1 Finalmente, irmãos, vocês aprenderam de nós como devem viver para agradar a Deus; e é assim mesmo que vocês têm vivido. E agora pedimos e aconselhamos, em nome do Senhor Jesus, que façam ainda mais.
No mundo pagão da antiguidade, a ética não estava sob o domínio dos deuses, mas da filosofia. Isso significa que a religião nada tinha a ver com a vida moral dos adoradores. De fato, vários cultos promoviam o que, do ponto de vista cristão, seria considerado imoral. Dionísio (Baco para os romanos), por exemplo, o deus do vinho e da embriaguez, aparece nos relevos, estátuas e mosaicos com videira e uvas entrelaçadas nos cabelos, uma taça inclinada e vazia nas mãos, símbolo de orgia etílica. Os que bebiam somente água eram criticados severamente e até perseguidos por sua sobriedade.
O deus promovia o consumo do vinho e animava o sóbrio a buscar os prazeres sexuais oferecidos por Afrodite, que era o símbolo da licenciosidade e “madrinha” das prostitutas. Os arqueólogos encontraram no Serapion de Tessalônica uma imagem pequena de Dionísio, a qual acomodava um falo removível. O órgão sexual masculino era usado no culto a Afrodite e a Cabirus (veja na Lição 3) deidade popular na cidade (Notas da Archaeological Study Bible).
Portanto, não é de surpreender que os cristãos de Tessalônica, em sua maioria convertidos do paganismo e idolatria, necessitassem de instrução especial acerca da pureza sexual. Paulo oferece a eles e a nós, cristãos do século 21, essa importantíssima instrução em 1 Tessalonicenses 4:3-8.
Progredir cada vez mais (4:1, 2)
Primeiro, Paulo rogou a seus irmãos que se dedicassem à santidade da vida, evitassem as paixões impuras a que se entregavam os pagãos. As palavras iniciais “quanto ao mais...” assinalam a transição para um novo assunto. Não indicam que o autor tivesse chegado ao fim de sua exposição. Ele se dirigia aos que eram “irmãos”, membros da mesma família cristã. Portanto a forma da exortação é familiar e informal.
Os verbos principais como “pedir” e “exortar” mostram que Paulo não era arrogante, mas certamente falava com autoridade no Senhor Jesus. A exortação de crescer cada vez mais nas virtudes cristãs aparece como um lema geral, mas focaliza especificamente a atitude a respeito do amor fraternal. O apóstolo queria que os tessalonicenses adotassem certa linha de ação.
O desafio era: “continuem progredindo” em sua conduta moral, especificamente com referência ao amor entre os cristãos. Que alcancem um grau mais alto e excelente de moralidade. O escritor reconhecia que os tessalonicenses tinham aplicado, até certo ponto, o ensino moral que ele lhes havia dado. Parte do conteúdo desse ensino destaca a necessidade de “agradar a Deus”. A expressão “é necessário” (“dei” em grego) indica que essa conduta não é opcional, mas é o que se deve fazer. Trata-se de uma obrigação ou um dever, que é imposto por Deus. Os irmãos deviam “andar” ou comportar-se de tal maneira que agradassem a Deus, ou seja, os interesses divinos são a primeira consideração do crente sincero (Comentário de Eugenio Green).
Apesar desse elogio, Paulo sabia que havia deficiências no comportamento de alguns membros da igreja e que eles precisavam de correções.
A vontade de Deus: a santificação (1Ts 4:3)
Diferentemente da ética grega, a ética judaica e a cristã não se organizam em torno de uma coleção de ideais humanos, mas “da vontade de Deus”. E para o Novo Testamento “a vontade de Deus” é uma expressão de Seu plano moral para o ser humano: aquilo que se deve “fazer” e não somente “saber”. A parte da “vontade de Deus” que Paulo enfatizou aqui é que os tessalonicenses fossem santificados. Esse é o chamado central do plano divino para Seu povo.
A santificação é definida aqui como a pureza moral nas relações sexuais em contraste com a “impureza” (v. 7). A palavra grega é “hagiasmos”, que significa o processo da santificação, que começou na conversão e se realiza por meio do poder do Espírito Santo. Embora o crescimento na santificação somente aconteça por meio da agência divina, os tessalonicenses deviam tomar a firme decisão de alinhar sua conduta com “a vontade de Deus”, assim como nós devemos fazê-lo. Nesse caso, significa: apartar-se “da imoralidade sexual”.O termo grego é “porneia” (termo raiz de pornografia, pornográfico), que implica em qualquer relação sexual fora do matrimônio: fornicação, adultério, homossexualismo, incesto, prostituição e bestialidade. Observe que Paulo não chamou a igreja à moderação parcial com respeito “a imoralidade sexual”, mas categoricamente afirmou que os irmãos deviam “abster-se completamente dela” (Eugenio Green).
Paulo apresenta aqui um antídoto para a “imoralidade sexual” (v. 3). O que se destaca de início é que esse ensino não é para um grupo seleto da congregação, mas para todos, ou “cada um”. O texto ensina que uma forma de evitar “a imoralidade sexual” é casar-se.
Paulo também deixou claro que o tipo de controle que tinha em mente era aquele que está de acordo com a vontade de Deus: “de maneira santa e honrosa”. A santificação deve dominar todo aspecto do caráter do cristão e especialmente quanto à sua sexualidade. Que não se deixe “levar pelos maus desejos como fazem os pagãos que não conhecem a Deus” (v. 5). A conduta sexual dos irmãos tessalonicenses não deveria ser determinada pelas paixões como ocorria com os pagãos.
O apóstolo estava clamando à igreja do Senhor para que não imitasse a conduta sexual de seus contemporâneos, da qual eles mesmos deveriam ter saído poucos meses antes. Uma vida dominada por paixões lascivas é evidência clara de distanciamento de Deus. Quer dizer, a falta de uma relação com Ele, é a fonte da imoralidade. A fé e a ética estão ligadas de tal maneira que aquele que conhece a Deus não se deixa levar por suas paixões, mas vive conforme “a vontade de Deus”.
De acordo com o plano de Deus (1Ts 4:6-8)
Gostaria de destacar o fato de que Paulo estava falando de santificação e, neste contexto, de abstinência da imoralidade e da impureza. As palavras-chave de todo o parágrafo são: santificação, imoralidade, impureza. Permita-me transcrever aqui um parágrafo de Champlin, a meu ver, muito propício para nossos dias:
“Paulo profere aqui (v. 6) uma ameaça de julgamento divino contra o sexo ilícito e pervertido... O contexto até ao oitavo versículo, parece falar solidamente contra vários abusos sexuais. E até mesmo a exortação ao amor fraternal (v. 9), parece ter sido mencionada em relação a essa questão; pois aquele que seduz a esposa de um irmão, somente porque pode fazê-lo e porque ela o permite, está andando contra todo o amor cristão fraternal. O estudo longo e enfático de Paulo sobre essa questão mostra-nos que a mesma deve ter atingido um ponto crítico na comunidade cristã de Tessalônica, onde era a maior das tentações, tal como se dá hoje em dia entre muitos crentes. Deus é quem Se vinga, tanto nesta vida como na outra, quando um homem defrauda seu irmão em Cristo, seduzindo-lhe a esposa ou de outro qualquer modo maltratando-a. O chamado cristão convoca o indivíduo para a santificação. Ninguém é chamado se também não estiver sendo santificado” (O NT Interpretado Versículo por Versículo).
Entenda bem: Rejeitar o código divino equivale a colocar Deus de lado na vida, tornando-se portador de uma crença inútil. Foi Deus quem nos outorgou o “código moral”, e que nos julgará no tocante ao uso que fizermos dele. Mas Deus mesmo nos oferece o dom do Espírito Santo, que nos dá o poder indispensável para observarmos Seus imperativos morais.
Cuidar do próprio negócio (1Ts 4:9-12)
O versículo 11 apresenta três breves exortações práticas, todas elas relacionadas ao espírito de fraternidade e às obras da santificação:
Quando um indivíduo ama, não deseja se tornar uma carga financeira para outros, antes trabalha para que possa doar a outro o que lhe for necessário e que estiver ao seu alcance. Quando alguém ama também se esforça para viver em paz e em tranquilidade, evitando agitação e contendas desnecessárias. Parece que na comunidade cristã tessalonicense havia um grupo de ociosos, com pouca disposição para o trabalho, que preferiam andar à cata de novidades, criando confusão e espalhando maledicências. As três exortações parecem dizer respeito, principalmente, a tais pessoas.
Além do fato de que aquelas pessoas serviam de entrave para a comunidade cristã, porque eram uma sobrecarga financeira, também davam péssima impressão para “os de fora” (v. 12). Estavam prejudicando o conceito que os de fora poderiam fazer do cristianismo. Faltava-lhes continuamente, o que era necessário para si mesmas e para seus familiares, até que a igreja viesse em seu socorro. O trabalho honesto solucionaria muitos desses problemas. O indivíduo que tem possibilidade de trabalhar, mas que por preguiça não o faz, é um estigma para a igreja, uma péssima representação do que significa ser um cristão genuíno (Champlin).
Concluo com Ellen White:
Somente a comunhão com Deus pode nos manter vitoriosos no processo da santificação. Muito melhor é entregar a Jesus nossa vida inteira!
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