segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

No princípio (comentário ao estudo nº 02)


 

Deus, o Criador

Como observamos na lição anterior, todas as obras da Divindade são trinitarianas. Ações e propósitos da Divindade são sempre um. Assim, qual seria a resposta mais apropriada à pergunta sobre quem criou a Terra?

Deus, o Pai – existem inúmeras passagens bíblicas que falam sobre IHWH como criador (Gn 2; Sl 19; 92).
Deus, o Filho – Jo 1:1-3; Cl 1:16-19 e outros.
Deus, o Espírito Santo – Gn 1:2; Sl 33:6; 104:29-30; Jó 26:13; 33:4; Is 32:15; 40:13.

A criação divina deste planeta não aparece apenas no Antigo Testamento (Jó 38, Sl 8; 19; 104; Is 40:26-28; Jr 10:11-13; 27:5; 32:17; Am 4:13; 5:8-9). O Novo Testamento está repleto de informações sobre o poder criador de Deus.
Deus Pai é o Criador – At 14:15; 17:24; Hb 11:3.
Jesus aparece não apenas como o grande agente da criação, mas como o Senhor do sábado, o memorial da criação – Mc 2:27.
Cristo é apresentado também no Novo Testamento como Aquele que tem o poder de recriar, isto é, o Criador é igualmente o Recriador – 2Co 4:6.

Aqueles que tendem a considerar o AT como uma descrição mitológica para o povo judeu, em que a salvação era estabelecida pela lei e mediada pelas obras, podem verificar que o NT confirma tudo o que foi declarado no AT e, mais especificamente, a criação.

Em suma, a criação divina do Universo e do ser humano perpassa toda a Bíblia. E mais: Nos últimos dois capítulos de Apocalipse, o tema da criação descrita em Gênesis 1 e 2 é trabalhado no seu sentido mais pleno, de restauração da criação.

O verbo hebraico bara, traduzido por “criar” (usado em Gn 1), está circunscrito exclusivamente à atividade divina, isto é, só é empregado quando Deus está executando uma ação criativa. Quando o AT se refere a uma atividade humana ou uma ação divina regular, o verbo usado é asah, normalmente traduzido por “fazer”. Em outras palavras, o sujeito do verbo bara é sempre Deus.

A forma pela qual Deus executou Seus planos criativos é algo que havia sido definido antes da “fundação do mundo”. Houve, portanto, um planejamento extremamente definido, incluindo até a possibilidade da entrada do pecado no Universo.

O NT traz 10 versos com a expressão “fundação do mundo”, identificando que houve um ponto de partida na história do planeta. Seis desses se referem a fatos que ocorreram “desde” a fundação do mundo (Mt 13:35; 25:34; Lc 11:50; Hb 4:3; 9:26; Ap 17:8), e quatro descrevem eventos ocorridos “antes” da fundação do mundo (Jo 17:24; Ef 1:4; 1Pe 1:20; Ap 13:8).

Para os que têm o conhecimento da teologia do grande conflito, fica fácil entender tanto a criação como a entrada do pecado, que provocou uma distorção complexa na ordem perfeita da criação. Entendemos que as condições existentes hoje na natureza não são exatamente aquelas que existiam antes do pecado. Entretanto, para os que aceitam a teoria da evolução é importante considerar que as estruturas existentes hoje sempre existiram: o chamado uniformismo (teoria evolucionista em que o ambiente atual é produto de processos físicos normais que estão em operação a bilhões de anos). A teologia do grande conflito é um golpe na teoria do uniformismo.

O grande conflito explica claramente os processos de nossas origens, onde estamos, quem somos e para onde iremos. Em contrapartida o evolucionismo é totalmente aberto: para onde os processos evolucionistas levarão afinal?

Apesar de o mundo natural ter sido afetado consideravelmente pelo pecado, a natureza ainda testifica do grande poder criador de Deus. Embora não possamos aprender tudo sobre Deus a partir da natureza, ainda podemos contemplar Suas obras criativas e mantenedoras.

Mesmo que as evidências que temos à disposição na natureza (e no Universo) estejam, de algum modo, maculadas pelo pecado, atualmente há um considerável número de cientistas que não negam a existência de um “designer” ou um planejador ou, no mínimo, que tenha havido um plano. As evidências deixam cada vez mais claro que as estruturas do Universo (e de nosso planeta) estão marcadas por propósito e por mecanismos complexos interdependentes que jamais poderiam ter surgido por acaso.

Na Bíblia, a criação é um fato histórico. Não é algo de natureza incerta ou nebulosa.

No AT, a criação ocorre no período de uma semana com sete dias literais. Deus criou o mundo por meio de uma série de atos cronologicamente distintos. Há menção de aspectos cronológicos óbvios, como na fórmula “Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (o texto hebraico literalmente diz: “foi tarde, foi manhã, dia ...”).

“Houve” (ou “foi”) – o verbo aqui estabelece uma ação definida no tempo e espaço e, como vimos acima, aparece duas vezes.
“Tarde e manhã” – aqui se trata de um dia de 24 horas, sendo primeiro a parte escura e depois a parte clara.
Os dias são enumerados – do primeiro ao sexto dia da criação a fórmula é exatamente a mesma.
“Dia” - esse termo é inequívoco e determina uma porção definida, limitada de tempo. Esse fato fica mais evidente quando é comparado com outros versos da Bíblia como Êxodo  12:18 e Neemias 5:18.

Quando ocorreu a semana da criação.

Em virtude das dificuldades históricas, cronológicas e até de ordem genealógica, é extremamente arriscado buscar essa definição com exatidão.

James Ussher, arcebispo irlandês, no século XVII, com base em estudos especulativos, mais genealógicos do que cronológicos, chegou à conclusão de que a Terra havia sido criada em 4.004 aC (primeiramente, ele imaginou que a Terra deveria ter 6 mil anos – 4 mil antes de Cristo, 2 mil depois de Cristo e, então viria o milênio sabático). Pela influência desse estudo, muitas Bíblias da época colocaram esta cronologia no rodapé de suas páginas, levando incautos a aceitarem essa “cronologia” como parte do texto.

Se fizéssemos um estudo a partir da primeira informação cronológica bíblica comprovada historicamente (970 aC – começo do reinado de Salomão) e as informações contidas nos períodos cronológicos e genealógicos bíblicos, poderíamos entender que:
O êxodo ocorreu – c. 1.450 aC
Nascimento de Abraão – c. 1.950 aC
Dilúvio – c. 3.400 aC
Criação – c. 5.600 aC

Essa possibilidade de datação não é absoluta nem definitiva, mas certamente é muitíssimo mais recente do que a proposta pela teoria evolucionista, com seus bilhões de anos cheios de acasos e coincidências milagrosas. Assim, bilhões de anos são trocados por alguns poucos milhares.

Quando falamos em criação logo temos nossas mentes voltadas para Gênesis 1 e 2. Temos que entender, entretanto, que a descrição bíblica de Gênesis 7 e 8 deixa claro que houve um processo criativo intenso e divino após o dilúvio, provendo ambiente favorável à preservação da vida humana após uma catástrofe que moveu as estruturas do planeta. Assim, podemos afirmar que o mesmo poder criativo presente na primeira semana da criação esteve atuando intensamente numa “segunda criação” após o dilúvio.

Por que existe uma rejeição do modelo bíblico da criação?

Até o surgimento do racionalismo (século 17), não havia grandes questionamentos quanto ao modelo bíblico da criação (no contexto do mundo ocidental).

As primeiras investigações, ainda numa conjuntura da pré-ciência clássica, realizadas por Galileu, Kepler e Newton, indicaram que o mundo natural é intimamente dependente das leis naturais. Se o Universo funciona sozinho, qual seria o papel do Deus criador? O deísmo é uma forte resposta a essa ideologia racionalista. Assim, Deus seria apenas o relojoeiro que fez o relógio e o deixou a funcionar sozinho.

Essa concepção mecânica do Universo, levada às últimas consequências, logo moveu alguns à desconexão total da necessidade de Deus para a existência do Universo. O conceito foi estabelecido de forma objetiva com o modelo filosófico cunhado por Emmanuel Kant (fim do século 18). Para ele, não haveria a possibilidade de qualquer tipo de conhecimento advindo do mundo “metafísico”. Todo conhecimento, portanto, só poderia dar-se a partir do mundo natural ou físico. Para nós que vivemos no século 21, por incrível que pareça esta foi uma revolução “copernicana” de extrema significância, pois a filosofia clássica insistia que todo o conhecimento só viria a partir do mundo metafísico (ex.: Platão). Aqui se estabelece definitivamente o método científico e a ciência clássica como os detentores do conhecimento e da “verdade”.

Levada às últimas consequências, a ciência clássica tende a atestar que o Universo não somente subsiste sozinho, mas também surgiu sozinho, espontaneamente.

Esse foi um golpe poderoso contra a autoridade da Bíblia. Se não é possível qualquer conhecimento afora do método científico, como podemos afirmar que a Bíblia tem origem na revelação divina?

A Bíblia passa a ser considerada como um livro essencialmente humano e passível de crítica literária como outro livro qualquer. Assim, surgiu a chamada de alta e baixa crítica ao texto bíblico. A religião cristã passou a ser entendida como se fosse apenas ética, um encontro “místico” com Deus, como define o maior teólogo protestante do século 19, Friedrich Schleiermacher.

O relato da semana da criação como alguma forma de “milagre” passou a ser interpretado como uma simples descrição mitológica que deve ser questionada.

Estabeleceu-se o conceito de que a Bíblia é a priori contrária à ciência e vice-versa. Mais: A Bíblia é um livro pré-científico que deve ser rejeitado como fonte de verdade.

A resposta racionalista de maior aceitação para explicar a existência do Universo passou a ser a teoria do evolucionismo.

Com base no conceito filosófico da geração espontânea da vida através de uma sucessão infindável de coincidências ocorridas em bilhões e bilhões anos, da sobrevivência do mais apto e do uniformismo, acabou por ganhar ares de ciência.

Longe de ter por base as informações científicas, o evolucionismo é hoje uma forma de religião ideológica (considera-se a única verdadeira e interpõe-se para a erradicação de outras). É necessário, contudo, muito mais fé no modelo evolucionista do que no criacionista. É como acreditar que, com a explosão (o Big Bang) de um imenso ferro-velho, como resultado, aparecesse um avião Boeing 767, em voo perfeito, com todos os detalhes em funcionamento, incluindo os sofisticados computadores de bordo. Ou, ainda, como crer que na explosão de uma gráfica de tipos móveis, o resultado fosse uma enciclopédia completa, encadernada, sem nenhum erro de informação nem de estrutura linguística.

Qualquer pessoa razoavelmente sensível, livre de pressuposições, reconheceria que a ciência ainda está longe de ser considerada como tendo obtido a verdade final ou como a única fonte da verdade e do conhecimento. Além disso, como a própria ciência tem mudado! No fim do século 19, o átomo, como o próprio nome sugere, era indivisível. Hoje, entretanto, estudos são feitos em suas ínfimas partículas em reatores nucleares. Como os modelos da astronomia (a ciência até hoje mais desenvolvida) têm mudado com o advento dos telescópios espaciais Swift, Hubble e Chandra!

No século 20, com a “cientificação” da teoria da evolução, as tradições filosóficas e religiosas cristãs buscaram reinterpretação diante da proposta bíblica literal da semana da criação. Assim, praticamente todas as tradições cristãs adaptaram sua teologia ao contexto evolucionista, reduzindo a semana da criação a um longo processo “quase evolutivo” com características míticas. Um exemplo disso é a interpretação de eruditos que creem que as atividades criativas divinas se manifestam através de longos períodos, numa apropriação indevida do texto de 2 Pedro 3:8. A Igreja Católica Romana aceitou em declarações oficiais esta forma evolucionista da criação. Por incrível que pareça, estas reinterpretações chegaram a rondar até mesmo a teologia adventista.

Contudo, com o avanço da própria ciência tem-se verificado que o modelo criacionista bíblico passa a ser cada vez mais plausível em relação ao modelo evolucionista. Como exemplo, podemos citar:

No campo da geologia, que foi à primeira vista um empecilho ao modelo criacionista, cientistas passam a encarar a possibilidade da existência de uma catástrofe como originadora da coluna geológica. Temos que destacar aqui o modelo apresentado pelo Dr. Nahor Souza em sua obra Uma Breve História da Terra. Assim, o uniformismo evolucionista passa a dar lugar ao catastrofismo (crença na existência do dilúvio bíblico).

Os processos de datação radiométrica que determinam a idade de artefatos orgânicos fossilizados presentes em rochas têm costumeiramente colocado a origem delas em bilhões de anos. Esses processos, como o do carbono 14, passam hoje por severas críticas científicas – tornam-se cada vez mais imprecisos quando retrocedem na história.

As explicações evolucionistas quanto à origem espontânea da vida através de modelos que simulariam uma “Terra Primeval” colocada sob bombardeios de cargas elétricas a aminoácidos específicos, têm recebido severas críticas.

A genética também tem exercido uma pressão sobre a teoria da evolução. As mutações genéticas que aparentemente explicavam a possibilidade da evolução das espécies em vez de serem benéficas, em sua maioria são degenerativas (maléficas).
Com a descoberta da coluna do DNA, evidencia-se uma complexidade tão inimaginável que coloca o método evolucionista dos meros acasos como cada vez menos provável, enquanto a verdade do Salmo 139:14 passa a ser a melhor resposta.

A complexidade e interdependência existencial de sistemas dentro dos organismos vivos não se encaixam com o modelo evolucionista.

Como poderiam sistemas complexos que dependem inteiramente do funcionamento de outro sistema igualmente complexo terem surgido de forma independente, ao acaso?

No campo da astronomia, como já observamos, os telescópios espaciais têm provocado sérios desgastes aos modelos evolucionistas anteriores. A observação do Universo em expansão com seus bilhões de galáxias e complexidade infinitas (por exemplo, matéria negra) são desafios ao modelo evolucionista, mas não ao Salmo 19.

Mesmo que o modelo criacionista ainda possua sérios obstáculos a ser demostrados cientificamente, observa-se que a ciência tem provocado estremecimentos muito mais intensos e sistemáticos ao modelo evolucionista. O que se verifica é a influência de preconcepções evolucionistas (quase que religiosas) na mente de muitos eruditos que não poderiam admitir que suas conclusões estivessem contrárias à teoria da evolução.

Modelo Bíblico da Criação – a Igreja Adventista do Sétimo Dia tem adotado em suas obras oficiais o seguinte modelo (ver Comentário Adventista, v. 1, p. 23):
A substância física do Universo e as leis de interação foram trazidas à existência por Deus (ex nihilo – “do nada”, sem matéria preexistente).
A criação ocorreu a cerca de seis mil anos e ocupou uma semana literal.
A criação perfeita que refletia o amor do Criador foi modificada com a entrada do pecado, onde a morte é o fim inevitável (Grande Conflito).
Os seres criados foram dotados de capacidade de propagação e passíveis de modificações, adaptações e especializações dentro das categorias básicas.
As características originais do planeta Terra foram estruturalmente modificadas pela catástrofe do Dilúvio, com características ambientais muito distintas da primeira criação.

A criação como tema escatológico

A primeira mensagem angélica (Ap 14:7) deixa claro que há implicações escatológicas em relação à aceitação do Deus criador que está prestes a estabelecer um juízo. Esse juízo terá lugar antes do processo de recriação das estruturas do planeta. Assim, Deus não apenas agiu na criação, mas no decorrer da história da redenção, que culminará no estabelecimento de “novos céus e nova Terra”.

A estrutura linguística de Apocalipse 14:7 é claramente dependente de Êxodo 20:11 e Gênesis 1.

A negação da ação criativa de Deus interfere diretamente no estabelecimento do plano de salvação da humanidade, pelo qual Cristo, como agente criador, é também o único que, como Salvador, pode eliminar a história de pecado – o Cordeiro de Deus que foi morto antes da fundação do mundo. O Deus que cria é, por natureza, o Deus de amor. Por isso é também o Recriador (Redentor). Se rejeitarmos a Deus como criador, eliminaremos o significado da cruz!

No escopo da teologia do grande conflito, a teoria da evolução se interpõe como um argumento satânico para que a adoração do Deus verdadeiro seja, no mínimo, preterida. A verdade do sábado se torna um dos vértices da verdade no tempo do fim. Negar o sábado é negar o Deus criador. Aqui temos que inferir que a negação da semana literal da criação por parte de teólogos modernos está em direta relação à rejeição do sábado.

O surgimento da Igreja Adventista e sua mensagem para o tempo presente indica a origem divina do movimento: surge no tempo certo, com a verdade certa, aceitando a Bíblia como um todo.

Crença fundamental nº 3: “Deus, o eterno Pai, é o Criador, o Originador, o Mantenedor e o Soberano de toda a criação...”. Crença fundamental nº 4: “Deus, o Filho Eterno, encarnou-Se em Jesus Cristo. Por meio dEle foram criadas todas as coisas, é revelado o caráter de Deus, efetuada a salvação da humanidade e julgado o mundo...”. Crença Fundamental nº 5: “Deus, o Espírito Santo, desempenhou uma parte ativa com o Pai e o Filho na Criação...”.

O poder criativo e redentor de Deus será plenamente demonstrado no encerramento do grande conflito (ver o último parágrafo do livro O Grande Conflito).

Para um estudo mais cuidadoso sobre o tema, veja:
Obras produzidas pela Sociedade Criacionista Brasileira.




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