sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Temas importantes em 1º João




Nosso assunto hoje faz um repasse nos principais temas de 1º João. Reiterando realizar nova leitura desta maravilhosa epístola.

Sinta como esses temas se expandiram com as lições estudadas; sinta também quais são as implicações desses temas para a vida cristã.


A Divindade


É nos escritos joaninos que encontramos as mais conclusivas declarações que nos levam aos postulados da doutrina da Trindade. 1º João nos fala do Pai, do Filho e do Espírito Santo, com especial ênfase nos dois primeiros.


Não esqueçamos, porém, que João não estava interessado em meras abstrações sobre Deus. Seguindo o padrão de toda a Bíblia, antes de tudo, ele destaca Suas obras, e daí chega às conclusões do que Deus é. Por exemplo, ele afirma que “Deus é amor” (4:8, 16) em referência ao que Deus fez e faz pelo ser humano perdido no pecado. Ele também afirma que “Deus é luz” (1:5) mostrando que nEle não há qualquer compatibilidade com o pecado. Assim, os atos de Deus são predominantes em 1º João.


Estes atos devem ser vistos particularmente em Jesus e na redenção por Ele provida, naturalmente com todas as implicações daí oriundas. Sua morte derrotou o diabo e o pecado, e supriu o meio para o perdão, a purificação, a regeneração e a redenção do pecador contrito. A presente intercessão de Jesus ao lado do Pai garante todas as bênçãos, e Sua segunda vinda consumará a salvação. Não é por acaso que uma correta compreensão de Deus é exclusivamente dependente da revelação dEle feita em Jesus.


Portanto, todas essas bênçãos, bem como qualquer outra, são generosamente concedidas primeiramente em virtude da natureza de Deus. Aquilo que Ele é O leva a agir da forma como o faz. Por exemplo: é-nos dito em 1º João 2:12 que somos perdoados “por causa do Seu nome”. Nome equivale a caráter, e caráter é a essência daquilo que a pessoa é. Isso levanta diante de nós uma decisiva questão: que conceito de Deus acalentamos? Cremos em todas as Suas promessas? Valorizamos o que Ele requer de nós? “Toda a nossa vida espiritual será moldada pelas nossas concepções do caráter de Deus” (Ellen G. White, Review and Herald, 5 de abril de 1887).


A Igreja


O termo “igreja” não foi empregado por João, nem no Evangelho, nem na primeira e segunda epístolas, e não precisamos especular por quê. Alguns imaginam que o termo, no fim do primeiro século, já estava ganhando um sentido deturpado, algo que veio a ficar plenamente manifesto mais tarde com a institucionalização e secularização do cristianismo. Nesse caso, por que o escritor o empregou em 3 João e no Apocalipse, escritos mais ou menos na mesma ocasião? Seja como for, o que importa é que João desenvolve um conceito muito sugestivo de igreja, e isso em todos os seus escritos. No evangelho, ela é o rebanho de Deus, sendo Jesus o bom Pastor, e cada um de Seus seguidores uma ovelha; nas Epístolas a igreja é Sua família, tendo Deus como Pai, Jesus, por implicação, o Irmão mais velho, e os membros, Seus filhos; finalmente, no Apocalipse, a igreja, inicialmente militante,e depois triunfante, é a mulher pura e gloriosa, a esposa do Cordeiro.


Sob a figura de uma família, a igreja pode considerar seu líder uma espécie de pai, e os membros, seus filhinhos (é com este tratamento que João se dirige àqueles sob sua responsabilidade). Este seria um contexto muito próprio para o cultivo do amor fraternal (um dos temas preferidos do escritor), a afeição de uns com os outros, e do amor irrestrito a Deus. É assim que eles vivem a dimensão horizontal e vertical da igreja. Como alguém afirmou, o pior representante de Cristo é um cristão sem amor.


Por outro lado, as boas qualidades observáveis numa família precisam ser também notadas na igreja: em primeiríssimo lugar, agora mesmo considerado, o amor recíproco, que suprirá o espírito de concórdia, de união, de dependência mútua, de interação, de solidariedade, de intercessão, etc. Assim é numa família feliz, assim será na igreja.


Há um paralelo de conceitos entre o quarto Evangelho e as epístolas, face ao que João elabora, em ambos, sobre a igreja. Para começar, no Evangelho, os componentes da igreja são chamados, em relação a Jesus, de “os Seus” (Jo 13:1), expressão equivalente aos “familiares mais íntimos”, como quando alguém pergunta: “vão bem os seus?” Há também que se notar que Deus é tanto o Pai de Jesus como o Pai dos discípulos (20:17), em que pese a distinção da filiação divina dEle e a da deles, como se pode sentir na forma como Jesus Se expressou: “Subo para Meu Pai e vosso Pai”, e não, “para o nosso Pai”.


Por outro lado, a figura do pastor com seu rebanho lembra um relacionamento de família, pois, nos tempos bíblicos, o pastor praticamente deixava o convívio do próprio lar para viver com as ovelhas, formando uma unidade com elas. Assim, Jesus Se tornou um conosco para sempre, ao vir a este mundo e se tornar o “Supremo Pastor” (1Pe 5:4).


Salvação


Salvação é o tema central de todo o Novo Testamento, se não de toda a Bíblia, e, nos escritos joaninos, ele foi elaborado com o máximo do carinho que um apóstolo pleno do amor de Deus poderia oferecer. Não é por mero acaso que João 3:16 é considerado o verso áureo de toda a Bíblia. E poderíamos dizer que as palavras de João 20:31 podem ser aplicadas aos escritos joaninos em sua totalidade: “Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome.”


Claro que aqui o apóstolo estava falando de tudo o que havia narrado em seu Evangelho; mas o mesmo é verdade quanto a tudo o mais que ele escreveu. Mesmo as sérias advertências registradas em suas epístolas sempre tiveram esse propósito; em 1 e 2 João com respeito aos dissidentes, e em 3 João face ao comportamento ambicioso e arbitrário de Diótrefes no exercício da liderança, o que motivou o apóstolo a agir com rigor (v. 9, 10). Ele sabia que aqueles sob seus cuidados estariam colocando em risco a salvação caso viessem a dar guarida ao falso ensino e apoiar o mau procedimento.


Em 1º João, “a cruz não é mencionada diretamente”; aliás, João empregou o termo apenas em seu Evangelho, e a forma verbal crucificar apenas no Apocalipse (uma vez) além do Evangelho. Mas a cruz está no centro de todos os escritos joaninos; em 1º João, ela está implícita nas três referências ao ato de Deus enviar Seu Filho (4:9, 10, 14), e explícita no ato do Filho sacrificar Sua vida (3:16), bem como nas referências ao sangue de Jesus (1:7; 5:6, 8).


João é taxativo em registrar, nas três referências, o propósito do envio de Jesus a este mundo ― salvar:

4:9 – “...para vivermos por meio dEle”

4:10 – “como propiciação pelos nossos pecados”

4:14 – “como Salvador do mundo”


Isto deve ser visto como um desdobramento do grande propósito, de ter Jesus sido enviado, segundo o maior texto salvífico das Escrituras, João 3:16: “...para que todo aquele que nEle crê, não pereça mas tenha a vida eterna."


O escritor não poderia ser mais claro quanto à base sobre a qual o plano da redenção foi alicerçado. Deus fez tudo o que era necessário para que o pecador fosse salvo, não poupando nem Seu próprio Filho (veja Rm 8:32). E se Deus, movido por Seu amor, foi a esse extremo, deve ficar bem claro para nós que não há outro meio de salvação (veja At 4:12).


Mas, por mais que a salvação seja uma exclusividade de Deus; por mais que Ele tenha pago plenamente o preço requerido, ela só se efetiva no pecador que responde positivamente ao que Deus fez. Em outras palavras, temos que aceitar a salvação e receber “a abundância da graça e o dom da justiça” (Rm 5:17). De fato, a salvação só é possível pela graça, só é exequível pelo sangue derramado, mas só é alcançada por essa qualidade de resposta. “O primeiro passo rumo da salvação é corresponder à atração do amor de Cristo” (Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 323).


E quando respondemos positivamente ao amor de Deus, ocorre uma transformação de vida, confirmada pelo comportamento cristão, que é o próximo assunto.


Comportamento cristão


Fazer profissão de fé é importante? Por certo que sim! Se devemos testemunhar de Cristo, e esta é a missão de toda a igreja, torna-se necessário que aquilo que professamos ou pensamos seja do conhecimento de terceiros. Muito mais importante, porém, é assumir o que professamos e viver uma vida condizente. Se creio que Jesus vai voltar, não posso viver como se isso nunca fosse acontecer. Se professo guardar o sábado, não devo ser leviano quanto ao que o quarto mandamento requer. Não podemos ser como aquele cidadão que, enquanto ia caminhando, assoviava o hino 445 de nosso hinário: “as riquezas mundanas nada valem pra mim...” O problema é que ele assoviava andando em direção à Casa Lotérica para comprar um bilhete, fazendo uma fezinha no grande prêmio que estava acumulado em vários milhões. A incoerência não é de Deus.


Em assunto de profissão de fé, a crença é prioritária porque dita o comportamento. João entendeu “que a teologia condiciona a ética e que uma teologia errônea pode levar a atos errados.” Daí todo o seu empenho em combater a dissidência que, em seu tempo, se alastrava pela igreja. E ele não somente a combateu; ele tomou a qualidade de vida dos dissidentes como prova do engano.


Religião e revelação caminham lado a lado: a primeira decorrendo da segunda; em religião, a maneira como o homem se coloca diante de Deus pressupõe a maneira como, em revelação, Deus, previamente, Se colocou diante do homem. Isto significa que a revelação divina, distorcida pelo homem, acarretará uma resposta humana consoante com tal distorção e, consequentemente, será imprópria do ponto de vista de Deus, pois “uma compreensão errada... da lei e da graça levou milhões sem conta a pisotear o sábado de Deus.” Levou também para o outro extremo, o da justificação pelas obras.


O ponto crucial em qualquer abordagem sobre religião, portanto, é a resposta humana, a qual, normalmente, mostra se a revelação é exata ou não, e caracteriza a religião como autêntica ou falsa. O grande teólogo Karl Barth toca esse ponto quando afirma que a religião falsa não revela Deus absolutamente, mas distorce a revelação com uma ideia arbitrária sobre Deus. Ele também diz que a conduta humana vindica a religião como verdadeira ou falsa (Church Dogmatics, 1.2, veja p. 301-310, 331-338).


À primeira vista, parece que a afirmação de Barth não corresponde inteiramente à realidade. Afinal, uma pessoa pode pautar a vida por um procedimento exemplar e ainda reter um entendimento de Deus e de Sua vontade não totalmente apropriados. Mas esse “procedimento exemplar” não excederá o tanto de conhecimento correto que ela possui, pois não é possível a alguém viver uma verdade que não conhece. O mais triste, todavia, é quando se tem um conhecimento maior da verdade e não se vive ao nível desse conhecimento. Deus tem mais em estima o pagão vivendo a pouca luz por ele adquirida, do que o cristão que professa muito e vive pouco do que professa (veja Rm 2:11-16).


E não esqueçamos que o que professamos como adventistas do sétimo dia tem que ver com o que somos e com o que fazemos; envolve todo tipo de relacionamento e de costume (minha vida em família, meus negócios, a maneira como me trajo, o ambiente que frequento, as pessoas com quem me associo, etc., e até o que como e o que bebo). No contexto da primeira epístola, um correto comportamento requer que os cristãos “não mintam, não pequem, não odeiem seus irmãos e irmãs, não amem o mundo com suas atrações e orgulho, e não pratiquem a iniquidade.” Enfim, “andar e viver de maneira semelhante à vida de Jesus (1Jo 2:6).”


É praticamente impossível exagerar a importância de um bom testemunho. Que impressão quanto às minhas convicções dou àqueles que me observam?


Verdade e mentiras


Este tema é, no mínimo, curioso: “Verdade [singular] e mentiras [plural]”. É possível ver enfatizada a ideia de que a verdade seja uma só enquanto as mentiras podem ser várias. Tome-se o exemplo dos dissidentes gnósticos, combatidos por João, e como eles se colocavam entre diferentes posições.


Verdade e mentira! Bem, aqui temos um dos dualismos empregados por João em sua primeira epístola para realçar as coisas de Deus em contraste com as do pecado. Outros são: bem e mal, luz e trevas, e vida e morte. Estes dualismos demonstram a atitude controvertida e contraditória dos seres humanos para com Jesus. Quem O rejeita se posiciona ao lado do mal, permanece em trevas, vive a mentira e está morto. Quem O recebe se define no bem, anda na luz, exalta a verdade e vive a vida eterna.


Para um mundo em que o relativismo está em alta, um mundo em que é proibido proibir, Deus não tem mais nem menos verdade, ou meia verdade. A verdade é, antes de tudo, Alguém, ou algo que revela esse Alguém: Jesus é a verdade (Jo 14:6), o Espírito Santo é a verdade (1Jo 5:6), a Palavra de Deus é a verdade (Jo 17:17), e Sua lei é a verdade (Sl 119:142, 151); enfim, o Deus verdadeiro é o Deus da verdade (Sl 31:5), e Sua igreja, “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3:15). Por isso, a verdade de Deus é soberana e absoluta. Quanto a isso, não há, para Ele, meio termo. Ou é ou não é. “Seja a tua palavra ‘sim, sim’; ‘não, não’. O que passa disso é de procedência maligna” (Mt 5:37). Se é de procedência maligna, Deus não tem parte nisso. Portanto, Ele é o primeiro a cumprir a atitude que requer do ser humano.
É por isso que João, com o mesmo ardor com que aclama a verdade, contesta o erro, a mentira. Segundo ele, “mentirosa é a pessoa que faz afirmações não confirmadas pelos fatos, que confessa amar a Deus e não guarda os mandamentos e que nega que Jesus seja o Cristo. Em contraste, os cristãos sinceros conhecem a verdade, amam a verdade e pertencem à verdade.”


O relativismo está errado porque ele considera o ser humano, por si mesmo, como soberano para decidir “o que é verdade e o que é erro, o que é bom e o que é mau, o que é moral e o que é imoral... Não existe padrão absoluto de verdade, bondade ou moralidade... Temos que chegar a essas coisas por nós mesmos – fazendo o melhor que pudermos de acordo com nossa própria cultura, comunidade e tradições.” Num contexto ético/filosófico, o relativismo é fruto do situacionismo (ou seria este fruto daquele): a atitude certa é aquela que a situação determina. Se você se encontra em meio a pessoas que guardam exclusivamente o sábado, e insistem que o faça, então, por amor à harmonia, não há alternativa: você deve também guardar o sábado. Mas se você se encontra num ambiente de vida livre, então, igualmente por amor à harmonia, não deve impor princípios e normas, seja por preceito, seja pelo exemplo.


Existem verdades relativas? Existem. Por exemplo, tempo bom é, no sul do país, aquele marcado com muito sol, céu sem nuvens, etc. Mas para o agricultor do nordeste, amargando uma seca que já dura meses ou até anos, seria esse o conceito correto de tempo bom? Mas uma verdade assim relativa, não tem nada que ver com valores eternos. Ainda pergunto “como podemos aprender a distinguir entre o que deve ser absoluto e invariável e o que pode mudar e ser relativo, dependendo das circunstâncias?” Entendo que nada do que envolve a vontade revelada de Deus pode ser submetido ao relativismo; não há como negociar princípios e normas divinos!


Veja que João insistiu com o conceito da verdade junto a seus leitores. Vinte vezes empregou esse termo nas três epístolas, com as seguintes conotações:


(1) Objetivamente – equivalendo...


(1.1) à mensagem autêntica do evangelho, em contraste com distorções alardeadas por dissidentes – 1Jo 2:4, 21; 3:19; 2Jo 1, 2, 4; 3Jo 3 (segundo registro), 4;
(1.2) à obra de Deus, com a qual devemos cooperar – 3Jo 8;
(1.3) a um padrão de vida ilibada – 3Jo 12;
(1.4) à veracidade, o ato de não proferir o que é falso, mentiroso – 1Jo 1:6, 8;
(1.5) à locução
de fato, em realidade, com efeito, ou aos termos verdadeiramente, realmente – 2Jo 1; 3Jo 1.


(2) Subjetivamente – significando integridade de caráter, retidão – 1Jo 3:18; 3Jo 3 (primeiro registro).


Podemos perceber que o emprego do termo verdade por João incide maiormente no sentido (1.1), a mensagem autêntica do evangelho, em contraste com o falso ensino, a mentira. É desta forma que o apóstolo insta com seus leitores para que fiquem firmes ao lado da verdade, rejeitando o engano muitas vezes divulgado de forma sedutora e deslumbrante.


Com efeito, muita coisa anunciada como nova luz não passa de velhas trevas; muita coisa, quanto à qual se diz “que é que tem...?”, violenta apenas um código: a lei de Deus. Apenas um, mas o suficiente para perpetrar o pecado e perpetuar a perdição.


Autor: José Carlos Ramos – D. Min




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