INTRODUÇÃO
Nesta apresentação, mencionamos quatro personagens: Rispa, que é a principal figura em nosso estudo, e as demais grandiosas estrelas como Davi, Isbosete e Abner, que, paradoxalmente, são apresentadas como coadjuvantes no enredo. Para construir todo o enredo, apresentamos os atores e seus papéis para formamos o quadro completo:
Davi – Este já é conhecido nos dramas anteriores e não necessita de mais apresentação. Os papéis de Davi neste estudo são os seguintes: Saul e Jônatas foram mortos, e Abner, o general do exército de Saul, aclamou Isbosete, o filho sobrevivente de Saul, rei em lugar do pai. A sede do governo de Isbosete foi transferida para Manain, no lado leste do rio Jordão. Davi foi eleito rei de Judá, no sul do país. Como era de se esperar, teve lugar uma guerra entre os dois reinos. Enquanto Davi ia se fortalecendo, as coisas não andavam bem para Isbosete, filho de Saul.
Abner – Aqui entra a figura do general Abner. Ele era um brilhante defensor da continuidade do reino de Saul com Isbosete, embora soubesse que Deus havia prometido o reino de todo o Israel a Davi. Certo dia, o rei Isbosete acusou Abner de ter adulterado com Rispa, a concubina de Saul, seu pai. Não sabemos se isso ocorreu ou não, porque o texto bíblico não esclarece. O fato de alguém manter relações com a mulher ou as concubinas de um rei indicava sua intenção de usurpar o trono. Essa acusação deixou Abner transtornado, e ele decidiu abandonar o barco de Isbosete e unir todas as tribos de Israel em torno de Davi.
Isbosete – Conforme já mencionado acima, Isbosete era fraco na administração e liderança e não tinha como sobreviver se fosse abandonado por Abner. Ele foi assassinado por dois de seus servos, e todo o Israel passou a seguir Davi. A breve dinastia de Saul terminou com a morte de seu filho Isbosete.
Rispa – Os papéis de Rispa são secundários e, até certo ponto, passivos. Ela não aparece como uma mulher ativa, com uma participação romântica e explícita com Abner. O autor bíblico simplesmente menciona seu nome no drama entre os dois figurões – Isbosete e Abner. Mas a simples menção do episódio provoca uma mudança de rumo na história de Israel. Isbosete foi assassinado por seus servos, e Abner foi friamente assassinado por Joabe. Formalmente, Davi unificou o reino, mas o espírito de amargura, mal-estar e suspeitas permaneceu por longo período.
Então, novamente aparece a figura de Rispa dando proteção aos corpos de seus dois filhos e mais cinco netos de Saul, mortos pelos gibeonitas como acerto de contas. Após esse ato de dedicação, amor e fidelidade, Davi enterrou com dignidade os sete corpos e mais os corpos de Saul e Jônatas. Esse ato de Davi trouxe finalmente tranquilidade e aceitação aos descendentes de Saul. Com o envolvimento silencioso de Rispa nesses dois episódios, a história de Israel foi mudada.
Rispa era filha de “Aiá”. A menção do nome de seu pai sugere que a família dela deve ter sido importante e que ela não era uma simples es crava. Seu nome significa: “brasa viva”. Rispa foi concubina do rei Saul e teve dois filhos com ele – Armoni e Mefibosete. Após a morte de Saul, Rispa ficou viúva com dois filhos para criar. Como Isbosete perdeu o reino e foi morto, tudo indicava que a vida de Rispa não lhe oferecia nenhuma perspectiva alvissareira. Diante desse quadro desolador, a dor dela aumentou quando Davi mandou entregar seus dois filhos aos gibeonitas, os quais os enforcaram. Rispa, viúva, acusada de ter tido um caso com o general Abner, agora estava sem filhos e parecia totalmente abandonada. Diante desse quadro, seria normal que ela se julgasse vítima. Mas sua atitude foi nobre e elevada. Ela não reclamou, não se queixou, mas agiu. Construiu uma barraca improvisada com panos pretos e, por muitas semanas, cuidou dos sete corpos em decomposição para que as aves de rapina e animais selvagens não os devorassem, até Davi ordenar que eles fossem sepultados com dignidade.
1. Rispa deixou nos registros da história uma atitude proativa.
LIÇÃO – Comente a seguinte frase: “Pessoas simples podem praticar atos poderosos que mudam a história.” Mencione outros exemplos de pessoas simples que marcaram a história e afetaram positivamente sua vida.
É interessante notar que as concubinas apareciam principalmente no período patriarcal. “Durante a primeira monarquia, as concubinas estavam relacionadas com as casas reais” (LES, 21/112010). Nos tempos bíblicos, uma concubina não era simplesmente escrava ou, pior, escrava sexual. Ela era esposa com direitos legais. No caso de Rispa, ela era concubina do rei Saul. Era uma mãe dedicada e vivia no palácio real. Entretanto, com os rumos políticos tomados após a morte de Saul, “Rispa não tinha segurança. Seu destino parecia totalmente fora de suas mãos, determinado por forças e circunstâncias além de sua autoridade ou controle.”
Houve três anos de fome
1. O delito que envolve vidas humanas não pode ser pago com dinheiro. Como os gibeonitas eram servos, e não cidadãos, não tinham direito legal de executar ninguém. Daí a interferência do monarca Davi, que tomou a decisão irrevogável, entregando sete homens da família de Saul para serem executados.
2. Nesse quadro desolador, aparece a figura silenciosa, mas atuante de Rispa. Além da viuvez e perda de status social, ela foi obrigada a entregar seus dois filhos para ser imolados como sacrifício pelos crimes de Saul. Rispa aceitou tudo com resignação e, em silêncio, manifestou sua atitude de carinho e respeito pelos mortos. Essa atitude mudou o rumo da história. Leia a sequência do comentário.
Para discussão
A história de Rispa está marcada por apenas dois incidentes:
1. No primeiro, ela não teve participação ativa e envolvente. Mas se tornou figura decisiva. Simplesmente, ela foi o motivo que levou Abner a abandonar seu posto de general de Isbosete e debandar para o reino de Davi, abrindo caminho para que todo Israel seguisse o filho de Jessé. Rispa foi a causa silenciosa. Pessoalmente, creio que Abner estava procurando um pretexto para fazer o que fez. E viu na acusação de Isbosete a áurea oportunidade que procurava. Embora Rispa não tivesse parte ativa, ela foi decisiva no novo rumo que a história de Israel tomou. Gerald Klingbeil diz: “Foi realmente a menção do nome de Rispa que provocou essa mudança. Embora Rispa não seja ativa no relato, ela é altamente significativa” (LES, 22/11/2010). Rispa ficou no meio do “tiroteio” entre Isbosete e Abner. Ambos saíram perdendo e foram mortos. E ela ganhou a guerra sem dar nenhum “tiro”.
2. No segundo incidente, a participação de Rispa é silenciosa mas ativa e participativa. Depois de terem sido enforcados os sete homens da família de Saul, incluindo seus dois filhos, os executores gibeonitas os abandonaram ao ar livre, expostos às aves de rapina e animais selvagens. Não tendo permissão para sepultar com dignidade seus queridos, nem tendo a quem recorrer, Rispa fez o que podia. O relato sagrado diz: "Então Rispa, filha de Aiá, tomou um pano de cilício e estendeu-lho sobre uma penha, desde o princípio da colheita, até que a água do céu caiu sobre eles. Ela não deixou as aves do céu pousarem sobre eles durante o dia, nem os animais do campo durante a noite" (2Sam 21:10). Alguns comentaristas dizem que essa vigília de Rispa durou dois meses. Outros chegam a mencionar seis meses (Chantal y Gerald Klingbeil - Histórias Poco Contadas, p. 98). Não importa quanto tempo ela ficou ali. O que nos impressiona é o idealismo, a garra, a constância e a espera de Rispa. Cuidando noite e dia dos restos mortais de seus amados e enxotando os animais e as aves. É interessante notar que a chuva, como resposta de Deus, não caiu após a execução dos sete descendentes de Saul. Mas somente após Davi ordenar o sepultamento deles com dignidade. Alguns rabinos dizem que Davi fez uma grande procissão pelos territórios de Israel para sepultar esses mortos (Chantal y Gerald Klingbeil - Histórias Poco Contadas, p. 98).
Não temos prova disso pelos relatos bíblicos, mas podemos comprovar alguns resultados importantes que a ação de Rispa gerou:
Ao estudar a vida de Rispa, chegamos a algumas conclusões. Gostaria de partilhar com você algumas delas. Comente-as com seu grupo.
2. Tenha em mente que a miséria do mundo não é causada somente pelas ações perversas dos maus, mas pela indiferença dos bons. É comum alguém dizer: “Não posso fazer nada”. Outro sentencia: “Se tivesse poder ou dinheiro, eu mudaria as coisas”. Alguns são mais específicos em seu pessimismo ao afirmar: “Que diferença fará se eu ajudar apenas um?” Rispa não pensou assim. Ela fez o que estava ao seu alcance. E isso mudou a história. Pense no que você pode fazer e não no que não pode mudar.
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