O teólogo adventista William Johnsson explica: “As duas alianças são duas fases na realização dos propósitos de Deus. A primeira fase está associada ao santuário do Antigo Testamento, com seu sacerdócio humano e seus sacrifícios de animais. Apesar de todo o ritual, da conformidade com os regulamentos divinos e da morte dos animais, essa aliança era incapaz de oferecer uma resposta permanente para o problema do pecado. Mas Deus prometeu uma nova aliança, na qual um Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, nosso Senhor, ministra no santuário celestial, onde oferece Seu próprio sangue como sacrifício.”2
Muitos cristãos imaginam que a antiga e a nova aliança são opostas entre si; a primeira é baseada na lei e a segunda, na graça. O estudioso adventista Michael Hasel explica a relação entre as duas alianças: “Em realidade, existe apenas uma aliança entre Deus e o ser humano – a aliança eterna [Hb 13:20], a aliança da graça. Deus sempre teve apenas um modo de salvar a humanidade: pela graça”. Existem muitos aspectos em comum entre a antiga e a nova aliança, como, por exemplo: o mesmo Deus, os mesmos participantes (Seu povo) e a mesma lei.
O autor continua: “Que diferença existe, então, entre a antiga e a nova aliança?” Em primeiro lugar, “o que é completamente novo na nova aliança é a confirmação e ratificação da aliança por meio do sangue de Cristo. A promessa da aliança permaneceu sem ser cumprida até a vinda de Cristo”. Em segundo lugar, “os gentios que antes não criam, e que agora aceitam o evangelho, são enxertados no Israel da fé, uma comunidade aberta a todos os que creem, independentemente de sua origem étnica (Rm 11:13-24; Ef 2:12-19). [...] A antiga aliança, feita com o Israel étnico, é universalizada, no Novo Testamento, para toda a raça humana”.3
A antiga aliança não era essencialmente diferente da nova (ou eterna) aliança, mas apenas uma representação didática e ilustrativa da nova aliança. “A aliança no Sinai foi destinada a apontar a pecaminosidade da humanidade [e principalmente dos israelitas] e o remédio da graça abundante de Deus, simbolizada nas cerimônias do santuário” (Lição de Adultos, quarta-feira). Os Dez Mandamentos, escritos em tábuas de pedra, chamavam o povo à realidade de seu pecado (2Co 3:7, 9). Por outro lado, o santuário ensinava ao pecador a única forma de resolver esse problema: a morte de um Substituto.
Na nova (ou eterna) aliança, “a lei moral, o Decálogo, não mais permanece em duas tábuas de pedra, como algo separado do ser humano. Em vez disso, aqueles que são ‘justificados pela fé’ em Cristo (Gl 3:24) se tornam novas criaturas
Algumas pessoas consideram Gálatas 4:21-31 como o texto mais difícil da carta. Mas, em realidade, ele pode ser facilmente compreendido, se não nos esquecermos do restante da carta.
Vimos acima que, ao contrário do que é dito por muitos cristãos, não há nenhuma oposição nem conflito entre as duas alianças. Em Gálatas 4:21-31, Paulo não disse que a aliança do Sinai (a antiga aliança) era baseada nas obras e, por isso, produzia a escravidão. Deus nunca teve outro método de salvação. A Bíblia de estudo produzida por teólogos adventistas explica que “pessoas que tentam se salvar por suas próprias obras são como a mulher escrava de Gálatas 4:22-
O problema foi a reação de muitos judeus. Eles se esqueceram da realidade espiritual para a qual o sistema do Sinai apontava e se apegaram a ele como um fim em si mesmo. Trataram os símbolos como um fim em si mesmos, e se apegaram a práticas cerimoniais e conformidade exterior com a lei, como se isso pudesse salvá-los (Rm 9:31, 32; 10:1-4; Hb 4:2). Negando a eficácia do sacrifício de Cristo (Gl 2:21), os gálatas, como muitos judeus, retornavam ao estado de condenação em que viviam antes (Gl 3:13). Como poderiam desejar viver como se Cristo ainda não tivesse vindo trazendo o livramento do pecado?
Um dos textos à primeira vista mais difíceis de Gálatas é o seguinte: “Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão: esta é Hagar. Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos” (Gl 4:24, 25). Em que sentido a aliança do Sinai trazia escravidão?
Esse texto é bastante parecido com outro também escrito por Paulo: “O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras” (2Co 3:7). As “letras em pedras” se referem explicitamente aos Dez Mandamentos. Em seguida, o apóstolo acrescenta que esse “ministério [...] trouxe condenação” (v. 9). Muitos cristãos usam esse texto para argumentar que os Dez Mandamentos não mais precisam ser guardados. Mas, como veremos, ele afirma exatamente o oposto.
O estudioso adventista W. Larry Richards explica: “Se Paulo tinha a lei em tão elevada estima [Rm 7:12, 14], como o ministério associado a ‘letras em pedras’ (os Dez Mandamentos) poderia ser um ministério que traz morte? (2Co 3:7). A resposta é bastante simples:
Mais uma vez Paulo exalta a obediência à lei, e não o desprezo a ela. Como em vários textos de Gálatas, o apóstolo se refere à função condenatória da lei. Obediência à lei nunca trouxe e nunca trará condenação ou morte. Desobediência, sim. É isso o que produz “morte” (2Co 3:7) e “condenação” (v. 9). Como o texto poderia ser mais claro?
Sobre esse tema, Ellen G. White afirma: “A lei de Deus, proclamada em terrível majestade do Sinai, é a declaração de condenação ao pecador. A função da lei é condenar, mas não há nela nenhum poder para perdoar ou redimir. [...] Ela traz [...] escravidão e morte aos que permanecem debaixo de sua condenação.”7 Note que esse texto usa as mesmas palavras de Paulo: condenação, escravidão e morte. Isso é tudo o que a lei de Deus oferece aos que ainda não foram justificados pela fé em Cristo.
Como é diferente a experiência daqueles que foram salvos pela graça! Para esses, a função da lei é descrita nas seguintes palavras: “A lei dos Dez Mandamentos não deve ser considerada tanto do lado proibitivo, como do lado da misericórdia. Suas proibições são a segura garantia de felicidade na obediência. Recebida em Cristo, ela opera em nós a purificação do caráter, o que nos trará alegria através dos séculos da eternidade. Para os obedientes, ela é um muro de proteção.”8
Como veremos em mais detalhes no comentário da próxima semana, o objetivo da nova aliança é exatamente restaurar o ser humano à harmonia com a lei de Deus (Rm 8:4). A grande promessa da nova aliança é que Deus escreve Sua lei em nosso coração (Hb 8:10). Por isso, podemos dizer com o salmista: “Tenho grande alegria em fazer a Tua vontade, ó meu Deus; a Tua lei está no fundo do meu coração” (Sl 40:8); “Como eu amo a Tua lei! Medito nela o dia inteiro” (Sl 119:97). Esse era o mesmo pensamento de Paulo: “No íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus” (Rm 7:22).
Na lição de sexta-feira, é recomendada a leitura do capítulo “A lei e os concertos”, de Patriarcas e Profetas, escrito por Ellen G. White. Abaixo, selecionamos os trechos que estão mais relacionados com a lição desta semana.
“A Bíblia apresenta [...] duas alianças”:
A nova (ou eterna) aliança – “A aliança da graça foi feita primeiramente com o ser humano no Éden, quando, depois da queda, foi feita a promessa divina de que o Descendente da mulher [Cristo] feriria a cabeça da serpente [Gn 3:15]. Essa aliança oferecia a todos o perdão e a graça auxiliadora de Deus para a futura obediência mediante a fé
“Essa mesma aliança foi renovada a Abraão, na promessa: Em tua descendência ‘serão benditas todas as nações da Terra’ (Gn 22:18). Essa promessa apontava para Cristo. Abraão a compreendeu dessa forma (Gl 3:8, 16) e confiou em Cristo para receber o perdão dos pecados. Essa fé lhe foi atribuída como justiça [Gn 15:6]. A aliança com Abraão manteve também a autoridade da lei de Deus [Gn 17:1; 26:5; 17:7] [...].
“Embora essa aliança tivesse sido feita com Adão e renovada a Abraão, não poderia ser ratificada antes da morte de Cristo. Ela havia existido pela promessa de Deus desde que foi feita a primeira indicação de redenção e havia sido aceita pela fé. No entanto, ao ser ratificada por Cristo, é chamada de ‘nova aliança’. [...]
A antiga aliança – “Outro pacto, chamado nas Escrituras de ‘antiga aliança’, foi formado entre Deus e Israel no Sinai, e foi então ratificado pelo sangue de um sacrifício. A aliança com Abraão foi ratificada pelo sangue de Cristo, e é chamada de ‘segunda’ ou ‘nova’ aliança, porque o sangue pelo qual foi selada foi derramado depois do sangue da primeira aliança. O fato de que a nova aliança era válida nos dias de Abraão é evidente porque foi então confirmada pela promessa e pelo juramento de Deus, ‘duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta’ (Hb 6:18).
“Mas, se a aliança com Abraão continha a promessa da redenção, por que foi formada outra aliança no Sinai? Em seu cativeiro, os israelitas em grande parte haviam perdido o conhecimento de Deus e os princípios da aliança com Abraão. Libertando-os do Egito, Deus procurou revelar-lhes Seu poder e misericórdia, a fim de que fossem levados a amá-Lo e a confiar nEle. [...]
“Havia, porém, uma verdade ainda maior a ser-lhes gravada na mente. Vivendo em meio de idolatria e corrupção, não tinham uma percepção verdadeira da santidade de Deus, da excessiva pecaminosidade de seu próprio coração, de sua completa incapacidade para, por si mesmos, obedecer à lei de Deus, e de sua necessidade de um Salvador. Tudo isso deveria ser ensinado a eles. [...]
“Adão ensinou a seus descendentes a lei de Deus, e esta foi transmitida de pai para filho através de sucessivas gerações. [...] Se os descendentes de Abraão tivessem guardado a aliança [com Abraão] da qual a circuncisão era um sinal, nunca teriam sido levados à idolatria; tampouco lhes teria sido necessário sofrer em cativeiro no Egito. Teriam conservado na mente a lei de Deus, e não teria havido necessidade de que ela fosse proclamada no Sinai nem gravada em tábuas de pedra.”9
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