segunda-feira, 28 de junho de 2010

Paulo e Roma (resumo estudo nº 01)



Texto-chave:
Em primeiro lugar, por meio de Jesus Cristo dou graças ao meu Deus por todos vocês, pois no mundo inteiro se ouve falar a respeito da fé que vocês têm Romanos 1:8

Esboço

I. Chamados para ser santos

A. Embora Paulo viajasse bastante, construindo a obra do evangelho em áreas anteriormente não atingidas, sua carta à igreja de Roma documenta suas preocupações por uma igreja que ele ainda não havia visitado.
1. O que a preocupação de Paulo indica sobre sua visão do evangelho?

II. Conhecidos por sua fé

A. Visto que Roma estava no centro do império, a igreja de Roma desempenhava um papel importante em influenciar a expansão do evangelho. Se a igreja já era competente em ensinar o evangelho (Rm 15:14), o que pode ter movido Paulo a escrever essa carta? “
Meus irmãos, estou certo de que vocês estão cheios de bondade, sabem tudo o que é preciso saber e são capazes de dar conselhos uns aos outros.” (Rm 15:14)

B. Que influência sua igreja pode ter na obra mundial do evangelho? Que mensagem você considera importante no fortalecimento de sua igreja nesse papel?

III. Trabalhando livremente, apesar das algemas

A. Quando, finalmente, Paulo foi a Roma, ele estava preso. Como as cadeias de Paulo ajudaram a destacar o fato, não só perante os romanos, mas também de seus semelhantes cristãos, sobre a preeminência do evangelho?
B. Como as circunstâncias de sua vida o capacitaram a contribuir para o trabalho da igreja?

Resumo: 
Embora Paulo ainda não houvesse visitado Roma, ele mencionou a ajuda da igreja em estabelecer um bom fundamento para o avanço do evangelho por todo o império.

Como Paulo, que pregava Cristo e Sua justiça por meio de cartas, pessoalmente e em cadeias, a missão de nossa vida deve ser a saúde e o progresso da igreja mundial.

A visão global de Paulo.

A terceira viagem missionária de Paulo, a partir  de Antioquia, através do que conhecemos hoje como Turquia, Grécia e até Jerusalém, cobriu cerca de 4.350 quilômetros por terra e por mar. A viagem durou mais de quatro anos, embora três desses anos tenham sido passados em Éfeso. A Galácia era um acréscimo relativamente recente ao Império Romano, tendo sido anexada menos de cem anos antes de o livro de Romanos ter sido escrito, em 57 ou 58 d.C.

Nessa ambiciosa viagem, Paulo fez muitas paradas para visitar as congregações que havia estabelecido em suas primeiras viagens. Durante essa jornada, ele também escreveu várias cartas a diversas igrejas. De Éfeso, ele escreveu a primeira carta aos Coríntios; da Macedônia, escreveu a segunda carta aos Coríntios; e, de Corinto, escreveu as cartas aos Gálatas e aos Romanos. É provável que uma das razões para ele escrever a Roma tenha sido pedir a ajuda da igreja para uma viagem ainda mais ambiciosa para a Espanha.

O caminho percorrido tem a distância aproximada de Belém (PA) até Porto Alegre (RS), acrescentando ainda um trecho até Ijuí (RS)

Usando os seguintes sites, imprima algumas fotos das antigas cidades de Éfeso, Corinto e Roma para ajudar seus alunos a se relacionarem com essas cidades que eram grandes e belas nos dias de Paulo, mas idólatras.



Pense nisto: Que tipo de homem deve ter sido Paulo para fazer essas viagens e se esforçar para manter-se em dia com as questões da época em todas as igrejas cristãs espalhadas ao longo do império? Qual era a paixão de sua vida? Como essa paixão pode nos ajudar a entender melhor qual deve ser a nossa própria paixão pela igreja?

A fim de entender os desafios enfrentados por Paulo e pelas jovens igrejas cristãs com que ele estava trabalhando em Roma, bem como nas outras regiões do Império Romano, é importante examinar com a classe o ambiente cultural em que Paulo vivia e trabalhava.

Comentário bíblico


I. Tempos e Cultura

Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de Cencréia, para que a recebais no Senhor como convém aos santos e a ajudeis em tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e de mim inclusive.Rm 16:1, 2


Havendo passado ali algum tempo, saiu, atravessando sucessivamente a região da Galácia e Frígia, confirmando todos os discípulos. At 18:23.)


Éfeso, onde Paulo ficou por três anos em sua terceira viagem missionária, antes de continuar viagem para a Macedônia e Corinto, era uma cidade grande e bela, de mármore branco. Ao longo dos séculos, generais e governantes de diversas épocas construíram monumentos e templos a várias divindades e imperadores, mas Ártemis, a deusa do parto, era o mais famoso centro de adoração. Um templo a Ártemis, quatro vezes maior que o Partenon, na Grécia, era uma das Sete Maravilhas do Mundo, e a venda de ídolos aos peregrinos de todo o mundo era a grande fonte de renda. Não é de admirar que Paulo haja se instalado por tanto tempo nessa encruzilhada da Ásia, interessado como estava em disseminar o evangelho até os confins do mundo.  O problema com um ourives, que sentiu que os ensinos de Paulo ameaçavam o comércio da cidade, com base na idolatria, levou à partida de Paulo de Éfeso (At 19).
A idolatria era dominante em cada cidade que Paulo visitava, mas havia também outros desafios. A carta de Paulo aos Coríntios, escrita em Éfeso, menciona que a imoralidade era prevalecente, não só na sociedade, mas que se infiltrava na igreja.

Corinto era uma encruzilhada muito maior de nações. Tinha dois portos e era rica, cheia de bela arquitetura, inclusive um grande templo para Apolo, e era habitada em sua maioria pelos cosmopolitas bem-sucedidos. Paulo ficou ali por 18 meses e trabalhou como fabricante de tendas. Foi dessa cidade que ele escreveu à igreja de Roma. Se Corinto e Éfeso eram grandes, famosas e bonitas, Roma era muito maior e mais importante. Roma tinha uma população de 1 milhão e era o centro do comércio do império. O interesse de Paulo pela igreja de Roma se devia, pelo menos em parte, à posição central e influência da cidade, especialmente porque Paulo planejava viajar além de Roma, à Espanha, para evangelizar aquela parte do mundo.

Pense nisto:
Que vantagens as igrejas em cidades como Éfeso, Corinto e Roma podiam ter como centro de um trabalho mundial do evangelho? Que desafios especiais enfrentam as igrejas cercadas pela idolatria e imoralidade da vida urbana?

II. Boa reputação

Meus irmãos, estou certo de que vocês estão cheios de bondade, sabem tudo o que é preciso saber e são capazes de dar conselhos uns aos outros.” Rm 15:14.)

Apesar de não haver visitado Roma antes e nem fundado aquela igreja, Paulo tinha ouvido falar da reputação da igreja. Diferentemente das cartas a Corinto, Paulo não tinha nenhuma denúncia forte contra os membros da igreja de Roma. Ele nota a “bondade” dos cristãos em Roma, que eram “capazes” e “plenamente instruídos” (Rm 15:14, NVI).

Paulo esperava que os cristãos de Roma fossem seus aliados no esforço de evangelizar o mundo. Para esse fim, ele escreveu a carta à igreja de Roma, descrevendo os grandes princípios do evangelho. Ele declarou persuasivamente que a aplicação prática do evangelho encontrava desafios que algumas das igrejas cristãs estavam enfrentando, cercadas como estavam pela cultura pagã de idolatria e imoralidade.

Visto que a igreja ainda estava na infância, havia também desafios com respeito à transição das tradições judaicas para o modo cristão de pensar. As tradições judaicas estavam arraigadas havia tanto tempo na mente humana que seus propósitos religiosos originais haviam sido mal entendidos ou esquecidos por muitos. Mas nem sempre estava claro quais crenças e práticas deveriam ser preservadas e quais haviam sido abolidas pelo encontro do tipo com o antítipo na morte de Cristo. Uma explicação decisiva dos fundamentos do evangelho era essencial para o desenvolvimento da jovem igreja.

Pense nisto: Embora a igreja de Roma não tivesse sido estabelecida por qualquer apóstolo conhecido, era vibrante e crescente, e Deus estava com ela. Que desafios enfrentam as igrejas sem muita liderança disponível e preparada? Como esses desafios podem ser atendidos?

III. Servindo em cadeias

17. Três dias depois, ele convocou os principais dos judeus e, quando se reuniram, lhes disse: Varões irmãos, nada havendo feito contra o povo ou contra os costumes paternos, contudo, vim preso desde Jerusalém, entregue nas mãos dos romanos;
18  os quais, havendo-me interrogado, quiseram soltar-me sob a preliminar de não haver em mim nenhum crime passível de morte.
19  Diante da oposição dos judeus, senti-me compelido a apelar para César, não tendo eu, porém, nada de que acusar minha nação.
20  Foi por isto que vos chamei para vos ver e falar; porque é pela esperança de Israel que estou preso com esta cadeia.
21  Então, eles lhe disseram: Nós não recebemos da Judéia nenhuma carta que te dissesse respeito; também não veio qualquer dos irmãos que nos anunciasse ou dissesse de ti mal algum.
22  Contudo, gostaríamos de ouvir o que pensas; porque, na verdade, é corrente a respeito desta seita que, por toda parte, é ela impugnada.
23 Havendo-lhe eles marcado um dia, vieram em grande número ao encontro de Paulo na sua própria residência. Então, desde a manhã até à tarde, lhes fez uma exposição em testemunho do reino de Deus, procurando persuadi-los a respeito de Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas.
24  Houve alguns que ficaram persuadidos pelo que ele dizia; outros, porém, continuaram incrédulos.
25  E, havendo discordância entre eles, despediram-se, dizendo Paulo estas palavras: Bem falou o Espírito Santo a vossos pais, por intermédio do profeta Isaías, quando disse:
26  Vai a este povo e dize-lhe: De ouvido, ouvireis e não entendereis; vendo, vereis e não percebereis.
27  Porquanto o coração deste povo se tornou endurecido; com os ouvidos ouviram tardiamente e fecharam os olhos, para que jamais vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, para que não entendam com o coração, e se convertam, e por mim sejam curados.
28  Tomai, pois, conhecimento de que esta salvação de Deus foi enviada aos gentios. E eles a ouvirão.
29  Ditas estas palavras, partiram os judeus, tendo entre si grande contenda.
30 Por dois anos, permaneceu Paulo na sua própria casa, que alugara, onde recebia todos que o procuravam,
31  pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo. At 28:17-31.)

A seu tempo, Paulo chegou a Roma, mas não como homem livre. Apesar de suas cadeias, o evangelho de Cristo, que estava sempre em seu coração e era a preocupação contínua de suas exortações e cartas, era pregado corajosamente a todos os que o ouvissem. Ele escreveu de Roma suas epístolas aos Efésios, Filipenses, Colossenses e a Filemon.

Pense nisto: 
Como as dificuldades afetaram o senso de missão de Paulo?

Como nos dias de Paulo, as maiores igrejas frequentemente estão situadas nas metrópoles, e podem fazer muito para apoiar o desenvolvimento de igrejas mais jovens em áreas menos povoadas e mais distantes. Porém, existem desafios em cada região. Use as perguntas para consideração abaixo para ajudar a classe a refletir não só nos desafios enfrentados pela igreja global mas em seu espaço no quadro global.

Perguntas para consideração

Que cidades e regiões de hoje são mais influentes não só no comércio material mas na exportação de pensamentos e ideias que influenciam o restante do mundo? Como a igreja de hoje pode fazer uso da posição e influência desses canais de cultura para espalhar o evangelho de Cristo ao redor do globo? Que desafios para o crescimento de igrejas saudáveis existem nas grandes cidades de hoje? Que desafios enfrentam as igrejas mais jovens, mais distantes?

Explicações claras dos princípios do evangelho ainda são tão importantes hoje quanto nas igrejas no tempo de Paulo. Que desafios enfrentados pelas igrejas podem ser atendidos por um definitivo “Assim diz o Senhor”? Que fontes de conhecimento e apoio Deus nos deu para nosso tempo?

Ponham em prática nas próximas semanas a discussão desta semana.

1. Planeje sua própria viagem missionária ao redor do seu bairro. Quais de seus vizinhos e membros de sua comunidade você chegou a conhecer e encorajar na fé? Planeje uma série de visitas nos próximos meses para desenvolver esses contatos e transformá-los em amizades reais.
2. Desenvolva um ministério em que você use cartas e cartões para partilhar sua fé na comunidade local, no ministério em prisões ou ao redor do mundo.
3. Tente descobrir se estão sendo feitos planos para viagens missionárias por grupos de estudantes ou igrejas locais em sua associação ou missão. Certas pessoas em sua classe, ou a classe como um todo, podem apoiar um projeto missionário ou planejar participar pessoalmente.
4. Quando pensa na paixão para a expansão do evangelho que alimentava a vida de Paulo, que mensagem especial merece a devoção de sua vida? Desafie os membros da classe a procurar pôr a declaração de missão de Paulo em suas passagens favoritas e use-as para planejar sua própria declaração de missão.
5. Que passagens concisas dos escritos de Paulo descrevem o profundo fervor de sua missão? Escolha uma dessas passagens para ler na conclusão de sua classe.



domingo, 27 de junho de 2010

Paulo e Roma (comentário do estudo nº 01)


Como não poderia deixar de ser, o primeiro estudo do trimestre é de caráter introdutório à epístola aos Romanos. A introdução a um livro ou epístola da Bíblia envolve seu fundo histórico e atende a questões do tipo:


·                                 quem escreveu o documento em consideração?
·                                 quando escreveu?
·                                 de onde e a quem escreveu?
·                                 quão íntimos do autor eram os destinatários?
·                                 que circunstâncias marcavam o dia a dia do autor e dos destinatários?, e, finalmente,
·                                 que propósito tinha o escritor em mente ao escrever o que escreveu?

Quem escreveu aos Romanos é por demais sabido; só mesmo teólogos da linha ultrarradical do liberalismo teológico colocam em dúvida a autoria paulina da epístola. Na verdade, negar a Paulo a autoria de Romanos é negar-lhe a autoria de qualquer outro documento do Novo Testamento. Esta foi a posição adotada por van Manen, teólogo holandês do princípio do século 20.

Todas as evidências externas e internas da epístola apontam Paulo como autor. Nas palavras de F. W. Beare, “
existem claras evidências de seu uso por outros escritores cristãos antes do fim do primeiro século e na primeira metade do segundo...; e antes do fim do segundo século é alistada e citada sob o nome de Paulo. Cada listagem das Escrituras cristãs que tem chegado até nós inclui Romanos entre as cartas de Paulo. A evidência externa de autenticidade não poderia ser mais forte, e a evidência interna suporta plenamente a tradição. A carta pertence à primeira geração da igreja, e existe muito nela que não poderia ser razoavelmente relacionado a nenhuma situação posterior; a linguagem inclui grupos de palavras e frases que são caracteristicamente do vocabulário de Paulo; e não existe nada que sugira a mentalidade ou o treino de um escritor que não pudesse ser identificado com o apóstolo” (The Interpreter’s Dictionary of the Bible, 4:112).

As outras questões são respondidas nos primeiro e segundo estudos; as seguintes abordam algo mais sobre o autor e destinatários.

I. Data e lugar

Reforçando o que a lição afirma, exponho o seguinte:

Algumas evidências internas de Romanos deixam claro onde Paulo se encontrava ao escrever a epístola:

(1) ele estava para ir a Jerusalém com as ofertas para os pobres da igreja (15:25, 26).
(2) as ofertas eram da Macedônia e Acaia, ou Grécia. Paulo deveria estar nas proximidades desses locais.
(3) ele cita Cencreia, a região do porto de Corinto, recomendando a Febe, diaconisa daquela igreja e possível portadora da epístola (16:1).
(4) Gaio era o anfitrião de Paulo (16:23); o apóstolo o batizara em Corinto (1Co 1:14).

Concluímos que Paulo escreveu aos Romanos da casa de Gaio em Cencreia.

Quanto à ocasião, devemos lembrar que Paulo visitou Corinto em sua segunda viagem, ali permanecendo por um ano e meio (At 18:11).

Voltou a Corinto na terceira viagem, dessa vez permanecendo ali 3 meses (At 20:2, 3). Viajou, então, para Jerusalém, passando pela Macedônia (Filipos), de onde partiu depois dos pães asmos (At 20:6). Teria, portanto, saído de Corinto mais ou menos em março.

Paulo diz que ia a Jerusalém para levar as ofertas trazidas desde a Macedônia e Acaia (At 24:17), item referido em Romanos. Somos levados a crer que a epístola emergiu entre janeiro e março. De que ano? Entre 55 e 58 a.D., com preferência para 58.

Foi em sua terceira viagem, antes de voltar a Corinto, que Paulo passou pela Galácia onde tomou conhecimento do problema do legalismo que abalava a estrutura espiritual das igrejas daquela região. Por obra de elementos cristãos/judaizantes, o autêntico evangelho de Cristo estava sendo suplantado por outros de qualidade espúria. Paulo chamou esse evangelho de anátema, maldição, pois as obras concorrentes para o mérito humano estavam sendo impostas como meio de salvação, em lugar da fé.

A lição observa que Paulo deve ter temido que esses elementos chegassem a Roma antes dele e contaminassem com suas heresias a igreja naquela cidade. Daí ter escrito aos cristãos romanos uma epístola tratando do mesmo assunto da epístola aos Gálatas: justificação pela fé. Para isso concorre a ideia de que Paulo teria escrito aos Gálatas do mesmo local e na mesma época de onde e quando escreveu aos Romanos.

Em que pese a importância de toda essa situação corrente naqueles dias, em minha humilde opinião, o propósito da epístola aos Romanos se prendeu apenas indiretamente ao que vinha acontecendo e tinha acontecido particularmente na Galácia, e abrange mais que o tratamento de alguma problemática teológica entre os cristãos em Roma; em outras palavras, o propósito de Romanos difere daquele de Gálatas. Tratarei desse ponto no comentário à lição de amanhã.

II. Toque pessoal

Veremos agora o propósito da epístola aos Romanos: por que Paulo lhes escreveu? Entendo que esse propósito é vinculado ao plano do apóstolo de visitar os cristãos daquela cidade e o texto da pergunta 2, Rm 15:20-27, é fundamental para que dele nos apercebamos.

Para tanto, é requerida atenção especial ao v. 24: “... espero que, de passagem, estarei convosco e que para lá [ele se referia à Espanha] seja por vós encaminhado...” Paulo contava com o apoio daqueles cristãos para avançar com a pregação do evangelho também no Ocidente.

Assim, a razão porque Paulo escreveu aos crentes romanos difere daquela que motivou outras de suas epístolas. Gálatas e 1 Coríntios, por exemplo, foram escritas para defrontar problemas existentes nas respectivas igrejas, a primeira de cunho mais pastoral, e a segunda, de cunho mais teológico. Paulo não escreveu Romanos com esse objetivo, embora não ignorasse a existência de problemas de menor grandeza entre aqueles crentes e lhes apresentasse seu aconselhamento apostólico (ver o capítulo 14).

O propósito de lhes escrever, como acima aludido, fundamentou-se em sua perspectiva missionária. Ele entendeu que havia praticamente encerrado seu plano de trabalho na Ásia Menor e na região egeana (Grécia e Macedônia, 15:23), e agora alimentava a expectativa de penetrar em território virgem, principalmente em direção ao ocidente mais distante. A Espanha, a província ocidental romana mais afastada, era vista por ele com especial interesse (v. 24). Ele considerava Roma não um fim em si mesmo, mas um meio de cumprir as novas aspirações missionárias, o trampolim ideal de onde poderia saltar para as novas conquistas de seu ministério.

Ele sabia quão decisivo seria o apoio dos crentes de Roma para a consecução de seu ideal. Ele nunca havia estado na capital do império, pelo menos como pregador, e não conhecia a maior parte dos cristãos ali residentes. Uma carta proveria a necessária aproximação do apóstolo a esses crentes, e os induziria a compartilhar seu interesse, preparando-os para recebê-lo e apoiá-lo em seu projeto.

Mas por que Paulo abordou justamente nessa epístola, e da maneira como o fez, o tema da justificação pela fé? Como se relaciona isso com sua projetada missão?

Devemos observar como Paulo, em Romanos, se defende ciosamente de acusações infundadas da parte de falsos irmãos, seus adversários (3:8, 31; 6:1). Mediante distorcidas interpretações de seu ensino, engendravam conclusões absurdas que, atribuídas a ele, certamente resultavam em mal-entendidos e o colocavam em situação desfavorável junto aos companheiros de fé.

É provável que Paulo temesse que comentários negativos acerca de sua mensagem e pessoa estivessem sendo veiculados em Roma, e que ele estivesse sendo vítima de elementos maledicentes, que queriam prejudicar seu trabalho, como mais tarde ele verificou estar acontecendo entre os crentes de Jerusalém (ver At 21:20, 21). Como, então, poderia contar com o desejado apoio daqueles irmãos, muitos dos quais eram judeus? Eles tinham que ser esclarecidos.

Escreveu-lhes, portanto, expondo da maneira mais detalhada possível sua principal mensagem, precisamente aquela que mais controvérsia suscitava, levando-os a conhecer por sua própria voz e punho a substância do seu ensino, contestando à altura as acusações que lhe eram feitas, e deixando ver que ele apenas cumpria a missão que o próprio Senhor lhe havia confiado (Rm 15:15-21).

Ele não era um traidor de seus compatriotas, muito menos da fé. Bem ao contrário, amava-os a ponto de estar disposto a abrir mão da salvação, se isso fosse de algum benefício para eles (9:1-3). Como prova adicional de seu interesse pelos judeus, mencionou estar indo a Jerusalém portando uma oferta arrecadada entre os gentios por sua iniciativa, para fazer face às necessidades deles (15:25-27).

Ademais, esclareceu que sua mensagem não era incompatível com o plano que Deus sempre teve com Israel (caps. 9-11).

Levando tudo isso em conta, é provável também que Paulo olhasse para Roma como uma posterior central evangelística, de onde a mensagem pudesse alcançar os rincões mais distantes do mundo.





III. Paulo chega a Roma

A chegada do apóstolo à capital do império foi um tanto diversa daquela que ele inicialmente planejara ao escrever aos romanos: Foi levado para lá acorrentado, para ser julgado por César. A lição recorda que, às vezes, a maneira de Deus conduzir os acontecimentos é inesperada e não coincide com o que pretendíamos, mesmo com os bons propósitos que tínhamos em vista. Em qualquer eventualidade, sempre a melhor atitude é deixar-se dominar pela disposição de Paulo: “... em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (At 20:24).

Fatos ocorridos no transcurso de uns cinco ou seis duros anos para Paulo antes de ser levado para Roma: foi agredido e preso em Jerusalém (21:27-32), apresentou sua defesa diante de multidão desvairada (22:1-21) e então, perante o Sinédrio (23:1-10), daí, como proteção de uma cilada armada pelos judeus, foi levado para o cárcere em Cesareia (v. 12-30), onde, finalmente, se submeteu a um julgamento preliminar, inicialmente perante Félix (24:1-21), e depois, perante Festo e Agripa  (caps. 25, 26), sendo finalmente encaminhado a Roma para ser julgado pelo próprio imperador (caps. 27, 28).

Nada disso, porém, abateu o ânimo e espírito missionário de Paulo. Ele tinha plena convicção de que a forma pela qual Deus conduzia as coisas concorreria para que ele cumprisse cabalmente sua missão, e era isso o que importava (ver Fl 1:12-14). Agora, as circunstâncias lhe haviam oferecido o ensejo de testemunhar de sua fé perante os próprios governantes do império, e ele não hesitou em apelar para o tribunal de César, um direito que lhe cabia por sua cidadania romana (25:10-12). O resultado foi que vários da “casa de César” se converteram (Fl 4:21, 22).

Nos primeiros parágrafos do capítulo 40 de Atos dos Apóstolos,Ellen G. White oferece emocionante descrição de como os cristãos de Roma (muitos dos quais haviam sido ganhos por Paulo em suas viagens missionárias) manifestaram seu carinho e apreço pelo encanecido e aprisionado apóstolo, mesmo antes de ele chegar à grande metrópole. Destaco apenas estas palavras:

 “
Desde que receberam a epístola de Paulo aos Romanos, os cristãos da Itália tinham avidamente desejado uma visita do apóstolo. Não haviam imaginado vê-lo como prisioneiro, mas seus sofrimentos apenas o tornaram mais querido deles...

“Os amantes discípulos ansiosamente afluem ao redor de seu pai no evangelho, obrigando todo o cortejo a parar... Na face macerada e batida pela dor, os discípulos viram refletida a imagem de Cristo. Asseguraram a Paulo que nunca o esqueceram nem deixaram de amá-lo; que lhe eram devedores pela feliz esperança que lhes animava a vida, e lhes dava paz para com Deus. Na ardência de seu amor, o levariam nos ombros todo o caminho até à cidade, fosse-lhes dado esse privilégio” (p. 447-449).

IV. Chamados para ser santos

O verbo chamar, identificando um ato soberano de Deus objetivando a salvação, tem sido ponto de controvérsia entre os que estudam a Bíblia. Existem aqueles que imaginam que Deus não chama a todos porque não tem destinado a todos para ser salvos. Isso é grave equívoco que põe em cheque o amor e a fidelidade de Deus para com a raça perdida. A Bíblia afirma categoricamente que Deus deseja a salvação de todos (1Tm 2:4; 2Pe 3:9). Então, como a lição afirma, “todos foram chamados para ser salvos nEle [em Jesus], ‘chamados para serem santos’ mesmo antes da fundação do mundo.”

Todavia, embora Deus anseie pela salvação de cada ser humano, nem todos se salvarão. Por quê? Porque nem todos atenderão ao chamado de Deus. A salvação só é conferida a quem decide por ela, a quem a deseja. Deus ama a todos, ímpios e justos, mas os primeiros não correspondem ao amor divino e, quando não correspondido, “o amor é limitado em sua expressão mais plena”, isto é, ele não alcança tudo o que poderia.

 “Chamados para serem santos” – Aqui vemos não somente a iniciativa de Deus (“chamados”), mas igualmente Seu propósito (“serem santos”). Deus nunca age sem um objetivo. “Para serdes santos” significa para alcançar a semelhança com Seu Filho, Jesus, o ideal mais elevando que pode ser colocado diante de alguém.

Aqui temos um processo de causa e efeito: porque somos chamados, nos tornaremos santos, desde que aceitemos, é claro, o chamado.Santo tem o sentido primário de separado para ser santo. O grande propósito de Deus para com o pecador ao chamá-lo através do evangelho que justifica é que ele seja santo, isto é, que finalmente reflita em sua vida a semelhança com Cristo. Neste ponto, devemos lembrar que a justificação pela fé, o grande tema da epístola, traz em seu bojo a experiência da santificação, e que uma coisa não pode ser desvinculada da outra, como não se pode pensar separadamente em uma árvore e seus frutos.

V. Reputação mundial

A lição observa que não é sabido como foi fundada a congregação de Roma. Aqui há três hipóteses, a terceira sendo a mais plausível:
(1) Uma antiga tradição atribui a Barnabé o privilégio da primeira pregação em Roma.

(2) Outra tradição alude a uma viagem de Pedro a Roma em 42, e que ele, então, teria fundado a congregação. Por motivos óbvios, essa tradição é muito apreciada pelo catolicismo.

(3) O mais provável, todavia, é que nem Pedro, nem outro apóstolo, nem algum antigo pregador de destaque, e muito menos Paulo, tenha sido o fundador daquela congregação. Ambrósio, comentarista latino do 4º século, lembra que os romanos “sem verem qualquer milagre, ou qualquer dos apóstolos, aceitaram a fé em Cristo.”

Seus primeiros membros foram, com toda a probabilidade, os judeus conversos do dia do Pentecostes (At 2:10).

Sou grato a meu Deus, mediante Jesus Cristo, por todos vocês...” – Determinado número de membros daquela congregação havia sido ganho por Paulo, mas ele não agradece a Deus só por esses membros, mas “por todos [eles]”; ele era grato a Deus também por aqueles conversos do trabalho de outros pregadores, e, sem dúvida, orava por eles.

Paulo não foi exclusivista. Aos crentes de Corinto ele afirmou: “
Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus” (1Co 3:6).

Para ele, a eficácia da pregação, feita por quem quer que fosse, ficava inteiramente na dependência da ação divina. O pregador era apenas um instrumento (v. 5); a glória e o louvor deveriam ser tributados a apenas um Ser: Deus. “De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (v. 7).

Para Paulo, o que importava era que Cristo fosse anunciado, de uma forma ou outra. Mais tarde, preso em Roma, ele afirmou: “
Alguns efetivamente proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade; estes, por amor... aqueles, contudo, ... por discórdia, insinceramente... Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado...” (Fl 1:15-18).

“...
em todo o mundo está sendo anunciada a fé que vocês têm” (Rm 1:8). O sentido é objetivo e não subjetivo. Paulo não estava dizendo que a fé cristã era proclamada em todo o mundo, mas que a qualidade de fé dos cristãos romanos era avaliada positivamente e admirada por todos. A gratidão de Paulo pela fé dos romanos demonstra que esta é um dom de Deus.

O fato de os cristãos romanos não terem presenciado nenhum milagre, nem visto nenhum dos apóstolos, e terem crido do jeito que criam, valorizava ainda mais a fé revelada por eles.

E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros.  (Rom 15:14) é referido pela lição como contendo três ingredientes essenciais de uma igreja plena de fé, zelosa e fiel:
(1) os membros são “possuídos de bondade”;
(2) são “cheios de todo o conhecimento” (estão preparados para dizer não às heresias e aos dissidentes); e
(3) são aptos para a admoestação mútua (claro, movidos pelo primeiro item, a “bondade”). Essa modalidade de admoestação é muito útil para o crescimento espiritual.

Assim, aquela congregação não apenas possuía fé autêntica e admirável, mas se encontrava em constante progresso. É uma tremenda ironia da história que, mais tarde, aquela metrópole viesse a comportar a sede da apostasia cristã. O inimigo é astuto, e aos crentes cumpre uma vigilância incansável, inflexível, mesmo obstinada!

Autor: José Carlos Ramos    joseramos2009@terra.com.br
Pastor e professor do SALT ora jubilado
Engenheiro Coelho, SP, abril-junho de 2010

Extraído de:  http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2010/com132010a.html

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Apoio social: laços que unem (comentário)




Não fomos criados para viver sozinhos, isolados das pessoas. Isso não quer dizer que não devemos ter momentos de afastamento, que são importantes para comunhão pessoal com Deus, estudo de Sua Palavra, meditação, reflexão sobre nossa vida. Há pessoas que têm muita dificuldade em estar sozinhas, assim como há as que têm dificuldade em estar com outras. Esses extremos não são o melhor para nossa saúde emocional e social, bem como espiritual.

Jesus era muito sociável. 
Toda a vida do Salvador caracterizou-se pela desinteressada beneficência e a beleza da santidade. ... Era altamente sociável, possuía no entanto uma reserva que desanimava qualquer familiaridade. Sua temperança nunca descambava para o fanatismo ou a austeridade. Não Se conformava com o mundo, e todavia estava atento às necessidades dos mais humildes entre os homens.1 “...Ele era sociável por natureza. Aceitava convites para jantar com os cultos e nobres, e também com os pobres e aflitos. Nessas ocasiões, Sua conversação era de molde a elevar, instruir, mantendo os ouvintes maravilhados.”2

O Dr. Dean Ornish, cardiologista da Universidade da Califórnia em São Francisco, verificou em suas pesquisas médicas que qualquer coisa que promova uma sensação de isolamento, leva ao estresse crônico e, na maioria das vezes, a enfermidades como a doença do coração. Por outro lado, ele constatou que algo que conduza à real intimidade e a sensações de contato, pode ser curativo. Intimidade aqui é o que tem que ver com afetividade, amabilidade, não sexualidade primariamente. A capacidade de ser íntimo, segundo Ornish, é uma chave para a saúde mental e para a saúde de nosso coração físico.3

Quando ficamos isolados afetivamente, aumenta a sensação da necessidade de querer coisas. Ficamos egocêntricos. Caímos no consumismo e o vazio permanece. Não é esse um sintoma social moderno? Tanta comunicação e tanta solidão?

Quando nos envolvemos socialmente para ajudar, a saúde pessoal geral cresce. É interessante uma versão de uma parte da Oração de São Francisco que li. A parte original diz: “...
é dando que se recebe...” A versão que me chamou a atenção diz: “...é dando que se recebe a alegria de dar.” Viver isolados gera egocentrismo e ganância insaciável, com o consequente vazio existencial. Envolver-se em ajuda às pessoas, produz alívio do sofrimento delas, o nosso e promove alegria. Por isso Jesus era alegre.

I. A imagem original

Sem a luz do Espírito Santo em nossa mente, permanecemos em trevas, mesmo tendo Ph.D. em Teologia, Psicologia, Filosofia, etc. Assim como a compreensão intelectual não resolve necessariamente problemas emocionais, a compreensão teórica da religião não nos faz obrigatoriamente espirituais. É a graça atuando e nós permitindo sua ação em nossa mente, não resistindo a ela, que nos traz luz.

E ao mesmo tempo em que Cristo revela o Céu ao homem, a vida que Ele transmite abre o coração do homem ao Céu. O pecado não somente nos exclui de Deus, mas também destrói no coração humano tanto o desejo como a capacidade de O conhecer. É a missão de Cristo desfazer toda essa obra do mal. Ele tem poder para fortalecer e restaurar as faculdades paralisadas pelo pecado, a mente obscurecida, a vontade pervertida. Ele nos abre as riquezas do Universo, e por Ele nos é comunicada a capacidade de discernir esses tesouros e nos apoderar deles.”4

A perda da presença divina causou angústia na humanidade. Por isso, o profeta Naum disse: “...
não virá a angústia a segunda vez (Na 1:9). O psicólogo Erich Fromm comenta: A experiência da separação desperta a ansiedade; é, de fato, a fonte de toda ansiedade.”5 E acrescenta: A consciência da separação humana, sem a reunião pelo amor, é a fonte da vergonha. É, ao mesmo tempo, a fonte da culpa e da ansiedade. ... O desejo de fusão interpessoal é o mais poderoso anseio do homem. ...Sem amor, a humanidade não poderia existir um só dia.”6 E é importante que compreendamos que o amor vem de Deus. Não é um sentimento só. Fromm declara: O amor é uma atividade, e não um afeto passivo; é um ‘erguimento’ e não uma ‘queda’. De modo mais geral, o caráter ativo do amor pode ser descrito afirmando-se que o amor, antes de tudo, consiste em dar, e não em receber.”7

Em nossas comunicações familiares e sociais, faz parte do plano de Deus que amemos as pessoas, para ajudá-las. Mas que é amor? Fromm comenta: 
O amor não é, primacialmente, uma relação para com uma pessoa específica; é uma atitude, uma orientação de caráter, que determina a relação de alguém para com o mundo como um todo, e não para com um ‘objeto’ de amor. Se uma pessoa ama apenas a uma outra pessoa e é indiferente ao restante dos seus semelhantes, seu amor não é amor, mas um afeto simbiótico, ou um egoísmo ampliado.”8

O amor que Deus quer que tenhamos nessa existência é abrangente. A missão do cristão em suas conexões sociais é amar o próximo. 
Isto Eu vos mando: que vos ameis uns aos outros (Jo 15:17). Mas esse próximo não é só o de sua família, ou membros de sua comunidade religiosa. Veja: Cristo mostrou [na parábola do Bom Samaritano, Lucas 10] que nosso próximo não quer dizer simplesmente alguém de nossa igreja ou da mesma fé. Não tem que ver com distinção de raça, cor, ou classe. Nosso próximo é todo aquele que necessita de nosso auxílio. Nosso próximo é todo o que se acha ferido e quebrantado pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que é propriedade de Deus.”9 E o mais fantástico é: Este amor (a Deus e aos Seus filhos) é o Espírito de Deus.”10

II. Pessoas: seres sociais

Estudos sobre o alcoolismo afirmam que para cada alcoólico ou alcoólatra, são afetadas negativamente seis pessoas. Ou seja, as pessoas que convivem com o alcóolico adquirem algum estresse pelas consequências do beber compulsivo daquele indivíduo. O contrário também é verdadeiro, pois passamos uma influência positiva em nossa vida social quando estamos conectados com o Espírito de Deus.

O Dr. Ornish comenta que o isolamento social e a supressão de sentimentos muitas vezes levam à doença, enquanto que a melhoria da maneira de comunicar afeto e o apoio social produzem cura.

“No Estudo de Alameda County (6.928 homens e mulheres morando nos arredores de São Francisco) e no estudo de North Karelia (13.301 homens e mulheres morando no leste da Finlândia) – os participantes foram estudados durante cinco a nove anos. Aqueles que estavam socialmente isolados tinham um risco duas a três vezes maior de mortalidade, tanto devido à doença do coração quanto a todas as outras causas de morte, quando comparados àqueles que se sentiam mais ligados aos outros. Esses resultados foram independentes de outros fatores de risco cardíaco, como nível de colesterol, pressão do sangue, etc. Resultados similares foram encontrados em 2.059 indivíduos da cidade de Evans, estado de Georgia, onde a maior mortalidade foi encontrada entre as pessoas mais idosas com poucos laços sociais. O simples fato de serem sócias de um clube ou membros de uma igreja ou sinagoga diminuía de modo significativo o risco de morte prematura e protegia de maneira acentuada as pessoas contra a doença cardíaca, mesmo que elas tivessem pressão alta. Em um período subsequente de nove anos, aqueles cujos elos sociais diminuíram passaram a experimentar um risco maior de morte devido à doença do coração.”11

Ornish cita o caso de coelhos recebendo benefícios para a saúde através de conexões afetivas e contato social. Ele comenta que o Dr. Robert Nerem, da Universidade de Houston, estudou inadvertidamente o que acontece quando é dado apoio social aos coelhos. Deram dieta rica em colesterol que desenvolve aterosclerose nos coelhos. Eles estavam em gaiolas empilhadas umas sobre as outras até o teto. Esperava-se que todos desenvolvessem aterosclerose, mas viram que os que estavam nas gaiolas mais altas tinham mais aterosclerose do que os das gaiolas mais baixas. Por quê?  Observaram que a funcionária do laboratório era de estatura baixa e brincava com os coelhos das gaiolas mais baixas enquanto os alimentva. Os colocava no colo, tirando-os da gaiola por uns minutos, etc., enquanto que os coelhos das gaiolas mais altas eram alimentados, mas sem este contato afetivo, eram ignorados e ficavam isolados. Os cientistas repetiram o estudo e observaram que os coelhos que eram agradados individualmente, segurados no colo, com os quais se conversava e brincava regularmente, mostravam uma redução de mais de 60% de aterosclerose, quando comparados com os coelhos que haviam recebido a mesma dieta e eram geneticamente idênticos aos demais, mas que haviam recebido somente os cuidados rotineiros de laboratório. Isso ocorreu mesmo que níveis de colesterol, frequência cardíaca e pressão do sangue fossem comparáveis em ambos os grupos de coelhos.12

O segredo de uma vida social com conexões saudáveis e úteis vem pela nossa comunhão com Jesus de maneira profunda, diária, persistente. 
À medida que fizermos de Cristo nosso Companheiro diário, havemos de sentir que as forças de um mundo invisível se encontram todas ao redor de nós; e, pelo contemplar a Jesus, seremos transformados à Sua imagem. Somos transformados pela contemplação. O caráter é abrandado, refinado e enobrecido para o reino celeste. O seguro resultado de nosso trato e convívio com nosso Senhor, será o acréscimo de piedade, de pureza e fervor. Haverá progressiva inteligência na oração. Recebemos assim uma educação divina, o que é ilustrado por uma vida de diligência e zelo.13

III. Unidade da redenção

Deus nos chama para a união nEle mesmo. Em João 17 Jesus fala disso em Sua oração ao Pai. Seu pedido é que seja estabelecida para sempre a união entre Ele mesmo, Seus seguidores e entre eles mesmos. No verso 3 Ele define vida eterna de maneira muito interessante dizendo que ela é resultado do conhecimento experimental de Deus. Isto produz entusiasmo. E o significado da palavra “entusiasmo” é “cheio de Deus”!

Novamente, cito Fromm: 
Se uma pessoa ama apenas a uma outra pessoa e é indiferente ao restante dos seus semelhantes, seu amor não é amor, mas um afeto simbiótico, ou um egoísmo ampliado.”14

“O benefício do amor em mim para o outro é que ele passa por mim realizando todas as curas possíveis, como uma chuva abençoada que rega a terra que estava de boca e coração abertos ressequidos, e que se deliciam com o frescor da água celeste. A chuva não seleciona regar somente aquele ou este jardim ou plantação, mas tudo. O amor é para tudo e para todos. Ele é para curar. É ele quem cura.

Quando sou tomado pelo amor não há como selecionar as pessoas para quem ele será dirigido. Eu não consigo fazer isso, porque fazer isso é da alçada da paixão e do amor condicional, que são ilusões de amor. Quando o amor me possui, não posso deixar de amar a todos os meus semelhantes, os animais, a Natureza. É uma contaminação afetiva positiva. É o agente mais poderoso da recuperação física, emocional e espiritual.”15

Deus ama Suas criaturas, seres humanos, animais, Natureza, povos não caídos, anjos. Ele não discrimina ninguém. Fazem parte de Seu povo os adventistas do sétimo dia que mantêm vivo contato com Ele pela fé e são fortalecidos pela graça de Jesus. Ele chama o Egito de “Meu povo” em Isaías 19:25. É dito também: “Quem eram realmente os israelitas – judeus ou gentios, bárbaros, citas, escravos ou livres?”16

Como seres humanos, estamos todos no mesmo barco, dependendo de Deus cada segundo para viver. Dependíamos dEle para sermos criados e desenvolver no útero de nossa mãe. Dependemos dEle para alcançarmos o despertamento espiritual gradativo e progressivo. E com este despertar caminharmos no processo de redenção, salvação, para, pelo milagre divino em Jesus e por Jesus, cheguemos à glorificação em Sua vinda.

É nossa dívida também a todo membro da família humana, seja negro ou branco, alto ou baixo, tratá-lo com bondade e manifestar interesse em sua salvação. Como membros de uma só família, somos todos irmãos. ...”17

IV. Apoio mútuo

O apoio fortalece. Somos fortes em uns pontos e fracos em outros, por isso a união de esforços é eficaz para tanta coisa, na família, na igreja, no trabalho, na comunidade.

Uma pessoa pode se sentir isolada de seus próprios sentimentos e das pessoas porque criou para si uma imagem, e ama e respeita a imagem que criou. Para manter essa imagem, a pessoa pode se estressar muito, a ponto de atingir o estado crônico do estresse. Pode ter medo que descubram que tem medo. Este pode ser o medo de ser abandonada se descobrem que ela tem alguma fraqueza, algo diferente da imagem que deseja que as pessoas olhem e admirem. Surge o estresse crônico por causa da compulsão para a manutenção da imagem criada. Quando ela percebe a si mesma como isolada e só, isso cria uma visão de mundo fundamentalmente autodestrutiva e autoderrotista. Esta autodestruição pode vir como: exercício compulsivo, trabalho compulsivo, sexo compulsivo, fumo, alcoolismo, drogas, etc. Isso pode amortecer temporariamente nosso sofrimento, mas nos isola mais de nós mesmos e dos outros, produzindo mais sofrimento, que leva a mais compulsões, etc.

Ornish cita uma interessante pesquisa científica feita na Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford pelo Dr. David Spiegel com pacientes com câncer de mama metastático. Dividiram as pacientes em dois grupos aleatórios. Um grupo recebia a assistência médica convencional, enquanto o outro recebia além disso, a participação em grupos de apoio semanais, de noventa minutos de duração, durante um ano. Cinco anos mais tarde descobriu-se que as pacientes que frequentavam grupos de apoio tinham um índice de sobrevida duas vezes maior do que o outro grupo.18

Como podemos avaliar se nossos contatos sociais estão sendo saudáveis?

Primeiro, podemos medir o número de relacionamentos sociais que podem produzir afeto, apoio, intimidade, segurança. Isto se faz através de:

·                                 Número de pessoas que você encontra numa semana comum.
·                                 Número de pessoas com quem compartilha interesses.
·                                 Número de amigos que podem visitá-lo a qualquer hora sem que você fique sem jeito com a desordem da casa.
·                                 Número de amigos/parentes com quem você pode falar francamente.
·                                  
Segundo, podemos medir a qualidade desses relacionamentos. Você tem:
·                                 Alguém especial em quem pode se apoiar?
·                                 Alguém que se sente muito perto de você?
·                                 Alguém com quem compartilha seus sentimentos?
·                                 Alguém em quem confia?
·                                 Alguém para abraçá-lo e reconfortá-lo?
·                                 Alguém em casa que realmente aprecia o que você faz por ele/ela?
·                                  
Em terceiro, podemos medir a existência de apoio social, por exemplo, fazendo a si as seguintes perguntas:
·                                 Se você ficasse doente, teria um amigo para levá-lo ao hospital ou teria de tomar um táxi ou chamar uma ambulância?
·                                 Se estivesse falido, teria um amigo para lhe emprestar dinheiro?
·                                 Se estivesse adoentado, teria um amigo que o ajudasse a cuidar dos filhos até você melhorar? 19

V. Servindo uns aos outros

Para que serve sua vida? Tem gente que diz: “Ah! Se eu tivesse mais dinheiro, se ao menos eu tivesse mais poder, se eu tivesse mais sucesso, se fizesse mais sexo, se tivesse mais talentos, se fosse mais bonita, etc. ... então, eu seria feliz, tudo ficaria legal em minha vida, as pessoas me amariam, tudo estaria ótimo. Outros dizem: “Se eu fosse mais magro, ou mais gordo, ou mais musculoso, então seria feliz...” Entretanto, as pessoas que conseguem estas coisas concluem que isso não as tornou felizes duradouramente e não trouxe o significado para sua vida como pensavam que traria. Sem as conexões pessoais (de você consigo mesmo), com familiares e sociais em afeto, ternura, misericórdia, compreensão e intimidade afetiva (como Jesus fala em João 17), a felicidade escapa entre os dedos e pela conta bancária.

O Dr. Ornish cita o filósofo Jacob Needleman, que fez o seguinte comentário:
“Há vários anos, perguntei aos meus alunos: ‘O que vocês consideram os principais problemas de nossa sociedade?’. Obtive as respostas usuais: desintegração da família, guerra nuclear, ecologia. Então, alguém disse ‘solidão’. Perguntei: ‘Quantas pessoas aqui se sentem basicamente sós?’. Todos levantaram as mãos. Fiquei estarrecido! Então, perguntei a um outro grupo maior de pessoas, com um espectro mais amplo de tipos, e todas, exceto duas, levantaram as mãos. Assim fiquei interessado na solidão.

Um estudante de trinta e cinco anos de idade proveniente da Nigéria disse: ‘Você sabe, quando cheguei à Inglaterra proveniente da Nigéria, não entendia o que as pessoas queriam dizer quando falavam que estavam sós. Somente agora, depois de estar morando nos Estados Unidos por dois anos, é que sei o que significa estar só.” Na cultura dele, a solidão simplesmente não existia; eles tampouco tinham uma palavra para ela. Havia muito sofrimento, muita dor, muita tristeza, mas não solidão.
O que é essa solidão que estamos experimentando? As pessoas ficam separadas não somente umas das outras, mas também de uma força harmonizadora em si mesmas. Não se trata somente de ‘Eu estou só’; trata-se do ‘Eu’ estar sozinho. Estamos desprovidos de um relacionamento harmonioso essencial com alguma força universal. Para mim, eis por que a solidão é um fenômeno importante que se deve entender.”20

O isolamento pode produzir doença. Podemos nos isolar de nós mesmos, de nossos sentimentos, de nosso interior.

Podemos nos isolar dos outros e de nossa comunhão com Deus.

VI. Estudo adicional

Na Faculdade de Medicina da Universidade YALE, 119 homens e 40 mulheres foram submetidos à angiografia coronária, e verificou-se que os que se sentiam mais amados e protegidos tinham menos obstrução das artérias coronárias. Esse efeito era independente dos fatores de risco, como sexo, idade, renda econômica, hipertensão, colesterol sérico, tabagismo, diabetes, genética e hostilidade.21

Restaurar no homem a imagem de seu Autor, levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, espírito e alma para que se pudesse realizar o propósito divino da sua criação - tal deveria ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação, o grande objetivo da vida.”22

Precisamos estudar a realização dos propósitos de Deus na história das nações e na revelação de coisas vindouras, para que possamos estimar em seu verdadeiro valor as coisas visíveis e as invisíveis; para que possamos aprender qual é o verdadeiro objetivo da vida; para que, encarando as coisas temporais à luz da eternidade, possamos delas fazer o mais verdadeiro e nobre uso. Assim, aprendendo aqui os princípios de Seu reino e nos tornando Seus súditos e cidadãos, poderemos, por ocasião de Sua vinda, estar preparados para entrar com Ele na posse desse reino.”23

“O que será uma bênção para a humanidade é a vida espiritual.”24

O objetivo da vida cristã é a frutificação – a reprodução do caráter de Cristo no crente, para que Se possa reproduzir em outros.”25

O alvo e objetivo da vida não é assegurar vantagens temporais, mas certificar-se daquelas que são eternas.”26

“...
nada nos deve desviar a mente do principal objetivo na vida, que é ter Cristo no coração, abrandando e subjugando-o.”27

Os seguidores de Cristo foram redimidos para ser úteis ao próximo. Nosso Senhor ensina que o verdadeiro objetivo da vida é servir.”28

César Vasconcellos de Souza é Médico Psiquiatra Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Membro da American Psychosomatic Society.
Diretor Médico dos Ministérios Portal Natural www.portalnatural.com.br 
Professor visitante de saúde mental do College of Health Evangelism e do Institute of Medical Ministry, Wildwood Lifestyle Center and Hospital, Georgia, Estados Unidos.

Referências Bibliográficas:

1. White, E.G., Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, p. 262, CPB, Tatuí, SP.
2. White, E.G., Temperança, p. 193, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP.
3. Ornish, Dean, Salvando o Seu Coração, p. 91, Editora Relume-Dumará, 1995.
4. White, E.G., Educação, p. 28, 29, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP.
5. Fromm, Erich, A Arte de Amar, p. 28, Editora Itatiaia.
6. Ibid., p. 28, 29, 40.
7. Ibid., p. 44, 45.
8. Ibid., p. 71, 72.
9. White, E.G., O Desejado de Todas as Nações, p. 503, CPB, Tatuí, SP.
10. White, E.G., Mente, Caráter e Personalidade, v.1, p. 209, CPB, Tatuí, SP.
11. Ibid., p. 92.
12. Ibid., p. 93.
13. White, E.G., Maravilhosa Graça, p. 288, Meditação Matinal 1974, CPB, Tatuí, SP.
14. Ibid., p. 71, 72.
15. Souza, Cesar Vasconcellos de, O Amor Verdadeiro Não É Por Uma Só Pessoa, da série Saúde Mental e Você, 20 de novembro de 2003.
16. White, E.G., Cristo Triunfante, p. 241, Meditação Matinal 2002, CPB, Tatuí, SP..
17. White, E.G., Nos Lugares Celestiais, p. 293, Meditação Matinal 1968, CPB, Tatuí, SP.
18.
Ibid., p. 94, 95.
19. Ornish, Dean, Love & Survival – The Scientific Basis for the Healing Power of Intimacy, p. 27, 28, HarperCollins Publishers, 1998.
20. Ornish, Dean, Salvando o Seu Coração, p. 103, 104, Editora Relume-Dumará, 1995.
21. Ibid., p. 93.
22. White, E.G., Educação, p. 16, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP.
23. Ibid., p. 184, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP.
24. White, E.G., Exaltai-O, p. 97, Meditação Matinal 1992, CPB, Tatuí, SP..
25. Ibid., p. 275, Meditação Matinal 1992, Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP.
26. White, EG, A Fé pela qual Eu Vivo, p.30, Meditação Matinal 1959 CPB, Tatuí, SP..
27. White, E.G., Maravilhosa Graça, p. 108, Meditação Matinal 1974, CPB, Tatuí, SP.
28. White, E.G., Mente, Caráter e Personalidade, v.2, p. 566, CPB, Tatuí, SP. 

Extraído de: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2010/com1322010.html