segunda-feira, 27 de julho de 2009

Andando na Luz: Renunciando ao Mundanismo




Outra vez, a lição é introduzida com um duplo título reunindo dois elementos não reversíveis. Andar na luz conduz à renúncia do mundanismo, mas nem sempre renunciar ao mundanismo significa andar na luz. Há os que o fazem meramente por austeridade; outros se afastam de todo convívio social para o isolamento, para viverem como eremitas, com o mínimo contato com o mundo. Mas não há proveito espiritual autêntico no “rigor ascético” (veja Cl 2:23). Ademais, como pessoas que assim se isolam poderão ser luz para os perdidos?


Nos escritos joaninos, mundo é quase sempre a versão do grego kósmos, com uma ocorrência de mais de cem vezes (24 só nas epístolas). O sentido do termo é diverso. Destaco os seguintes:

(1) o nosso Planeta – Jo 1:10
(2) a vida secular de onde se acumula bens – 1Jo 3:17
(3) a humanidade
a. em geral – Jo 1:9
b. especificamente carente de salvação – Jo 3:16; 1Jo 2:2
c. alienada de Deus e orientada contra Ele – 1Jo 4:5; 5:19
(4) uma grande multidão – Jo 12:19
(5) a terra habitada – 2Jo 7
(6) lugar de transitoriedade – 1Jo 2:17
(7) a Terra como foco de pecado e corrupção – 1Jo 2:15, 16


Outros significados poderiam ser agregados a estes, e outros textos poderiam ser acrescentados em cada um dos sete sentidos. Naturalmente, o sentido do termo numa passagem deve ser determinado pelo contexto. O sentido de “mundo” no texto separado para estudo na lição desta semana incide nos números (3c) e (7).


“Por causa de Seu nome” e Vencendo o maligno (1Jo 2:12-14)


Alguns interpretam literalmente o tríplice grupo (filhinhos, pais, jovens) mencionado duas vezes por João nos versos 12-14; seriam respectivamente (1) as crianças, (2) os pais de família, e (3) os jovens. Mas, considerando que o primeiro termo aparece mais sete vezes em 1 João, em textos em que a aplicação a crianças é muito improvável, é mais cabível a explicação sugerida pela lição: os membros em geral, aqueles mais idosos, e aqueles mais jovens. Outra possibilidade é que o segundo grupo se refira aos líderes e aos mais antigos na fé, não importando a idade, enquanto o terceiro não envolveria propriamente os de menor idade, mas os de menos tempo na fé, os neófitos.


Uma variação dessa ideia é que João teria dividido em dois grupos a inteira congregação, que ele identifica como “filhinhos” (nos outros textos, esse termo se aplica a toda a igreja): “pais”, os mais antigos na fé e, portanto, os mais amadurecidos, incluindo líderes e oficiais, e “jovens”, os neófitos, todavia na força do primeiro amor, dando-lhes o vigor necessário para combater os adversários da fé, incluindo o inimigo maior.


Uma terceira hipótese, da qual compartilho, assume que o interesse de João era mencionar que as qualidades próprias específicas das três faixas etárias deviam ser possuídas por todos os membros da igreja. Todos eles deveriam reunir a inocência da infância (“filhinhos”), a força da juventude (jovens), e a maturidade da idade adulta (pais). Veja I. Howard Marshall, The Epistles of John, p. 138.


Sinto-me inclinado a este parecer, especialmente pelo fato de que as qualidades de cada estágio não são, realmente, para ser atribuídas a apenas um específico grupo na igreja, mas devem, de fato, se manifestar em todos. Chequemos estas qualidades ligadas aos respectivos grupos:


Texto 1Jo 2:

Grupo

Qualidade

v. 12
v. 14

“Filhinhos”

“Vossos pecados são perdoados por causa do Seu nome”
“Conheceis o Pai”

v. 13
v. 14

“Pais”

“Conheceis Aquele que existe desde o princípio”

v. 13
v. 14

“Jovens”

“Tendes vencido o maligno”
“Sois fortes, e a Palavra de Deus permanece em vós...”


Então, vejamos as qualidades ligadas ao primeiro grupo: “Vossos pecados são perdoados por causa de Seu nome” e “conheceis o Pai”, não é para ser atribuída apenas a determinado grupo na igreja; têm que ser próprias de cada membro. O conhecimento do Pai é imperativo para a salvação (Jo 17:3), e tal conhecimento é auferido através do ato de se conhecer o Filho (Jo 8:19; 14:7, 9, 10), a qualidade do segundo grupo; o perdão dos pecados está franqueado a todos, mediante o arrependimento e a confissão (1Jo 1:9; veja também Ef 4:32; Cl 3:13).


A qualidade do segundo grupo, “conheceis Aquele que existe desde o princípio”, também não é para uns poucos privilegiados, mas para toda a igreja. “Aquele que existe desde o princípio”, a saber – Aquele que é ou que era desde o princípio, é o Filho, à luz de João 1:1, 2 e 1 João 1:1. Todos na igreja precisam desfrutar do privilégio de conhecer o Filho e, através do Filho, o Pai; é nisto que reside a vitalidade da igreja, e se efetiva, como já dito, a salvação.


Finalmente, as qualidades do terceiro grupo, “tendes vencido o maligno” e “sois fortes e a Palavra de Deus permanece em vós”, devem também ser vistas em cada membro. Todos temos de assumir a vitória de Cristo no Calvário, permitindo que Deus a repita em nós; todos podemos ser fortes com a “eficácia da força do Seu poder” (Ef 1:19).


A lição nos lembra que aqui há uma referência implícita à Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Este inferido na expressão “a Palavra de Deus permanece em vós”). Sendo assim, temos aqui uma versão da promessa do próprio Jesus logo após falar do envio do “outro Consolador” para estar nos discípulos (Jo 1:16, 17). A promessa foi dada nestes termos: “Meu Pai o amará, e viremos [o Pai e o Filho] e faremos nele morada” (v. 23). Em outras palavras, a presença pessoal do Espírito Santo no crente implica na presença essencial do Pai e do Filho nele. Que bênção!


O início desse processo maravilhoso não pode ser passado por alto. Tudo começa com o que o verso 12 afirma: “Os vossos pecados são perdoados por causa do Seu nome”. Quando pleiteamos alguma bênção de Deus, elevando a Ele as nossas petições, nós as proferimos em nome de Jesus, porque somente através dos Seus méritos podem os recursos celestiais ser derramados sobre nós como “torrentes de água em lugares secos” (Is 32:2). E isso é ainda mais verdadeiro quanto ao perdão, porque “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4:12).


Como a lição observa, “o mais importante é que os cristãos entendam que a base de sua salvação é encontrada unicamente em Jesus e no que Jesus fez por eles. É por isso que João diz que eles foram perdoados – não por causa de suas boas ações, nem por suas convicções, e nem mesmo por causa de seu conhecimento de ­Deus, mas por ‘causa do Seu nome’; isto é, por causa de Jesus e do que Ele fez por eles.”


É verdade! Tudo começa com o perdão que Deus outorga ao crente por conta do que Cristo fez por ele, e culmina com a presença da Trindade nele, através do que o conhecimento da Divindade plena é auferido. Deus não poderia consumar Sua salvação de maneira mais expressiva.


Renunciando ao amor do mundo (1Jo 2:15)


Como é possível que Deus tenha amado o mundo (Jo 3:16) e ainda requeira de nós que não amemos o mundo? A lição menciona esse aparente impasse (veja pergunta 4 com nota antecedente), o qual desaparece quando se leva em consideração os diferentes sentidos do termo mundo no Evangelho e nas Epístolas de João. Quanto a isso, reporto o leitor à introdução do comentário da presente lição, onde se nota que mundo, em João 3:16, significa a humanidade perdida, carente de salvação (sentido [3b]), enquanto em 1 João 2:15 significa a Terra alienada de Deus, orientada contra Ele, e como foco do pecado e da corrupção. Não podemos nos afeiçoar a este tipo de mundo, porque nada ligado ao pecado poderá permanecer (v. 17); ele é fator de aniquilamento (veja a lição de sexta-feira).


Portanto, quando João nos diz que não devemos amar o mundo e tudo o que no mundo há, a referência é a esse tipo de mundo, o mundo do pecado, e tudo o que decorre deste (veja lição de amanhã). Claro que se excetua o mundo nos sentidos (1), (3a e 3b) e (5). É impressionante como o mal consegue inverter os valores e levar o homem que não tem Deus a desatinos e leviandades aviltantes. Por exemplo, ama-se o pecado que há no mundo (sentidos [02] e [07]), mas odeia-se o próprio mundo (sentido [01]), isto é, o Planeta e o que há nele; os crimes ecológicos estão aí para comprovar a veracidade desse fato. O homens já estão pagando caro por esses crimes (as consequências do efeito estufa é uma dessas formas de pagamento), mas a punição maior aguarda pelo dia final, quando terão que prestar conta de seus atos.


O último livro da Bíblia nos afirma que Deus finalmente punirá os homens precisamente por não terem amado o mundo, o Planeta em que vivemos, de forma a evitar que o destruíssem. Quando chegar o dia do ajuste final, haverá de se cumprir o que está escrito em Apocalipse 11:18: “...chegou... o tempo determinado... para destruíres os que destroem a Terra.”


Que Deus ajude Seu povo a odiar aquele mundo que é para ser odiado, e a amar o Mundo que é para ser amado.


Problemas com o mundo (1Jo 2:16)


O texto do estudo de hoje indica o tipo de mundo que não podemos amar o mundo do pecado. Dá-nos também a relação de tudo o que provém desse mundo e que temos de odiar (como vimos, não amar, em João, equivale a odiar – veja comentário de 23 de julho). Esse “tudo” se restringe a: concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida.


A lição explica satisfatoriamente cada um desses trágicos itens, de forma que não há necessidade de alguma consideração adicional quanto ao que eles significam. Apenas acrescentaria que qualquer pecado que se cometa está dentro de uma ou mais de uma das três esferas mencionadas por João; isso porque temos aqui as três pilastras essenciais da tentação, através das quais o pecado seduz e derruba.


Pense um pouco na queda de nossa primeira mãe (que acabou se tornando o fator de queda do nosso primeiro pai). Gênesis 3 nos conta como tudo aconteceu: “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer [concupiscência da carne], agradável aos olhos [concupiscência dos olhos], e árvore desejável para dar entendimento [soberba da vida], tomou-lhe do fruto e comeu, e deu também ao marido e ele comeu” (v. 6).


Agora, pense um pouco no empenho de Satanás por derrubar o segundo Adão, Jesus Cristo. O primeiro e o terceiro Evangelhos nos informam que o início do ministério de Jesus foi assinalado com três tentações específicas (na verdade, o inimigo empregou a mesma fórmula do Éden, só que em circunstâncias bem mais vantajosas para si):


(1) Depois de 40 dias de jejum, Jesus ouviu a sugestão diabólica: “Mande que estas pedras se transformem em pães” (Mt 4:3) [e alimenta-Te (concupiscência da carne)]; (2) Então, o inimigo O elevou e Lhe mostrou os reinos do mundo (justamente sobre os quais o Messias deverá exercer o domínio – Sl 2:8-12), sussurrando-Lhe em seguida: “Dar-Te-ei toda esta autoridade e a glória desses reinos [concupiscência dos olhos]... se prostrado me adorares...” (Lc 4:5, 6), isto é, a missão de Cristo cumprida sem cruz, sem sofrimento, e sem sacrifício. Que tentação!


(3) Finalmente, o Diabo o conduziu ao cimo do pináculo do templo e sugeriu-Lhe que Se jogasse; afinal os anjos estariam prontos para preservá-Lo (v. 9-11), e certamente os judeus que presenciassem o quadro, maravilhados, O aclamariam “Messias”, o Messias popular da época, cheio de ostentação, poder e majestade [soberba da vida]. Inquestionavelmente, foi outra forte tentação.


Jesus colocou o inimigo em retirada pelo poder da Palavra. Citou-lhe textos bíblicos com tal autoridade que não lhe deu alternativa. A batalha inicial estava ganha; outras seguiriam com o mesmo desfecho, até que o triunfo definitivo fosse garantido na cruz.


Possivelmente, João tinha tudo isso em mente ao registrar as palavras de 1 João 2:15-17. Isso ganha maior significado quando notamos que ele assim exortou seus leitores em seguida à afirmação de que, pela vitória da cruz, haviam vencido o maligno, e que a Palavra de Deus (o instrumento da vitória) neles permanecia (v. 14).


Um mundo passageiro (1Jo 2:17)


João chega, então, ao clímax de sua argumentação quanto à inconveniência e futilidade de amar o mundo e as coisas que estão no mundo: a transitoriedade das coisas ligadas ao pecado. Tudo passa, e só o que se sustenta em Deus permanece. Pedro tocou essa realidade ao citar as palavras de Isaías 40:6-8: “...toda a carne é como a erva, e toda a sua glória como a flor da erva: seca-se a erva, e cai a sua flor; a palavra do Senhor, porém, permanece eternamente” (1Pe 1:24, 25). Tiago fez o mesmo ao advertir aqueles que têm riquezas e que estão em maior risco de se sentir perduráveis (Tg 1:10, 11).


Como diz a lição, “a humanidade é tentada a viver o momento, ser cativada pelo mundo material e entesourar só o que pode ser visto.” Todavia, ímpios e justos, reconhecem que tudo por aqui é transitório. Faz alguns anos, determinada música popular de sucesso nas paradas levava muitos jovens a cantar: “eu sou nuvem passageira que com o vento se vai... Quando eventualmente eu ouvia aquela música, lembrava-me logo de Tiago em sua plangente assertiva: “Que é a nossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante, e logo se dissipa” (4:14). Parece até que o cantor anunciava o que acontece com os próprios grandes grupos musicais, que, como meteoros, surgem brilham e desaparecem. Onde estão hoje, por exemplo, os Beatles, da década 60, que petulantemente afirmavam ser mais famosos que Jesus Cristo? Todavia, os Arautos do Rei, que já existiam quando os Beatles apareceram, ainda prosseguem louvando Aquele que é de eternidade a eternidade.


A vida passará, com tudo o que ela acumulou, não importando se bens mensuráveis ou imensuráveis. É-nos dito que Moisés fez a melhor escolha: antes sofrer com o povo de Deus que “usufruir prazeres transitórios do pecado” (Hb 11:24, 25); e esses prazeres incluíam ocupar o trono do Egito, o império mundial de seus dias. Mas pergunto: onde está o faraó que, em lugar de Moisés, sentou-se naquele trono?


Onde estão os gloriosos impérios do passado? A resposta é fácil: estão no pó, como no pó um dia estarão os impérios atuais. Mas Moisés, onde está hoje? Não é preciso que se responda, porque você, adventista, professor ou não da Escola Sabatina, sabe onde ele está.


Bem, isso tem muito que ver com cada um de nós. Quando tudo passar, onde estaremos? Como ficarão as coisas conosco? Qual será a nossa situação? Uma resposta positiva para essas perguntas depende do que temos escolhido para ser o fundamento da vida, depende de onde estamos colocando nossas afeições hoje, depende de para onde se voltam os nossos anseios, depende de qual é a nossa esperança.


Tolo é aquele que faz previsão apenas para esta vida. É importante o preparo para ela; é por esta razão que existem, por exemplo, as universidades (e os três campido Unasp são ótima referência). Na verdade, quando alguém diz que está se preparando para a vida é porque admite que o que vem depois conta mais. O problema é que, às vezes, nos equivocamos com o que poderíamos chamar o limite do depois, sobre qual é o último depois.


Não há dúvida que o último depois é o que vem depois da presente vida. O encontro com o Juiz do Universo é o último depois de cada ser humano. Não há algo que poderíamos chamar de depois da eternidade. Eternamente salvos, ou eternamente perdidos é o último lance de nossa trajetória.


Diante disso, por que ficar com o mundo e com o pecado do mundo? As palavras de Paulo soam por demais oportunas: “...a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas [não é exatamente sobre isso que João admoestou?], vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança [aleluia!] e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a Si mesmo Se deu por nós, a fim de remir-nos de toda a iniquidade, e purificar para Si mesmo um povo exclusivamente Seu, zeloso de boas obras” (Tt 2:11-14).


Autor: José Carlos Ramos – D. Min


Extraído de: http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2009/frlic532009.html


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