A “resposta” foi dada indiretamente, em forma de outra pergunta: “De onde era o batismo de João, do Céu ou dos homens?” Se respondessem: “dos homens”, estariam se posicionando contrários à crença em João como profeta de Deus. Se respondessem: “do Céu”, obrigatoriamente reconheceriam a autoridade de Jesus como sendo divina. E capitularam, dizendo: “Não sabemos” (Mt 21:24-27).
Estava aberta a possibilidade para que Jesus continuasse ensinando no templo, e Ele a aproveitou, apresentando três parábolas: a dos dois filhos, a dos lavradores maus e a parábola das bodas. Como toda parábola, os detalhes dessas também comparavam simbolicamente situações comuns ao povo.
A parábola dos dois filhos expunha a descrença da liderança judaica no apelo de Deus ao arrependimento, quando João Batista anunciou o aparecimento do Messias. Na parábola dos lavradores maus, eles viram suas mãos levantadas para assassinar o Messias. Finalmente, na parábola das bodas, perceberam sua rejeição da graça salvadora de Deus que se tornou disponível através desse mesmo Messias.
“O Reino dos Céus”, disse Jesus, “é semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho” (Mt 22:2). “Festas de bodas eram comuns em Israel, ocasiões de muita alegria e felicidade. As pessoas comuns as desfrutavam por uma semana inteira. Aconteciam normalmente ao finalizar a última colheita de outono ou pouco depois. Mas o programa de vida de um rei não estava vinculado ao calendário agrícola. Seus filhos podiam casar-se em qualquer tempo que o rei determinasse. O rei da parábola preparou um grande banquete para as bodas de seu filho e esperava que todos os participantes sentissem a plena felicidade da ocasião. Mas não seria assim. Alguns sofreriam por causa de seus próprios desejos e de suas decisões próprias” (Mário Veloso, Mateus – Comentário Homilético, p. 277).
Enquanto o preparo da festa está em andamento, mensageiros enviados pelo rei notificam os convidados. Aqui, o rei representa Deus. O filho representa o Messias. As bodas ou o casamento representam a encarnação de Deus
Mas o Rei, em amorosa insistência, envia um segundo convite; dessa vez, por meio dos doze cheios do Espírito Santo e seus irmãos de fé cristã, depois da ressurreição de Jesus. O anúncio enfatiza que o banquete se acha em fase de preparo: “os Meus bois e cevados já foram abatidos” (Mt 22:4), numa possível referência ao Calvário. A morte de Cristo confirmou todas as promessas do concerto da graça, mudando a simples promessa da salvação em realidade. “Os enviados de Jesus ainda proclamavam o evangelho somente à nação israelita que, segundo as profecias de Daniel, continuaria sendo a nação peculiar de Deus até o fim da semana de anos, que concluiria no ano 34 d.C., na metade da qual, no ano 31 d.C., o Messias seria crucificado e cessaria o valor simbólico dos sacrifícios” (Ibid., p. 278).
“Eles, porém, não se importaram” e muitos judeus rejeitaram a grande oportunidade de salvação, estando preocupados com os cuidados da vida (Mt 22:5). “Enquanto os servos do Rei anunciavam a ressurreição de Jesus e as boas-novas do reino para arrependimento e remissão de pecados (At 2:22-24, 32, 36 e 38), os líderes de Israel implementaram uma grande perseguição (At 8:1), que levou alguns ao cárcere (At 3:1-3), outros à morte (At 7:58) e muitos ao exílio (At 11:19). Embora um grupo numeroso do povo e dos dirigentes aceitasse Jesus, nesse tempo, a maioria O rejeitou de maneira depreciativa e arrogante” (Ibid.).
A rejeição desses convites resultou na destruição da nação. Tal destruição é simbolizada pela ordem do Rei para incendiar a cidade e exterminar os assassinos (Mt 22:6, 7). O judaísmo perdeu sua condição de agência escolhida de Deus. A oportunidade foi ampliada ou transferida para outro grupo: a igreja cristã, o Israel espiritual, composto de judeus individuais e de gentios crentes
Esse último convite é uma comissão evangélica, que originalmente implica em sair muitas vezes, até que a sala do banquete – a igreja ou a comunidade dos crentes – fique cheia. Até o fechamento da porta da graça, a ordem do Rei aos servos é: “Ide, pregai, fazei discípulos”.
Esses termos descrevem o cenário de um juízo celestial pré-advento, por meio do qual é verificado se todos os que aceitaram o convite fizeram a devida preparação para as bodas. “O exame dos convidados pelo rei representa uma cena de julgamento. Os convidados à ceia do evangelho são os que professam servir a Deus, cujos nomes estão escritos no livro da vida. Nem todos, porém, que professam ser cristãos, são discípulos verdadeiros. Antes que seja dada a recompensa final, precisa ser decidido quem está apto para participar da herança dos justos. Essa decisão deve ser feita antes da segunda vinda de Cristo, nas nuvens do céu; porque quando Ele vier, o galardão estará com Ele ‘para dar a cada um segundo a sua obra’. Antes de Sua vinda, o caráter da obra de cada um terá sido determinado, e a cada seguidor de Cristo o galardão será concedido segundo seus atos.
“Enquanto os homens ainda estão sobre a Terra, é que a obra do juízo investigativo se efetua nas cortes celestiais. A vida de todos os Seus professos seguidores é passada em revista perante Deus; todos são examinados de conformidade com os relatórios nos livros do Céu, e o destino de cada um é fixado para sempre de acordo com seus atos” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 310).
E em que consiste essa preparação? Simplesmente em usar as vestes de bodas providas pelo Rei a cada convidado. “Pela veste nupcial da parábola é representado o caráter puro e imaculado, que os verdadeiros seguidores de Cristo possuirão. Foi dado à igreja ‘que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente’, ‘sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante’. O linho fino, diz a Escritura, ‘é a justiça dos santos’ (Ap 19:8). A justiça de Cristo e Seu caráter imaculado é, pela fé, comunicada a todos os que O aceitam como Salvador pessoal.
“A veste branca de inocência foi usada por nossos primeiros pais, quando foram postos por Deus no santo Éden. Eles viviam em perfeita conformidade com a vontade de Deus. Todas as suas afeições eram devotadas ao Pai celestial. Luz bela e suave, luz de Deus, envolvia o santo par. Esse vestido de luz era um símbolo de suas vestes espirituais de celestial inocência. Se permanecessem leais a Deus, continuaria sempre a envolvê-los. Ao entrar o pecado, porém, cortaram sua ligação com Deus, e desapareceu a luz que os cingia. Nus e envergonhados, procuraram suprir os vestidos celestiais, cosendo folhas de figueira para uma cobertura.
“Isto fizeram os transgressores da lei de Deus desde o dia
“Isto jamais pode ser feito, porém. O homem nada pode idealizar para suprir as perdidas vestes de inocência. Nenhuma vestimenta de folhas de figueira, nenhum traje mundano, pode ser usado por quem se assentar com Cristo e os anjos na ceia das bodas do Cordeiro.
“Somente as vestes que Cristo proveu podem nos habilitar a comparecer diante de Deus. Estas vestes de Sua própria justiça, Cristo dará a todos os que se arrependerem e crerem. ‘Aconselho-te’, diz Ele, ‘que de Mim compres... vestes brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez.’
“Esse vestido tecido nos teares do Céu não tem um fio de origem humana” (Ibid., p. 310, 311).
Ficarão de fora das bodas do Cordeiro todos os que rejeitarem o convite e os que tentarem participar com suas próprias vestes de justiça própria, suas boas obras, seus pretensos méritos, sua suposta santidade, avaliada por si mesmos. Esses se encontram entre os muitos que são chamados, mas ficam fora do grupo dos poucos escolhidos (Mt 22:14). Não se renderam inteiramente a Cristo. Precisam aprender a viver em total dependência dEle. Precisam Lhe entregar a vida sem reserva de domínio. Ele é quem começa em nós a obra de transformação; sendo o único capaz de completá-la. Nossa melhor vestimenta de justiça própria não passa de trapo imundo (Is 64:6). Mas todos podemos trocá-la pela veste que Jesus providenciou gratuitamente, e ocupar nosso lugar de honra no banquete celestial.
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