segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Vivendo pelo Espírito (comentário ao estudo nº 12)




 
Resumo:
Embora na vida de todo cristão exista um conflito entre os desejos da carne (a natureza pecaminosa) e a vontade do Espírito, o cristão é guiado pelo Espírito Santo. Existem pecados e falhas, mas a tendência da vida cristã é caracterizada pelo fruto do Espírito (as virtudes produzidas pelo Espírito Santo) e não pelas obras da carne.

Durante este trimestre, temos visto claramente que Cristo morreu para nos libertar da condenação da lei (Gl 3:10, 13; 4:4, 5), e não da obediência à lei. Isso é evidente, já que o problema está no ser humano e em sua desobediência, e não na lei de Deus, que é perfeita. 
Essa verdade é confirmada nos capítulos 5 e 6 de Gálatas, que enfatizam a importância da obediência na vida do cristão. Em vez de seguir a “vontade da carne” (Gl 5:13), o cristão cumpre “toda a lei”, que se baseia no amor (v. 14). Em Gálatas 5:16-25, Paulo mostra de forma prática o que isso significa.

Luta entre carne e espírito

Em Gálatas 5, Paulo afirma: “
A carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam” (Gl 5:17).

Nesse texto, Paulo não se refere a uma luta dos seres humanos em geral, mas “especificamente ao ‘cabo de guerra’ interior que existe no cristão” (Lição de Adultos, segunda-feira). Somente o cristão experimenta esse conflito, porque apenas ele nasceu de novo e possui duas naturezas: pecaminosa (recebida no nascimento comum) e espiritual (recebida no novo nascimento, ou seja, na conversão). Ninguém mais vive esse conflito.

Embora Paulo tenha falado muito sobre a vitória cristã, alcançada por meio de Cristo, ele não apresenta uma vida ilusória, que só existe na mente de algumas pessoas. Ele sabe que a vida é cheia de dificuldades e lutas, principalmente contra o pecado. 

Ellen G. White declara: “
A pena da inspiração, fiel à sua tarefa, nos fala dos pecados que derrotaram Noé, Ló, Moisés, Abraão, Davi e Salomão, e que até mesmo o forte espírito de Elias naufragou quando tentado. [...] A desobediência de Jonas e a idolatria de Israel são registradas com absoluta fidelidade. A negação de Pedro de Cristo, a dura contenda entre Paulo e Barnabé, os fracassos e as enfermidades dos profetas e apóstolos, tudo é mostrado pelo Espírito Santo, que levanta o véu do coração humano. [...] Ali está diante de nós a vida dos fiéis, com todas as suas faltas e deficiências, as quais se destinam a servir de lição para todas as gerações seguintes. Se tivessem sido sem qualquer fraqueza, eles teriam sido mais que humanos, e nossa natureza pecaminosa haveria de se desesperar por nunca alcançar tal ponto de excelência.

A lição afirma que Romanos 7 também fala sobre o “conflito interior nos cristãos” (Lição de Adultos, segunda-feira). Alguns discordam dessa ideia, e acreditam que esse capítulo trata da vida anterior à conversão. Mas o texto é muito claro. Note como Paulo menciona a natureza espiritual e a pecaminosa existindo ao mesmo tempo:
·                                 Natureza espiritual: “No íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus” (Rm 7:22)
·                                 Natureza carnal: “mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros” (v. 23).
·                                 Natureza espiritual: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! De modo que, com a mente, eu próprio sou escravo da lei de Deus.”
·                                 Natureza carnal: “mas, com a carne, [escravo] da lei do pecado” (v. 25).

O “íntimo” ou a “mente” é a natureza espiritual. A “carne” é a natureza pecaminosa. O cristão possui as duas naturezas. A mensagem básica de Gálatas 5:16 e 17, bem como de Romanos 7:14-25, é que mesmo a obediência do cristão não é perfeita (Fp 3:12). Sempre necessitaremos do perdão de Cristo (1Jo 1:8, 10; 2:1), porque “levaremos a luta conosco até a morte ou até a volta de Cristo” (Lição de Adultos, segunda-feira).

O cristão, o pecado e a obediência

Ellen G. White explica a relação entre o pecado e a obediência na vida cristã: “
A santificação não é obra de um momento, de uma hora, de um dia, mas da vida toda. [...] Enquanto reinar Satanás, teremos de sujeitar o próprio eu e vencer os pecados que nos atacam; enquanto durar a vida não haverá momento de repouso, nenhum ponto a que possamos atingir e dizer: ‘Alcancei tudo completamente.’ A santificação é o resultado de uma obediência que dura a vida toda. [...]

“Quanto mais nos aproximarmos de Jesus, e quanto mais claramente distinguirmos a pureza de Seu caráter, tanto mais claramente veremos a excessiva malignidade do pecado, e tanto menos nutriremos o desejo de nos exaltar a nós mesmos. [...] A cada passo para a frente em nossa experiência cristã, nosso arrependimento se aprofundará
.”

O fato de que nossa obediência é imperfeita não deve nos levar a negligenciar a importância dela. Ao contrário do ímpio, aquele que é convertido tem “prazer na lei de Deus” (Rm 7:22) e de fato lhe obedece. A santificação é como uma escada, e não chegaremos ao topo dela antes da volta de Cristo. Antes disso, não haverá “nenhum ponto a que possamos atingir e dizer: ‘Alcancei tudo completamente’.” No entanto, ao contrário do não convertido, o cristão está subindo os degraus dessa escada. Ele está realmente se tornando mais semelhante a Cristo. Essa é a grande diferença.

A respeito disso, Ellen G. White escreveu: “Quando estivermos revestidos com a justiça de Cristo, não teremos prazer no pecado, pois Cristo estará atuando em nós. Poderemos cometer erros, mas odiaremos o pecado, que causou os sofrimentos do Filho de Deus.”
“Se alguém que diariamente tem comunhão com Deus se desvia do caminho, se deixa de olhar firmemente para Jesus por um momento, não é porque peque deliberadamente; pois quando percebe seu erro, volta de novo, apressa-se a olhar para Jesus, e o fato de ter caído não o faz menos querido ao coração de Deus.

Guiados pelo Espírito, na lei

Depois de falar sobre o conflito do cristão, Paulo explicou: “
Se vocês são guiados pelo Espírito, não estão debaixo da lei” (Gl 5:18). Como já vimos, estar “debaixo da lei” significa viver de forma contrária a ela (Gl 3:10) e, portanto, debaixo de sua condenação (v. 13). Não estar “debaixo da lei” é o oposto disso: estar liberto da condenação e viver em harmonia com a lei.

Na cruz, o preço do pecado foi pago e a condenação da lei foi removida (Gl 3:13; 4:4, 5). Cristo morreu exatamente para que a lei pudesse ser obedecida (Rm 8:4). Além disso, Deus concedeu o Espírito Santo de forma plena (Gl 3:14) para que Seu povo pudesse obedecer à lei como nunca antes (Hb 10:15, 16). O resultado disso é que podemos ser “guiados pelo Espírito” (viver em harmonia com a lei), em vez de estar “debaixo da lei” (sob a condenação pela desobediência). Por nossas próprias forças, jamais seríamos capazes de fazer a vontade de Deus, mas, quando permitimos que o Espírito Santo atue em nós, é produzido o “fruto do Espírito”.

No Antigo Testamento, Deus havia instruído Seu povo a “andar na lei” (veja Êx 16:4; Lv 18:4; Jr 44:23), ou seja, fazer Sua vontade. Isso poderia ocorrer somente pela atuação de Deus e do Espírito Santo (Dt 10:12-16). Paulo falou sobre produzir o “fruto do Espírito” (Gl 5:22) e “andar pelo Espírito” (v. 25). À luz do que o apóstolo escreveu, isso não é outra coisa senão “andar na lei”. Em vez de anular a lei, a fé confirma a lei (Rm 3:31).

Depois de mencionar as virtudes que compõem o “fruto do Espírito”, Paulo explica que “
contra essas coisas não há lei” (Gl 5:23). A expressão significa que tais virtudes “satisfazem plenamente os requerimentos da lei e vão, por assim dizer, além desses requerimentos”. O filósofo grego Aristóteles, falando sobre pessoas “cuja virtude ultrapassa a das demais”, afirmou que “contra essas pessoas não há lei”. A ideia é clara: não há nenhuma lei que proíba a prática de tais virtudes, já que elas cumprem plenamente o que é ensinado por ela (Gl 5:14).

Para mostrar a diferença entre a vida de alguém que não foi salvo e a do cristão, Paulo fez uma lista das “obras da carne” e do “fruto do Espírito”. Ele escreveu: “As obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os advirto, como antes já os adverti: Aqueles que praticam essas coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5:19-21).

O fruto do Espírito

Paulo apresenta uma lista de nove virtudes que constituem o “fruto do Espírito”. Em poucas palavras, vejamos o significado de cada uma dessas características do cristão:
·                                 Amor – É a virtude mais importante (1Co 13:13) e, por isso, está no topo da lista. É o interesse e a busca do bem de outros sem esperar nada em troca.
·                                 Alegria – Mesmo nas tribulações, podemos conservar a alegria no Senhor, o que nos impede de nos entregarmos ao desespero. Temos Seu amor, Suas promessas e Sua presença.
·                                 Paz – É a tranquilidade que nos conforta na vida. Temos paz com Deus por meio de Seu perdão e paz com os outros ao demonstrar amor e bondade.
·                                 Paciência – É enfrentar corretamente as dificuldades e ser tardio para irar-se.
·                                 Amabilidade – É uma atitude de doçura, pondo o amor em ação. Não querer magoar ninguém, nem lhe provocar dor.
·                                 Bondade – Inclui generosidade e é o oposto da inveja. Pode ser expressa em atos de misericórdia ou na correção do mal.
·                                 Fidelidade – Transmite a ideia de confiabilidade, lealdade, compromisso.
·                                 Mansidão – Combina força e brandura e indica força sob controle. É demonstrar ira diante da injustiça, mas humildemente se submeter quando necessário.
·                                 Domínio próprio – É o controle dos maus desejos da natureza pecaminosa.

Depois de ter mencionado as “obras da carne” e o “fruto do Espírito”, Paulo fez o seguinte apelo: “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito” (Gl 5:24, 25).
Pelo poder do Espírito Santo, os que pertencem a Cristo mantêm a natureza pecaminosa sob controle. A natureza pecaminosa só estará completamente eliminada por ocasião da volta de Jesus, quando seremos todos transformados, mas não é mais essa natureza que exerce o controle sobre nós. Pode ser que venhamos a cometer pecados acidentais, como vimos acima, mas quem controla o curso de nossa vida agora é o Espírito. O cristão peca, mas não vive em pecado, não é dominado pelo pecado. Em outras palavras, a tendência da vida cristã é caracterizada pelo fruto do Espírito (as virtudes produzidas pelo Espírito Santo) e não pelas obras da carne.


1. Para estudo adicional, veja:
Ellen G. White, Testemunhos Para a Igreja, v. 4, p. 12.
Idem, Atos dos Apóstolos, p. 560, 561.
Idem, Review and Herald, 18 de março de 1890.
Idem, Review and Herald, 12 de maio de 1896.
Richard N. Longenecker, Galatians, Word Biblical Commentary, v. 41 (Nashville, TN: Thomas Nelson, 

Autor deste comentário: Pr. Matheus Cardoso Editor-assistente dos livros do Espírito de Profecia na Casa Publicadora Brasileira




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