segunda-feira, 11 de junho de 2012

Levando informação à igreja (comentário ao estudo nº 11)




 

Já que a lição desta semana destaca a importância de se conhecer como Deus tem proclamado as boas-novas da salvação, seria interessante enfatizar alguns aspectos importantes da história da missão, após o período do relato bíblico. A tarefa quase impossível aqui é ressaltar em pouco espaço como a pregação do evangelho foi preservada durante todos esses anos, bem como a inspiração e as lições que devemos extrair da história da missão.

I. Pré-Cristandade
Logo após o Pentecostes, o livro de Atos registra a oportuna perseguição que espalhou os cristãos a partir de Jerusalém. Num primeiro momento, a prática cristã primitiva era essencialmente judaica. “Após o Pentecostes, Pedro, Tiago e João continuaram a adorar no templo, ‘milhares [de] judeus [...] creram, e todos [eram] zelosos da lei’ (At 21:20)” (Robert A. Blincoe, “Como as águas cobrem o mar”, Perspectivas, p. 228). Num segundo momento, o evangelho alcançou os gentios, através do ministério de Paulo e outros. Pouco a pouco, o cristianismo se expandiu entre os não judeus. É importante notar que a Bíblia menciona as atividades evangelísticas dos apóstolos, mas também cita Barnabé, Timóteo, Filipe e suas quatro filhas, e muitos outros cristãos como Lídia, Áquila e Priscila, que não se dedicaram ao evangelismo em tempo integral, mas ajudavam na divulgação do evangelho. Com o tempo, os dois grupos cresceram.

Os cristãos aproveitavam todas as oportunidades para compartilhar o evangelho. Eles se beneficiaram da Paz Romana, do sistema de estradas que conectava todas as partes do império e do idioma grego, que era a língua comum do comércio e do governo. A fé em Jesus Cristo apelava a pessoas de todas as classes que lutavam contra o vazio espiritual, trazendo-as não somente para um relacionamento com Deus, mas também as tornava membros de uma comunidade amorosa de crentes (Introducing World Mission, p. 98)

No ano 180, os cristãos já eram encontrados em todas as províncias do império, muitas vezes tendo o evangelho sido levado pelos soldados. Por outro lado, Orígenes faz referência a um número cada vez maior de cristãos que empregavam seu tempo essencialmente no evangelismo (citado em Introducing World Missions, p. 95). De forma que, em 313, o número de cristãos já chegava a vários milhões.

No entanto, esse crescimento não aconteceu sem um preço. “
Sem reconhecimento legal, os cristãos enfrentaram o perigo de se encontrarem para adoração sem a sanção pública. Sua comunhão causava incompreensões que levavam a rumores sobre imoralidade sexual, canibalismo e até mesmo ateísmo. As ações pareciam hostis aos valores tradicionais (pois não prestavam homenagens ao imperador e muitos eram pacifistas)”. Mas até isso foi transformado em bênçãos, já que o sangue dos mártires foi a semente da igreja.

II.Cristandade
Nos mil anos seguintes, o cristianismo se espalhou em um círculo crescente que alcançou a Espanha e a Irlanda para o Ocidente, a Escandinávia e a Rússia para o norte, a Etiópia para o sul e a Índia e a China para o Oriente. Em alguns lugares, o cristianismo cresceu a ponto de países se tornarem oficialmente cristãos, como aconteceu na Armênia e o império romano. Esse casamento destinado ao fracasso entre igreja e estado é chamado de Cristandade (Introducing World Missions, p. 94).

Em 313, o Edito de Tolerância do imperador Constantino passou a permitir a prática de qualquer adoração que uma pessoa escolhesse e marcou o momento de transição do status do cristianismo. Em 380, Teodósio tornou o cristianismo a religião oficial do império. Nesse ponto, o cristianismo deixou de ser exclusivamente judeu e se adaptou ao mundo romano.

A partir de então, grandes grupos se interessaram pela igreja por várias razões. Alguns aceitaram o evangelho e outros viram a chance de avançar socialmente. “
Infelizmente, em consequência de o cristianismo haver se tornado a religião estatal, milhares de pagãos nominais passaram a ser membros nominais da Igreja” (Blincoe, p. 229). A formação de países cristãos impulsionou uma compreensão territorial e cultural do cristianismo que durou até o século 20. Infelizmente, o poder da espada frequentemente foi o responsável pela conversão dos obstinados. Durante esse período, esperava-se que todos fossem cristãos ou seriam inimigos do estado. Burgúndios, francos, tribos árabes, lituanos, russos e ucranianos, entre outros, se tornaram cristãos em grupos, foram batizados sem preparo adequado e formaram um cristianismo nominal. Conversões forçadas frequentemente resultavam em promessas verbais à fé.

Durante esse período, o trabalho dos monges e freiras foi de suma importância para a evangelização. “
Sem a atuação e o trabalho desses homens e mulheres dedicados, o cristianismo poderia ter permanecido superficial entre o povo comum” (Introducing World Missions, p. 104). Muito da evangelização da Irlanda, Inglaterra, Escócia e a Europa continental se deveu ao ministério dos monges itinerantes. “A igreja celta reevangelizou, com êxito, grandes partes da Inglaterra e da Europa continental....[Os missionários celtas] mantinham um monasticismo fervorosamente missionário. Assim, o monastério não era um lugar de reclusão do mundo, mas um local de preparação para as missões” (Paul Pierson, citado em Blincoe, p. 235).

Nos séculos 10 a 13, a fé cristã avançou em terras escandinavas. Durante o mesmo período, os monges Cirilo e Metódio se dedicaram aos eslavos e deram a eles uma tradução da Bíblia. Os membros dos movimentos monásticos ofereceram uma mentalidade alternativa à das cruzadas, desmilitarizando o evangelho. Novos movimentos de renovação que aumentavam o nível de vitalidade espiritual continuaram a surgir, incluindo as cistercianas, as carmelitas e as ordens mendicantes no século 13, como os franciscanos e dominicanos.

A era das descobertas a partir do fim do século 15 e as navegações de Portugal e Espanha levaram o cristianismo para a América, África e outras partes da Ásia em suas iniciativas colonizadoras. As expedições geralmente levavam monges agostinianos, dominicanos, franciscanos ou jesuítas, os responsáveis pela imposição da religião — metodologia que se provou mais eficiente em alguns contextos do que em outros.

O que surpreende a muitos é que, durante esse período, o cristianismo alcançou territórios além da cristandade como a Mesopotâmia, Pérsia, Índia, Sri Lanka, Afeganistão, Tagiquistão, Tibete e China (Introducing World Missions, p. 109). O grande impulso missionário em direção à Ásia veio através dos esforços de cristãos nestorianos e missionários católicos romanos. Francisco Xavier e Mateus Ricci se destacaram como missionários para o Japão e a China, no século 16.

Após a Reforma Protestante, foi o conde Nicolau Zinzendorf, da região da Morávia, que se destacou. O movimento missionário consistia em enviar comunidades inteiras, compostas por trabalhadores hábeis, a fim de estabelecer residência entre os não cristãos e ensiná-los. O método morávio também incluía comprar fazendas com escravos para evangelizá-los e libertá-los. William Carey, um pregador leigo batista da Inglaterra, escreveu outro capítulo importante relacionado a seu trabalho missionário na Índia e o desenvolvimento de organizações missionárias no século 18. Um panfleto escrito por ele foi o estopim para a expansão missionária moderna.

O século 19 é chamado o grande século da missão cristã. David Livingstone na África, Adoniram Judson, em Myanmar, e Hudson Taylor, na China, representam parte da história dessas iniciativas. Esse período também presenciou mulheres missionárias se envolvendo como nunca antes e sociedades missionárias aflorando.

Nesse período, o impacto do Segundo Grande Avivamento nos Estados Unidos foi evidente. O pregador Moody desafiou os estudantes a se envolverem na missão e o movimento milerita resultou no surgimento do movimento adventista. Após um tímido começo, gradativamente os adventistas passaram a se envolver na pregação do evangelho a todo o mundo. Em 1874, J. N. Andrews foi enviado à Europa como o primeiro missionário oficial. Essa visão consolidou-se na década de 1890 quando o adventismo foi estabelecido em todos os continentes e muitas das ilhas. Foi justamente nessa década que os primeiros missionários adventistas chegaram à América do Sul e ao Brasil.

Hoje, aproximadamente 30% dos 7 bilhões de habitantes do mundo se consideram cristãos. A igreja adventista tem mais de 17 milhões de membros ao redor do mundo, sendo mais de 2 milhões somente na América do Sul.

III. Pós-cristandade
Hoje vivemos uma fase de transformação na história do cristianismo. Até recentemente, a maioria dos cristãos habitava a Europa ocidental e a América do Norte. Mas no último século, o centro gravitacional do cristianismo migrou para o Sul – África, Ásia e América Latina. Essa situação deverá se consolidar se forem mantidas a presença e o crescimento do cristianismo em países como Nigéria, Quênia, México, Etiópia, Brasil e Filipinas. Juntamente com esse novo panorama mundial continua a antiga responsabilidade de levar o evangelho a todo o mundo.

A tarefa não está terminada. Quase três bilhões de pessoas pertencem a grupos étnicos não alcançados pelo evangelho. Mais de 600 milhões de pessoas não têm acesso a nenhuma parte da Bíblia em seu próprio idioma (www.joshuaproject.org).

Hoje o panorama mundial apresenta outros desafios para cristianismo. Aqui estão alguns dos desafios e oportunidades em potencial para o cumprimento da missão.

1. Globalização. A crescente interação global faz com que pessoas fiquem a par do que acontece ao redor do mundo instantaneamente e tomem parte nisso. Três aspectos, entre outros, têm influenciado a missão cristã:

(1) Migração mundial: não cristãos têm se deparado com o evangelho devido a esse movimento. Existe missão feita pelos migrantes para os migrantes. A migração também tem permitido que o cristianismo vibrante da América Latina e da África seja exposto em áreas seculares da Europa e da América do Norte.

(2) Transporte aéreo: Nenhum lugar do mundo está a mais de 30 horas de distância. Ao redor do mundo, mais missionários têm aproveitado da aviação rápida e relativamente barata para ministrar o evangelho  a povos considerados distantes.

(3) Internet: A internet tem facilitado o acesso a informações. As possibilidades são quase inesgotáveis. A internet tem levado informações sobre o cristianismo a lugares em que pessoas não podem chegar, geralmente a custos bem baixos.

2. Urbanização. Nestes últimos anos a crescente urbanização mundial ultrapassou a marca dos 50% da população vivendo nas cidades. Hoje há mais de 400 cidades com população de mais de um milhão de pessoas. Levada pela concentração de empregos e recursos, a população tem se mudado para esses centros de educação, atendimento médico e outros serviços. No entanto, essas grandes concentrações têm se provado ambientes propícios também para o aumento da pobreza, epidemias, criminalidade e estresse, entre outros fatores. A igreja tem aprendido sobre os ritmos e necessidades daqueles que moram nas cidades para tentar comunicar o evangelho aproveitando-se da proximidade das pessoas e o acesso a informações e recursos.

3. Religiões Mundiais. Ultimamente o hinduísmo, o budismo e o islamismo têm intencionalmente procurado se expor para o Ocidente e, como resultado, têm atraído a curiosidade de muitos das gerações emergentes. Grande número de movimentos religiosos novos também tem surgido dentro do cristianismo, sejam eles derivados do pentecostalismo ou de formações sincretistas. Essa pluralidade faz parte do contexto das novas gerações e oferece a oportunidade de a igreja apresentar a singularidade do evangelho de Cristo, já que não é verdadeira a observação comum de que todas as religiões são iguais e conduzem a Deus.

4. Pós-Modernismo. Correntes filosóficas recentes apontam para uma mudança na base do conhecimento. A orientação científica e objetiva da era moderna tem dado espaço ao desconstrutivismo e subjetividade do pós-modernismo. Isso tende a afetar tanto os missionários como os que ouvem o evangelho. “Pós-modernismo, apesar das raízes Anglo-americanas, não é um fenômeno que existe somente na Austrália, Europa e América do Norte. As mesmas características da condição pós-moderna que influencia profundamente aquelas regiões pode ser encontrada em pessoas e sociedades ao redor do globo, incluindo a América do Sul” (Kléber O. Gonçalves, “The Challenge of the Postmodern Condition to Adventist Mission in South America”, JAMS, v. 5(1), p. 11). A igreja deve estar atenta à mudança e à busca dos pós-modernos por transcendência, significado e comunidade.

Minha história
Como testemunha do evangelho engajada na missão de Deus, você também está escrevendo a história da missão. Conhecer a história e transmiti-la a outros torna o cristão mais responsável, mais humilde e mais fervoroso, se ele ou ela:

1. Aprender lições da história sobre o que fazer e o que não fazer.
2. Inspirar-se nas histórias daqueles que trilharam o mesmo caminho, geralmente em condições bem piores.
3. Alimentar a fé ao saber que Deus tem guiado, protegido e transformado pessoas que têm se engajado na Sua missão em todos os tempos.
4. Concluir que Deus tem utilizado diversos métodos e estratégias para alcançar pessoas com o evangelho.

Ilustração
Em 1625, trabalhadores se surpreenderam no norte da China com a descoberta de uma grande pedra preta com mais de três metros de altura que trazia o título: “Um Monumento Comemorativo da Propagação da Religião Luminosa na China”. O monumento contava a história de Alopen, o primeiro missionário cristão a entrar na China, quase mil anos antes. Antes dessa descoberta não se sabia sobre o alcance do evangelho na China nos primeiros séculos da era cristã. Alopen teria chegado em 635 em Chang’an, a maior cidade do mundo na época (Introducing World Mission, p. 112).

Autor deste comentário: Pr. Marcelo E. C. Dias Professor do SALT/UNASP Doutorando (PhD) em Missiologia pela Universidade Andrews mecdias@hotmail.com





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