segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Eventos finais (comentário ao estudo nº 09)



 

1 Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva;
2 pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite.
3 Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão.
4 Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa;
5 porquanto vós todos sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas.
6 Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios.
7 Ora, os que dormem dormem de noite, e os que se embriagam é de noite que se embriagam.
8 Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação;
9 porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo,
10 que morreu por nós para que, quer vigiemos, quer durmamos, vivamos em união com ele.
11 Consolai-vos, pois, uns aos outros e edificai-vos reciprocamente, como também estais fazendo. 1Tessalonicenses 5:1-11

Além da preocupação dos tessalonicenses com uma possível desvantagem que teriam os cristãos falecidos, havia também a curiosidade com referência ao tempo exato em que a vinda de Cristo teria lugar. “Até quando os leitores ainda teriam que esperar? Exatamente quando o Senhor chegaria? Nesta seção da epístola, o apóstolo responde à terceira inquietude dos tessalonicenses (4:9, 13), que se refere exatamente ao tempo da vinda do dia do Senhor (5:1, 2).

Ao longo de meu ministério, e já são mais de 38 anos aqui e ali, tenho encontrado irmãos sinceros com uma compreensão nem sempre correta concernente aos eventos finais. Por isso gostaria de aproveitar o ensejo do tema desta lição para apresentar uma breve “introdução” que, espero, contribua para um entendimento mais esclarecedor sobre o tema.

Deus, o Pai, conhece tudo, incluindo a data da segunda vinda de Jesus. Poderia tê-la revelado à humanidade, porém não o fez. Se o homem conhecesse “o tempo e a época”, provavelmente esperaria até o último instante anterior ao evento para então se preparar. Isso seria perigoso, porque poderia morrer antes desse momento, ou se vivesse, esperaria demais. Além disso, estar pronto para a segunda vinda de Jesus é o mesmo que ter idoneidade para ela. Mas isso leva tempo. Não é obra de um momento.

Deus não estabeleceu arbitrariamente a data da parousia. Por outro lado, os seres humanos tampouco podem apressar ou retardar essa data, pelo menos em sentido absoluto. Se os humanos pudessem em realidade apressar o advento por si mesmos, eles estariam frente à ênfase mais absurda de salvação por obras, a despeito do evangelho. Tal forma de pensar revela uma condição de segunda classe para o povo de Deus do tempo do fim.

A pura verdade é que Deus fez planos para que cada um entre no Céu. Ele ama o mundo (Jo 3:16); ama a todos por igual. Que o tempo se estenda, isso não se opõe à Sua vontade, portanto, não se opõe ao Seu amor por toda a humanidade. Ele deseja que todos sejam salvos e dá tempo para que a obra da salvação alcance sua conclusão lógica.

Leia a segunda carta de Pedro (3:9, 10), 
“não retarda o Senhor a Sua promessa... pelo contrário, Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça... virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor...

Observe o equilíbrio entre: 1) a paciência divina e 2) a falta de preparação humana para o advento.

A escatologia, ou os eventos finais, não são apenas de uma só dimensão; ou seja, não têm a ver exclusivamente com o futuro. À luz da cruz de Cristo, eles são tridimensionais. Podemos falar do fim que “já passou”, um fim que é atual e um fim que virá. Não existe um vazio entre a promessa de vir e a demora em cumpri-la. A vinda de Cristo enche o tempo presente.

Assim como cada dia tem a saída do Sol que o precede, também a vinda do dia eterno tem uma saída do Sol. A luz dessa saída do Sol começou a se mostrar no horizonte oriental quando Jesus Se levantou da sepultura no domingo da ressurreição, continuou com a vinda do Espírito Santo no Pentecostes e se estende por toda a história. O amanhecer será mais brilhante à medida que nos aproximarmos mais e mais da vinda de Cristo, quando então veremos o Sol.

Ninguém pode deter a vinda de Cristo assim como ninguém pode impedir um amanhecer. Porque entendido apropriadamente, o evento tem três dimensões: passada, presente e futura. Focalizar apenas a dimensão futura é perder o quadro completo.

Qual é o panorama bíblico?

Lembre-se de que os documentos do Novo Testamento têm uma ênfase cambiante. Os escritos mais antigos, como 1Tessalonicenses (provavelmente o primeiro documento do NT), falam de Jesus quase como se Ele já estivesse aqui (1 Ts 4:13-18, 5:4, 23). Parece que Paulo naquele tempo acreditava que estaria vivo para ver a vinda de Cristo. Porém, o Senhor lhe mostrou algo diferente, de modo que em sua segunda carta corrigiu seu otimismo anterior. Era preciso passar tempo suficiente para que se desenvolvesse um sistema falsificado anticristão, que Paulo denominou “
o homem da iniquidade, o filho da perdição” (2Ts 2:1-8).

Entenda, não nos movemos para o fim, apressando-o ou atrasando-o, como se os humanos tivessem uma grande contribuição a oferecer ou como se as rédeas do tempo estivessem balançando, vindas do céu, e caíssem em nossas mãos. As mãos indignas dos humanos não foram cravadas na cruz, mas sim as dEle. Somente Ele conquistou o direito de controlar os eventos mundiais. Todos os eventos dos últimos dias saem do evento do fim, no Calvário (exposição fundamentada em “Christ is Coming!” de Norman Gulley).

Paulo nos ajuda a entender isso nesta semana. Ele afirmou que a destruição no juízo final virá sobre os que rejeitarem o evangelho e “
de maneira nenhuma escaparão dela(5:3). Porém, a ira divina não se derramará sobre a igreja, que é o objeto da salvação por meio do Senhor Jesus (5:9). De fato, ao longo de toda a passagem, o contraste se mantém entre a igreja e os inconversos, no que se refere a seu destino e sua conduta (versos 3 a 9). O propósito da exposição do tema é pastoral e não especulativo (5:11; 4:18).

Os dois lados do juízo

Se você entender corretamente a teologia bíblica do juízo, tenha certeza, sua vida religiosa será muito mais dinâmica e gratificante. O remanescente de Deus do tempo do fim necessita captar todo o impacto dos pares de livros bíblicos básicos para a compreensão do juízo divino, são eles: Levíticos e Hebreus, Daniel e Apocalipse. Essas obras inspiradas, bem como outras passagens bíblicas, ensinam a contínua defesa e intercessão do Cristo vencedor durante o juízo anterior ao advento. Os filhos de Deus devem concentrar-se em Cristo e não em si mesmos. Somente Ele pode introduzi-los no mundo vindouro.

As Escrituras descrevem os santos do tempo do fim como desnudos (Ap 3:18), assim como Adão e Eva depois da queda. Nem as folhas de figueira nem as obras humanas podem suprir sua necessidade. Somente o Cordeiro imolado é capaz de proporcionar a vestimenta, e apenas o vestido da justiça de Cristo, o vestido das bodas que o Senhor oferece será suficiente.

Lembre-se de que Deus não necessita de juízo, porque é onisciente. “
Conhece o Senhor os que são Seus(2Tm 2:19). Todavia, Ele leva a cabo o juízo em consideração aos seres criados. No juízo anterior ao advento, o Universo examina os registros das obras humanas, boas e más (Dn 7:10). Porém, mais que isso, confirma se as pessoas aceitaram ou rejeitaram a obra salvífica que Jesus realizou por elas na cruz. Sua relação com o juízo substitutivo do Salvador do pacto decide seu destino. Assim, o juízo se centraliza em Cristo e não no ser humano. O que é decisivo não é o que os homens e mulheres têm feito ou deixam de fazer por si mesmos, mas se aceitaram ou rejeitaram o que Cristo fez por eles, quando foi julgado na cruz (Jo 12:31).

O Calvário se move inexoravelmente até a libertação do povo de Deus e a destruição de seus inimigos, porque ali Cristo concretizou ambas as obras. Os dois lados do juízo, salvação e condenação, ficam claros pela autoridade do Calvário. Pela autoridade do Calvário, Cristo liberta Seus santos e destrói Satanás e todos Seus inimigos. Portanto, nosso olhar deve ir para trás, ao Calvário, e para cima, a Cristo, o intercessor, e não a nosso caráter interior. Somente Cristo pode levar a ovelha perdida de volta ao redil. Precisamente isso e nada mais determina o destino das pessoas.

Repentina e inesperada (1Ts 5:1-3).

“Vocês sabem muito bem que o dia do Senhor vem como ladrão de noite” (v. 2).

O ladrão toma o proprietário da casa de surpresa. Ele vem 
repentinamente e inesperadamente. Assim também será o dia do Senhor. Por isso, é inútil indagar quanto tempo falta ou quando acontecerá. A rigor, toda a característica inesperada e repentina do fim vale apenas para “os demais”, que passam pelo mundo e pela vida dormindo. Para eles, o dia do Senhor de fato vem como o ladrão.

No verso 3, aparece a expressão: “...
eis que lhes sobrevirá repentina destruição... Note a combinação de caráter repentino e a condição de despreparo. A ordem da frase confere ao adjetivo “repentino” e ao substantivo “destruição” forte ênfase.

A vantagem do cristão (1Ts 5:4, 5)
O apóstolo criou um contraste. Os “irmãos” se constituem uma nítida antítese aos homens do mundo. Estes estão “em trevas”,envolvidos e submersos nelas. É em razão dessas trevas que os descrentes não são sóbrios nem vigilantes, portanto não se acham preparados. Os cristãos, entretanto, não estão em trevas. Eles não são surpreendidos porque estão preparados (Hendriksen).

A razão pela qual o apóstolo teve a confiança de afirmar que os irmãos em Tessalônica 
não [estavam] em trevas foi expressa nas seguintes palavras: todos vocês são filhos da luz e filhos do dia”. Ao dizer que todos os membros da comunidade são filhos da luz e do dia, o escritor destacou que nenhum deles se excluía.

A expressão “filhos de” era um modismo usado principalmente entre os hebreus, para indicar que uma pessoa ou um grupo de pessoas participava em algo ou estava em uma relação próxima com algo. Portanto, os filhos da luz são os que são da luz, quer dizer, tem sido salvos e pertencem agora à esfera da luz. A participação na luz e no dia tem implicações claras para a vida moral.

Essa nova existência como filhos da luz e do dia significa que: “não somos da noite nem das trevas”. A estrutura da frase é quiástica:

A. Sois filhos da luz
    B.  E filhos do dia
    B1.  Não somos da noite
A1. Nem das trevas.

Nesta estrutura os elementos B1 e A1 repetem a mesma ideia dos elementos A e B, porém em forma negativa. Mais: nos elementos B1 e A1 o autor muda da segunda para a primeira pessoa do plural. Com isso, deixa claro sua identificação com a grande comunidade cristã. Ao mesmo tempo, a mudança para as afirmações negativas enfatizam a distância que separa toda a comunidade de crentes das práticas imorais que caracterizam a vida dos inconversos (Eugenio Green).

Vigilância constante (1Ts 5:6-8)
Há necessidade de constante vigilância e de fervorosa e terna dedicação. Isso, porém, virá naturalmente quando o coração for guardado pelo poder de Deus, mediante a fé. Nada podemos fazer, absolutamente nada, que nos recomende ao favor divino. Não devemos absolutamente confiar em nós mesmos nem em nossas boas obras. Mas quando, como seres erradios e pecadores, nos chegamos a Cristo, encontramos descanso em Seu amor. Deus aceitará cada um dos que O buscam, confiando inteiramente nos méritos de um Salvador crucificado. O amor brota no coração. Pode não haver êxtase de sentimentos, mas haverá uma confiança duradoura e pacífica. Todo peso se tornará leve; pois leve é o jugo imposto por Cristo. O dever se torna um deleite, e um prazer o sacrifício. O caminho que antes parecia envolto em trevas, se torna iluminado pelos raios do Sol da Justiça. Isso é andar na luz, como Cristo na luz está” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 353).

Encorajar uns aos outros (1Ts 5:9-11)
Até este ponto de seu ensino, Paulo focalizou o caráter distinto dos cristãos e dos descrentes diante do advento do dia do Senhor. Os ímpios dormem e se embriagam de noite, porém os cristãos, sendo do dia, se mantêm sóbrios e atentos. No verso 9, o enfoque muda. O autor passou a explicar o destino dos dois grupos: um sofrerá a ira divina e o outro receberá a salvação.

A razão pela qual os cristãos tessalonicenses podiam alimentar a esperança da salvação e ter confiança frente ao cataclismo vindouro se explica neste verso: “
Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 9).

Esta é também nossa certeza hoje. O apóstolo assegura à igreja que, embora não saiba quando virá o dia do Senhor, não tem que se preocupar porque sempre está preparada como bons soldados (v. 8), e o plano divino nunca foi para sua destruição, mas para sua salvação.

Não a ira, mas a salvação. Essa salvação tem várias dimensões, porém aqui, o aspecto que se destaca é o resgate da ira divina, do castigo da humanidade rebelde. Essa salvação é “propriedade” do cristão por causa da eleição divina e não por mérito humano. Não se ganha como um salário. Para que você não se esqueça, neste ponto o apóstolo indicou o meio pelo qual alguém é salvo: “
por meio de nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós”.

Depois de haver respondido às inquietudes dos tessalonicenses com respeito ao amor fraternal, ao destino dos mortos em Cristo e ao dia do Senhor (4:9; 5:11), Paulo então se dirigiu ao tema da liderança na congregação. Por aquele tempo, a jovem igreja cristã de Tessalônica já contava com aqueles que a dirigiam e necessitavam do respaldo apostólico para que seu ministério fosse eficaz. Esse será o tema da próxima lição.

O autor dos comentário deste trimestre é o Pr. José Silvio Ferreira, casado com a psicóloga Ellen Ferreira. O casal tem três filhos: Maltom Guilherme, Marlom Henrique e Mardem Eduardo. Doutor em Teologia pelo Unasp, o Pr. José Silvio já trabalhou como distrital, líder de jovens e secretário ministerial, atendendo a igreja nos Estados de Goiás, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, onde atua hoje como Ministerial da Associação Paulistana. É autor do livro Cristo, Nossa Salvação.






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