do navio, ele disse que, na ocasião do naufrágio, ele já havia afundado duas vezes nas águas revoltas e estava próximo da terceira quando consequiu levantar o braço. Naquele momento, alguém o iluminou através de uma das janelas. Um dos que tentavam resgatá
-lo conseguiu ver sua mão e o puxou para o barco.

A função humana nesse processo muitas vezes se assemelha à daquele de levantar a luz para que outros sejam resgatados e se unam
-se à família de Deus (Moody's Anecdotes, p. 44). O evangelismo é uma responsabilidade e um privilégio dos quais devemos nos
aproximar com zelo, humildade e respeito. Apesar da atual condição de pecado, o mundo foi criado por Deus e para Ele. Deus amou o mundo de tal maneira, e você?

Sobre o autor deste comentário: O Pr. Marcelo E. C. Dias é Professor do SALT/UNASP e Doutorando (PhD) em Missiologia pela Universidade Andrews - mecdias@hotmail.com



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