Vivendo no deserto, Moisés provavelmente já tivesse visto sarças queimando, mas não uma que não se consumia. A cena lhe chamou a atenção e ele se dirigiu até o local. É possível que ele pensasse tratar-se de algo sobrenatural. Foi então que ele ouviu duas ordens de Deus: não se aproximar demais e tirar as sandálias, porque aquele lugar, pela presença divina, era santo (Êx 3:5).
O relato de Êxodo 3:1-15 nos mostra os elementos fundamentais da verdadeira adoração:
1. Deus é santo; nós somos pecadores. Daí a razão para dEle nos aproximarmos com reverência, admiração e temor (respeitoso).
3. Adorar é reconhecer que a salvação só é possível pela atuação divina. Sem a intervenção de Deus estaríamos condenados à escravidão do pecado, como estavam os israelitas no tempo do cativeiro egípcio.
Em gratidão pelo prometido livramento da morte de seus filhos, os israelitas se inclinaram e adoraram (Êx 12:27). Há aqui um princípio ou motivo-chave para adorarmos a Deus: além de Criador, Ele é também Redentor. Cada pecador perdoado jamais deveria se esquecer de que sua salvação só é possível por causa do sacrifício que Deus fez na pessoa de Cristo. Nesse sentido, adoração envolve tanto o reconhecimento de quem é Deus quanto gratidão pelo que Ele fez e faz pelo pecador. Havendo gratidão, há adoração. E o contrário também é verdadeiro: a ingratidão leva à negação de Deus ou ao desrespeito para com Sua pessoa.
Por causa do sangue do cordeiro pascal, os primogênitos dos israelitas foram poupados. O mesmo não aconteceu a Jesus, o filho Primogênito de Deus. Ele teve que morrer para que os “primogênitos” da humanidade, os que serão salvos, pudessem viver. E o que faremos em face de tão grande amor e sacrifício? Só nos resta fazer como os israelitas do passado: inclinarmo-nos diante de Deus e adorá-Lo por Seu imenso amor, manifestado no plano da salvação.
No monte Sinai Deus proclamou Sua vontade para com os israelitas e toda a humanidade através dos Dez Mandamentos, estando os quatro primeiros diretamente relacionados à adoração.
Antes de proclamar os mandamentos, Deus lembrou aos israelitas que fora Ele quem os havia tirado “da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20:2). Ao fazer isso, o Senhor pretendia que Seu povo fosse obediente e O adorasse motivado por gratidão, pelo fato de ter sido livrado da escravidão egípcia.
O primeiro mandamento mostra que Deus não admite rivais. Só Ele deve ser adorado. A razão para esse exclusivismo é o nosso próprio bem. Adorando-O, encontramos razão e significado para nossa vida, crescemos em bondade, altruísmo, pureza, veracidade, paciência, longanimidade, pois essas virtudes são as de Deus. Adorando outros deuses, certamente desenvolveremos outros atributos, diferentes daqueles que levam ao bem e ao crescimento pessoal e espiritual. A verdade é que nos tornamos parecidos com aquilo que adoramos.
O segundo mandamento proíbe fazer e adorar imagens, pois só Deus é digno de adoração, visto que é criador e mantenedor de tudo o que existe. Além disso, esse ato reduziria Deus ao tamanho e formato de uma imagem. A verdade é que não existe nada que possa representar adequadamente a pessoa de Deus. Qualquer tentativa nesse sentido acabaria por diminuí-Lo.
O terceiro mandamento proíbe tomar o nome de Deus em vão, seja
E o quarto mandamento nos pede que, de maneira especial no sétimo dia, nos lembremos do poder criador de Deus – o que nos levará a adorá-Lo em reconhecimento de tal poder. Após a morte de Cristo, o sábado passou a ser também lembrança da redenção efetuada na cruz. A adoração sabática, portanto, celebra o poder criador, mantenedor e salvador da pessoa de Deus.
Quão facilmente a adoração pode ser corrompida! Bastou a ausência de Moisés por alguns dias, e eis o povo adorando um bezerro de ouro, algo bem conhecido, pois no Egito o boi Ápis era adorado. E o mais triste: aquela adoração (pelo menos na mente de Arão e dos demais idólatras) era uma “festa ao Senhor”! Chama nossa atenção a prontidão dos idólatras. Para um ato de falsa adoração eles madrugaram, ofereceram holocaustos e levaram ofertas pacíficas. Teriam eles a mesma prontidão caso o encontro fosse para a adoração séria e verdadeira a Javé, e não a um ídolo? Dificilmente!
Na verdade, quando adoraram o bezerro de ouro, os israelitas estavam adorando a si mesmos, no extravasar de suas paixões carnais. É-nos dito que “... o povo assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se” (Êx 32:6). E o resultado dessa falsa adoração foi que o povo ficou “desenfreado” (Êx 32:25). Os israelitas se esqueceram de que eram o povo de Deus e se comportaram como animais. E hoje não é diferente: sempre que houver falsa adoração, haverá afrouxamento moral, descambando para a licenciosidade, pois o ser humano não é maior nem diferente daquilo que adora. Se o ídolo não é ético (pois ele não fala contra a conduta errada), que dizer de seus adoradores?
Chama nossa atenção o fato de que tão logo os adoradores do bezerro de ouro foram mortos (Êx 32:27-29), Moisés pediu que o Senhor lhe mostrasse Sua glória (Êx 33:18). Por que esse pedido? O que tem a ver o conhecimento de Deus com adoração? A resposta é: tudo a ver.
Quando conhecemos verdadeiramente a Deus, Seus poderosos atributos, Sua justiça, bondade, fidelidade e amor, nossa reação a tudo isso será nos prostrarmos diante dEle em admiração e gratidão. Isso indica que geralmente a causa da idolatria é o desconhecimento do Deus verdadeiro. Foi isso o que Jesus quis dizer, ao Se dirigir em oração ao Pai: “A vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3).
Interessante é que Deus Se fez conhecido a Moisés não por demonstrações fantásticas de Seu imenso poder, nem pela manifestação de Seu brilho e resplendor (coisas que Ele poderia fazer, se assim o desejasse), mas por revelar-Se como Deus bondoso, misericordioso e compassivo (Êx 33:19). Isso indica que, mais importante do que saber sobre o que Deus pode fazer é saber quem Ele é (e também quem somos: seres finitos e pecaminosos). Isso nos levará à adoração correta de Sua pessoa.
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