sábado, 4 de abril de 2009







I. Introdução


A fé é o braço que se apropria da grande promessa da graça disponibilizada a todo pecador que nela crê. De que adianta ter toda plenitude de recursos, se a ele não temos acesso? A fé disponibiliza e dá acesso à pronta graça e salvação estendida por Cristo. Ela precisa ser direcionada para seu agente, autor e doador, Jesus Cristo. Alguém, um dia, afirmou que o importante é ter fé. Esse conceito é temerário e arriscado, porque se a fé não for direcionada para Jesus, será nula, vã e sem efeito. 


Um mundo de objetos visuais nada significa para o cego; o mundo de sons nada significa para o surdo; e um mundo de realidades espirituais nada significa ao homem sem fé. “Sem fé a Bíblia não pode ser entendida. Aproximarmo-nos da Bíblia com espírito de frio ceticismo ou cru racionalismo, é garantir de antemão, que jamais a entenderemos” (Walter Thomas Conner, Revelação e Deus, op. cit, p. 100).

I. Entendendo a Fé no sentido primário

A fé não é um mero assentimento mental, nem um pensamento positivo como alguns a tem considerado. A fé também não é mera emoção. Trata-se de uma certeza que envolve todo o ser. Na Bíblia a fé é apresentada no sentido de confiança. Significa apresentar e colocar a vida naquilo que acreditamos. Etimologicamente, a fé vem do grego pisteo que equivale no inglês a faith e nãobelieve que significa mera crença. No Salmo 27, Davi apresenta o verdadeiro sentido da fé. No verso 3 ele afirma “Ainda que um exército se acampe contra mim, não se atemorizará o meu coração”. 


O clássico da teologia sistemática de Charles Hodge afirma: “No sentido mais amplo do termo, fé é o assentimento à verdade, ou a persuasão da mente de que algo é certo. Em linguagem popular dizemos que cremos naquilo que consideramos correto. O elemento primário da fé é a confiança. Portanto, no sentido mais amplo e legítimo do termo fé é confiança” (Charles Hodge, Teologia Sistemática , p. 1058).

Quando você acredita e tem fé, você não apenas declara, mas vive tendo como base o que acredita. A fé não pode ser vista como um sentimento que apenas dá seu parecer quanto ao objeto, sem aceitá-lo na sua vida e ser sua norma, ao contrário, é uma ação que compromete você com quem ou o que você crê.

II. A origem e base da Fé

Essa profunda certeza que envolve todo o ser é um princípio que governa a vida. É um dom de Deus. Todo ser humano foi criado para crer; essa ação lhe é inerente. O poder não está na fé, pois ela é o meio que o conduz à sua crença. É Cristo quem faz toda a diferença, caso Ele seja buscado por ela. Pela palavra de Deus a fé que restaura, transforma e salva é a fé em Jesus. Apesar de ser ela um dom de Deus, nós é que escolheremos para que ou quem a direcionaremos. Deus nos criou como entidades morais livres. Por isso, presenciamos exemplos de fanatismos religiosos em direção a estátuas, crença em relação a torcedores por time de futebol, mas a única fé que encontra pleno resultado é a que é direcionada para Jesus.

Na última semana estudamos sobre o amor como o maior dos princípios na caminhada cristã. E a fé deve ser vista como o acesso ao efeito desse amor. “‘Para que todo aquele que crê não pereça”. Todo o amor exercido pela doação da vida de Cristo por nós para nossa salvação depende ou só será acessível a quem nele crê. Nesse sentido, a fé é o acesso à benção da salvação. Caso contrário, toda provisão do Céu para nossa salvação seria nula e ineficaz em seu efeito e permaneceríamos perdidos. A fé tem o amor como sua essência.

A base de nosso acesso a benção da salvação, ou seja, da fé, não se dá pelos sentidos, mas pela palavra, pois ela testifica do seu doador (Jo 5:39). Os sentidos são o meio para que a base forneça a fé. Por isso, o apóstolo Paulo declara que a “fé vem pelo ouvir, e o ouvir vem pela palavra de Cristo” (Rm 10:17). Note que o sentido da audição é apenas o meio para que a base que é a palavra e ação do Espírito Santo conceda a fé como um dos mais especiais dons de Deus ao ser humano.  Esse dom nos capacita a entender e a nos relacionarmos com Deus e sermos o que Ele planejou que fôssemos. Por isso, no livro de Hebreus há uma taxativa e inequívoca declaração: “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11:6). Portanto, as Escrituras têm toda a primazia sobre os sinais e maravilhas. É nela que encontramos segurança para nossa fé.

Deus nos concede a fé porque somente ela é o meio para termos acesso a Ele e Suas promessas. Quando a fé é direcionada a Jesus, que é o caminho único que nos conduz ao Pai (Jo 14: 5 e 6), concluímos que ela não tem substituto. Deus nos concede tudo, e principalmente o meio para termos acesso a Ele. A salvação, uma ação exclusiva e totalmente de Deus, não seria alcançada sem a fé. E esse acesso à graça manifestada por Deus, o homem não o teria se Deus não o tivesse concedido a nós. De maneira sucinta, mas completa, não há um texto na Bíblia que melhor retrate essa verdade do que Efésios 2:4. “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”.       

III. O Crescimento da Fé

A fé é como o músculo que precisa ser exercitado para ter desenvolvimento. Quando mantemos nosso foco em Jesus, buscando uma contínua e ininterrupta comunhão com Ele, as circunstâncias difíceis e os fatos inexplicáveis estimulam o exercício da fé. Com o exercício vem seu crescimento e maturidade. No entanto, essas crises são oportunidades para o crescimento da fé dos que confiam em Deus.

O crescimento da fé também ocorre pela constante comunhão com seu autor. Não há crescimento da fé à parte de Jesus. A fé é o combustível da ação em direção ao que cremos. Jesus afirma: “Sem Mim nada podeis fazer” (Jo 15: 5). Sendo a videira Jesus nos apresenta como seus ramos. O ramo só cresce na videira e por ela. À parte da videira, eles estão mortos. Somente pela videira eles são alimentados e crescem. Assim somos nós. Nossa fé é morta e nula fora de Cristo e não se desenvolve sem Ele. Pedro nos admoesta que devemos “crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3:18). Embora a relação da fé com o conhecimento seja um campo amplo, e a discussão acerca dessa questão seja interminável. Não podemos desassociar a fé do conhecimento. Essa relação também influencia o desenvolvimento da fé.

a) A Importância da doutrina no crescimento da fé

A base da fé é a autoridade de Jesus e Sua palavra, e a base do conhecimento são os sentidos ou a razão. A fé vem e se desenvolve da palavra (autoridade da fé), por intermédio dos sentidos (conhecimento). O conhecimento é essencial à fé, e consequentemente também ao seu desenvolvimento. Hodge afirma que a “verdade precisa ser conhecida para ser crida. Só podemos crer naquilo que inteligentemente apreendemos. Se uma proposição nos for enunciada em linguagem desconhecida, nada podemos afirmar sobre ela” (Charles Hodge, Teologia Sistemática , p. 1088).

A importância da doutrina se dá na necessidade de conhecermos o que vamos crer, e na exposição do que cremos e porque cremos. A fundamentação vem da palavra que acreditamos e apresentamos como verdade. Nossa fé se ancora em Jesus, cuja doutrina é formulada da palavra que testifica dEle (Jo 5:39). Aceitamos a verdade como Ele próprio (Jo 14:6). Por isso, o fundamento da fé não se ancora no sistema doutrinário, mas unicamente e completamente em Jesus.

Conclusão

Entendemos neste estudo que a fé é o braço que se apropria da promessa, e não deve ser confundida com convicção racional ou mero assentimento mental, embora não seja irracional. Também não pode ser vista como pensamento positivo, baseado unicamente na emoção. O melhor conceito extraído da Bíblia para fé é confiança que significa colocar a vida nas mãos daquele ou daquilo em que se acredita. É um dom de Deus, não vem de nós, e sua base e grande fundamento e origem de nossa fé é Jesus Cristo. Ela se ancora na Palavra porque esta dá testemunho de Jesus. 


A fé precisa ser exercitada e alimentada para alcançar crescimento e vitalidade. Este crescimento é então alcançado quando a pessoa enfrenta as circunstâncias e mantém comunhão contínua com Cristo e Sua Palavra. O conhecimento é essencial para se crer em algo ou em alguém. Soergue neste sentido a importância da doutrina, cuja tarefa é expressar o que cremos e porque cremos. Sua função é unicamente estruturar o conteúdo de nossa fé. Para ser verdadeira, deve ser fundamentada na Palavra de Deus e jamais deve ser vista como âncora da fé, porque a âncora da fé é; e sempre será Jesus Cristo.


Mestre em Teologia Sistemática
Boa Viagem - Recife

Texto extraído de:  http://www.cpb.com.br/htdocs/periodicos/licoes/adultos/2009/frlic222009.html




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