Bem, em sua parte introdutória, o estudo nº 04 responde a esta pergunta com uma ilustração objetiva. Somos justificados de nossos crimes (todo pecado é um crime) no momento em que aceitamos Jesus como Salvador. Não há outra maneira de aceitá-Lo a não ser pela fé.
Jesus pode nos salvar porque assumiu inteiramente nossa culpa, pagando na cruz o preço da nossa redenção. Quando cremos nEle, Sua vida de perfeita obediência à lei de Deus nos é creditada; assim, Ele morre por Lhe ser imputada nossa culpa: “o salário do pecado é a morte” (Rm 6:23), e nós vivemos porque nos é imputada a Sua justiça: “...o homem que praticar a justiça decorrente da lei viverá...” (Rm 10:5).
Como definição básica, justificação pela fé é isso. Mas, no tocante a nós, são dignas de nota as implicações de tão inefável processo de salvação. Três citações de Ellen G. White a esse respeito são pertinentes:
...Cristo assumiu a posição de fiador e libertador ao Se tornar pecado pelo homem, para que este pudesse tornar-se a justiça de Deus... Os pecadores só podem ser justificados por Deus quando Ele lhes perdoa os pecados, suspende a punição que eles merecem e os trata como se realmente fossem justos e não houvessem pecado... Eles são justificados unicamente pela justiça imputada por Cristo (Ibid., v. 3, p. 194).
Conforme o pecador penitente e contrito diante de Deus discerne a expiação de Cristo em seu favor, e aceita esta expiação como sua única esperança nesta vida e na futura, seus pecados são perdoados. Isso é justificação pela fé,... o oposto de condenação. A misericórdia ilimitada de Deus é exercida para com aqueles que são completamente indignos. Ele perdoa transgressões e pecados por amor de Jesus, que Se tornou a propiciação pelos nossos pecados. Pela fé em Cristo, o transgressor culpado é conduzido ao favor de Deus e à forte esperança de vida eterna (SDABC, v. 6, p. 1.070, 1.071).
Algo tão significativo e prazeroso é o tema principal de Paulo na epístola aos Romanos. Vamos ao estudo.
I. As obras da Lei
Romanos 3:20 diz que “pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.” Paulo se vale desse fato para afirmar que ninguém é justificado “por obras da lei”. Quanto mais o pecador dela se vale, mais ele se vê por ela condenado.
Com efeito, quem tenta alcançar a salvação pela lei, tenta o impossível. O exemplo dos judeus no passado é clara evidência desse fato. Referindo-se a eles, Paulo disse: “Israel, que buscava a lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. Por quê? Porque não decorreu da fé e, sim, como das obras. Tropeçaram na pedra de tropeço” (9:31, 32).
Para eles, a pedra de tropeço foi Jesus, pois não O aceitando, descartaram o único meio de se tornar justos diante de Deus.
Além de afirmar que a lei não tem capacidade para remover a culpa que o pecador tem diante de Deus (culpa por ela mesma revelada), afirma-se também que “o que ela pode fazer é levar o pecador a buscar um remédio para isso.” Como? Naturalmente, por ressaltar o pecado no pecador (ver 7:5 - Porque, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos membros, a fim de frutificarem para a morte.), a lei desperta sua consciência induzindo-o a buscar uma possível solução para o impasse, um recurso pelo qual ele se livre da condenação. Esse recurso é Cristo. É dessa forma que a lei conduz a Cristo, e o faz para que finalmente alcancemos a justificação pela fé (ver Gl 3:24 - De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé).
Colocando em outros termos, vendo-se condenado, e almejando livrar-se da morte, o pecadorprocurará, talvez até desesperadamente, um meio de escape, somente para acabar descobrindo que esse meio existe exclusivamente por meio de Jesus. Nesse caso podemos dizer que a lei induz o pecador a Cristo, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado” (Jo 1:29). “A lei deve assinalar nossas negligências e nos levar a Cristo.”
II. Fé e justiça
Qual é a relação entre fé e justiça? A primeira é o método para se obter a segunda. Romanos 3:21 se refere à justiça de Deus, “sem lei” manifestada, mas por ela testemunhada. O texto afirma: “Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas”. Em que sentido a justiça de Deus se manifestou sem lei? Porventura não foi por Jesus observar perfeitamente a lei que a justiça de Deus se tornou manifesta? Bem, justiça aqui não significa meramente equidade, retidão, probidade, lisura, etc, pois Jesus reuniu 100% de tudo isso e de tudo o mais que se liga à justiça.
Mas o sentido de “justiça de Deus” aqui é mais abarcante. Refere-se também ao dom por Ele oferecido a todos que aceitam Jesus (ver 5:17 - Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo), onde a justiça é referida como “dom”). Mas consideremos brevemente os ingredientes desse texto:
“Mas agora...” – um contraste de tempo e de circunstância. Na perspectiva do tempo o agora de Deus é a encarnação, com destaque para o Calvário (ver Gl 4:4 - vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei). Antes do agora, tudo o que tínhamos era a promessa da redenção vindoura. Agora ela é uma realidade. No aspecto circunstancial, o agora de Deus é visto com a caducidade do recurso salvífico do homem. Agora que ficou devidamente evidenciado que todos estão perdidos, e nada podem fazer, o recurso de Deus se destaca.
“...Sem lei...” – a justificação pela fé não conta com nenhuma contribuição (preparatória, acessória ou subsidiária) que seja dada por obras da lei. “Sem lei” significa sem o mérito humano, sem Deus levar em consideração o que o homem fez de bem, ou mesmo de mal. Ninguém é tão bom que possa dispensar o plano de Deus; ninguém é tão mau que não possa se valer dele.
“...Testemunhada pela lei e pelos profetas” – isto é, o Pentateuco e o restante do Antigo Testamento. Há uma continuidade natural entre as duas dispensações e os dois testamentos. O meio de salvação é um para ambas, e um
O v. 22 confirma que a “justiça de Deus” é um dom que Ele almeja conceder ao pecador; e mostra como é auferida: “mediante a fé
“...Fé
“...Para todos os que creem...” – não é mera redundância, tendo em vista que a “fé
III. Graça e justificação
Graça é a fonte da “justiça de Deus” como dom; justificação é o resultado.
O estudo de hoje é fundamentado em Romanos 3:24: “...sendo justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há
Para melhor estrutura das frases devemos considerar os versos 22up e 23 parentéticos (“porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”), e ligar “sendo justificados gratuitamente por sua graça” com “justiça de Deus... para todos os que creem” (v. 22). “Gratuitamente” combina com “sem lei” (v. 21) e com “mediante a fé” ou “todos os que creem” (v. 22). Justificação é um dom gratuito de Deus.
“...Gratuitamente...” e “...por Sua graça...” são sinônimos e servem de ênfase para o caráter de desmerecimento humano: nenhum pecador merece o dom de Deus, isto é, Deus não é constrangido a nos justificar por algum ato meritório de nossa parte. Nosso mérito, se há algum, consiste em nossa extrema necessidade de Deus e de Sua salvação. Nada em nós ou praticado por nós pode recomendar-nos a Deus. O dom é exclusividade, iniciativa e total realização dEle.
“..Redenção...” é palavra-chave no tema da justificação pela fé. Gratuita para o homem, a justificação, todavia, custou um preço para Deus. Justificação é pela graça, isto é, o homem não entra com nenhum mérito. Justificação se efetiva através de redenção, ou seja, o custo é pago totalmente por Deus. O que Deus pagou, ou fez, realça a salvação como dom gratuito dEle para o homem.
Significado básico de redenção: resgate pelo pagamento de um preço. A ideia no evangelho é de resgate substitutivo:
A ideia é de livramento por meio de um preço pago. Primariamente, o sentido é de um preço pago para a libertação de escravos, ou prisioneiros de guerra. A quem foi pago o preço? A Bíblia silencia. A Deus? Ele mesmo providenciou o pagamento. A Satanás? Ele é apenas um usurpador. Por inferência, podemos supor que foi à própria justiça de Deus.
É dito que a “redenção” está em Cristo: ela não é vista somente naquilo que Cristo fez, mas nEle mesmo. Ele é a redenção personalizada.
IV. “Sua justiça”
O texto de estudo para hoje é Romanos 3:25-27
“Propiciação” é outro termo-chave na doutrina da justificação pela fé. Refere-se à provisão feita por Deus para a nossa justificação.
Entretanto, não devemos confundir a ira de Deus com o emocionalismo doentio que os adoradores pagãos atribuíam aos seus deuses, ira que poderia ser aplacada por algum tipo de oferta providenciada pelo adorador. A indignação de Deus contra o pecado tem que ver com a santidade de Seu caráter. E não é esperado que o pecador faça alguma coisa para aplacar a ira de Deus. A iniciativa, e o ato de propiciar ou aplacar, são exclusivas de Deus; veja que o apóstolo registra a fórmula Deus propôs. Isto significa que o mesmo Deus que odeia o pecado com todas as fibras do Seu ser, ama o pecador de tal forma que deu Seu único Filho para expiar os pecados do mundo todo. A cruz é a consequência e não a causa do amor de Deus.
“...Seu sangue...”, tanto o preço do resgate como o meio do “apaziguamento” de Deus.
“...Mediante a fé...” – ela sempre é o meio pelo qual nos apropriamos da provisão.
Com isto se completam os três elementos indispensáveis no processo da justificação, cada um ligado a uma específica Pessoa da Divindade: O PAI – a graça; O FILHO – o sangue; O ESPÍRITO SANTO – a fé.
“...Manifestar Sua justiça...” - novamente encontramos o tema da revelação dinâmica da salvação. Essa é uma reiteração do ato de Deus “propor”, já que, no grego, este verbo contém a ideia de um ato público. A morte de Cristo foi pública e isto revela a justiça de Deus.
Paulo quer dizer que, no passado, Deus sustou Sua ira, isto é, não visitou os homens em seus pecados. Isso não deve ser confundido com perdão ou remissão. Significa que Deus não executou sobre o homem a completa medida do Seu desprazer, mas exerceu tolerância pelos pecados do homem.
Isso tornou necessário que Deus revelasse agora, na propiciação efetuada por Cristo, a Sua justiça, pois a tolerância exercida no passado poderia levar o homem a pensar que Deus estava abrindo mão de Sua própria justiça. Havia o perigo de a inviolabilidade da justiça de Deus ser obscurecida na mentalidade do homem. A tolerância de Deus corria o risco de ser mal interpretada, ou seja, de ser tida como indiferença às reiterações da justiça e a suspensão da aplicação da ira ser considerada como uma anulação do julgamento. Era necessário que ficasse bem claro que Deus não estava sendo indulgente para com o pecado.
Portanto, ao derramar Cristo Seu sangue como propiciação, Deus dá uma demonstração pública, aberta, de que Seu desprazer pelo pecado continua inviolado e em pé, e que Sua ira só não se abateu e se abate sobre o pecador porque ela se abateu sobre um Substituto. Assim para Deus ao mesmo tempo justificar o pecador e não abrir mão de Sua justiça, Ele propôs o derramamento do sangue de Cristo (ou seja, Seu sacrifício) como meio de dar plena satisfação à Sua justiça. Isso faz também com que a justiça de Deus seja vindicada, já que antes correu o risco de ser mal interpretada.
Assim, a tolerância de Deus e Seu passar por alto os pecados anteriormente cometidos exigiram dEle a demonstração de Sua justiça inerente. Isso Ele fez entregando Seu Filho para ser morto na cruz. A cruz , portanto, evidencia tanto Seu amor pelo pecador como Seu ódio contra o pecado. Ali, Sua ira é apaziguada, porque Sua justiça é satisfeita. Essa demonstração de Sua justiça nos revela finalmente que a justificação do pecador demandou nada menos que a propiciação feita no sangue de Jesus.
“...Justo e justificador...” – Todo esse processo fundamentado no sacrifício da cruz faculta a Deus o ato de justificar o pecador sem deixar de condenar o pecado e sem abrir mão de Sua justiça. Ao mesmo tempo em que justifica o pecador, Ele continua sendo justo.
“Onde... a jactância? Foi de todo excluída.” – O orgulho religioso, o triunfalismo, o exclusivismo e outros ismos ligados ao legalismo são eliminados. Lei, no v. 27, é usada com dois sentidos: (1) lei das obras, isto é, o legalismo, ou sistema humano de salvação; e (2) lei da fé, ou seja, a norma divinamente estabelecida para o desfrute da salvação; exclusivamente pela graça.
Vemos agora que a palavra lei chega a ser empregada por Paulo com o sentido de salvação pela graça. Todavia, a fé tem sido revelada como o meio, ou método, e não como fonte de salvação. Ninguém pode se jactar da fé que possui. A fé é um dom de Deus e não repousa na capacidade do homem, muito menos nalgum mérito que ele pense possuir.
V. Fé e obras
Já que somos justificados pela fé sem as obras da lei (3:28), podemos transgredi-la à vontade? Essa é questão que a pergunta 6 levanta. O estudo vai bem ao ponto, explicando que a obediência à lei não é descartada pelo plano de salvação. Se assim fosse, seria inevitável a conclusão de que justificação pela fé é licença para pecar, pois o pecado é a transgressão da lei (1Jo 3:4 - Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei). Seria o mesmo que um juiz, ao inocentar o réu num tribunal, estivesse lhe dizendo: Bem, você agora está livre para sair daqui e roubar e matar quanto quiser. Se isto acontecesse, seria o juiz e não o réu que mereceria ir para a cadeia!
Mas tal é a conclusão, agora no âmbito espiritual, a que chegam alguns leitores de Paulo, em resultado de uma interpretação apressada, portanto superficial, daquilo que ele afirmou. E isso não é de agora, porque mesmo os contemporâneos do apóstolo, seus oponentes, começaram a disparatar, torcendo seu ensino (ver 3:8).
No intuito de que ninguém se equivocasse com seu ensino, o apóstolo foi muito claro, preciso, em suas colocações, chegando a dizer: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado para que seja a graça mais abundante?” (6:1). Em outras palavras, continuaremos transgredindo a lei, para que a “justificação pela fé sem as obras da lei” cada vez mais se efetive? A isso ele respondeu: “De modo nenhum! [o sentido é “Deus nos livre de tal ideia!”] Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (v. 2). Tendo o pecado como transgressão da lei, a resposta de Paulo pode ser assim expressa: “Como viveremos ainda transgredindo a lei, nós que morremos para a transgressão?”
Impressionante! É o plano divino da justificação pela fé que nos habilita a, “morrendo para o pecado”, cumprir a vontade de Deus exposta em Sua lei. Como o estudo estabelece, “o ensino de Paulo é que, embora a obediência à lei não seja o meio da justificação, a pessoa que é justificada pela fé ainda observa a lei de Deus e, de fato, é a única que pode guardar a lei. Uma pessoa não regenerada, que não foi justificada, nunca poderá cumprir os requisitos da lei.”
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