João Batista e Jesus, exemplos missionários do Novo Testamento, têm discípulos que, como grupo, seguem o trabalho do mestre proclamando o evangelho. Raramente, os discípulos são mencionados testemunhando sozinhos. Jesus estabelece que a eficácia do testemunho dos Seus discípulos depende da relação de uns para com os outros – um testemunho corporativo (Jo 13:35). Na oração sacerdotal, Jesus reforçou a importância do testemunho da igreja para que a missão fosse realizada com eficiência – “para que o mundo conheça que Tu Me enviaste e os amaste” (Jo 17:20-23). Se o testemunho pessoal coerente é fundamental no evangelismo pessoal, o testemunho corporativo igualmente coerente é essencial para o evangelismo corporativo.
Uma das principais marcas da igreja apostólica, descrita no livro de Atos, é sua convivência como comunidade. Lucas parece traçar uma relação estreita entre o testemunho corporativo e a missão, ao escrever sobre os cristãos primitivos: “diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos” (At 2:46-47). E também ao mencionar que “com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Pois nenhum necessitado havia entre eles” (At 4:33-34). Essa unidade era parte integral da igreja e influenciava o dia a dia, refletindo-se nas atividades missionárias.
Paulo, apesar de normalmente ser visto como um evangelista itinerante solitário, também ministrava em associação com outros, num modelo de evangelismo corporativo, e sempre esteve inserido no contexto da igreja. Talvez Romanos 1:11, 12, 15 seja uma das explicações mais claras da visão de Paulo sobre a dinâmica da comunhão com o testemunho: “Muito desejo ver-vos, a fim de repartir convosco algum dom spiritual, para que sejais confirmados, isto é, para que em vossa companhia, reciprocamente nos confortemos por intermédio da fé mútua, vossa e minha. ... Estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma”.
Segundo o estudo de George W. Murray, Paulo se engajou no evangelismo corporativo por 8 razões:
Um modelo aponta para cinco categorias gerais:
(1) Adoração: Ama ao Senhor, teu Deus, de todo o coração,
Ao focalizar a atividade evangelística da igreja, de forma prática, percebe-se que ela segue os mesmos passos do evangelismo pessoal. O evangelismo corporativo deve:
(1) Seguir os princípios bíblicos,
(3) Estar centralizado no evangelho,
Há diversas estratégias para o evangelismo corporativo, ou seja, que envolve a igreja como um todo. Entre elas, as mais conhecidas são as séries de conferências, pequenos grupos, classes bíblicas, distribuição de literatura, projetos comunitários e duplas missionárias. Vale lembrar, no entanto, que nem todo evangelismo corporativo precisa ser atracional. O contexto atual favorece esforços para evangelismo corporativo missional, que vai ao alcance das pessoas onde elas estão, demonstrando também, nesse processo, o verdadeiro interesse.
Observa-se na prática diversas importantes vantagens do testemunho corporativo. Aqui estão três delas:
Primeiramente, as pessoas que se convertem no contexto de uma comunidade são as que têm maiores chances de permanecer na igreja. O Crer e o pertencer devem fazer parte de uma só experiência. Alguns sugerem que pertencer deve vir até mesmo antes decrer. Portanto, o evangelismo corporativo deveria se concentrar em ajudar pessoas a pertencer e crer.
Em segundo lugar, nessa dinâmica de crer e pertencer, a maioria das pessoas que foram alcançadas com o evangelho através de evangelismo corporativo reconhece a importância do evangelismo pessoal, de alguma forma, no processo da sua conversão, demonstrando a dependência entre as duas realidades.
Finalmente, o evangelismo corporativo é capaz de modelar exatamente o que se busca recriar: uma comunidade de cristãos. Outras vantagens dessa abordagem coletiva incluem a incomparável glorificação a Deus, a maior credibilidade de um grupo de testemunhas, a possibilidade de unir os dons espirituais, o apoio mútuo em face da batalha espiritual, a responsabilidade compartilhada, alcance incalculável nas missões mundiais e resultados mais abundantes (George W. Murray, Paul’s Corporate Evangelism in the Book of Acts).
A crença fundamental adventista número 12 define que “a Igreja é a comunidade de crentes que confessam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Unimo-nos para prestar culto, para comunhão, para instrução na Palavra, para a celebração da Ceia do Senhor, para o serviço a toda a humanidade e para a proclamação mundial do Evangelho”.
Isso nem sempre aconteceu ou acontece assim. Muitas vezes, o contato com a comunidade ficava quase que reservado para a fase pós-batismo. Hoje, as igrejas buscam integrar as pessoas através do Clube de Desbravadores, Assistência Social, Classe Bíblica, JA e Ministério da Mulher, numa visão integral de comunidade.
Curiosamente, já em 1958, Suzanne de Dietrich identificava uma fome e sede por uma comunidade no mundo, e isso aponta para a igreja. Uma parte essencial do chamado da igreja é mostrar ao mundo o que é uma verdadeira comunidade: uma comunhão de pessoas livres, embora subjugadas umas às outras por um chamado e um serviço comuns (The Witnessing Community, p. 13).
Fazer parte da família de Deus supre nossa necessidade de pertencer e transforma nossa identidade. Rick Richardson explica que “toda vez que pessoas aderem a uma nova identidade — a transformação que ocorre na conversão — elas estão abraçando a comunidade que torna aquela identidade possível” (Reimagining Evangelism, p. 52). Palavras como Deus, oração, devoção, adoração, confissão, obediência e pecado são conceitos e disciplinas que não significam nada quando desconectados das práticas de uma comunidade.
Se você entender isso, saberá testemunhar corporativamente. Aqui estão algumas dicas:
John Stott descreve o evangelismo através da igreja local como “o método mais normal, natural e produtivo de espalhar o evangelho hoje”. Por outro lado, Francis Schaeffer argumenta que, se faltar o principal, não se pode esperar que o mundo ouça a igreja, mesmo que ela tenha as respostas corretas. As respostas são essenciais, mas é necessário lembrar que a “apologia final”, como ele chama, é o amor observável entre verdadeiros cristãos.
Para isso, uma mudança radical na mentalidade é sugerida por Alan Hirsch. De “comunidade para mim” para “eu para a comunidade e a comunidade para o mundo”. Faz-nos tristes a reflexão sobre o fato de que, se algumas de nossas igrejas deixassem de existir subitamente, a comunidade não sentiria sua falta. O evangelismo corporativo muitas vezes não tem sido eficaz nem com os de mais perto. Mas talvez devêssemos perguntar também o que aconteceria conosco se a comunidade deixasse de existir. Se isso não deixar um vazio, certamente o foco da nossa vida não tem sido missionário.
“Nossa maior necessidade é o coração puro, limpo e a mente compreensiva. Todos os tipos de falsidades maliciosas foram apresentados para tentar a Cristo, e também serão utilizados contra o povo que guarda os mandamentos de Deus. Como vamos provar que tudo isso é falso? Por acaso temos que construir uma parede entre nós e o mundo?’ (Ellen G. White, Pastoral Ministry, p. 91).
Doutorando (PhD) em Missiologia pela Universidade Andrews mecdias@hotmail.com
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