Ezequiel mesmo relata: “Então o Espírito me levantou, e me levou; e eu me fui mui triste, no ardor do meu espírito; mas a mão do Senhor era forte sobre mim” (Ez 3:14). Interessante! Ezequiel experimentava tristeza e angústia (ardor) naquele momento, e Deus não só estava com Ele, mas levantando-o pelo Seu Espírito! Paulo também relata angústias que experimentou: “Porque, mesmo quando chegamos à Macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes em tudo fomos atribulados: por fora combates, temores por dentro” (1 Co 7:5). E Deus estava com ele.
Ao se sentir entristecido ou angustiado, não se deixe abater pensando que Deus o abandonou. Quando cometemos um pecado acidental, temos a promessa de 1 João 1:8 a 10 e 2:1 e 2 e a instrução: “Quando vocês cometem um erro, quando são traídos em pecado, não julguem que não podem orar, que não são dignos de ir perante o Senhor.”2“Quando sentimos que pecamos e não podemos orar, é então o tempo de orar. Podemos estar envergonhados e profundamente humilhados, mas devemos orar e acreditar.”3 “Mesmo quando somos vencidos pelo inimigo, não somos repelidos, nem abandonados ou rejeitados por Deus.” 4 Nossa parte é crer no perdão em Jesus e evitar repetir os mesmos pecados. Maravilhoso Deus perdoador!
Emoções de dor não necessariamente são fraqueza nem falta de fé. Podem ser resultado de conflitos nas relações humanas e lutas interiores. Devemos lembrar que a angústia é inerente ao ser humano em nossa natureza caída. Nesta existência, há um nível de angústia que é “normal” em todos nós. A esperança é de que o Senhor tirará de nós a corruptibilidade, daí “não virá a angústia a segunda vez” (Na 1:9 u.p.).
I. O fator medo
Cientificamente, medo é diferente de ansiedade e de depressão. A palavra técnica para medo é “fobia”, sendo medo de algo específico, como por exemplo o medo de usar elevador, atravessar um túnel, passar mal num ambiente fechado, assinar cheque em público, etc. A fobia é uma defesa da dor emocional original do indivíduo. Isto é, a mente da pessoa com fobia inconscientemente transferiu a dor emocional, fruto de conflitos internos, para algo palpável. Se uma criança sofreu muito durante a infância, pode ter crescido com uma angústia muito forte e, em vez de expressá-la e senti-la conscientemente para resolvê-la, sua mente desloca essa angústia para algo menos perturbador e sobre o que ela tenha algum controle: uma fobia. Por alguma razão, a mente dessa pessoa “decidiu” que seria menos pior sofrer uma fobia a partir de algum momento de sua vida, do que viver conscientemente a angústia original.
O medo normal protege e é diferente de fobia. Sem ele, arriscamos demais. Medo passa a ser fobia e, portanto, doentio, quando começa a travar a vida da pessoa, impedindo-a de executar tarefas do dia a dia. Ele é diferente de angústia porque no medo você pode apontar o que o ameaça, enquanto na angústia não há esse objeto tão definido como causa do desconforto interior. Angústia é uma sensação de aperto no peito, inquietude, falta de paz interior, agitação mental; a pessoa não relaxa, sente ausência de serenidade, tem a sensação de “nó na garganta”, “nervosismo”. Muitas vezes, a pessoa angustiada não sabe a causa disso, justamente porque a angústia é sinal de conflitos mentais inconscientes ou em processo de se tornar conscientes. É como uma “luz vermelha” que “acende” na mente, indicando que há algo errado em sua vida, podendo ser a maneira de pensar negativa, auto-acusadora, auto-destrutiva, maus tratos contra si mesmo, dificuldades no relacionamento com pessoas do seu passado e/ou presente, consigo mesmo, ou uma mistura disto. Maus cuidados físicos pioram a angústia.
Depressão é diferente de medo e de angústia. Ela é a sensação de tristeza forte, pensamentos pessimistas, derrotistas, de desesperança, de morte, falta de energia física e mental, desinteresse geral, com insônia ou hipersonia, isolamento social, com ou sem angústia.
Que fazer com medos exagerados e angústia?
Não fique lamentando nem falando de sua dor para as pessoas. Pare de ter pena de si mesmo e do seu papel de vítima. Sendo adulto, é possível pensar. Você não precisa negar a dor, mas também não precisa ser dominado(a) por ela. Não sobrevém dor maior do que nossa capacidade de lidar com ela. Você é maior do que sua dor. Já a expressou o suficiente? Já chorou o suficiente? Já a verbalizou o suficiente para alguém confiável, ético, e que o(a) ouviu com empatia? Então, agora é hora de parar de chorar, de lamentar, de ficar falando para as pessoas sobre sua dor. Agora é hora de cuidar de si mesmo(a) com serenidade, aceitação, humildade, perseverança e esperança de melhores dias, pelo menos dentro de você. Aquele que aprendeu a lidar com sua angústia, aprendeu o mais importante. Memorize o verso: “O que me consola em minha angústia é que a Tua Palavra me vivifica” (Sl119:50).
II. Um homem disse ao Universo
“Set up”, em inglês, significa “estabelecer”, “instalar”, “montar”, “armar”. Ao comprar algo eletrônico novo, como um radiorrelógio, para começar a usá-lo você precisa fazer o “set up” dele, por exemplo, colocar o mostrador na data e hora certa para, a partir de então, ele começar a funcionar no padrão correto.
Várias vezes, antes de orar sozinho, faço um “set up” da minha mente. Digo a mim mesmo: “Agora vou falar com Alguém que realmente existe. Deus está no Céu e me ouve.” (cito passagens bíblicas, como “Aquele que vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora.”, “Vinde a Mim...”, etc.). Continuo dizendo a mim mesmo: “Creio que Ele é um Deus bom e que me escuta. O Espírito de Deus vem agora para me auxiliar”, etc. Assim, preparo minha mente para o contato com Deus, e isso me ajuda a concentrar e exercer fé nEle, pois sei que Ele é real. Vigio a mim mesmo para não dizer coisas impensadas ou decoradas, tendo boa consciência no falar a Deus crendo que Ele realmente está perto e me ouve.
“Perto está o Senhor de todos os que O invocam, de todos os que O invocam
“Todos os poderes terrestres estão sob o domínio do Ser infinito. Ao mais poderoso governador, ao mais cruel opressor, diz Ele: ‘Até aqui virás, e não mais adiante’ (Jó 38:11). O poder de Deus é constantemente exercido para contrariar as forças do mal. Ele está sempre em ação entre os homens, não para os destruir, mas para corrigi-los e preservá-los.”5
“Deus não permite que um de Seus devotados obreiros seja abandonado a lutar sozinho contra forças superiores, e que seja vencido.”6
III. O poder da fé
O que você expressa influi
O tipo de pensamentos que você nutre é fundamental para a saúde da mente. “Os pensamentos precisam ser educados. ... Os pensamentos precisam ser controlados.” “Há fervoroso trabalho diante de cada um de nós. Pensamentos corretos, puros e santos propósitos, não nos vêm naturalmente. Temos de lutar por eles” 7 “A educação do coração, o controle dos pensamentos, em cooperação com o Espírito Santo, levarão ao controle das palavras. Isso é verdadeira sabedoria, e assegurará a calma mental, contentamento e paz. Haverá alegria na contemplação das riquezas da graça de Deus. 8
A fé é importante para nossa saúde assim como a influência mental sobre o corpo. Veja essa declaração de um professor da Universidade de Harvard: “As emoções são o natural resultado e a representação no nosso cérebro da maneira como ele reage pelo que ocorre em nossa vida inteira, dentro e fora de nós. Elas são muito mais importantes para o funcionamento do cérebro e determinação de nossa saúde do que tem imaginado nossa sociedade, a qual promove a razão objetiva. ... “(A emoção) carrega um papel mais crucial em nossa fisiologia do que a maioria de nós pode compreender.”9
A ciência descobre o que Deus nos revelou: “Grande parte das doenças que afligem a humanidade tem sua origem na mente e só pode ser curada restaurando-se a saúde da mente. Existem muito mais pessoas do que imaginamos, que estão doentes mentalmente. A depressão produz muitos dispépticos, pois o problema mental tem uma influência paralisante sobre os órgãos digestivos.”10
O Dr. Benson confirma isto ao afirmar que de 60% a 90% dos pacientes que procuram médicos na clínica (pacientes ambulatoriais) têm suas doenças devido ao estresse físico e mental, e que têm sintomas físicos como resultado de problemas emocionais e sociais. Segundo ele, a média poderia ser 75%.11
Claudia Bruscagin, psicóloga doutora
A fé cura. Ultimamente, têm sido conduzidos trabalhos científicos mostrando que há uma forte relação entre a fé e melhores respostas fisiológicas em nosso organismo. Um dos cientistas médicos que pesquisam este assunto profundamente é o Dr. Harold Koenig, professor do Departamento de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Duke University, Carolina do Norte, EUA. Num de seus livros, ele mostra que a prática da fé religiosa produz:
– Melhor funcionamento do sistema imunológico – 5 de 5 estudos.
– Menores taxas de morte pelo câncer – 5 de 7.
– Menos doença/melhores resultados cardiológicos – 7 de 11.
– Pressão arterial mais baixa – 14 de 23.
– Menor nível de colesterol – 3 de 3.
– Menos tabagismo – 23 de 25.
– Mais exercícios – 3 de 5.
– Melhor sono – 2 de 2.
– Pessoas religiosas vivem significantemente mais – 39 de 52 (75%).
– Bem-estar, esperança e otimismo – 90 de 114.
– Propósito e significado na vida – 15 de 16.
– Menos depressão e mais rápida recuperação – 60 de 93.
– Menores taxas de suicídio – 57 de 68.
– Menos ansiedade e medo – 35 de 69.
– Maior satisfação e estabilidade conjugal – 35 de 38.
– Maior apoio social – 19 de 20.
– Menos abuso de substâncias – 98 de 120.13.
IV. O estresse
Estresse é a “reação não-específica do corpo a qualquer tipo de exigência” (Hans Selye, 1976). Também é o desgaste físico e mental causado por esse processo. O termo técnico para o estresse doentio é “distresse”. Há vários tipos de agentes estressores, positivos e negativos, como problemas familiares, perda do emprego, mudança de casa, novo emprego, casamento, morte súbita de alguém, engarrafamento no trânsito, poluição do ar, corrupção política, violência social, etc.
As pessoas mais propensas ao estresse doentio são perfeccionistas, sobrecarregadas no trabalho, vivem com medo de fracassar e sensação de urgência, etc.
Os sintomas mais comuns de distresse são: doenças psicossomáticas, como dores de cabeça, sensações de vertigem, prisão de ventre ou diarreia, taquicardias e contrações musculares, irritabilidade, nervosismo, repentinas alterações de humor, impaciência e insatisfação pessoal, abatimento e falta de incentivo, cansaço físico, sem recuperar mesmo após boa noite de sono, insônia, esgotamento.
Os caminhos para se aliviar o distresse incluem: 1) Tenha prioridades no trabalho; 2) Elimine álcool, tabaco, cafeína, açúcar e adote o regime vegetariano; 3) Pratique exercícios aeróbicos regulares; 4) Tome um substancioso desjejum e almoço,e um jantar leve 2 horas antes de deitar, tomando só água entre as refeições; 5) Durma entre 10 da noite e 6 da manhã, cultive pensamentos amistosos, de misericórdia; 6) Delegue tarefas; tenha coragem de dizer “não”; não se automedique; 7) Cultive gratidão e confie em Deus.
V. A fé e as curas miraculosas
Em pesquisas científicas que comparam diferentes remédios para ver sua eficácia sobre determinados sintomas ou doenças, cientistas colocam um dos grupos de pessoas voluntárias na pesquisa em uso de placebo – remédio sem efeito químico. No fim do estudo, é comum encontrarem que o placebo teve boa resposta, comparado com os remédios tomados pelos outros grupos de pessoas. Isto revela o poder da crença sobre reações no corpo humano.
A Bíblia fala de milagres em pessoas curadas de doenças hereditárias ou adquiridas, como a lepra, a cegueira, a paralisia, hemorragia, separando doenças físicas das mentais e das espirituais. Em Mateus 4:23 e
Creio que o mais importante milagre numa pessoa enferma é a entrega da vida a Deus, é o sincero arrependimento dos pecados, é o desejo de vida espiritual, é o novo nascimento. Nem sempre será possível obter a cura de uma enfermidade física nesta vida, mas Deus sempre oferece gratuitamente a cura espiritual. E ela depende da fé.
“Os meios naturais, usados em harmonia com a vontade de Deus, produzem resultados sobrenaturais. Pedimos um milagre, e o Senhor dirige a mente a algum remédio simples. ... Cumpre-nos, então, cooperar com Deus, observando as leis da saúde e da vida. Havendo feito tudo quanto nos é possível, devemos continuar pedindo com fé saúde e força. Devemos comer o alimento que nos conserva a saúde física. Deus não nos dá nenhuma animação quanto a fazer por nós aquilo que podemos fazer por nós mesmos. As leis naturais têm de ser obedecidas. Não devemos deixar de fazer nossa parte.”15
VI. Estudo adicional
“A fé em Cristo não é obra da natureza, mas, sim, atuação de Deus sobre o espírito humano, efetuada na vida pelo Espírito Santo, que revela a Cristo, como Cristo revelou o Pai. ... Com Seu poder de justificar e santificar, está acima daquilo a que os homens chamam ciência. É a ciência das realidades eternas. A ciência humana é muitas vezes ilusória e desencaminhadora, mas essa ciência celestial jamais desencaminha. É tão simples que uma criança a pode compreender, e todavia os homens mais eruditos não a podem explicar. É inexplicável e imensurável, está além da capacidade humana expressá-la.”16
“A religião de Cristo, longe de ser causa de insanidade, é um de seus mais eficazes remédios; pois é um poderoso calmante dos nervos.”17 E qual é a religião de Cristo que produz cura? “A religião de Cristo representa muito mais do que o perdão do pecado. Significa remover nossos pecados e preencher o vácuo com o Espírito Santo. Significa divina iluminação, regozijo
Membro da American Psychosomatic Society.
Diretor Médico dos Ministérios Portal Natural www.portalnatural.com.br
Professor visitante de saúde mental do College of Health Evangelism e do Institute of Medical Ministry, Wildwood Lifestyle Center and Hospital, Georgia, Estados Unidos.
Referências bibliográficas
5. Idem – Patriarcas e Profetas, p. 694, CPB, Tatuí, SP.
7. Idem – Mente, Caráter e Personalidade, v. 2, p. 656, CPB, Tatuí, SP.
9. Benson, Herbert – “Medicina Espiritual”, (título original: “Timeless Healing – The Power and Biology of Belief”, Harvard School of Medicine, Body-Mind Institute, 1996), Editora Campus, 1998.
10. White – “Mente, Caráter e Personalidade”, v. 1, p. 63, CPB, Tatuí, SP.
12. Bruscagin, Claudia – Religiosidade e Psicoterapia, p. 55, 56, Editora Roca, 2008.
13. Koenig, Harold, M.D. – Religion, Spirituality, and Medicine: Research Findings and Implications for Clinical Practice – Southern Medical Journal, v. 97, 12, Dezembro de 2004.
14. White – O Desejado de Todas as Nações, p. 825, CPB, Tatuí, SP.
15. Idem – Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 346, CPB, Tatuí, SP.
17. Idem – Mente, Caráter e Personalidade, v. 1, p. 12, CPB, Tatuí, SP.18. Idem – Olhando Para o Alto, p. 32, Meditação Matinal 1983, CPB, Tatuí, SP.
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