“A lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Agora, porém, tendo chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor” (Gl 3:24, 25).
“Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou Seu Filho, [...] a fim de redimir os que estavam sob a lei” (4:4, 5).
“Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco” (v. 10, 11, ARA).
“Estas mulheres representam duas alianças. Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão” (v. 24).
“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão” (5:1).
Alguns poderiam dizer que a “lei” mencionada nesses textos é apenas a lei cerimonial. Isso aparentemente resolveria todos os problemas, e poderíamos encerrar nosso estudo por aqui.
Mas existem várias razões para rejeitar essa ideia. Uma delas é que Ellen G. White discordava dessa interpretação. Ela escreveu:
Talvez Gálatas 3:24 e 25 (veja acima) seja o texto mais forte de toda a carta. Comentando especificamente sobre ele, Ellen G. White diz: “Nessa passagem, o Espírito Santo, pelo apóstolo, Se refere especialmente à lei moral.” 3
Como, então, entender esses textos?
Em breve, você será capaz de explicar esses textos de Gálatas (e todos os demais). No fim deste trimestre, você estará mais convicto do que nunca quanto à importância e permanência da lei de Deus. Em vez de rebaixar a lei, Paulo a exaltou como poucos. Não foi por acaso que Gálatas levou muitos adventistas na década de
Uma frase da lição pode parecer estranha para algumas pessoas e, portanto, merece ser esclarecida: “Embora algumas das cartas de Paulo tenham sido perdidas, pelo menos treze livros no Novo Testamento levam seu nome” (Lição de Adultos, domingo). O que aconteceu com as outras cartas? Paulo escreveu, por exemplo, uma carta aos cristãos de Laodiceia (Cl 4:16) e duas aos coríntios, além das que estão na Bíblia (1Co 5:9-11; 2Co 2:3-9; 7:8, 12).
Além dessas, deve ter havido outras cartas, não mencionadas no Novo Testamento. Não sabemos qual era o conteúdo dessas cartas, mas Deus não julgou necessário que esses outros escritos entrassem para a Bíblia. Em Sua sabedoria, Deus viu que os livros que estão na Bíblia são suficientes para revelar Sua vontade e o caminho da salvação.
Quase sempre, o apóstolo começava suas cartas com estas palavras: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, à igreja de (cidade): A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.” Escrever uma saudação breve e simples era o costume seguido nas cartas da época. Na introdução dessas cartas, Paulo não apresenta nenhum conteúdo teológico elaborado.
Mas a introdução de Gálatas (Gl 1:1-7) não segue esse padrão. As igrejas da Galácia tinham sérias dificuldades para compreender o evangelho. Por isso, já na introdução da carta a essas igrejas, Paulo explicou o profundo significado do evangelho. A impressão que temos é de que Paulo estava tão ansioso para tratar de um assunto fundamental que precisava apresentá-lo e enfatizá-lo desde o início.
Na introdução de Gálatas, Paulo apresenta assuntos importantes que são desenvolvidos na carta:
1. Paulo se tornou apóstolo porque foi escolhido por Deus, e não por algum ser humano (v. 1).
2. O evangelho não era apenas uma compreensão de Paulo, mas de “todos os irmãos” (v. 2).
3. A salvação se tornou uma realidade através da morte e ressurreição de Cristo, que nos liberta “desta presente era perversa” (v. 1, 4).
4. Deus é nosso Pai, e, portanto, somos Seus filhos (v. 2-4).
5. O evangelho pregado por Paulo glorifica a Deus (v. 5).
Em questões secundárias, Paulo podia aceitar a existência de opiniões diferentes na igreja (cf. Rm 14; 1Co 8). Mas quando se tratava do centro da pregação apostólica – o evangelho –, ele não podia tolerar desunião. Como vimos na lição desta semana, algumas pessoas estavam ensinando um falso evangelho nas igrejas da Galácia. No entanto, de acordo com Paulo, existe apenas um evangelho (Gl 1:7). Esse é o mesmo evangelho pregado a Abraão (Gl 3:8) e aos israelitas (Hb 4:2) – é o “evangelho eterno” (Ap 14:6).
De todas as cartas de Paulo, a que escreveu aos gálatas é uma das que contêm palavras mais fortes (Gl 1:6-9). Seria possível que Paulo estivesse sendo intolerante e rude? De acordo com o ensino bíblico, às vezes é necessário dar advertências firmes contra o erro; no entanto, mesmo nesses casos, tudo deve ser feito com amor sincero e profundo interesse pela pessoa.
Jesus é o maior exemplo desse fato. Ele “nunca suprimiu uma palavra da verdade, mas sempre a proferiu com amor. [...] Denunciava sem temor a hipocrisia, a incredulidade e a iniquidade, mas tinha lágrimas na voz quando emitia Suas esmagadoras repreensões”.4 Paulo agia da mesma forma (Fp 3:18; 2Co 2:4). E esse foi também o caso ao escrever aos gálatas (Gl 4:19, 20). Em vez de expressar intolerância, Paulo demonstrava amor e preocupação por seus filhos na fé.
Antes de seu encontro com Jesus, Paulo se considerava “extremamente zeloso das tradições dos [seus] antepassados” (Gl 1:14). Isso incluía não apenas as “tradições orais dos fariseus”, mas o “próprio Antigo Testamento” (Lição de Adultos, sexta-feira). Em vez de ter em si mesma um sentido negativo ou positivo, “tradição” é simplesmente algo que foi transmitido e que recebemos. Apenas depois de verificarmos o conteúdo de uma tradição é que podemos determinar se ela é “boa” ou “ruim”.
Muitas pessoas mantêm um estereótipo quanto aos fariseus e suas tradições. A verdade é que esse grupo era muito diversificado. Jesus criticou os ensinos dos fariseus que contradiziam o Antigo Testamento (Mt 15:3-6), mas aprovou muitos outros ensinos desse grupo (Mt 23:3; 5:19, 20). Com isso, Jesus mostrou claramente que devemos rejeitar as tradições antibíblicas e aceitar as tradições que estão em harmonia com a Bíblia.
A atitude de Cristo foi seguida também por Paulo. Até o fim de sua vida, o apóstolo manteve as tradições judaicas que estavam em harmonia com o Antigo Testamento (At 25:8; 28:17). Ele não falava contra toda e qualquer tradição, mas contra as “tradições humanas”, compostas por “filosofias vãs e enganosas” (Cl 2:8).
Muitas vezes Paulo teve que enfrentar tradições antibíblicas que ameaçavam penetrar nas igrejas. Nesses casos, sua orientação era que os cristãos deviam se manter fiéis às “tradições” cristãs (1Co 11:2; 2Ts 2:15; cf. 2Ts 3:6). Esse era exatamente o problema que ocorria nas igrejas da Galácia. Em vez de permanecerem fiéis ao evangelho transmitido por Paulo, a verdadeira tradição cristã, algumas pessoas estavam dando ouvidos a tradições antibíblicas (Gl 1:8, 9).
A argumentação de Paulo em Gálatas 1:11-24 pode parecer longa e complexa, mas, em realidade, é fácil de ser compreendida. Com base na defesa do apóstolo, podemos concluir que as acusações lançadas contra ele eram as seguintes: (1) tudo o que Paulo sabia sobre o evangelho, ele aprendeu com outros líderes da igreja e (2) ele distorceu o que lhe foi ensinado. Em Gálatas 1:11-24, o apóstolo responde à primeira acusação. No capítulo 2:1-10 (que estudaremos na próxima semana), ele responde à segunda acusação.
A ideia básica de Gálatas 1:11-24 é a seguinte: “O evangelho por mim anunciado não é de origem humana. Não o recebi de pessoa alguma nem me foi ele ensinado” (Gl 1:11, 12). Para defender essa ideia, Paulo argumenta que:
1. Não havia razão para que ele abandonasse o judaísmo tradicional e aceitasse Jesus (v. 13, 14). Ele não tinha a menor dúvida sobre suas crenças e comportamento (v. 14). Além disso, combatia o cristianismo com todas as forças (v. 13).
2. Portanto, a única explicação lógica para a mudança tão radical seria uma intervenção divina (v. 15, 16). Apenas Deus poderia convencê-lo a aceitar ideias tão diferentes e amar o que antes odiava.
3. Depois de sua conversão, Paulo teve um contato muito limitado com os apóstolos (v. 18-24). Isso mostra que ele não teve tempo de aprender com eles o significado do evangelho. Foi três anos depois de sua conversão que ele se encontrou com Pedro e Tiago e, mesmo assim, por apenas 15 dias (v. 18, 19). Além disso, as igrejas da Judeia, onde os apóstolos trabalhavam, nem sequer o conheciam (v. 21-24). Não havia a menor possibilidade de que Paulo tivesse “copiado” dos apóstolos o evangelho, para depois distorcê-lo (Gl 2:1-10). A única explicação é que o próprio Cristo lhe revelou o evangelho (v. 12).
1. O chamado divino – Durante esta semana, estudamos sobre o chamado de Paulo para se tornar apóstolo. Quando falamos em “chamado”, a maioria dos cristãos logo pensa na vocação pastoral. Mas a Bíblia apresenta uma visão muito mais abrangente do assunto. Assim como Deus “chamou [Paulo] por Sua graça” (Gl 1:15), Ele também nos “chamou pela graça de Cristo” (v. 6). Não apenas os pastores, mas todos os cristãos são chamados por Deus (Rm 8:28, 30; 1Co 1:9; Ef 4:1, 4; 1Ts 2:12; 2Tm 1:9; Hb 9:15; 1Pe 2:9; 2Pe 1:10).
Embora proclamar o evangelho seja dever e privilégio de todos os cristãos, o chamado divino não se limita a isso. Ellen G. White escreveu: “Porque não são ligados diretamente a algum trabalho religioso, muitos imaginam que sua vida é inútil; que nada estão fazendo para promover o reino de Deus. Porém, isso é um erro. [...] Embora modesto, qualquer trabalho feito para Deus com completa abnegação é tão aceitável a Ele quanto o serviço mais elevado. [...]
“Se você é mãe, eduque seus filhos para Cristo. Esse trabalho é tão verdadeiramente para Deus como é o do pastor no púlpito. [...] Se seu trabalho é cultivar a terra ou ocupar-se em qualquer outro serviço ou negócio, torne esse dever um sucesso. [...] Represente Cristo em toda a sua atividade. Faça como Ele o faria em seu lugar.”5 “Deus nos chamou para servi-Lo nas tarefas seculares da vida. Dedicação a isso é tanto parte da religião verdadeira como a devoção.”6 O chamado divino é tão amplo que envolve todas as áreas da vida (cf. 1Co 10:31).
“A clareza e a verdade do evangelho podem ser facilmente perdidas de vista. Tantas outras coisas podem ocupar nossa mente, coração e vida que podemos nos esquecer do evangelho, imaginando que tudo o que temos não nos afasta dele. Em nossas igrejas, podemos começar a nos concentrar tanto no que significa ser bons pais, ter um bom casamento, estabelecer relacionamentos significativos e impactar o mundo (todas coisas boas!), que nos desviamos calma e imperceptivelmente do evangelho da livre graça.”9
“É importante que, ao defender as doutrinas que consideramos artigos fundamentais da fé, nunca nos permitamos usar argumentos que não sejam totalmente corretos. [Argumentos incorretos] podem fazer calar um adversário, mas não honram a verdade. Devemos apresentar argumentos legítimos, que não somente façam silenciar os oponentes, mas que suportem a mais profunda e perscrutadora investigação.”10
“Talvez nosso temor seja contar a algum colega de trabalho o que significa ser cristão. Ou talvez seja compartilhar nossas lutas e dificuldades com outros cristãos porque poderão pensar mal de nós. [...] O que nos livra desse temor? A promessa de que Deus nos dará tudo o que precisamos e não recusa nenhum bem àqueles que O temem (Sl 34:9; 84:11).”11
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