Ao longo de meu ministério, e já são mais de 38 anos aqui e ali, tenho encontrado irmãos sinceros com uma compreensão nem sempre correta concernente aos eventos finais. Por isso gostaria de aproveitar o ensejo do tema desta lição para apresentar uma breve “introdução” que, espero, contribua para um entendimento mais esclarecedor sobre o tema.
Deus, o Pai, conhece tudo, incluindo a data da segunda vinda de Jesus. Poderia tê-la revelado à humanidade, porém não o fez. Se o homem conhecesse “o tempo e a época”, provavelmente esperaria até o último instante anterior ao evento para então se preparar. Isso seria perigoso, porque poderia morrer antes desse momento, ou se vivesse, esperaria demais. Além disso, estar pronto para a segunda vinda de Jesus é o mesmo que ter idoneidade para ela. Mas isso leva tempo. Não é obra de um momento.
Deus não estabeleceu arbitrariamente a data da parousia. Por outro lado, os seres humanos tampouco podem apressar ou retardar essa data, pelo menos em sentido absoluto. Se os humanos pudessem em realidade apressar o advento por si mesmos, eles estariam frente à ênfase mais absurda de salvação por obras, a despeito do evangelho. Tal forma de pensar revela uma condição de segunda classe para o povo de Deus do tempo do fim.
A pura verdade é que Deus fez planos para que cada um entre no Céu. Ele ama o mundo (Jo 3:16); ama a todos por igual. Que o tempo se estenda, isso não se opõe à Sua vontade, portanto, não se opõe ao Seu amor por toda a humanidade. Ele deseja que todos sejam salvos e dá tempo para que a obra da salvação alcance sua conclusão lógica.
Leia a segunda carta de Pedro (3:9, 10), “não retarda o Senhor a Sua promessa... pelo contrário, Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça... virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor...”
Observe o equilíbrio entre: 1) a paciência divina e 2) a falta de preparação humana para o advento.
A escatologia, ou os eventos finais, não são apenas de uma só dimensão; ou seja, não têm a ver exclusivamente com o futuro. À luz da cruz de Cristo, eles são tridimensionais. Podemos falar do fim que “já passou”, um fim que é atual e um fim que virá. Não existe um vazio entre a promessa de vir e a demora
Assim como cada dia tem a saída do Sol que o precede, também a vinda do dia eterno tem uma saída do Sol. A luz dessa saída do Sol começou a se mostrar no horizonte oriental quando Jesus Se levantou da sepultura no domingo da ressurreição, continuou com a vinda do Espírito Santo no Pentecostes e se estende por toda a história. O amanhecer será mais brilhante à medida que nos aproximarmos mais e mais da vinda de Cristo, quando então veremos o Sol.
Ninguém pode deter a vinda de Cristo assim como ninguém pode impedir um amanhecer. Porque entendido apropriadamente, o evento tem três dimensões: passada, presente e futura. Focalizar apenas a dimensão futura é perder o quadro completo.
Lembre-se de que os documentos do Novo Testamento têm uma ênfase cambiante. Os escritos mais antigos, como 1Tessalonicenses (provavelmente o primeiro documento do NT), falam de Jesus quase como se Ele já estivesse aqui (1 Ts 4:13-18, 5:4, 23). Parece que Paulo naquele tempo acreditava que estaria vivo para ver a vinda de Cristo. Porém, o Senhor lhe mostrou algo diferente, de modo que em sua segunda carta corrigiu seu otimismo anterior. Era preciso passar tempo suficiente para que se desenvolvesse um sistema falsificado anticristão, que Paulo denominou “o homem da iniquidade, o filho da perdição” (2Ts 2:1-8).
Entenda, não nos movemos para o fim, apressando-o ou atrasando-o, como se os humanos tivessem uma grande contribuição a oferecer ou como se as rédeas do tempo estivessem balançando, vindas do céu, e caíssem em nossas mãos. As mãos indignas dos humanos não foram cravadas na cruz, mas sim as dEle. Somente Ele conquistou o direito de controlar os eventos mundiais. Todos os eventos dos últimos dias saem do evento do fim, no Calvário (exposição fundamentada em “Christ is Coming!” de Norman Gulley).
Paulo nos ajuda a entender isso nesta semana. Ele afirmou que a destruição no juízo final virá sobre os que rejeitarem o evangelho e “de maneira nenhuma escaparão dela” (5:3). Porém, a ira divina não se derramará sobre a igreja, que é o objeto da salvação por meio do Senhor Jesus (5:9). De fato, ao longo de toda a passagem, o contraste se mantém entre a igreja e os inconversos, no que se refere a seu destino e sua conduta (versos
Os dois lados do juízo
As Escrituras descrevem os santos do tempo do fim como desnudos (Ap 3:18), assim como Adão e Eva depois da queda. Nem as folhas de figueira nem as obras humanas podem suprir sua necessidade. Somente o Cordeiro imolado é capaz de proporcionar a vestimenta, e apenas o vestido da justiça de Cristo, o vestido das bodas que o Senhor oferece será suficiente.
Lembre-se de que Deus não necessita de juízo, porque é onisciente. “Conhece o Senhor os que são Seus” (2Tm 2:19). Todavia, Ele leva a cabo o juízo em consideração aos seres criados. No juízo anterior ao advento, o Universo examina os registros das obras humanas, boas e más (Dn 7:10). Porém, mais que isso, confirma se as pessoas aceitaram ou rejeitaram a obra salvífica que Jesus realizou por elas na cruz. Sua relação com o juízo substitutivo do Salvador do pacto decide seu destino. Assim, o juízo se centraliza em Cristo e não no ser humano. O que é decisivo não é o que os homens e mulheres têm feito ou deixam de fazer por si mesmos, mas se aceitaram ou rejeitaram o que Cristo fez por eles, quando foi julgado na cruz (Jo 12:31).
O Calvário se move inexoravelmente até a libertação do povo de Deus e a destruição de seus inimigos, porque ali Cristo concretizou ambas as obras. Os dois lados do juízo, salvação e condenação, ficam claros pela autoridade do Calvário. Pela autoridade do Calvário, Cristo liberta Seus santos e destrói Satanás e todos Seus inimigos. Portanto, nosso olhar deve ir para trás, ao Calvário, e para cima, a Cristo, o intercessor, e não a nosso caráter interior. Somente Cristo pode levar a ovelha perdida de volta ao redil. Precisamente isso e nada mais determina o destino das pessoas.
Repentina e inesperada (1Ts 5:1-3).
“Vocês sabem muito bem que o dia do Senhor vem como ladrão de noite” (v. 2).
O ladrão toma o proprietário da casa de surpresa. Ele vem repentinamente e inesperadamente. Assim também será o dia do Senhor. Por isso, é inútil indagar quanto tempo falta ou quando acontecerá. A rigor, toda a característica inesperada e repentina do fim vale apenas para “os demais”, que passam pelo mundo e pela vida dormindo. Para eles, o dia do Senhor de fato vem como o ladrão.
No verso 3, aparece a expressão: “... eis que lhes sobrevirá repentina destruição...” Note a combinação de caráter repentino e a condição de despreparo. A ordem da frase confere ao adjetivo “repentino” e ao substantivo “destruição” forte ênfase.
A vantagem do cristão (1Ts 5:4, 5)
A razão pela qual o apóstolo teve a confiança de afirmar que os irmãos em Tessalônica “não [estavam] em trevas” foi expressa nas seguintes palavras: “todos vocês são filhos da luz e filhos do dia”. Ao dizer que todos os membros da comunidade são filhos da luz e do dia, o escritor destacou que nenhum deles se excluía.
A expressão “filhos de” era um modismo usado principalmente entre os hebreus, para indicar que uma pessoa ou um grupo de pessoas participava em algo ou estava em uma relação próxima com algo. Portanto, os filhos da luz são os que são da luz, quer dizer, tem sido salvos e pertencem agora à esfera da luz. A participação na luz e no dia tem implicações claras para a vida moral.
Essa nova existência como filhos da luz e do dia significa que: “não somos da noite nem das trevas”. A estrutura da frase é quiástica:
Encorajar uns aos outros (1Ts 5:9-11)
A razão pela qual os cristãos tessalonicenses podiam alimentar a esperança da salvação e ter confiança frente ao cataclismo vindouro se explica neste verso: “Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 9).
Esta é também nossa certeza hoje. O apóstolo assegura à igreja que, embora não saiba quando virá o dia do Senhor, não tem que se preocupar porque sempre está preparada como bons soldados (v. 8), e o plano divino nunca foi para sua destruição, mas para sua salvação.
Não a ira, mas a salvação. Essa salvação tem várias dimensões, porém aqui, o aspecto que se destaca é o resgate da ira divina, do castigo da humanidade rebelde. Essa salvação é “propriedade” do cristão por causa da eleição divina e não por mérito humano. Não se ganha como um salário. Para que você não se esqueça, neste ponto o apóstolo indicou o meio pelo qual alguém é salvo: “por meio de nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós”.
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