No comentário da lição 5, vimos que as seguintes expressões têm o mesmo sentido:
Note o paralelo entre os versículos 22 e 23:
Depois de mostrar que a proclamação da lei no Sinai não anulou a promessa de salvação feita a Abraão, Paulo pergunta: “Então, a lei opõe-se às promessas de Deus? De maneira nenhuma! Pois, se tivesse sido dada uma lei que pudesse conceder vida, certamente a justiça viria da lei” (Gl 3:21).2
Assim como hoje, no tempo de Paulo muitos acreditavam que a lei de Deus fosse contrária ao evangelho (a promessa de salvação feita a Abraão). Mas o apóstolo rejeitou essa ideia de maneira enfática. Ele explicou que a função da lei nunca foi conceder vida espiritual e justificação. Portanto, nem mesmo durante a época do Antigo Testamento as pessoas eram salvas pela obediência à lei. Não porque exista algum problema na lei, mas esse simplesmente não é o propósito dela, e nunca o foi.
A lei não é contrária à promessa, porque ambas “têm diferentes papéis e funções no plano maior de Deus para a salvação” (Lição de Adultos, domingo). A promessa feita a Abraão mostra que podemos ser salvos somente pela fé. Mas, então, qual era a função da lei? Por que Deus a proclamou no Sinai? Para responder a essas perguntas, Paulo comparou a lei a um carcereiro e a um disciplinador:
“A Escritura confinou tudo debaixo do pecado, para que a promessa, que é pela fé
Note que esse texto fala sobre estar “debaixo do pecado” e “debaixo da lei”, que é praticamente o mesmo que estar debaixo da “maldição da lei”. Portanto, a ideia básica é a condenação da lei. Como vimos no comentário da semana passada, Deus proclamou a lei no Sinai para desempenhar essa função em relação ao pecado.
A imagem usada nesse texto é a seguinte: a lei revela o pecado e, ao fazê-lo, condena o pecador. Embora isso seja verdade a respeito de toda a humanidade, Paulo estava se referindo primariamente ao povo de Israel. Esse é o assunto de Gálatas 3:19-25. “A lei funciona como um carcereiro, prendendo todos os que a transgrediram e trouxeram sobre si mesmos a sentença de morte” (Lição de Adultos, segunda-feira).
Escrevendo sobre essa função da lei, Ellen G. White afirmou: “A lei de Deus, proclamada em terrível majestade do Sinai, é a declaração de condenação ao pecador. A função da lei é condenar, mas não há nela nenhum poder para perdoar ou redimir. [...] Ela traz [...] escravidão e morte aos que permanecem debaixo de sua condenação.”3
“A lei se tornou nosso disciplinador [ou tutor], levando-nos a Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Porém, tendo vindo a fé, já não estamos mais debaixo do disciplinador” (Gl 3:24, 25).
Esse texto fala sobre estar “debaixo do disciplinador”, que é praticamente o mesmo que estar “debaixo do pecado”, “debaixo da lei” e “debaixo da maldição da lei”. Novamente, a ideia básica é a condenação da lei.
Na sociedade romana, o disciplinador ou tutor (em grego, paidagógos) “era um escravo colocado numa posição de autoridade sobre os filhos de seu senhor, a partir dos seis ou sete anos, até que atingissem a maturidade”. Por isso, era um disciplinador rigoroso, que exigia boa conduta. Em algumas gravuras antigas que sobreviveram, o disciplinador é inclusive representado com uma vara na mão. Com essa ilustração, Paulo disse que a lei “nos reprova e condena como pecadores” (Lição de Adultos, quarta-feira).
Em outros textos, Paulo apresenta a mesma ideia: a lei mostra o pecado e, ao fazer isso, condena os pecadores (Rm 3:20; 4:15; 5:13, 20; 7:7-11). Isso porque “pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3:4; veja Rm 4:15). Ao proclamar a lei no Sinai, Deus desejava mostrar aos israelitas quão pecaminosos eles eram e como o pecado é ofensivo a Ele.
Comentando esse texto, Ellen G. White escreveu: “Perguntam-me acerca da lei
Portanto, carcereiro e disciplinador são duas ilustrações que apresentam a mesma verdade: a lei tinha o objetivo de revelar o pecado e condenar o pecador. Por isso mesmo, essa não pode se limitar à lei cerimonial, visto que ela não se destinava a revelar o pecado e muito menos a condenar o pecador.
Alguns podem imaginar que Paulo era pessimista e falava apenas sobre o aspecto negativo da lei. Nada poderia estar mais distante da realidade. Mesmo nessa função “negativa” da lei, de condenar o pecador, Deus teve em mente um propósito maior, positivo, glorioso. A fim de mostrar esse propósito supremo, Paulo usou as seguintes palavras:
Podemos resumir Gálatas 3:19-25 da seguinte forma:
Paulo afirma claramente que, desde que Cristo veio, não mais estamos “debaixo da lei” e “debaixo do disciplinador” (que é a lei). Ele escreveu:
Essa chave foi confirmada no estudo acima, sobre Gálatas 3:19-25. Nesse texto, Paulo mostra que a lei foi dada no Sinai para cumprir uma “função condenatória” em relação ao povo de Deus. Ou seja:
Ao escrever sobre isso, um estudioso adventista afirma que, “na era de Cristo, a lei não mais desempenha sua função condenatória (Rm 8:1)” em relação aos salvos.5 Em outras palavras, a partir do momento
Agora podemos compreender melhor um texto estudado na semana passada: A lei “foi acrescentada por causa das transgressões, até que viesse o Descendente a quem se referia a promessa” (Gl 3:19). Esse texto significa simplesmente que, a partir da vinda de Cristo, aqueles que O aceitam como Salvador não mais estão “debaixo da lei” (v. 23), ou seja, estão livres da condenação da lei (v. 13).
O teólogo adventista Ángel Manuel Rodríguez resume Gálatas 3:19–4:7: “A função da lei não era dar vida [eterna]; caso contrário, a pessoa seria justificada pela lei (Gl 3:21). Paulo atribui à lei um papel específico: ela é o carcereiro que impede a fuga dos prisioneiros (v. 23) e se certifica de que eles estão debaixo da maldição, merecendo a morte (v. 13).
“Mas a lei teve essa função apenas por um período limitado de tempo, até a vinda do Salvador prometido. Paulo comparou a lei a um tutor que nos leva a Cristo (v. 24). Ele nos livrou da maldição da lei e da prisão do pecado, quando nasceu debaixo da lei (4:4, 5) e Se tornou maldição por nós (3:13).”6
Na cruz, não ocorreu mudança nenhuma no conteúdo da lei, visto que ela é santa, justa, boa (Rm 7:12) e espiritual (v. 14). O problema nunca esteve com a lei, e sim com o ser humano (Rm 7:7, 13; 8:3). Por isso, “nosso relacionamento com a lei [é que] passa a ser diferente”, já que “não mais estamos sob a condenação da lei” (Lição de Adultos, quinta-feira).
Em uma frase, podemos dizer que Cristo morreu para nos libertar da condenação da lei, e não da obediência à lei. Paulo deixou esse fato bastante claro: “E então? Vamos pecar porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De maneira nenhuma!” (Rm 6:15).
Qual é a função da lei para nós, hoje?
Depois de estudarmos o que Paulo disse sobre a função condenatória da lei de Deus, pode surgir a pergunta: Será que essa é a única função da lei? Se respondermos que sim, então a lei não tem nenhuma relevância para nós.
Gálatas 3:19-25 é um dos textos negativos de Paulo a respeito da lei, em que ele fala sobre a função da lei em condenar os transgressores e fazê-los sentir a necessidade do Salvador. Mas, além desses, existem muitos textos positivos,
Paulo jamais ensinou que alguma parte da lei não mais precisa ser obedecida. É exatamente o oposto: em Gálatas 5 e 6, por exemplo, o apóstolo mostra que a morte de Cristo e o poder do Espírito Santo capacitam o cristão a viver de acordo com a lei de Deus (Gl 5:23). Quando somos “guiados pelo Espírito”, não mais estamos “debaixo da lei”, isto é, condenados por ela (v. 18). Em vez disso, somos habilitados a cumprir “toda a lei” (v. 14; cf. Rm 13:8-10).
A mesma ideia aparece em outras cartas de Paulo. Cristo morreu para tornar possível a nós guardarmos a lei (Rm 8:4). Hoje, Deus, por meio do Espírito Santo, escreve Sua lei em nosso coração (Hb 8:10; 10:16). Paulo citou vários mandamentos específicos da lei, mostrando que ela continua a ser um guia para o comportamento cristão (Rm 13:9; 1Co 10:14, 20, 21; Ef 6:1, 2).
A conclusão é evidente: para quem ainda não foi salvo, a função da lei é mostrar o pecado e condenar o pecador para que ele sinta a necessidade de Cristo; mas, para quem já foi salvo pela graça, a lei mostra a santa e imutável vontade de Deus. Quando estudamos Gálatas, o conhecido texto se torna ainda mais poderoso: “Anulamos então a lei pela fé? De maneira nenhuma! Ao contrário, confirmamos a lei” (Rm 3:31). Em vez de se opor à lei, a fé é o único meio de obedecer a ela. No comentário da lição 11, veremos mais sobre a obediência à lei na vida do cristão.
Em Gálatas 3:19-25, Paulo explicou que a lei desempenhou três funções em relação ao povo de Israel:
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