segunda-feira, 20 de abril de 2009

Vida II



I. Introdução


Por mais dolorosa que seja para alguns, que vivem em escassez e extremas dificuldades, a vida ainda é desejada. Se lhes fosse dada a opção de perdê-la, certamente não a aceitariam. Mesmo diante de uma expectativa de vida maior em relação à última década, e por mais qualificável que seja esta vida, não reflete nem de perto a vida que Deus quer nos oferecer.


A vida é um dom de Deus. Por isso, não nos pertence. Entender isso é muito difícil para o ser humano que a recebeu e age dissolutamente como se fosse o proprietário. Ele confunde a liberdade que recebeu com o sentimento exacerbado de ser o dominador e até, em alguns casos, autor da vida. Age como o filho pródigo que abandonou a casa do pai e recebeu a herança que, por direito, ainda não lhe pertencia. Julgou-se no direito de gastá-la dissolutamente (Ver Lc 15). A vida nos foi legada para que dela cuidemos no seu aspecto físico e espiritual.

II. O autor da vida

Se simplesmente reconhecêssemos Deus como autor da vida, não teríamos uma dissociação entre a vida física e espiritual. O evolucionismo, seja na sua teoria gradual ou modular, exclui Deus da existência da vida. A filosofia deísta exclui Deus depois de ter Ele criado todas as coisas. Como um dos precursores dessa teoria, Aristóteles chamou Deus de “Deus imóvel”. Deus cria, mas abandona a criação. E esta criação evolui a partir de então. A diferença crucial entre a filosofia deísta e a filosofia evolucionista é que esta define como autor da vida o acaso e aquela um Deus que cria, mas não sustenta a criação.


Ambas as teorias são impulsionadas pelo inimigo e objetivam excluir Deus da origem e desenvolvimento da vida física, pois assim a vida espiritual é naturalmente descartada. A Bíblia não desassocia a vida física da espiritual. Na verdade, a vida física tem sua origem em um milagre. Perguntem ao médico ou a um pai o que sentem diante do nascimento de um bebê. Desde a concepção, gestação, nascimento e desenvolvimento do ser humano, a mão de Deus é notória. Acreditar que o acaso originou, estruturou e guiou esse processo demanda e exige muito mais fé que acreditar na filosofia bíblica que declara que toda criação emana de um criador (Gn 2:7; Jo 1:1-3). Por isso, não tenho fé suficiente para ser ateu.


É inadmissível que o improvável cause o provável. Ou que a ordem venha da desordem. Ou ainda que a vida física se mantenha sem seu criador. Por isso, a Bíblia traz a explicação mais profunda do milagre da vida humana (Sl 139:13, 14), e a explicação mais razoável da existência, ressaltando que Deus criou e sustenta Sua criação. “Pois nEle vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns de vossos poetas têm dito: Porque dEle também somos geração” (At 17:28).


III. A vida plena


A vida que Deus deseja para o ser humano é a vida plena. Isto deve envolver os aspectos físico, espiritual e social. A felicidade nestes três importantes aspectos, que estão associados, é a melhor definição para uma plenitude de vida. Somente por intermédio de Deus e Sua palavra é que alcançamos tal felicidade.


a) A vida física


O cuidado do corpo é um dever cristão. Deus sempre Se preocupou com nosso bem-estar físico (Êx 15:26 e 3Jo 2). Ele estabeleceu normas para o seu cuidado, deixando-nos princípios que regem nossa alimentação (Lv 11 e Dt 14). Na Idade Média, quando imperou conceito do dualismo platônico, o corpo era considerado mau e secundário. Nesse período, a medicina não se desenvolveu.


Por isso, o sexo era considerado mau. Os mosteiros foram criados, e os autoflagelos, praticados visando à purificação própria. O monasticismo era a cosmovisão imperante. Como consequência, até os idos do século 18, uma simples febre era motivo de procedimento médico equivocado, como a sangria, entre outros. Paulo, inspirado, já declarava na contramão do pensamento grego que o corpo é o templo do Espírito Santo (1Co 6: 19). Por isso, seu cuidado glorifica o nome de Deus e evidencia que somos mordomos fiéis.


b) A vida espiritual


Sem vida espiritual não há vida na sua essência. Por quê? Uma vida física sem Cristo é parcial e passageira. Além do mais, vida temporária é morte iminente. Um provérbio de autor desconhecido diz que “a criatura começa a morrer quando acaba de nascer”. A inevitabilidade da morte é uma sentença bíblica, consequência do pecado (Gn 2:17; Hb 9:26). Em uma lápide estava escrito: “Tal como tu és eu fui, tal como eu sou tu serás, prepara-te para vir fazer-me companhia”.


Parece sombrio, mas é uma realidade. Somente em Cristo a vida reencontra a eternidade que perdeu. “E a vida eterna é esta: que Te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17:3). Portanto, nosso maior desafio não é viver, e sim, estar preparados para morrer. A vida sem Cristo é um verdadeiro fatalismo e nulidade. Mas Ele quer fazer nova essa realidade para aquele que nEle está. “Aquele que está em Cristo é nova criatura” (1Co 5:17). Essa é a vida espiritual que Deus anseia que recebamos nEle.

c) Vida social


Deus nos deu a vida para que vivêssemos com outras vidas. Ele nunca planejou a solidão para os seres criados. Vida plena é compartilhada com outras vidas, seja no casamento, na família, entre amigos e irmãos na igreja. De Gênesis a Apocalipse vemos o ser humano compartilhando a vida com Deus e outros como ele. Entre todos os relacionamentos que Deus planejou, Ele tem cuidado da comunidade religiosa como a menina de Seus olhos, a Igreja. “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1Pe 2:9). O sonho de Deus se cumpre a cada momento em que, em comunidade, decidimos viver espiritualmente em unidade. A vida social encontra seu ápice na experiência da comunidade já vivida por Deus na Trindade. Prestes a ascender ao Céu, Cristo apresentou na oração sacerdotal a finalidade de Seu ministério quando declarou: “a fim de que todos sejam um, e como és Tu, ó Pai, em Mim e Eu em Ti, também sejam eles em Nós.” Não há uma definição mais completa e profunda de vida social do que esta. Ela só pode ser alcançada e plenamente experimentada espiritualmente em Cristo.


Conclusão


A vida, como dom de Deus, só será plenamente vivida em ligação com seu autor. Longe de Deus, a vida física não encontraria sua origem. A vida espiritual nunca existiria, pois, advém do Espírito, a vida social não teria outras vidas nem o milagre para se estabelecer. Vida só é vida se for plena em Cristo, porque só por Ele e nEle a eternidade nos é devolvida e nossa condenação iminente é neutralizada.



Mestre em Teologia Sistemática

Boa Viagem - Recife, PE.





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