“Tu o introduzirás e o plantarás no monte da Tua herança, no lugar que aparelhaste, ó Senhor para a Tua habitação, no santuário, ó Senhor, que as Tuas mãos estabeleceram” (Êx 15:17).
A Bíblia fala dos muitos atributos de Deus, entre eles o da transcendência e o da imanência. A transcendência tem que ver com a sublimidade e grandiosidade de Deus. Isaías O viu “assentado sobre um alto e sublime trono, e as abas de Suas vestes enchiam o templo” (6:1). Isso é transcendência. Mostra o abismo que há entre um Deus santo e infinito e a criatura pecadora e finita. Mas as Escrituras também ressaltam o outro atributo divino: a imanência, que é o modo pelo qual Deus Se relaciona com o ser humano, entra em sua história e está com ele em seus momentos bons e maus.
Isaías 57:15 mostra tanto a transcendência quanto a imanência de Deus: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo. Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.” E foi para “habitar” com os seres humanos que Deus ordenou a Moisés (Êx 25:8, 9) que construísse um santuário – símbolo visível da habitação ou presença de Deus entre Seu povo e centro de toda a adoração israelita.
Cada aspecto do tabernáculo terrestre devia representar corretamente um Deus santo e ser digno de Sua presença. Tudo que se relacionava com ele devia inspirar o sentimento de temor e reverência. Afinal, essa era a morada do Criador do Universo.
II. Corações dispostos
Da construção do santuário mosaico podemos tirar várias lições com respeito à adoração:
1. Primeiramente, a adoração tem que ver com o interior da pessoa, com sua disposição voluntária, prazerosa, de adorar a Deus. Isso é ter um “coração disposto” (Êx 35:5);
2. A adoração não é passiva nem somente contemplativa. O adorador é chamado a fazer algo, demonstrando ativamente que está do lado de Deus e O tem em alta conta. Os israelitas do tempo de Moisés agiram, trazendo ofertas em ouro, prata, bronze, pedras preciosas e peles de cabras e outros artigos necessários à construção do tabernáculo (35:5-9). Além disso, ajudaram na construção com seus variados talentos (35:10);
3. A doação de ofertas é parte importante da adoração. Assim, ao trazermos nossas ofertas (e dízimos) ao Senhor, façamos isso com gratidão pelas bênçãos recebidas do grande criador e mantenedor.
4. Em nossa adoração a Deus devemos entender que Ele sempre merece o melhor: na construção do santuário foram empregados os melhores materiais (ouro, prata, pedras preciosas, etc.) e as pessoas mais talentosas (Bezalel, Aoliabe e outras pessoas talentosas sob a supervisão desses dois; 35:10, 25, 30, 35).
“Isto é o que oferecerás sobre o altar: dois cordeiros de um ano, cada dia, continuamente. Um cordeiro… pela manhã e o outro, ao pôr do sol” (Êx 29:38, 39).
Os holocaustos tinham função pedagógica. Lembravam continuamente aos israelitas a seriedade do pecado (ele resulta em morte) e o advento do Messias, o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29).
Lamentavelmente, a grande maioria dos israelitas perdeu de vista essas lições. Com o tempo, passaram a acreditar que os sacrifícios eram apenas um meio de comprar o favor de Deus ou aplacá-Lo por algum ato errado cometido. A adoração que deveria ser fruto de um coração contrito e agradecido passou a ser mero formalismo, destituído de vida e significado. Algo como mera barganha entre o adorador e seu Deus.
Cada parte ou móvel do santuário fora projetado para chamar a atenção dos israelitas para o fato de que Deus desejava Se relacionar e manter comunhão com eles. Além de o santuário ser todo ele um tipo da obra de Cristo, a tenda representava a morada de Deus entre o povo; o altar dos holocaustos mostrava o amor de Deus em prover um substituto para a morte do pecador; a bacia com água lembrava aos adoradores israelitas que Deus desejava limpá-los do pecado; a mesa com os pães da proposição mostrava o cuidado de Deus em suprir as necessidades físicas do povo; o candelabro indicava que Deus ilumina e orienta Seu povo; o altar de incenso representava Deus atendendo as orações dos adoradores, e a arca, com a luz gloriosa, manifestada na shekinah (tampa da arca), era um símbolo da presença de Deus entre o povo.
Mesmo que hoje não tenhamos mais conosco o santuário mosaico, nem a luz brilhante da shekinah temos a promessa de que Cristo, na pessoa do Espírito Santo, está conosco “todos os dias” (Mt 28:20). É-nos dito que esse Espírito nos guia “a toda a verdade” (Jo 16:13). A verdadeira adoração deve nos ajudar a ser mais abertos à liderança de Deus e Seus ensinos, porque a reverência deve nos ensinar a atitude de fé e submissão à vontade de Deus. Assim, mesmo tendo Cristo ascendido ao Céu, não estamos órfãos nem da presença nem das orientações divinas. O Espírito Santo nos foi dado para que ficasse “para sempre” conosco (Jo 14:16).
Embora a adoração israelita fosse expressa por meio do ritual do santuário, com seus variados sacrifícios e consequente derramamento de sangue, ela não devia ser triste nem formal. Deus ordenou aos israelitas que “se alegrassem diante do Senhor”, quando comparecessem diante dEle para adorá-Lo. Eles deviam se regozijar perante o Senhor em sua adoração. Essa ordem aparece repetidas vezes. Fica claro, então, que a experiência de adoração deve feliz. Afinal, se as verdades da salvação, redenção, mediação e juízo não são motivos de regozijo, que outra coisa nos alegraria?
Hoje há a tendência de ir para um dos extremos: uma adoração fria, mecânica e formalista, com bastante instrução, mas pouca alegria e emoção, ou uma adoração fervorosa, bastante emocional, mas com pouca instrução extraída da Palavra de Deus. O remédio para esse dilema é atentar para as orientações de Deus quanto à construção do santuário israelita e de como deveria ser a adoração. O mesmo Deus que deu instruções a Seu povo, os israelitas, mediante o sistema sacrifical, ordenou-lhes que O adorassem com alegria.
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