Crer em Jesus é condição sine qua non para que sejamos salvos.
É maravilhoso como Deus nos amou enviando Seu Filho unigênito para ser nosso Salvador; é inspirador acompanhar Sua trajetória neste mundo, Suas obras de misericórdia, Suas mensagens plenas de perdão e acolhimento, Seu desprendimento e espírito de sacrifício a ponto de oferecer a vida na cruz para nos redimir. Mas, se não crermos nEle, se não O aceitarmos como nosso Salvador e Senhor, tudo terá sido em vão! Estaremos tão perdidos como se Deus não nos amasse, e Jesus não tivesse vindo a esse mundo para nos salvar.
Temos que crer naquele Jesus sobre o qual as Escrituras dão testemunho, não no mutilado Jesus dos conceitos humanos, no distorcido Jesus do liberalismo teológico, que outra coisa não faz senão lançar o homem no labirinto da dúvida, roubando-lhe o maior dom que o Céu outorgou, depois do próprio Cristo e do Espírito Santo: a fé. E roubando a fé, rouba-lhe tudo. Excluindo o Cristo da fé, e eliminando as qualidades que fazem do Cristo histórico dos evangelhos o verdadeiro Messias, o liberalismo acaba por oferecer apenas o espectro de um salvador. Um Cristo nem histórico, nem da fé; o Cristo do nada!
Não, esses tipos de Jesus não servem. Temos que ficar com o autêntico, o Cristo dos Evangelhos. É nEle que temos que crer se queremos ser salvos. Isso é muito importante nos dias em que vivemos, quando novas divagações (na realidade novas feições de antigas heresias) estão surgindo, inclusive nos arraiais do povo de Deus.
Enternecido pelo amor divino que lhe deparou “tão grande salvação” (Hb 2:3), o apóstolo João não poderia permanecer impassível, deixando de referir o imperativo da crença no Jesus da fé. Ele o fez principalmente para combater heresias que colocavam em dúvida a virtude salvífica do que Jesus fizera e seguia fazendo pelo pecador.
Fé em Jesus e vitória (1Jo 5:1-5)
A vitória que se obtém pela fé em Jesus não é outra senão Sua própria vitória aplicada à nossa experiência. Portanto, é uma vitória de natureza espiritual. “A batalha que os cristãos têm que lutar é espiritual. Nos escritos de João, o caminho para a vitória não é pelo uso da violência nem da força física. O caminho para vencer é pela fé, e a fé se demonstra pelo tipo de vida que se tem.” John Milton, autor de O Paraíso Perdido, já dizia: “Quem vence pela força só pela metade é que vence o inimigo.” E acrescento que vencer o inimigo “só pela metade” é conferir-lhe vitória completa.
“O vencedor por excelência é Jesus Cristo. Visto que Ele obteve a vitória, Seus seguidores podem também vencer. Até certo ponto, eles já têm a vitória: a de Cristo em Seu favor.” Em outras palavras, Jesus auferiu a vitória não somente para Si, mas igualmente para Seu povo, de maneira que, se temos Jesus, já somos vitoriosos; mas se não O temos, já somos derrotados.
Essa vitória, é claro, tem que se repetir a cada dia, conforme a vida prossegue. O Apocalipse toca esse ponto ao afirmar que, no contexto da batalha final, “vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com Ele [Jesus]” (17:14). Os atos de “chamar” e “eleger” são de Deus (de fato, a salvação é dom exclusivo dEle), mas ser “fiel” depende da nossa decisão e empenho, em que pese o fato de que é Deus quem provê recursos para a fidelidade.
Daí a necessidade de exercermos fé legítima em Jesus, de onde obtemos forças para prosseguir perseverantes em fidelidade; e quem “perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 24:13). Isso indica que o grande conflito, no que respeita a nós, se trava na mente, e aí é que precisa ser ganha a vitória. Como H.H. Farmer afirmou, “as vitórias de Deus são alcançadas somente no campo de batalha do coração humano”. E se aí conseguimos triunfar, podemos unir a voz com Henry W. Beecher ao afirmar: “Uma vitória dentro de nós é mil vezes mais gloriosa do que uma vitória fora de nós.”
As declarações de João a respeito da vitória que o cristão desfruta tinham que ver com a disseminação do engano que ocorria entre os crentes de sua comunidade. Isso minava-lhes a fé, e João lhes deixou claro que não podiam dar ouvidos aos dissidentes, se realmente queriam ser vitoriosos em Cristo, os falsos “conceitos estavam afetando a mente dos crentes.”
Não se deve dar ouvidos ao que qualquer dissidência anuncia, ainda que se apresente com ares de “nova luz que Deus está enviando ao Seu povo”! Não é a mesmíssima atitude que devemos tomar, já que o inimigo continua agindo para enfraquecer nossa fé? O que acontece é que ele é um derrotado, e quer que nós também o sejamos. Haveremos de permitir?
O Jesus em quem cremos (1Jo 5:6-8)
O Jesus em quem precisamos crer é aquele que “veio por meio de água e sangue, Jesus Cristo; não somente com água, mas com a água e com o sangue” (v. 6), “água” alude ao batismo de Jesus, evento que marcou o início de Seu ministério neste mundo, e “sangue” diz respeito à Sua morte, o que concluiu esse ministério, dando por executado o plano de salvação. Suas palavras ao expirar, “está consumado” (Jo 19:30), atestam esse fato.
No batismo, fez-se ouvir uma voz vinda do céu, a voz do Pai, que dizia: “Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo” (Mt 3:17). Na cruz, nenhuma voz celestial foi ouvida, mas o testemunho humano foi claro: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus” (Mc 15:39). Assim, a filiação divina de Jesus foi confirmada no princípio e no encerramento de Seu ministério. Um Jesus diferente deste que recebera a autenticação do Céu e da Terra seria simplesmente incapaz de salvar.
É evidente que João, com seu abalizado testemunho apostólico, contestou frontalmente os dissidentes. Como referido no comentário de 1º e 2 de julho, eles impunham uma distinção crítica entre Jesus e Cristo. Para eles, Jesus, posto que extraordinário, era um homem comum, filho natural de José e Maria. Por ocasião do batismo, Cristo Se juntara a Ele, mas O abandonara pouco antes da cruz. A morte de Jesus, portanto, não era mais salvífica que a morte de qualquer outro mártir.
“Se Jesus não tivesse sido nem o Messias nem o Filho de Deus, a mensagem deles seria: a morte expiatória do Filho de Deus não é necessária para nossa salvação. O Filho de Deus não morreu na cruz em nosso lugar a fim de nos redimir. Esse conceito levaria a uma compreensão completamente diferente da salvação e da Divindade.” Isso João não poderia tolerar, e contra isso ele advertiu energicamente seu rebanho. “Ele não queria que as pessoas fossem enganadas por falsos ensinos.”
“Como devemos experimentar a realidade da água e do sangue em nossa própria vida?” Paralelamente, em nosso caso, tão somente o batismo nas águas é insuficiente para salvar, em que pese o fato de ser ele requerido para a salvação (ver Mc 16:16); é necessário prioritariamente o “sangue”, isto é, a aceitação de Jesus como Salvador e Senhor. É por isso que essa passagem de Marcos assevera que “quem [primeiramente] crer e [então] for batizado será salvo.
Assim, não é o batismo o objetivo precípuo da pregação (veja 1Co 1:17), mas, sim, levar pecadores aos pés de Cristo numa experiência real de conversão. Isso consumado, uma confirmação pública dessa experiência deve ser efetivada com a administração do batismo, cujo valor decorre exclusivamente do valor infinitamente superior do fato precedente.
O alvo do evangelismo apostólico (e com João não foi diferente) sempre fora, de fato, que só se batizassem aqueles para quem Cristo Se tornara o Senhor supremo da vida. Batismo (“água” na linguagem de João) sem a consolidação desta experiência (“sangue”, na linguagem de João) é dispensável, dada a sua inutilidade. Para consolidação de nossa salvação, é necessário que Jesus tenha vindo a nós não só por meio da “água”, mas, antes de tudo, por meio do “sangue”.
Jesus e o testemunho de Deus (1Jo 5:9, 10)
Três testemunhas dão seu depoimento em favor da filiação divina de Jesus: a água, o sangue, e o Espírito Santo (v. 7, 8).
Com respeito ao testemunho por parte da água e do sangue, veja o comentário acima; o Espírito Santo é aquele que sela o testemunho, de maneira especial, na mente do ser humano, levando-o à convicção de seus pecados e aceitação do meio provido por Deus para o perdão e salvação.
Notadamente no quarto Evangelho, o Espírito Santo viria para testificar de Jesus. Aliás, Ele cumpriria, como cumpriu, sete atividades, todas em exaltação a Jesus:
1) Ensinar e
2) Fazer lembrar tudo o que Jesus disse – Jo 14:26
3) Dar testemunho de Jesus – Jo 15:26
4) Convencer do pecado, porque o mundo não crê em Jesus; da justiça, porque Ele foi para o Pai; e do juízo, porque Satanás foi julgado e derrotado – Jo 16:8
5) Guiar a toda a verdade, e Jesus é a verdade (14:6) – Jo 16:13
6) Declarar, ou anunciar, o que Jesus, da parte do Pai, Lhe entrega – Jo 16:13-15
7) Glorificar a Jesus – Jo 16:14
O Apocalipse se refere a Ele como os sete Espíritos de Deus (Ap 1:4, 5; 4:5). Sete é número de plenitude. O Espírito alcança a plenitude nesta atividade cristocêntrica sétupla.
Tudo isso é tão fundamental para o plano da redenção, que, sem a atuação do Espírito, seria como se Jesus nunca tivesse encarnado e Deus nunca tivesse Se manifestado. Ele habilita o homem a entender a salvação e responder positivamente a ela. Sem Ele, a Igreja não poderia cumprir sua missão, e estaríamos fadados a permanecer neste mundo indefinidamente.
É por esta razão que o testemunho advindo do Espírito é fundamental. É Ele que efetiva todos os testemunhos em favor de Jesus. Todos eles confirmam o testemunho do próprio Pai, isto é, o testemunho de Deus, o qual é muito maior que o testemunho humano (v. 10). “João diz que, se estamos dispostos a aceitar o testemunho humano, [muito] mais o testemunho do próprio Deus... e crer em Jesus como descrito no Novo Testamento!” Fé, aqui, significa plena aceitação do que Deus disse; aqueles que, por aceitarem o falso ensino, passam a duvidar das verdades reveladas acerca de Jesus estão tornando Deus um mentiroso (v.10).
A questão da Trindade (1Jo 5:7, 8)
A construção “no Céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e esses três são um. E três são os que testificam na Terra:” deve ser considerada uma posterior interpolação ao texto original. Esta parte do texto joanino jamais deverá ser usada em favor da doutrina da Trindade, mesmo porque ela é desnecessária para esse fim. Vários outros textos, preservados em sua integridade, mencionam as três pessoas da Divindade com suficiente clareza para que não haja qualquer dúvida a respeito do que devemos crer. O mais citado entre eles é, sem dúvida, o de Mateus 28:19.
É nos escritos joaninos, entretanto, que encontramos as mais conclusivas declarações que acabam por estabelecer o enunciado da doutrina,“mesmo sem essas palavras [a construção acima], a doutrina da Trindade está firmemente estabelecida nos escritos de João.” Os textos joaninos mostram claramente a divindade de Jesus como idêntica à do Pai.
Acrescento que também o Espírito Santo é referido como divino, particularmente em dois textos: Jo 1:1 e 14:16. Para comprovar esse fato, temos que volver um pouco nossa atenção à língua original do texto.
Jo 1:1 – “o Verbo era Deus”. As assim pretendidas testemunhas de Jeová traduzem essa fórmula “a Palavra era um deus” (veja a Versão do Novo Mundo). Para tanto, alegam que, no original grego, a palavra Deus (Theós), quando em alusão ao Pai, é seguida do artigo definido, o que não acontece quando em alusão ao Filho. Considerando que, nesse idioma, não existe artigo indefinido, e que este fica subentendido na ausência do definido, Deus, aplicado a Jesus, teria que ter um sentido indefinido; portanto, “um deus”.
Essa conclusão, todavia, é totalmente equivocada pois não leva em consideração uma das mais elementares regras gregas a esse respeito; a conhecida regra de Colwell. Esta determina que um predicativo nominativo definido tem o artigo quando segue o verbo; não tem quando ele precede o verbo. A ausência do artigo não torna o predicativo indefinido ou qualificativo quando ele precede o verbo.
Em Atos 28:6, por exemplo, theón, sem artigo, sucede o verbo; logo, à luz da regra acima, a única tradução possível é: “um deus”. Mas, aqui, o correto é como aparece na maioria de nossas Bíblias: “o Verbo era Deus”, pois na fórmula original (theòs ēn ho lógos), theós (Deus) antecede o verbo (ēn = “era”). O contraste com o verso 14 confirma esta versão: ho lógos sárks eghéneto, “o Verbo Se fez carne”, e não “se fez uma carne”, pois sárks (“carne”), que não é acompanhado de vogal, antecede o verbo (eghéneto = “se fez”).
Note-se, todavia, que João poderia usar outra fórmula com theós precedendo o verbo: ho lògos theós ēn, o que exigiria a mesma versão, “o Verbo era Deus”. Mas se o fizesse, ele estaria afirmando que unicamente Lógos (“o Verbo”), e ninguém mais, seria possuidor da mesma essência ou natureza divina de Deus. Em outras palavras, a Divindade estaria reduzida, como vários antitrinitaristas gostariam, a duas pessoas apenas (o Pai e o Filho), não havendo lugar para o Espírito Santo. Pela maneira como escreveu, ele, de fato, afirmou que, antes da encarnação, Lógos era exclusivamente “Deus” e nada mais, ao tempo em que deixou espaço para existência de outro Ser plenamente divino além do Pai e do Filho, nesse caso, o Espírito Santo.
Jo 14:16 – “... Ele [o Pai] vos dará outro Consolador...” A referência aqui é ao Espírito Santo (veja os versos 17, 26). “Consolador” é a versão do termo paráklētos, empregado em 1 João 2:1 e aplicado a Jesus, implicando personalidade; portanto, o Espírito Santo é uma pessoa, e da mesma qualidade de Jesus, pois “outro” é a versão do grego állos, termo que significa “outro da mesma espécie, ou natureza”. O prometido Consolador é alguém tão divino quanto Jesus.
Mas qual é a qualidade da divindade de Jesus? Acabamos de observar que, segundo João 1:1, Sua divindade é plena. O Espírito de Profecia concorda: “Cristo era Deus em essência e no mais alto sentido. Ele esteve com Deus desde toda a eternidade...” (Ellen G. White, Review and Herald, 5 de abril de 1906). Se assim é com o primeiro Consolador, assim é com o segundo. O mesmo Espírito de Profecia confirma esse fato: “O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu é o Espírito em toda a plenitude da Divindade, tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e creem em Cristo como Salvador pessoal.” (Evangelismo, p. 615, itálicos supridos). “Toda a plenitude da Divindade” é precisamente o que Colossenses 2:9 afirma residir corporalmente em Cristo.
De fato, o Espírito Santo é o segundo Consolador, da mesmíssima natureza divina do primeiro.
O resultado de crer em Jesus (1Jo 5:11, 12)
João não poderia deixar de mencionar de maneira clara e objetiva o resultado de se crer em Jesus. Deus “nos deu a vida eterna; e esta vida está no Seu Filho.” Note que o escritor não disse “Deus nos dará a vida eterna”, mas “nos deu”. Em outras palavras, a salvação é um dom imediato, isto é, não para ser apenas outorgado no futuro, mas algo que já nos foi outorgado. “...quem crê no Filho tem [não “terá”, mas tem] a vida eterna” (Jo 3:36).
Cuidado, porém! Nada temos que ver com o presunçoso sentimento de que “uma vez salvo, salvo para sempre!”, pois essa vida eterna que Deus já nos deu não está ainda em nós; “está em Seu Filho” (1Jo 5:11), razão por que “aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (v. 12).
Ter Jesus, portanto, é o segredo para a vida eterna. Mas há de ser o Jesus da Bíblia, divino e humano, sem pecado, Aquele que morreu por nós, ressuscitou para o nosso bem, age em nosso favor no santuário celestial e voltará para completar nossa alegria. O Jesus minimizado, reduzido, rebaixado, minguado das dissidências não tem a mínima possibilidade. “Os oponentes de João – que questionavam a verdadeira divindade ou humanidade de Cristo, ou que pretendiam separar o divino do humano – tinham uma visão diferente de Jesus e não criam nEle no sentido bíblico. Pelo motivo de que não tinham o Jesus das Escrituras, não tinham a vida eterna.”
Precisamos prosseguir com o Filho até nos vermos salvos para sempre. Isso, é claro, será uma realidade quando adentrarmos os portais da glória. Se antes desse momento, naturalmente por amor e apego ao pecado, perdermos o Filho, perderemos a vida.
Deus jamais permita que isso aconteça!
Autor: José Carlos Ramos – D. Min
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