quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Culpa (comentário ao estudo nº 05)




Objetivo:
Compreender a orientação de Deus para lidar com a culpa, adotando a atitude de humilde confissão e disposição de mudança. Distinguir a culpa legítima e os mecanismos que geram culpa doentia e infundada.

Verdade:
O sacrifício de Cristo na cruz foi suficiente para nos libertar da culpa pelos nossos pecados, mas é necessário haver arrependimento, confissão e aceitação para experimentarmos a liberdade, paz e alegria que Seu perdão proporciona.

Introdução
Paul Tournier, um dos pioneiros da aplicação da fé cristã na prática médica e na psicoterapia, e Oskar Pfister, Malony e Albert Ellis, contribuíram muito para derrubar o preconceito contra a religião nos meios psicológico e psiquiátrico. Através deles, a religião e sua influência sobre a saúde tornaram-se objeto de estudo científico, oferecendo maior entendimento dos problemas humanos. Em especial, Paul Tournier oferece uma compreensão melhor da culpa e seus efeitos sobre a saúde mental e social e de como o cristianismo auxilia na solução.

O presente estudo pode ser estruturado em quatro partes:
I – A origem da culpa e seus efeitos
II – As reações previsíveis diante da culpa
III – O remédio de Deus para a culpa
IV – O que devo fazer?

I. A origem da culpa e seus efeitos

A culpa está associada à consciência moral das pessoas. É o resultado do senso de vergonha, do prejuízo causado a nós mesmos e/ou aos outros. As pessoas sem consciência moral não sentem culpa, pois elas não internalizaram os valores essenciais que servem de freio aos seus impulsos. Aqueles que têm uma consciência santificada pelo Espírito Santo seguramente sentirão culpa diante de seus erros e buscarão resolvê-la com os recursos divinos.

Deus apresentou a Adão e Eva os recursos necessários para a construção da consciência moral. Eles receberam orientações objetivas sobre seus direitos e deveres, sobre o que fazer e o que não fazer. Obtiveram as advertências sobre os riscos da desobediência; tiveram a companhia de Deus e dos anjos, oferecendo ensino, proteção, apoio e verdadeiro amor.

Ao pecar contra Deus, o primeiro par experimentou o sentimento de culpa. Em Gênesis 3:8-10 aparecem pela primeira vez expressões como medo e vergonha. Ao serem indagados sobre o que fizeram, tentaram evitar as consequências de seu ato usando o que Freud chama de Projeção e Skinner denomina de Esquiva Ativa, ou seja, uma forma de evitar a punição, projetando a culpa sobre outra pessoa. Assim fazendo, negaram sua culpa e se colocaram distantes do efeito do perdão divino. Só depois de perceberem em si e na natureza os efeitos do pecado é que se deram conta de quão distantes haviam chegado. Sentiram, então, necessidade do perdão divino. O senso de seu erro, do mal que haviam praticado, fez com que se humilhassem a Deus e aceitassem Seu plano para restaurá-los.

O sentimento de culpa, entretanto, pode ser infundado, quando originado por uma avaliação equivocada de nosso papel nos problemas que nos rodeiam. É o caso daqueles que sobrevivem a catástrofes ou calamidades, ou dos familiares de pessoas que cometeram suicídio. A Psicologia Cognitiva denomina essa reação como Personalização, que é um erro cognitivo que leva a pessoa a se julgar culpada pelos problemas que ocorrem, apesar das evidências em contrário. Para essas pessoas, é fundamental a compreensão daqueles que lhe estão próximos, mas há casos em que, além do apoio moral e espiritual, é necessário o apoio de um psicólogo.

II. As reações previsíveis diante da culpa
A culpa é um sentimento que envolve emoções como medo, ansiedade e tristeza. Quando a reação predominante é o medo, ele pode estar relacionado com um histórico de muitas punições. Algumas famílias e culturas chegam a excessos com essa forma de correção, sem que haja alternativas como o diálogo e outras modalidades de reparação. Isso predispõe a criança a usar meios ilegítimos, como a mentira, para evitar a severidade da punição. Não se justifica, mas explica – mesmo que em parte – o problema que muitos têm em confessar suas falhas aos seus semelhantes e a Deus, principalmente. A imagem que guardam de Deus é a de seus pais severos e irracionais, e a associam a Deus. Então, fogem dEle, como fizeram nossos primeiros pais (Educação, 287).

Outra reação esperada diante da culpa é a angústia, como experimentaram os irmãos de José. Eles “ficaram tão pasmados diante dele que não conseguiram responder-lhe” (Gn 45:2). A lembrança do mal que haviam feito era permanente, como um filme que se repetia constantemente na memória deles.

Davi também experimentou essa triste consequência e declarou: “
Enquanto guardei silêncio, consumiram-se os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo” (Sl 32:3).

Mas, se o arrependimento existir, o sentimento de culpa levará à confissão, reparação e ao abandono do pecado.

III. O remédio de Deus para a culpa 
Até os animais percebem quando praticam algo errado. Você já viu como reage um cão ou um gato quando derrubam e quebram um vaso e depois cruzam o olhar do dono? O animal se intimida e foge com medo da reação dele. Muitas vezes, as pessoas agem dessa forma com Deus. Mas só a compreensão do amor que Ele nos tem pode nos tornar seguros para lidar devidamente com a culpa.

Davi experimentou isso ao dizer: “Confessei-Te o meu pecado... e Tu perdoaste a iniquidade do meu pecado” (Sl 32:5). Pedro também vivenciou essa experiência, tendo “chorado amargamente” (Mt 26:75). Mas eles provaram do amor de Deus e confiaram nEle para obter Seu perdão e a restauração de sua vida. O efeito terapêutico desse perdão lhes deu força para mudar de atitude. Deus promete experiência semelhante para cada pecador que se arrepende, assumindo sua culpa com disposição para mudar. Ele promete lançar nossos pecados “nas profundezas do mar” (Mq 7:9) e afirma que os afastará para longe, como dista o Oriente do Ocidente (Sl 103:12).

IV. O que devo fazer?
A culpa é importante em nosso crescimento espiritual, e necessita ser compreendida como sinalizador de nossas ações. Ao nos defrontarmos com ela, precisamos fazer o seguinte:

1. Em primeiro lugar, é preciso avaliar se é uma culpa legítima ou infundada.
2. Se for uma culpa sem causa, devemos considerar as razões que nos levam a alimentá-la, buscar ajuda para superá-la, e confiar no amor soberano de Deus (1Jo 3:1, 2).
3. Se for um culpa legítima, precisamos ir a Deus humildemente, confessar nosso pecado, assumir nosso erro e a disposição de mudança (1Jo 1:9).
4. Se prejudicamos alguém, precisamos também confessar a essa pessoa nosso erro e buscar formas de reparação, se possível (Tg 5:16).
5. Devemos cuidar com a repetida violação de princípios divinos, que podem levar à cauterização da consciência (1Tm 4:1-2).
6. É preciso buscar comunhão com Deus para desfrutarmos Sua proteção, paz e poder para obedecer ao Senhor (Gl 5:16).

Conclusão
Deus nos oferece razões suficientes para crermos em Seu amor e justiça. Podemos ir a Ele confiadamente, confessar todas as nossas culpas, e estar seguros de que Ele nos perdoará e dará a força necessária para recomeçar uma vida de obediência por amor. 


Noel José Dias da Costa é psicólogo e pastor, mestre e doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Teologia pelo SALT-UNASP-EC. Atua como professor, psicólogo e auxiliar da Associação Ministerial no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-SP). É casado com a pedagoga Erenita M. S. da Costa, e pai de Tiago e Ana Cristina.


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