quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Vida santa (comentário ao estudo nº 07)





1
Finalmente, irmãos, vocês aprenderam de nós como devem viver para agradar a Deus; e é assim mesmo que vocês têm vivido. E agora pedimos e aconselhamos, em nome do Senhor Jesus, que façam ainda mais.
2 Pois vocês conhecem os ensinamentos que demos pela autoridade do Senhor Jesus.
3 O que Deus quer de vocês é isto: que sejam completamente dedicados a ele e que fiquem livres da imoralidade.
4 Que cada um saiba viver com a sua esposa de um modo que agrade a Deus, com todo o respeito
5 e não com paixões sexuais baixas, como fazem os incrédulos, que não conhecem a Deus.
6 Nesse assunto, que ninguém prejudique o seu irmão, nem desrespeite os seus direitos! Pois, como nós já lhes dissemos e avisamos, o Senhor castigará duramente os que fazem essas coisas.
7 Deus não nos chamou para vivermos na imoralidade, mas para sermos completamente dedicados a ele.
8 Portanto, quem rejeita esse ensinamento não está rejeitando um ser humano, mas a Deus, que dá a vocês o seu Espírito Santo.
9 Não há necessidade de lhes escrever a respeito do amor pelos irmãos na fé, pois o próprio Deus lhes ensinou que vocês devem amar uns aos outros.
10 Pois é esse o amor que vocês têm mostrado a todos os irmãos que vivem em toda a província da Macedônia. Portanto, meus irmãos, pedimos que façam ainda mais:
11 procurem viver em paz, tratem dos seus próprios assuntos e vivam do seu próprio trabalho, como já dissemos antes.
12 Assim, aqueles que não são cristãos os respeitarão, e vocês não precisarão viver às custas de ninguém.
13 Irmãos, queremos que vocês saibam a verdade a respeito dos que já morreram, para que não fiquem tristes como ficam aqueles que não têm esperança.  1Tess 4:1-12.

No mundo pagão da antiguidade, a ética não estava sob o domínio dos deuses, mas da filosofia. Isso significa que a religião nada tinha a ver com a vida moral dos adoradores. De fato, vários cultos promoviam o que, do ponto de vista cristão, seria considerado imoral. Dionísio (Baco para os romanos), por exemplo, o deus do vinho e da embriaguez, aparece nos relevos, estátuas e mosaicos com videira e uvas entrelaçadas nos cabelos, uma taça inclinada e vazia nas mãos, símbolo de orgia etílica. Os que bebiam somente água eram criticados severamente e até perseguidos por sua sobriedade.

O deus promovia o consumo do vinho e animava o sóbrio a buscar os prazeres sexuais oferecidos por Afrodite, que era o símbolo da licenciosidade e “madrinha” das prostitutas. Os arqueólogos encontraram no Serapion de Tessalônica uma imagem pequena de Dionísio, a qual acomodava um falo removível. O órgão sexual masculino era usado no culto a Afrodite e a Cabirus (veja na Lição 3) deidade popular na cidade (Notas da Archaeological Study Bible).

Portanto, não é de surpreender que os cristãos de Tessalônica, em sua maioria convertidos do paganismo e idolatria, necessitassem de instrução especial acerca da pureza sexual. Paulo oferece a eles e a nós, cristãos do século 21, essa importantíssima instrução em 1 Tessalonicenses 4:3-8.

Progredir cada vez mais (4:1, 2)

A seção estudada nesta semana trata das necessidades específicas que Timóteo mencionou detalhadamente para Paulo, quando chegou a Corinto, vindo de Tessalônica. A igreja estava bem, mas em alguns itens precisava de orientação, como por exemplo, ética sexual, amor fraternal, e importância do trabalho. Observe que o apóstolo colocou grande solenidade em sua linguagem (“exortamos no SenhorJesus”), a fim de fazer tanto mais impressionantes as exortações seguintes sobre a santificação. Ele conhecia bem o perigo que existe em conhecer sem praticar. A fim de evitar acusações de ser culpado de emitir ordens arbitrárias e desejando dar autoridade à sua exortação, o apóstolo destacou duas questões:

A) Essas instruções não são novas. São ordens dadas anteriormente, enquanto Paulo esteve com eles.
B) São dadas pelo Senhor Jesus, ou seja, por ordem dEle. Daí vem sua autoridade.

A autoridade das exortações não provém do destaque de Paulo e dos outros como fundadores da congregação, mas da “autoridade do Senhor Jesus” (v. 2). A suprema autoridade divina respalda a exortação apostólica.

Primeiro, Paulo rogou a seus irmãos que se dedicassem à santidade da vida, evitassem as paixões impuras a que se entregavam os pagãos. As palavras iniciais “quanto ao mais...” assinalam a transição para um novo assunto. Não indicam que o autor tivesse chegado ao fim de sua exposição. Ele se dirigia aos que eram “irmãos”, membros da mesma família cristã. Portanto a forma da exortação é familiar e informal.

Os verbos principais como “pedir” e “exortar” mostram que Paulo não era arrogante, mas certamente falava com autoridade no Senhor Jesus. A exortação de crescer cada vez mais nas virtudes cristãs aparece como um lema geral, mas focaliza especificamente a atitude a respeito do amor fraternal. O apóstolo queria que os tessalonicenses adotassem certa linha de ação.

O desafio era: “continuem progredindo” em sua conduta moral, especificamente com referência ao amor entre os cristãos. Que alcancem um grau mais alto e excelente de moralidade. O escritor reconhecia que os tessalonicenses tinham aplicado, até certo ponto, o ensino moral que ele lhes havia dado. Parte do conteúdo desse ensino destaca a necessidade de “agradar a Deus”. A expressão “é necessário” (“dei” em grego) indica que essa conduta não é opcional, mas é o que se deve fazer. Trata-se de uma obrigação ou um dever, que é imposto por Deus. Os irmãos deviam “andar” ou comportar-se de tal maneira que agradassem a Deus, ou seja, os interesses divinos são a primeira consideração do crente sincero (Comentário de Eugenio Green).

Apesar desse elogio, Paulo sabia que havia deficiências no comportamento de alguns membros da igreja e que eles precisavam de correções.

A vontade de Deus: a santificação (1Ts 4:3)

Lembre-se de que, longe de proibir a imoralidade sexual, os cultos a Dionísio, Afrodite, Osíris e Ísis, Cabirus e Priapus promoviam a permissividade sexual. Assim, para qualquer membro da igreja em Tessalônica, convertido dessas religiões pagãs, era bastante difícil entender como sua conversão a Deus implicava no abandono dos prazeres que seu culto anterior aprovava abertamente.

Diferentemente da ética grega, a ética judaica e a cristã não se organizam em torno de uma coleção de ideais humanos, mas “da vontade de Deus”. E para o Novo Testamento “a vontade de Deus” é uma expressão de Seu plano moral para o ser humano: aquilo que se deve “fazer” e não somente “saber”. A parte da “vontade de Deus” que Paulo enfatizou aqui é que os tessalonicenses fossem santificados. Esse é o chamado central do plano divino para Seu povo.

A santificação é definida aqui como a pureza moral nas relações sexuais em contraste com a “impureza” (v. 7). A palavra grega é “hagiasmos”, que significa o processo da santificação, que começou na conversão e se realiza por meio do poder do Espírito Santo. Embora o crescimento na santificação somente aconteça por meio da agência divina, os tessalonicenses deviam tomar a firme decisão de alinhar sua conduta com “a vontade de Deus”, assim como nós devemos fazê-lo. Nesse caso, significa: apartar-se “da imoralidade sexual”.O termo grego é “porneia” (termo raiz de pornografia, pornográfico), que implica em qualquer relação sexual fora do matrimônio: fornicação, adultério, homossexualismo, incesto, prostituição e bestialidade. Observe que Paulo não chamou a igreja à moderação parcial com respeito “a imoralidade sexual”, mas categoricamente afirmou que os irmãos deviam “abster-se completamente dela” (Eugenio Green).

Não como fazem os gentios (1Ts 4:4, 5)

A Nova Versão Internacional assim traduz o verso 4: “cada um saiba controlar o seu próprio corpo de maneira santa e honrosa”.

Paulo apresenta aqui um antídoto para a “imoralidade sexual” (v. 3). O que se destaca de início é que esse ensino não é para um grupo seleto da congregação, mas para todos, ou “cada um”. O texto ensina que uma forma de evitar “a imoralidade sexual” é casar-se.

Paulo também deixou claro que o tipo de controle que tinha em mente era aquele que está de acordo com a vontade de Deus: “de maneira santa e honrosa”. A santificação deve dominar todo aspecto do caráter do cristão e especialmente quanto à sua sexualidade. Que não se deixe “levar pelos maus desejos como fazem os pagãos que não conhecem a Deus” (v. 5). A conduta sexual dos irmãos tessalonicenses não deveria ser determinada pelas paixões como ocorria com os pagãos.

O apóstolo estava clamando à igreja do Senhor para que não imitasse a conduta sexual de seus contemporâneos, da qual eles mesmos deveriam ter saído poucos meses antes. Uma vida dominada por paixões lascivas é evidência clara de distanciamento de Deus. Quer dizer, a falta de uma relação com Ele, é a fonte da imoralidade. A fé e a ética estão ligadas de tal maneira que aquele que conhece a Deus não se deixa levar por suas paixões, mas vive conforme “a vontade de Deus”.

De acordo com o plano de Deus (1Ts 4:6-8)

O verso 6 traz a expressão “que ninguém ofenda nem defraude seu irmão”. A expressão encerra a ideia de uma injustiça feita nas relações corriqueiras da vida, e em particular nos negócios do comércio. Tessalônica, com seu comércio tão múltiplo e extenso, certamente oferecia muitas tentações dessa natureza. Os cristãos deveriam dar exemplo da mais escrupulosa honestidade. Cada cristão, e principalmente todo pregador, deve ao mesmo tempo explicar e aplicar a verdade. Mas sempre pelo Senhor Jesus, em Sua autoridade, segundo Sua palavra e Seu Espirito. Fora desse escopo, todo preceito seria letra morta. A palavra “impureza” (v. 7) aqui é tomada em sentido geral e significa as injustiças tanto como os pecados grosseiros da natureza carnal (Bonnet y Schroeder, Comentario del NT, p. 630).

Gostaria de destacar o fato de que Paulo estava falando de santificação e, neste contexto, de abstinência da imoralidade e da impureza. As palavras-chave de todo o parágrafo são: santificação, imoralidade, impureza. Permita-me transcrever aqui um parágrafo de Champlin, a meu ver, muito propício para nossos dias:

“Paulo profere aqui (v. 6) uma ameaça de julgamento divino contra o sexo ilícito e pervertido... O contexto até ao oitavo versículo, parece falar solidamente contra vários abusos sexuais. E até mesmo a exortação ao amor fraternal (v. 9), parece ter sido mencionada em relação a essa questão; pois aquele que seduz a esposa de um irmão, somente porque pode fazê-lo e porque ela o permite, está andando contra todo o amor cristão fraternal. O estudo longo e enfático de Paulo sobre essa questão mostra-nos que a mesma deve ter atingido um ponto crítico na comunidade cristã de Tessalônica, onde era a maior das tentações, tal como se dá hoje em dia entre muitos crentes. Deus é quem Se vinga, tanto nesta vida como na outra, quando um homem defrauda seu irmão em Cristo, seduzindo-lhe a esposa ou de outro qualquer modo maltratando-a. O chamado cristão convoca o indivíduo para a santificação. Ninguém é chamado se também não estiver sendo santificado” (O NT Interpretado Versículo por Versículo).

Entenda bem: Rejeitar o código divino equivale a colocar Deus de lado na vida, tornando-se portador de uma crença inútil. Foi Deus quem nos outorgou o “código moral”, e que nos julgará no tocante ao uso que fizermos dele. Mas Deus mesmo nos oferece o dom do Espírito Santo, que nos dá o poder indispensável para observarmos Seus imperativos morais.

Cuidar do próprio negócio (1Ts 4:9-12)

Nesses versos, Paulo apresentou um novo tema, contudo isso não está isolado do que ele havia acabado de expor. “Amor fraternal” vem do grego “filadélfia”. Enfatiza o sentimento nobre que um ser humano sente por outro, o cuidado que tem pelo outro, assim como cuida de si mesmo. Está em foco o altruísmo. O amor ao próximo é algo “instintivo” se o Espírito Santo habita no indivíduo. Note que Paulo novamente elogiou os crentes de Tessalônica pelos seus pontos positivos, e o fez a fim de que os pudesse exortar a uma prática ainda maior – “a progredirdes cada vez mais...”

O versículo 11 apresenta três breves exortações práticas, todas elas relacionadas ao espírito de fraternidade e às obras da santificação:

A) Que ambicionassem viver tranquilamente,
B) Que se ocupassem de seus próprios afazeres,
C) Que trabalhassem com as próprias mãos.

Fanáticos, intrometidos e ociosos existem em quase todas as igrejas. Às vezes, uma e a mesma pessoa é as três coisas. Por isso as três admoestações se destinam à congregação toda, porque a semente de todos os pecados se acha incrustrada em cada coração (William Hendriksen).

Quando um indivíduo ama, não deseja se tornar uma carga financeira para outros, antes trabalha para que possa doar a outro o que lhe for necessário e que estiver ao seu alcance. Quando alguém ama também se esforça para viver em paz e em tranquilidade, evitando agitação e contendas desnecessárias. Parece que na comunidade cristã tessalonicense havia um grupo de ociosos, com pouca disposição para o trabalho, que preferiam andar à cata de novidades, criando confusão e espalhando maledicências. As três exortações parecem dizer respeito, principalmente, a tais pessoas.

Além do fato de que aquelas pessoas serviam de entrave para a comunidade cristã, porque eram uma sobrecarga financeira, também davam péssima impressão para “os de fora” (v. 12). Estavam prejudicando o conceito que os de fora poderiam fazer do cristianismo. Faltava-lhes continuamente, o que era necessário para si mesmas e para seus familiares, até que a igreja viesse em seu socorro. O trabalho honesto solucionaria muitos desses problemas. O indivíduo que tem possibilidade de trabalhar, mas que por preguiça não o faz, é um estigma para a igreja, uma péssima representação do que significa ser um cristão genuíno (Champlin).

Concluo com Ellen White:
Agora, como nos dias de Israel, todo jovem precisa ser instruído nos deveres da vida prática. Cada um deve adquirir conhecimentos em algum ramo de trabalho manual que, em caso de necessidade, lhe possa proporcionar um meio de vida. Isso é essencial, não somente como salvaguarda contra as dificuldades da vida, mas em virtude de seu efeito sobre o desenvolvimento físico, mental e moral... A disciplina de serviços bem regulados não é menos essencial em conseguir mente ativa e caráter nobre” (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 307).

Somente a comunhão com Deus pode nos manter vitoriosos no processo da santificação. Muito melhor é entregar a Jesus nossa vida inteira!

O autor dos comentário deste trimestre é o Pr. José Silvio Ferreira, casado com a psicóloga Ellen Ferreira. O casal tem três filhos: Maltom Guilherme, Marlom Henrique e Mardem Eduardo. Doutor em Teologia pelo Unasp, o Pr. José Silvio já trabalhou como distrital, líder de jovens e secretário ministerial, atendendo a igreja nos Estados de Goiás, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, onde atua hoje como Ministerial da Associação Paulistana. É autor do livro Cristo, Nossa Salvação.





Nenhum comentário:

Postar um comentário